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DOUTOR EM ENFERMAGEM: CAPACIDADE DE CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE CARREIRA PROFISSIONAL E CIENTÍFICA

RESUMO

Pesquisa exploratória, analítica, de abordagem qualitativa com o objetivo de compreender como os recém-doutores em Enfermagem constroem seu projeto de carreira científica, considerando o domínio oito do Perfil do Doutor em Enfermagem da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nivel Superior Ministério da Educacão/Brasil. Foram entrevistados 16 egressos do Cursos de Doutorado em Enfermagem do Brasil com conceito cinco, seis e sete, titulados entre os anos de 2008 a 2012. A partir da análise dos dados, surgiram cinco categorias: iniciando a trajetória profissional; buscando a formação stricto sensu para a docência; reconhecendo a formação profissional; buscando a realização e valorização profissional; planejando a carreira: enfrentando desafios e barreiras. Foi possível refletir a respeito das vivências e das necessidades inerentes ao preparo dos doutores em Enfermagem para a inserção no mercado de trabalho e planejamento da sua carreira profissional e científica, além do reconhecimento dos fatores de sofrimento e insatisfação profissional.

DESCRITORES:
Enfermagem; Educação; Capacitação profissional; Competência profissional

ABSTRACT

This was an exploratory and analytical research with a qualitative approach which aimed to understand how newly graduated doctors of nursing built their scientific career projects, considering the eight domains of the Profile of the Doctor of Nursing of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel Ministry of Education/Brazil. Sixteen graduates of Graduate Nursing Programs in Brazil with grades five, six and seven, graduated between the years 2008-2012, were interviewed. From the data analysis, five categories emerged: starting careers; seeking the stricto sensu education for professors; recognizing professional training; seeking fulfillment and professional development; and planning careers: facing challenges and barriers. It was possible to reflect upon the lives and needs inherent in the preparation of doctors of nursing for employment in the labor market and on the planning of their professional and scientific careers, in addition to identifying factors of suffering and professional dissatisfaction.

DESCRIPTORS:
Nursing; Education; Professional Training; Professional Competence

RESUMEN

Investigación exploratoria, analítica, con enfoque cualitativo con el objetivo de comprender cómo los recién doctores en Enfermería construyen su proyecto de carrera científica, teniendo en cuenta el documento "Perfil del Doctor en Enfermería" de la Coordinación de Capacitación de Personal de Nivel Superior Ministerio de Educación/Brasil. Se entrevistó a 16 egresados del Curso de Doctorado en Enfermería de Brasil, calificados con concepto cinco, seis y siete, titulados entre los años 2008-2012. A partir del análisis de los datos, hubo cinco categorías: empezando su carrera profesional; buscando la formación stricto sensu para la carrera docente; reconociendo la formación profesional; buscando la satisfación y el reconocimiento profesional; planeando su carrera: frente a los retos y barreras. Fue posible reflexionar sobre las vivencias y necesidades inherentes a la preparación de los doctores en Enfermería para la inserción en el mercado de trabajo y la planificación de su carrera profesional y científico, más allá del reconocimiento del sufrimiento y de los factores de insatisfacción profesional.

DESCRIPTORES:
Enfermería; Educación; Capacitación Profesional; Competencia Profesional

INTRODUÇÃO

A Enfermagem caracteriza-se como um campo de conhecimento específico e uma profissão social que vem se consolidando como ciência, tecnologia e inovação, com domínio de seu objeto de estudo: o cuidado de enfermagem à saúde humana.11. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (BR). Relatório de avaliação 2007-2009 trienal 2010- área de avaliação: Enfermagem [Internet]. 2010. [cited 2012 Sep 12]. Available from:http://trienal.capes.gov.br/wp-content/uploads/2010/09/ENFERMAGEM-rel-11set10.pdf
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Em 2010, no Brasil, a Enfermagem representava 60% dos profissionais da área da saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) do país, sendo quase 1,3 milhões de trabalhadores de Enfermagem atuando de forma resolutiva na atenção à saúde da população.11. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (BR). Relatório de avaliação 2007-2009 trienal 2010- área de avaliação: Enfermagem [Internet]. 2010. [cited 2012 Sep 12]. Available from:http://trienal.capes.gov.br/wp-content/uploads/2010/09/ENFERMAGEM-rel-11set10.pdf
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Já em 2011, contabilizava 1.856.683 profissionais de Enfermagem, inscritos no Conselho Federal de Enfermagem, sendo desses, 346.968 enfermeiros (18,69%).22. Conselho Federal de Enfermagem (BR). Enfermagem em Dados [Internet]. 2011 [cited 2013 Jun 12]. Available from:http://novo.portalcofen.gov.br/planejamento-estrategico-2
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Do contingente supracitado, poucos chegam à formação doutoral, sendo que entre os anos de 2007 e 2012 (seis anos) foram titulados 903 doutores em Enfermagem.

Nesse cenário, incrementar a formação de doutores em Enfermagem é um requerimento tanto para a composição do quadro de docente das Instituições de Ensino Superior (IES) quanto para o atendimento à demanda dos serviços assistenciais, de gerenciamento e de pesquisa.11. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (BR). Relatório de avaliação 2007-2009 trienal 2010- área de avaliação: Enfermagem [Internet]. 2010. [cited 2012 Sep 12]. Available from:http://trienal.capes.gov.br/wp-content/uploads/2010/09/ENFERMAGEM-rel-11set10.pdf
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,33. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nivel Superior (BR). Documento de Área 2013 [Internet]. 2013 [cited 2014 Jun 18]. Available from:http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacaotrienal/Docs_de_area/Enfermagem_doc_area_e_comiss%C3%A3o_att08deoutubro.pdf
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Essa tarefa cabe aos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) do Brasil, cuja finalidade é a formação de mestres e doutores altamente qualificados e produtivos.44. Erdmann AL, Fernandes JD, Lunardi VL, Robazzi MLC, Rodrigues RAP. O alcance da excelência por Programas brasileiros de Pós-Graduação stricto sensu com Doutorado em Enfermagem. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2012 [cited 2014 Jun 18]; 21(1):130-9. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072012000100015
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No Brasil, a formação stricto sensu em Enfermagem encontra-se em um processo de avanço e aprimoramento, tanto no aumento do número de PPGEnf, quanto no aumento da produção de conhecimento e da formação de novos mestres e doutores.33. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nivel Superior (BR). Documento de Área 2013 [Internet]. 2013 [cited 2014 Jun 18]. Available from:http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacaotrienal/Docs_de_area/Enfermagem_doc_area_e_comiss%C3%A3o_att08deoutubro.pdf
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Concomitante, aos avanços supramencionado, surgem competências, aptidões e domínios inerentes ao doutor em Enfermagem, sendo a capacidade de construção do projeto de carreira científica uma das oito competências/habilidades e domínios esperados no Perfil do Doutor em Enfermagem, elaborado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superio (CAPES).55. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (BR). Relatório de avaliação 2007-2009 Trienal 2010- Área de Avaliação: Enfermagem [Internet]. 2010 [cited 2012 Sep 12]. Available from: http://trienal.capes.gov.br/wp-content/uploads/2010/09/ENFERMAGEM-rel-11set10.pdf
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Porém, pouco se conhece acerca da trajetória profissional, motivação pela busca da titulação de doutor, realização profissional e projetos de carreira científica dos doutores em Enfermagem.

Assim, esta pesquisa tem como objetivo compreender como os recém-doutores em Enfermagem constroem seu projeto de carreira científica, considerando o Domínio 8 do Perfil do Doutor em Enfermagem da CAPES.5

Desta forma, intenciona-se contribuir na avaliação das diretrizes de formação dos pesquisadores/cientistas em Enfermagem e na consolidação do projeto de carreira científica e profissional, tendo como principais avaliadores os próprios sujeitos desta pesquisa, os doutores egressos dos PPGEnf.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa exploratória, analítica, de abordagem qualitativa. O estudo foi realizado com 16 egressos de Cursos de Doutorado em Enfermagem do Brasil com conceito cinco, seis, e sete, conforme a avaliação trienal 2013 da CAPES, titulados nos cinco anos anteriores a esta pesquisa (2008 a 2012), considerados recém-doutores. Nesse período foram titulados 220 doutores pelos PPGEnf em estudo.

Foi utilizado como critério de inclusão e selecionados para a pesquisa, os doutores egressos de três Programas de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf a, PPGEnf b e PPGEnf c) que possuem Curso de Doutorado com conceito cinco, seis ou sete (Triênio 2010-2013), localizados em distintas regiões do Brasil e que foram titulados nos cinco anos anteriores ao estudo (2008 a 2012). Foi critério de exclusão os egressos que não responderam ao contato realizado pela pesquisadora. O número total de participantes foi definido por saturação dos dados.

Após a seleção dos PPGEnf, foi realizada a busca pelos nomes dos egressos e seus respectivos endereços eletrônicos, a qual foi obtida a partir dos Cadernos de Indicadores - Teses e Dissertações da CAPES, acesso de domínio público disponíveis no site: <http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/CadernoAvaliacaoServlet>. Nesses cadernos constam as referências completas das teses e dissertações defendidas por PPGEnf separadas por ano. A partir das referências, foram acessados os currículos na plataforma Lattes/CNPq e obtidos os endereços eletrônicos por meio do banco de teses e dissertações da IES (Instituição de Ensino Superior) em que se doutoraram, site da instituição em que trabalham ou artigos científicos.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas, realizadas entre fevereiro e abril de 2014, utilizando um roteiro semiestruturado construído, especialmente, para este estudo e composto de questões abertas. Para isso, foi entregue ao entrevistado, previamente, uma cópia do documento do Perfil do Doutor em Enfermagem/CAPES55. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (BR). Relatório de avaliação 2007-2009 Trienal 2010- Área de Avaliação: Enfermagem [Internet]. 2010 [cited 2012 Sep 12]. Available from: http://trienal.capes.gov.br/wp-content/uploads/2010/09/ENFERMAGEM-rel-11set10.pdf
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para leitura e conhecimento.

As entrevistas foram realizadas em local escolhido pela entrevistada e para aquelas que se encontravam em regiões diferentes do Brasil e do mundo, foram utilizadas ferramentas de webconference. Foram gravadas em arquivo digital e, posteriormente, transcritas e, posteriormente, encaminhadas para a validação pelos participantes. Tiveram duração entre 20 a 68 minutos.

Todos os participantes foram mulheres, com idade entre 32 a 55 anos, graduadas em Enfermagem. Sete obtiveram o título em 2008, duas, em 2009, três, em 2010, três, em 2011 e uma, em 2012. No momento da coleta de dados encontravam-se em diferentes áreas de atuação (ensino, atenção à saúde, gestão em saúde e gestão educacional) e em três regiões distintas do Brasil (Sul, Sudeste e Nordeste) e em dois países estrangeiros.

A organização dos dados foi realizada conforme as seguintes etapas: ordenação dos dados, onde foram realizadas as transcrições das entrevistas, com releitura do material e organização dos relatos; classificação dos dados, onde foi realizado a leitura exaustiva e repetida dos textos, apreensão das estruturas relevantes das ideias centrais, formação das categorias temáticas, leitura transversal do material e relação com a matriz de indicadores, elaborada a partir do Domínio 8 (Quadro 1) do Perfil do Doutor em Enfermagem/CAPES55. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (BR). Relatório de avaliação 2007-2009 Trienal 2010- Área de Avaliação: Enfermagem [Internet]. 2010 [cited 2012 Sep 12]. Available from: http://trienal.capes.gov.br/wp-content/uploads/2010/09/ENFERMAGEM-rel-11set10.pdf
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, buscando responder a questão de pesquisa; análise final: elaboração do relatório final.66. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12ª ed. São Paulo: Hucitec; 2010. A matriz em questão foi submetida à validação e contribuição de experts na área.

Quadro 1
Matriz de indicadores Domínio 8 do Perfil do Doutor em Enfermagem/CAPES)55. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoas de Nível Superior (BR). Relatório de avaliação 2007-2009 Trienal 2010- Área de Avaliação: Enfermagem [Internet]. 2010 [cited 2012 Sep 12]. Available from: http://trienal.capes.gov.br/wp-content/uploads/2010/09/ENFERMAGEM-rel-11set10.pdf
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O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC (CEP/UFSC), conforme preconizado pela Resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, sobre a pesquisa envolvendo seres humanos, sendo aprovado pelo parecer n° 539.118 do CEP/UFSC, CAAE 23846614.3.0000.0121 A aceitação dos egressos para participação da pesquisa foi obtida por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O anonimato foi mantido utilizando-se identificação alfanumérica (E- entrevistado, seguido de uma ordem numérica de 1 a 16).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da análise dos dados emergiram cinco categorias: iniciando a trajetória profissional; buscando a formação stricto sensu para a docência; reconhecendo a formação profissional; buscando a realização e valorização profissional; planejando a carreira: enfrentando desafios e barreiras.

Iniciando a trajetória profissional

As Entrevistadas apresentaram diferentes trajetórias profissionais na Enfermagem anteriores à busca pela pós-graduação stricto sensu. Relatos apontaram as de trajetórias na assistência, como pode ser evidenciado na fala a seguir: logo depois da graduação, fui trabalhar como enfermeira assistencial no hospital, mas sempre mantive o contato com a minha orientadora da iniciação científica, fazia parte do grupo de pesquisa e foi surgindo o interesse e vontade de dar continuidade ao mestrado, ao doutorado para, posteriormente, seguir a carreira acadêmica (E6).

Outras egressas iniciaram a sua trajetória como Enfermeiras, assumindo cargos de chefia, gerência e coordenação, como pode ser evidenciado a seguir: assim que me formei [Graduação em Enfermagem], no mês seguinte, eu já fui contratada em um hospital grande, um hospital privado e fui direto para a UTI. Na UTI, dois meses depois, passaram-me para a chefia de enfermagem da UTI [...] Depois de quatro anos de chefia de UTI, convidaram-me para ser a gerente do hospital [...] mas eu já pensava no mestrado, um pouco influenciada por uma das minhas irmãs, que já faziam mestrado (E1).

O estudo, também, apareceu como primeiro emprego de uma entrevistada, sendo Enfermeira coordenadora de um centro de pesquisa: eu saí da graduação e trabalhei como coordenadora de um centro de pesquisa. Depois fui fazer a minha primeira especialização [...] Ao mesmo tempo que fazia a especialização à tarde, de manhã eu era coordenadora do centro de pesquisa na universidade (E3).

Existiram relatos de inserção no mercado de trabalho como docente em instituições de Ensino Superior e Médio: eu trabalhei no técnico de Enfermagem como professora, isso até foi a primeira coisa que eu fiz depois que eu me formei [...] Fui professora do técnico de Enfermagem durante um ano e, depois, fui para o mestrado (E8).

Nos discursos das recém-doutoras, observou-se diversas áreas de atuação e inserção no mercado de trabalho, atuando num primeiro momento na assistência, docência, gestão e pesquisa, antes de buscar qualificação e formação stricto sensu.

Ao encontro do discurso das entrevistadas, estudo realizado com egressos do curso de graduação em Enfermagem, evidenciou a inserção do recém-formado na assistência e na docência de nível médio e superior, destacando a educação permanente e busca pela qualificação profissional como ferramenta fundamental para a consolidação da carreira e busca de outras trajetórias.77. Jesus BH, Gomes DC, Spillere LBB, Prado ML do, Canver BP. Inserção no mercado de trabalho: trajetória de egressos de um curso de graduação em enfermagem. Anna Nery Enferm. 2013; 17(2):336-45.

Buscando a formação stricto sensu para a docência

Dentre as motivações para as participantes buscarem a Pós-Graduação stricto sensu, destacaram-se como principais: o desejo em ingressar como docentes em universidades, a vontade de desenvolver pesquisas, o esgotamento da atividade assistencial, a valorização profissional e a melhoria salarial.

O desejo em seguir a carreira acadêmica foi elucidado pelas doutoras em Enfermagem como motivação para a busca da pós-graduação stricto sensu, como evidenciado na fala a seguir: sempre quis ser professora, então, eu tinha que fazer o doutorado, não tinha outra opção. A minha opção era fazer o doutorado, porque eu queria, no futuro, ter essa vida acadêmica [...] Como queria ser pesquisadora, fui procurar fazer o doutorado, não só o mestrado. Acho que o mestrado te dá muita base para começar na academia, mas o doutorado para ser uma pesquisadora (E3).

A pós-graduação stricto sensu é considerada fator sine qua non para a inserção na docência universitária, dessa forma e almejando a carreira no ensino superior, a busca pela pós-graduação é percebida como necessária. Isso é corroborado em estudo realizado com alunos, ex-alunos e professores dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu em Saúde Coletiva de uma universidade brasileira. Esse, também, remete o desejo de iniciar a carreira docente universitária como um dos principais fatores motivadores pela busca da pós-graduação, tendo em vista a importante função da formação e titulação stricto sensu na inserção na academia.88. Ribeiro ML, Cunha MI. Trajetórias da docência universitária em um programa de pós-graduação em Saúde Coletiva. Interface - Comunic, Saude, Educ. 2010; 14(32):55-68.

A motivação para a inserção na pós-graduação stricto sensu é evidenciada em estudos, principalmente, de natureza pragmática, com a intenção de adquirir o passaporte para o ingresso no ensino superior, considerando as exigências da Lei 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da formação profissional e determina que o corpo docente universitário deve ser formado por no mínimo 1/3 de mestres e doutores.99. Soares SR, Cunha MI. Formação do professor: a docência universitária em busca de legitimidade. Salvador (BA): EDUFBA; 2010.-1010. Brasil. Lei 9.394/1996: estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 20 Dez 1996.

A crença em uma Enfermagem com maior visibilidade, e a busca de uma qualificação que oportunizasse maior capacidade de dialogar de forma responsável e competente com os seus pares, também, foram elucidados como motivação pela busca pela formação doutoral.

Posso dizer que por duas razões [busca pela formação doutoral]: em primeiro lugar porque eu sempre acreditei em uma Enfermagem mais pró-ativa, mais empreendedora, mais visionária e com maior visibilidade internacional. Esse é um sonho que eu sempre tive, desde que eu fiz Enfermagem, e continuo acreditando e apostando nisso. E em segundo lugar, para me ver nesse cenário, eu achei que eu deveria me qualificar e buscar a titulação, caso contrário, eu não conseguiria dialogar de forma mais responsável, mais competente com esses interlocutores tanto nacionais como internacionais. Penso que a pós-graduação, não só o doutorado, mas o mestrado, ajudou-me muito com isso e o pós-doc agora, também (E1).

A busca pela formação stricto sensu e doutoral apresenta-se fortemente vinculada com a busca pelo empoderamento profissional. Uma educação libertadora proporciona reflexão do ser sobre o próprio poder de refletir e sua própria instrumentalidade. No desenvolvimento desse poder, na explicitação de suas potencialidades, o homem sujeito se liberta e empodera da sua posição na sociedade, da sua importância em em fazer uma sociedade melhor e mais humanizada. Nesse sentido, a busca pela qualificação profissional através da educação é uma forma de libertação e empoderamento, edificando realizações de ações e mudanças que promovem a evolução e fortalecimento da profissão.1111. Freire P. Educação como prática da liberdade. 34ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2011.

Outra motivação para realização do doutorado foi com relação à prospecção de desenvolvimento de pesquisas, como demonstrado a seguir: a minha inserção no doutorado é pela vontade científica, o desejo da pesquisa e de longe, eu sempre almejei a carreira de docente pela possibilidade de pesquisa, mas ao longo desse processo, percebi que estando dentro do serviço, também, era possível fazer pesquisa (E5).

A formação de mestres e doutores altamente qualificados para a pesquisa, alcançando o desenvolvimento científico, é propósito prioritário apontado pelos PPGEnf e pela CAPES, assim como o preparo para a docência. Entretanto, atualmente, evidencia-se a ênfase na formação para a pesquisa em detrimento ao desenvolvimento de doutores capacitados e preparados para as próprias exigências da educação em nível superior.1212. Pimentel V, Mota DDCF, Kimura M. Reflexões sobre o preparo para a docência na pós-graduação em enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2007; 41(1):161-4.

Nas vozes das doutoras, manifesta-se a aspiração em complementar a formação, além de referir que a experiência assistencial já havia contemplado as expectativas. Era algo que gostaria de complementar na minha formação [a pós-graduação stricto sensu]. Poderia direcionar-me para novas oportunidades de atuação, até mesmo dento do meu exercício profissional, foi esse o motivo e, também, porque achava que a minha experiência na assistência já tinha, de certa forma, contemplado aquilo que esperava (E14).

Existiram relatos de busca pela qualificação em prol de maior valorização, progressão na carreira e melhorias salariais.

A busca da titulação é inerente à vida acadêmica, carreira acadêmica, tanto para acesso nas melhorias salarias quanto pela progressão na carreira (E4).

O meu desejo de voltar a estudar para aprimorar a formação, procurar o mestrado e o doutorado tem dois objetivos: um, que é o primeiro, a minha formação enquanto profissional, Enfermeiro e outra, melhores condições de salário [...] A decisão, uma delas, que eu considero importante e que todo mundo pensa, é a carreira acadêmica, e carreira pensando financeiramente [...] Infelizmente na assistência não se ganha tanto quanto (E10).

A remuneração salarial do Enfermeiro que atua na área assistencial é identificada como um dos fatores de maior insatisfação profissional, antecedido pelas precárias condições de trabalho.1313. Batista AAV, Vieira MJ, Cardoso NC dos SC, Carvalho GRP de. Fatores de motivação e insatisfação no trabalho do enfermeiro. Rev Esc Enferm USP. 2005; 39(1):85-91. Além da desvalorização e pouca autonomia, que, também, são identificadas como características geradoras de insatisfação dos Enfermeiros, no ambiente assistencial, levando-os a buscarem outros caminos.1414. Amestoy SC, Cestari ME, Thofehrn MB, Milbrath VM, Porto AR. Características institucionais que interferem na liderança do enfermeiro. Rev Gaúcha Enferm. 2009; 30(2):214-20.

A busca pela formação acadêmica e permanente vinculada à progressão salarial e na carreira vai ao encontro da lógica da sociedade capitalista, na qual há o predomínio de políticas que definem que os trabalhadores sejam cada vez mais qualificados, produtivos e gerem mais valia às instituições. Na perspectiva da transformação, a educação permanente em saúde busca a práxis transformadora, em que proporciona aos sujeitos-trabalhadores a edificação de conhecimentos fundamentados na liberdade individual e coletiva, fundados nos preceitos de cidadania, onde a qualificação profissional individual possa incidir em transformações sociais.1515. Silva LAA, Ferraz F, Lino MM, Backes VMS, Schmidt SMS. Educação permanente em saúde e no trabalho de enfermagem: perspectiva de uma práxis transformadora. Rev Gaúcha Enferm. 2010; 31(3):557-61.

A formação doutoral foi relacionada com a busca da qualificação da atividade docente em universidades, em que já estavam inseridas antes da titulação: primeiramente [a vontade de realizar o doutorado], um interesse pessoal, eu sempre gostei de crescer, em conhecimento, em experiência, tentar fazer a minha profissão com o melhor possível. Até porque é um incentivo profissional à qualificação e eu entendia que era necessário para a minha atuação como docente (E12).

A busca pela formação doutoral vem ao encontro da necessidade de qualificação da atividade docente, identificado o ensinar como processo que exige o reconhecimento do inacabamento. Sendo na conscientização de que somos seres inacabados é que se funda o processo de educação permanente e a busca constante pela formação docente/profissional.1616. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2011.

A motivação pela busca do doutorado também foi justificada pela atuação profissional em área assistencial altamente especializada e ter o interesse e necessidade em produzir conhecimento nessa área: tudo começou porque entrei numa área muito especializada [...] Fui percebendo que os enfermeiros da área produziam pouco conhecimento, pensei que queria fazer algo diferente [...] achei interessante buscar aprimoramento maior, fiz mestrado [...] Terminei o mestrado já me preparando para o doutorado (E13).

A busca por novos conhecimentos, que provoquem transformações na prática profissional por meio da pesquisa, vem ao encontro do pensamento de Freire. Para o autor, não há ensino sem pesquisa, nem pesquisa sem ensino. Ao pesquisar, indaga-se, constata-se, intervém-se, educa-se e se auto educa. E, nesse processo, do que se conhecesse e ainda não se conhece é comunicado e anunciado a novidade, transformando a curiosidade ingênua em curiosidade epistemológica.1616. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2011.

Reconhecendo a vocação profissional

Para algumas das entrevistadas a vocação profissional inicial não era ser docente, porém, a docência veio como consequência do processo de formação stricto sensu, como evidenciado nas falas a seguir: eu nunca quis ser docente. Em primeiro lugar, eu vou te dizer uma coisa: uma coisa que eu sempre tive muito clara toda a minha vida é que eu nunca quis ser docente, mas o meu destino me levou a isso [...] Na realidade, eu sempre me vi muito mais na gerência. E a docência, eu poderia dizer, que foi um pouco que consequência desse processo [formação stricto sensu] porque assim que eu saí [do doutorado] foi uma das oportunidades, eu recebi várias propostas e acabei optando por esta. E não me arrependi, eu gosto do que eu faço hoje (E1).

A pós-graduação foi o que determinou as minhas escolhas e fazendo com que eu chegasse onde estou hoje, na atuação docente, na universidade, porque até terminar a pós-graduação, mestrado e doutorado, eu estava muito voltada ao hospital (E6).

O desejo em desenvolver pesquisas e ser pesquisadora apareceu como fator determinante nas escolhas profissionais e busca pela carreira acadêmica: eu sempre gostei de estudar. Quando eu fiz a opção de fazer o curso de graduação em Enfermagem, ao ler o descritivo da universidade das opções, havia lá que a Enfermagem fazia pesquisa, por isso que eu fiz a Enfermagem, senão eu não teria feito Enfermagem, eu teria feito outro curso (E5).

Outros relatos identificaram a prática assistencial como fator motivador para a busca da prática pedagógica e docente. Acho que a prática assistencial me chamou atenção para a prática pedagógica e para a docência (E15).

O cuidar associado ao educar é concebido como aspecto indissociável e intrínseco a prática profissional do Enfermeiro, a articulação entre o cuidado e educação proporciona o desenvolvimento do profissional em saúde de forma crítica, criativa, ética, política e técnica. Dessa forma, considera-se a educação como uma forma de cuidar e o cuidado uma forma de educar.1717. Ferraz F, Silva LWS, Silva LAA, Reibnitz KS, Backes VMS. Cuidar-educando em enfermagem: passaporte para o aprender/educar/cuidar em saúde. Rev Bras Enferm. 2005; 58(5):607-10.

Outras entrevistadas afirmaram que tinham vocação e vontade de se tornarem professoras e buscaram a formação stricto sensu como forma de consolidar a carreira docente: desde a minha terceira fase da graduação, eu já sabia que eu ia ser professora [...] Eu sempre quis [ser professora]. [...] Saí da graduação, sabendo que eu ia ser professora. Então, todo o meu trajeto até chegar a ser professora não foi fácil, mas eu já sabia o que eu queria. Eu tracei, literalmente, tracei o que iria fazer naquele tempo para chegar aonde eu estou [...] Eu acho que essa vontade me despertou com alguns professores que tinha e com o que eu imaginava que era a academia (E3).

Existram relatos em que as entrevistadas apresentaram vocação pela docência, porém, primeiramente, procuraram a experiência na assistência para depois buscarem a formação e inserção na docência: eu tinha muito claro que eu não poderia ser uma professora se eu não tivesse a experiência do fazer, eu precisava priorizar a minha assistência quando eu me formasse, não ser logo, em primeira instância, uma professora, mas eu sabia que eu tinha essa vocação, sabia que seria feliz com essa vocação desde que eu primeiro tivesse bastante experiência com essa prática assistencial (E2).

A docência universitária consiste num complexo ofício que exige dos professores o domínio do conteúdo, porém não somente isso. O ato de educar distingue-se do ato de ensinar, educar exige rigorosidade metódica, pesquisa, respeito aos saberes dos educandos, criticidade, ética, reflexão e crítica sobre a prática, respeito à autonomia dos educandos e ao reconhecimento do inacabamento.1616. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 43ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 2011. A prática assistencial e o conhecimento técnico em detrimento dos conhecimentos e dos saberes pedagógicos corroboram com os ideais da educação bancária, no qual a educação restringe-se ao domínio dos conteúdos e a sua transmissão. O conteúdo constitui um domínio importante para o processo de ensino-aprendizagem, porém ele não pode ser considerado ponto primordial e único desse.

Buscando a realização e valorização profissional

A realização e valorização profissional apareceram nas falas das entrevistadas relacionando esses dois fatores com o reconhecimento acadêmico, respeito, oportunidades e melhorias salarias provenientes da titulação: eu acho que uma pessoa que tem o título de doutor é muito respeitada. Quando você chega em um local e veem no teu currículo que você é doutor, os funcionários, os alunos, os outros colegas de trabalho já te respeitam. Existe uma cultura muito forte em cima do doutor [...] Então, acho que isso abre portas, o respeito, se tivesse que caracterizar com uma palavra seria o respeito, acho que a gente é mais respeitada no mercado de trabalho [...] O salário é melhor, existe uma diferença salarial e as oportunidades surgem muito mais facilmente, trabalho menos e ganho mais (E2).

Premiações e convites para participar em eventos científicos, bancas de mestrado e doutorado e aulas na temática, foram colocados como fatores de reconhecimento e liderança acadêmica: tenho uma liderança, no sentido de sempre ser lembrada em eventos científicos da área, participar de processos de avaliação de mestrados e doutorados na área [...] Então, acho que isso mostra que você tem uma certa liderança [...] Reconhecimento acadêmico, uma coisa que tenho muito orgulho foi essa menção honrosa [que recebi] no prêmio CAPES de tese (E13).

O corpo docente são os escultores da cultura institucional, exercendo forte influência nas implicações da qualidade da instituição e no sucesso do processo de ensino- aprendizagem. Existem diversos fatores que contribuem para o empenho e satisfação pessoal dos docentes no trabalho, como por exemplo, o reconhecimento de seus pares, o reconhecimento dos discentes, o progresso profissional, entre outros, sendo a satisfação no trabalho como fator importante para a revitalização da motivação dos docentes e em consequência dos alunos.1818. Machado ML, Soares VM, Ferreira JF, Gouveia O. Satisfação e motivação no trabalho: um estudo sobre os docentes do Ensino Superior em Portugal. Rev Port Pedagog. 2012; 46(1):95-108.

Os relatos também apontaram que, os enfermeiros sentem-se parcialmente realizados na profissão e, que este sentimento associa-se a não conquista dos seus objetivos e planos para a carreira profissional: eu me considero, parcialmente, realizada. Tracei um objetivo na minha vida e eu consegui, falava que até quando tivesse quarenta anos queria ter meu doutorado e queria estar fora da área hospitalar, da assistência. Na verdade, consegui isso, defendi meu doutorado antes dos 40, trabalho na área da pesquisa, estou no ambiente hospitalar, mas não presto assistência a pacientes. Então, a única coisa que falta [...] é entrar para a área acadêmica mesmo, propriamente dita, ficar vinculada com a formação de pessoas e o meu sonho é entrar em uma universidade de peso, de nome, então vou buscar isso (E7).

Existiram relatos em que as entrevistadas ainda não se consideraram realizadas. Relacionando a realização profissional com o desenvolvimento de expertises, competência e transformação social: Eu me considero realizada, porque consegui fazer o doutorado. Considero-me realizada, porque os meus objetivos foram realizados, mas assim, realizada, totalmente, não, porque eu preciso ter oportunidades para chegar nesse perfil bonito da CAPES, para isso a gente precisa ter oportunidades (E16).

O anseio por atingir às metas propostas pela CAPES e os objetivos traçados para a carreira científica e profissional são identificados como motivos de angústia e insatisfação pelos recém-doutores em Enfermagem. O sistema de organização e funcionamento da CAPES é edificado em exigências e metas de produtividade e perfil profissional de difícil alcance, no entanto, quando metas são alcançadas novas exigências são impostas, "uma vez que, por mais que façamos sempre será pouco, e o não alcance de metas desencadeia uma série de represálias resultantes na culpabilização da vítima".19:452 Dessa forma, o ciclo de metas e exigências torna-se algo inalcançável e traz consequências para as condições de trabalho, de vida e da qualidade do conhecimento produzido.1919. Bianchetti L. Condições de trabalho e repercussões pessoais e profissionais dos envolvidos com a pós-graduação stricto sensu: balanço e perspectivas. Linhas Crít. 2011; 17(34):439-60.

Planejando a carreira: enfrentando desafios e barreiras

O planejamento da carreira científica foi atribuído à vontade em ingressar como docente em uma universidade pública, sendo o anseio em entrar na academia atrelado à formação stricto sensu e ao desejo de ser pesquisadora.

Eu almejo sair da área hospitalar e ir para a área acadêmica, mas, por outro lado, é uma decepção, porque você concentra pessoas que sabem fazer pesquisa e que gostam disso só na área acadêmica [...] Eu quero entrar para carreira [acadêmica], tenho capacidade, o que falta é oportunidade de participar de concursos, mas pretendo entrar, sim, para carreira científica e acadêmica, estou me preparando (E7).

A dificuldade de construção do projeto de carreira científica é identificada pelas doutoras, considerando ser um processo árduo e um desafio conciliar a construção da carreira científica com as condições pessoais.

Eu estou projetando, apesar de ser um caminho muito árduo, pelo menos na minha percepção, [...] desenvolver pesquisa, construir um bom projeto para ele ser aprovado, para ganhar financiamento, para mim, não é [fácil] [...] E fazer essa conciliação, que eu acho que é um dos principais desafios, que coloca muito dos profissionais em cima do muro para decidir, se fica ou sai, é conciliar isso com o tempo de vida profissional, interesse, vontade, necessidades ou condições pessoais, principalmente, condições pessoais [...] No meu caso, agora, avaliando onde eu estou hoje, na universidade, onde eu me encontro, a decisão que me fez ficar lá e não tentar de novo na universidade onde eu tive toda a minha formação, é pessoal [...] se pensar no desenvolvimento do perfil do doutor, eu teria que voltar para a universidade onde eu me formei, porque ela é mais consolidada (E10).

Outra dificuldade relatada, referente à construção do projeto de carreira científica, diz respeito à escassez de concursos públicos e à contratação de professores substitutos. Eu acho uma barreira essa capacidade de construção do seu projeto de carreira científica, não é nem a capacidade do recém-doutor, mas é as dificuldades que ele encontra, as barreiras que ele encontra nesse caminhar [...] Nós saímos há pouco tempo de uma greve dos professores estaduais, pressionando o governo para fazer o concurso, porque a grande maioria dos professores da universidade estadual são substitutos, são professores precarizados. O governo partiu para um embate com os professores e até agora não falou da possibilidade de concurso. Houve uma promessa de greve, mas ainda não foi lançado nenhum edital para concurso público (E16).

Alguns relatos trouxeram como planejamento futuro para a carreira profissional e científica a realização do estágio pós-doutoral, de intercâmbios e maior desenvolvimento de pesquisas. Considero uma possibilidade de intercâmbio, sim. Eu acho que a gente tem que ter projetos, uma hora a gente constrói (E15).

O desenvolvimento e o fortalecimento da Enfermagem exige a formação de doutores preparados para a educação, pesquisa e liderança, que sejam capazes de construir uma carreira sólida e comprometida com o coletivo profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao trazer as interfaces da trajetória profissional, a busca pela formação stricto sensu, reconhecimento da vocação, realização e valorização profissional e planejamento da carreira das doutoras em Enfermagem, esse estudo tornou possível refletir a respeito dessas vivências e das necessidades inerentes ao preparo dos egressos para a inserção no mercado de trabalho e planejamento da sua carreira profissional e científica, além dos fatores de sofrimento e insatisfação profissional.

As doutoras apresentaram diferentes trajetórias profissionais, surgindo, também, diferentes motivações para a busca pela formação stricto sensu, sendo evidenciado o forte desejo em iniciarem a carreira docente/pesquisador em IES, anseio por melhorias salariais e progressão na carreira e maior valorização profissional.

A busca pela docência em prol de melhorias salariais ainda retrata o cenário de desvalorização do profissional Enfermeiro nos demais campos de atuação. Os relatos demonstram a docência universitária como algo desejado e apontado como vocação profissional, entretanto, também, manifesta-se como consequência do processo de qualificação e formação stricto sensu.

Dessa forma, os resultados demonstram o interesse das entrevistadas em dar continuidade aos seus projetos de pesquisa e aperfeiçoamento profissional, considerando-se seres inacabados e em busca de melhorias para a sua prática, com o reconhecimento e valorização pelos seus pares. A internacionalização aparece como planejamento importante na consolidação da carreira cientifica e satisfação profissional.

Considera-se necessário enfatizar as dificuldades, levantadas pelas doutoras com relação à construção do seu projeto de carreira científica, ressaltando os interesses e condições pessoais como fatores que corroboram com as barreiras, encontradas no desenvolvimento da carreira profissional e científica. Além da escassez de concursos públicos e a contratação de professores temporários nas universidades públicas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2016

Histórico

  • Recebido
    09 Abr 2015
  • Aceito
    25 Set 2015
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