TECNOLOGIA PARA SEGURANÇA DO CUIDADO EM SITUAÇÕES CATASTRÓFICAS: PROTÓTIPO MEDIADO PELA SOFT DESIGN SCIENCE RESEARCH

RESUMO

Objetivo:

produzir tecnologia propulsora de segurança do cuidado na atenção hospitalar em situações catastróficas.

Método:

pesquisa de natureza aplicada realizada em um hospital público situado na região centro-oeste, Brasil, entre os meses de setembro de 2020 a agosto de 2021, por meio da aplicação da Soft Design Science Research, em sete etapas: delineamento do problema, com análise descritiva de indicadores hospitalares; explicitação do problema como um conjunto específico de requisitos, mediante aplicação de escalas com 108 profissionais de saúde e 75 de enfermagem, e análise descritiva e inferencial; generalização do problema, através de revisão de escopo para sistematização de uma classe de problemas; estruturação dos componentes da solução por meio de workshop orientado pelo design thinking; comparação entre o problema específico e requisitos gerais para alinhamento da solução; definição da solução; construção da solução.

Resultados:

a imersão no problema evidenciou desfechos que anunciam o agravamento da condição de saúde dos pacientes e percepção negativa de trabalhadores e gestores em relação ao clima de segurança em situações catastróficas, acentuado pela insatisfação da equipe de enfermagem com o suporte oferecido pela organização. A projeção deste cenário foi essencial para sistematização de soluções potencializadoras de segurança já produzidas com esta finalidade, e para a realização de experimentações orientadas pelo design, em alinhamento, estruturação, prototipagem e iteração do protótipo construído.

Conclusão:

produziu-se um Time de Resposta Rápida que, em situações catastróficas, permite intervir frente ao agravamento de condições clínicas do paciente, o que favorece a ampliação da taxa de sobrevida e é propulsor de segurança.

DESCRITORES:
Gestão hospitalar; Tecnologias em saúde; Inovações tecnológicas; Segurança do paciente; Difusão de inovações; Equipe de respostas rápidas de hospitais; Catástrofes naturais; Projetos de desenvolvimento tecnológico e inovação

ABSTRACT

Objective:

to produce technology that promotes safe hospital care in catastrophic situations.

Method:

an applied study carried out in a public hospital located in Brazil's Midwest region, between September 2020 and August 2021, using Soft Design Science Research in seven stages: outlining the problem, with descriptive analysis of hospital indicators; explaining the problem as a specific set of requirements, through the application of scales with 108 health professionals and 75 nursing staff, and descriptive and inferential analysis; generalizing the problem, through a scope review to systematize a class of problems; structuring the components of the solution through a workshop guided by design thinking; comparing the specific problem and general requirements to align the solution; defining the solution; building the solution.

Results:

immersion in the problem revealed outcomes that heralded the worsening of patients' health conditions and the negative perception of workers and managers regarding the safety climate in catastrophic situations, accentuated by the nursing team's dissatisfaction with the support offered by the organization. The projection of this scenario was essential for the systematization of security-enhancing solutions already produced for this purpose, and for carrying out design-oriented experiments in alignment, structuring, prototyping and iteration of the prototype built.

Conclusion:

a Rapid Response Team has been set up which, in catastrophic situations, makes it possible to intervene when the patient's clinical condition worsens, which helps to increase the survival rate and promotes safety.

DESCRIPTORS:
Hospital management; Health technologies; Technological innovation; Patient safety; Diffusion of innovations; Hospital rapid response team; Natural disasters; Technological development and innovation projects

RESUMEN

Objetivo:

producir tecnología que promueva la seguridad del cuidado en la atención hospitalaria en situaciones catastróficas.

Método:

investigación aplicada realizada en un hospital público ubicado en la región Centro-Oeste de Brasil, entre los meses de septiembre de 2020 y agosto de 2021, mediante la aplicación de la Soft Design Science Research, en siete etapas: perfilamiento del problema, con análisis descriptivo de indicadores hospitalarios; explicación del problema como un conjunto específico de requisitos, mediante la aplicación de escalas con 108 profesionales de la salud y 75 profesionales de enfermería, y análisis descriptivo e inferencial; generalización del problema, mediante revisión de alcance para sistematizar una clase de problemas; estructuración de los componentes de la solución a través de un taller guiado por el design thinking; comparación entre el problema específico y los requisitos generales para alinear la solución; definición de la solución; construcción de la solución.

Resultados:

la inmersión en el problema reveló resultados que anuncian el empeoramiento de las condiciones de salud de los pacientes y la percepción negativa de trabajadores y gestores sobre el clima de seguridad en situaciones catastróficas, acentuada por la insatisfacción del equipo de enfermería con el soporte ofrecido por la organización. La proyección de este escenario fue fundamental para sistematizar las soluciones que potencien la seguridad, ya producidas para este fin, y para realizar experimentos orientados al diseño, alineación, estructuración, prototipado e iteración del prototipo construido.

Conclusión:

se formó un Equipo de Respuesta Rápida que, en situaciones catastróficas, permite intervenir ante el empeoramiento de las condiciones clínicas del paciente, lo que favorece el aumento de la tasa de supervivencia y brinda seguridad.

DESCRIPTORES:
Gestión hospitalaria; Tecnologías sanitarias; Innovaciones tecnológicas; Seguridad del paciente; Difusión de innovaciones; Equipo de respuesta rápida hospitalaria; Catástrofes naturales; Proyectos de desarrollo tecnológico e innovación

INTRODUÇÃO

A noção de qualidade em saúde, dada sua natureza complexa, polissêmica e multifacetada, requer, dentre outros aspectos, eficácia, efetividade e otimização dos processos, com equidade e segurança nas ações empreendidas. É nesse escopo que a segurança do cuidado passa a ser parte primordial da qualidade, visto que não há como prover cuidados seguros sem que haja qualidade na assistência1.

Em vista disso, tem-se aplicado estratégias que objetivam a uniformização dos processos, por meio do reconhecimento de riscos para planejamento da assistência com foco na mitigação de erros, de diretrizes fundamentadas nas melhores evidências, e ações de gerenciamento que favoreçam a cultura de segurança no contexto de prática profissional2^-3, sendo importante engajar e comprometer os stakeholders, isto é, os usuários do artefato - a gestão, os profissionais e a ajuda dos pacientes - na produção de cuidados com este fim3^-4.

Contudo, em situações catastróficas, a exemplo da pandemia da covid-19, tem-se um contexto de sobrecarga do sistema de saúde, com escassez de leitos hospitalares, de equipamentos de proteção, e de tecnologias médico-hospitalares5^-6, bem como o aumento repentino na demanda, com consequente sobrecarga de trabalho para os profissionais7. Tal condição de sobrecarga torna os profissionais de saúde mais propensos a cometerem falhas em seus processos assistenciais, tais como erros de medicação e administração inadequada de tratamentos8, comprometendo o clima de segurança9 e a qualidade do cuidado10.

Ademais, em situações de catástrofe, ampliam-se as condições de incertezas no processo decisório de gestores da saúde, culminando em sérias ameaças ao equilíbrio dos sistemas11. Faz-se imperativa a reorientação das práticas de atenção, com adoção de medidas específicas que permitam assegurar a efetividade do cuidado e manutenção da segurança e qualidade12, com redução dos riscos.

Em meio a tantos entraves, e que colaboram para o crescente número de eventos adversos, o gerenciamento efetivo da atenção hospitalar em situações catastróficas, no sentido de controlar agravamentos e garantir o mínimo de risco possível nos procedimentos clínicos, mostra-se crucial. Assim, faz-se relevante a criação e o desenvolvimento de tecnologias de microgestão com vistas a impulsionar a qualidade e segurança do cuidado, visando agregar valor à assistência, e, consequentemente, contribuir para o avanço das práticas nos serviços de saúde. Urge, pois, a imprescindibilidade do desenvolvimento de estudos que, para além de abordagens científicas puras, tradicionais, sejam propulsores de aplicabilidade prática na solução de problemas de contextos reais nas organizações de saúde.

Tem-se na Design Science, ciência que se propõe à projeção de soluções inovadoras com vistas ao desenvolvimento de novas tecnologias para resolução de problemas13, uma abordagem promissora a este intento e que permite minimizar o distanciamento entre as pesquisas empreendidas no âmbito acadêmico, e a prática nas organizações de saúde. Com isso, justifica-se o desenvolvimento de estudo com este escopo, visto que a adoção de medidas potencializadoras de qualidade e segurança na atenção hospitalar permite aperfeiçoar diretrizes e ações de saúde, as quais possam ser efetivamente gerenciadas, a depender das soluções adotadas14.

Considerando que eventos catastróficos têm sido uma realidade no contexto do setor da saúde na contemporaneidade, e que há necessidade de transpor concretamente os princípios de segurança do cuidado para a prática hospitalar, a produção de inovações tecnológicas rumo ao cuidado mais seguro tende a ser valiosa. Assim, postula-se que estudos científicos, que viabilizem tecnologias factíveis de serem aplicadas na atenção hospitalar tendem a contribuir objetivamente para a problemática enunciada, o que favorece o avanço das práticas e da ciência em saúde e enfermagem.

Com base nas premissas enunciadas, questiona-se: que tecnologias propulsoras de segurança do cuidado na atenção hospitalar podem ser produzidas por meio da Design Science, para utilização em situações de catástrofes? Para tanto, este estudo tem como objetivo produzir tecnologia propulsora de segurança do cuidado na atenção hospitalar em situações catastróficas.

MÉTODO

Trata-se de um estudo de natureza aplicada, ancorado no referencial metodológico da Soft Design Science Research (SDSR)15, abordagem fundamentada na exploração de problemas reais das organizações e obtenção sistemática de soluções mais adequadas ao seu contexto, com vistas à proposição de inovações tecnológicas13.

A metodologia do Design Science Research busca identificar soluções para novos problemas ou ainda apresentar soluções inovadoras e mais eficientes para problemas já solucionados através da criação de um artefato e da sistematização do processo que acompanha essa criação16.

A metodologia Soft Design Science Research agrega conceitos de duas abordagens diferentes, a Design Science Research (DSR) e a Soft System Methodology (SSM)15. Ambas são fundamentadas na compreensão e no raciocínio do problema orientado pelo design com o objetivo de produzir artefatos tecnológicos pertinentes ao contexto vivenciado13.

Portanto, para fins deste estudo, consideram-se artefatos os objetos artificiais ou naturais estruturados a partir da organização de componentes do ambiente interno para atingir objetivos em determinado ambiente externo13.

O estudo foi desenvolvido em um hospital universitário público federal de médio porte, situado em município da região centro-oeste, Brasil, no período de setembro de 2020 a agosto de 2021. A SDSR (Figura 1) considera, na operacionalização de suas etapas, os diversos aspectos contextuais envolvidos, na experimentação de técnicas e ferramentas do design, visando ao desenvolvimento, à instanciação, à avaliação e à iteração de um artefato tecnológico15.

Figura 1 -
Etapas de operacionalização da Soft Design Science Research.

A etapa 1 consistiu no delineamento do problema específico, momento em que se buscou uma análise da situação real do contexto hospitalar investigado, em reconhecimento a um problema existente15. Para tanto, procedeu-se com a análise de indicadores relacionados à segurança do cuidado na atenção hospitalar, na intenção de comparar o período pré-pandemia com o contexto de pandemia a qual fora vivenciada no período estudado, através de notificações e indicadores referentes ao período de julho de 2019 a agosto de 2020, excluindo-se notificações e dados incompletos. Estes dados foram organizados em planilha Microsoft Excel® e analisados por meio de estatística básica.

Na etapa 2, para maior explicitação do problema, buscou-se o detalhamento deste, na forma de um conjunto de requisitos15. Para esse fim, procedeu-se com uma imersão ao contexto investigado, no intuito de apropriar-se do problema no cenário investigativo e esclarecê-lo. Assim, foram aplicadas as escalas validadas Safety Attitude Questionnaire (SAQ) eNursing Work Index- Revised (NWI-R) para avaliar a cultura de segurança do paciente no cenário de estudo e o ambiente de prática profissional. A amostra foi constituída por 108 profissionais de saúde em resposta à SAQ e 75 profissionais de enfermagem em resposta à NWI-R, sendo incluídos no rol de participantes os profissionais que vivenciaram a assistência ao paciente com covid-19, independente do vínculo com a instituição, e excluídos aqueles que estivessem em afastamentos de qualquer natureza.

Os participantes preencheram o instrumento estruturado no software Survey Monkey, por meio de link direcionado através do aplicativo de mensagens WhatsApp. Os dados foram armazenados em planilha eletrônica Excel®, com processamento no Statistical Package for Social Science (SPSS), versão 21.0, e análise de variáveis utilizando medidas descritivas de centralidade e de dispersão, e testes de comparação.

Na etapa 3, com raciocínio orientado para experimentações em design, buscou-se a generalização do problema específico em um problema geral, mediante identificação de uma classe de problemas que orientou a condução da pesquisa em busca de melhores soluções. Para isso, foi realizada uma revisão de escopo em que foram sistematizadas as medidas potencializadoras de segurança do cuidado hospitalar em contextos epidêmicos e pandêmicos, seguindo as diretrizes do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses Extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR), e a estratégia PCC (P: população; C: conceito; e C: contexto)17.

Foram consultadas as bases de dados National Library of Medicine (MEDLINE/PubMed), Current Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), EMBASE e Web of Science (WOS), durante o mês de outubro de 2020, por meio de descritores controlados [Descritores em Ciência da Saúde (DeCS), Medical Subject Headings (MeSH) e CINAHL Headings] e não controlados (palavras-chave) conforme a estratégia PCC e combinações, segundo os operadores booleanos: “inpatient” OR “hospitalization”; “patient safety”; “pandemics” OR “epidemics” OR “disease, endemic”. Foram incluídos estudos primários publicados em inglês, espanhol e português, a partir do ano 2000, e excluídos artigos que não respondiam ao escopo da revisão, duplicados e não disponíveis.

Após a identificação dos estudos, procedeu-se à leitura dos títulos e resumos, e, posteriormente, para inclusão, leitura na íntegra por dois revisores independentes. Os artigos foram digitados em planilhas eletrônicas do programa Microsoft Excel®, designados pelas informações-chave de cada produção, e, posteriormente, agrupamento e síntese dos resultados. Na análise, foram sistematizadas as medidas potencializadoras de segurança no cuidado ao paciente hospitalizado em situações catastróficas já existentes e respectivas lacunas, visando a indução de requisitos necessários à solução.

Assim, na etapa 4, ainda em definição aos requisitos gerais do problema, inicialmente buscou-se sistematizar os componentes gerais da solução, em termos descritivos, mediante comunicação e coprodução de informações relacionadas ao detalhamento dos principais aspectos do artefato tecnológico em si15. Com esse propósito, empreendeu-se workshop de cocriação orientado pelas lentes do design thinking, abordagem centrada no ser humano e que busca a resolução de problemas por meio de soluções que prescindem de empatia, colaboração, experimentação e tangibilização de pensamentos e processos, em três fases que consistem no movimento de inspiração, ideação e prototipação, indo da exploração do problema à validação do protótipo, em um processo interativo de tentativa e erro18.

Cada fase foi operacionalizada em uma sessão específica, em três turnos e dias consecutivos, conforme atividades apresentadas na Figura 2. Foram incluídos nesta etapa profissionais de saúde vinculados ao Núcleo de Segurança do Paciente do hospital, com exceção daqueles que estiveram afastados no período de realização.

Figura 2 -
Operacionalização do workshop de cocriação orientado pelo design thinking

O workshop ainda serviu de base para as etapas subsequentes. Na etapa 5 da SDSR, realizou-se uma comparação entre as etapas 4 e 2, ou seja, entre os requisitos do problema geral e a explicitação do problema específico para que fosse possível chegar a uma solução específica ou a uma lógica declarativa da solução a ser projetada. Já na etapa 6, em que se buscou a definição de uma solução específica, foram declarados os requisitos gerais com base na definição da etapa 4, e que subsidiaram a prototipação da solução (etapa 7) mais adequada para a realidade em estudo15.

O estudo integrou o projeto matricial intitulado “Artefatos para implementação da gestão da clínica em hospital universitário”, devidamente aprovado em Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Em atenção aos preceitos éticos e legais referentes às pesquisas com seres humanos, adotou-se os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) distintos em todas as etapas da pesquisa conforme Resolução 466/12.

RESULTADOS

Dada a complexidade envolvida na operacionalização da SDSR, presente objeto de estudo, os resultados serão apresentados conforme a consecução das etapas descritas no método, desde a identificação e delineamento do problema até a prototipação da tecnologia construída. Na Tabela 1, apresenta-se em síntese estes achados, conforme objetivos de cada etapa e os respectivos produtos em cada saída.

Ao analisar os dados e o objetivo da pesquisa, fica claro que o artefato tem que ser projetado para solucionar problemas referentes à segurança do paciente e à qualidade na assistência, pautadas em uma comunicação efetiva. Com base na análise dos dados, bem como nas soluções apontadas ao longo das etapas empreendidas, idealizou-se a prototipação de um Time de Resposta Rápida propulsor de segurança do paciente em situações catastróficas na atenção hospitalar (Tabela 2).

Tabela 1 -
Síntese dos resultados produzidos em cada etapa do método. Região centro-oeste, Brasil, 2021.

Etapas da Soft Design Science Research		Proposição da etapa	Resultados alcançados
1	Problema específico	Identificar e delinear o problema específico.	A qualidade e segurança do cuidado na atenção hospitalar, em contexto de pandemia, é comprometida, agravando a condição de saúde dos pacientes, com aumento do número de casos de lesão por pressão, de mortalidade e na ocorrência de never events.
2	Explicitação do problema	Desenvolver compreensão sob diferentes perspectivas do problema, para uma base para discussão.	Os profissionais de saúde mostraram-se satisfeitos no trabalho e o ambiente de prática profissional foi favorável. Entretanto, a percepção dos profissionais em relação às questões de segurança do paciente é baixa.
3	Problema geral	Mapear soluções que favoreçam a segurança do cuidado em contextos de epidemia e pandemia.	Identificaram-se artefatos: constructos (protocolos); modelos (plano de gerenciamento de resíduo); métodos (teleatendimento) e instanciações (checklist para verificação e precaução em pacientes infectados).
4	Requisitos do problema geral	Buscar componentes gerais para solução e determinar questões normativas imbricadas na construção e aplicação do artefato.	Diminuir o risco de infecção nosocomial e infecção cruzada; Organizar e sistematizar procedimentos e o trabalho em equipe; Promover a segurança dos envolvidos no cuidado (pacientes e dos profissionais); Minimizar o trânsito de pessoas nos corredores hospitalares; Ofertar atendimento seguro, de qualidade e oportuno em situações de emergência; Otimizar o tempo de resposta na implementação de ações de enfrentamento em uma situação de crise; Demandar a capacitação de profissionais; Organizar fluxos e protocolos assistenciais; Favorecer a comunicação eficaz entre a equipe multiprofissional; Reduzir erros frente à assistência ao paciente; Proporcionar segurança na realização dos procedimentos.
5	Comparação entre etapas 4 e 2	Explicitar os requisitos do problema geral e do problema específico para que seja possível chegar a uma solução específica ou a uma lógica declarativa do artefato a ser projetado.	O artefato a ser projetado deverá solucionar: Problemas de relacionamento interprofissional; Baixa percepção da cultura de segurança do paciente; Falhas na comunicação; Déficit de profissionais qualificados; Melhorar/aumentar a participação da gestão com as ações de segurança do paciente.
6	Busca por uma solução específica	Analisar os dados como subsídios para a projeção de um artefato que solucione o problema encontrado.	Projeção analítica do artefato proposto: Time de Resposta Rápida (TRR).
7	Construção da solução	Prototipar um Time de Resposta Rápida para segurança do cuidado na atenção hospitalar em situações de catástrofe.	Protótipo do artefato: Time de Resposta Rápida.

Tabela 2 -
Apresentação do artefato Time de Resposta Rápida. Região centro-oeste, Brasil, 2021.

Artefato: Time de Resposta Rápida (TRR) Segurança do cuidado na atenção hospitalar em situação de catástrofe
Objetivo: favorecer a segurança do cuidado na atenção hospitalar em situações catastróficas.
Potencialidades	Justificativas com base nos resultados de cada etapa da Soft Design Science Research
Proporciona atendimento seguro e especializado aos pacientes em condições de saúde em risco.	Em situações de pandemia há falhas na assistência que podem gerar danos à saúde do paciente, como o aumento nos casos de lesão por pressão e a notificação de never events. Alocação de profissionais inexperientes no mercado de trabalho e ausência de treinamento. A ambiência favorável às práticas profissionais da enfermagem potencializam as ações que promovem qualidade e segurança no cuidado ao paciente.
Diminui a taxa de mortalidade hospitalar e reduz as admissões na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devido ao agravamento do quadro clínico.	O aumento na demanda de pacientes graves em ventilação mecânica e que possivelmente evoluem para uma Parada Cardiorrespiratória (PCR) está relacionado ao aumento de mortalidade nesse período. A implantação de um Time de Resposta Rápida propicia redução da mortalidade hospitalar.
Contribui para a construção da cultura de segurança no hospital.	Evidenciou-se baixa percepção dos profissionais de saúde em relação ao clima de segurança do paciente no local investigado. A implantação de um Time de Resposta Rápida pode contribuir para a implementação da cultura de segurança do cuidado no ambiente hospitalar.
Otimiza atendimentos aos pacientes críticos, em situações de epidemia, pandemia e desastres, em que os leitos de UTIs são escassos.	Constatou-se que, nos planos de contingência, um dos objetivos principais é a otimização dos leitos de UTI. A implantação do TRR favorece a intervenção de cuidados nos momentos em que o estado do paciente está comprometido, propiciando melhora no quadro clínico e diminuição do tempo de permanência na unidade hospitalar.
STAKEHOLDERS
Atores estratégicos envolvidos	Justificativas com base nos resultados de cada etapa da Soft Design Science Research
Alta governança e os demais gestores do hospital	A avaliação da cultura de segurança pelos profissionais no hospital investigado identificou que um dos itens com a menor pontuação foi a percepção da gerência. O modo como a gestão é conduzida implica na construção ou fragilidade de cultura de segurança no ambiente hospitalar, visto que demanda movimentos participativos.
Sensibilização da comunidade hospitalar	O engajamento dos trabalhadores faz com que se sintam parte do processo e atuem de forma comprometida com os resultados institucionais, buscando mudanças/implementações de modo propositivo e próximos das gerências. O ativamento do Time de Resposta Rápida pelos pacientes e ou seus acompanhantes pode proporcionar um melhor atendimento aos pacientes que apresentam deterioração do quadro clínico nas enfermarias.
Núcleo de Segurança do Paciente (NSP)	Conforme a RDC nº 36/201319, o Núcleo de Segurança do Paciente é a organização dentro do hospital cujo objetivo é o de acompanhar as ações implementadas de modo a promover a segurança do paciente. Durante o workshop de cocriação de artefatos, o Núcleo de Segurança do Paciente do hospital investigado apresentou situações nas quais a segurança do paciente é posta em risco, conforme exposto no mapa conceitual.
Setor de ensino e pesquisa do hospital e setor de desenvolvimento de pessoas	Articulação entre hospital universitário e Universidade, e o setor de desenvolvimento de pessoas para promover o desenvolvimento dos profissionais do hospital por meio de capacitações. A participação desses setores frente a implantação do Time de Resposta Rápida é de extrema importância, visto que toda a comunidade hospitalar deverá conhecer as atividades do time e deverá ser treinada para que o acionamento seja realizado em tempo oportuno. Diversos estudos apresentaram a capacitação de profissionais de saúde como medida potencializadora para a segurança do paciente.
COMPOSIÇÃO E FUNCIONAMENTO
Critérios	Justificativas com base nos resultados de cada etapa da Soft Design Science Research
Equipe multiprofissional, com pelo menos 01 (um) especialista intensivista de cada categoria profissional (enfermeiro, médico e fisioterapeuta).	A composição de Time de Resposta Rápida por profissionais intensivistas (enfermeiro, médico e fisioterapeutas) propicia melhores resultados e/ou desfechos.
7 dias por semana, 24 horas por dia, nos três turnos.	Para garantir uma assistência integral e de qualidade a todos os pacientes.
Treinamento do Time de Resposta Rápida baseado em simulação.	O treinamento baseado em simulação in situ é importante para identificar e mitigar riscos latentes e defeitos no sistema de resposta de emergência do hospital.
Realização de diversos cenários simulados.	Testar possibilidades de atendimento, organizar o fluxo de atendimento, treinamento do Time de Resposta Rápida e da equipe assistencial. Melhorar a forma de atuação do Time de Resposta Rápida. Na revisão de escopo foram encontrados diversos estudos trazendo o uso da simulação como estratégia de capacitação para implantação de protocolos, testagem de fluxos de trabalho e treinamento de equipes.
Elaboração e implantação de protocolo institucional para acionamento do Time de Resposta Rápida.	A fim de melhorar a comunicação entre a equipe assistencial e o Time de Resposta Rápida, bem como a implementação de escalas e dispositivos de acionamento do Time de Resposta Rápida, para que o atendimento seja oportuno, e de qualidade. Na revisão de escopo realizada para mapear as medidas potencializadoras para a segurança do paciente em situações de epidemia/pandemia, apresentou-se como uma de suas medidas a implantação de protocolos de atendimento/funcionamento do Time de Resposta Rápida, para melhor organização das ações no hospital.
Treinamento de toda a comunidade hospitalar.	Reconhecimento precoce dos sinais de agravamento do paciente e acionamento correto do Time de Resposta Rápida, e capacitação do pessoal para realizar o acionamento da forma adequada.
Elaboração de estratégias de comunicação entre os membros da TRR e equipes.	A implementação de estratégias de comunicação eficazes entre os profissionais de saúde é importante para melhorar a segurança do paciente e a qualidade do atendimento.
Elaborar em conjunto com a TI e a Infraestrutura as formas de acionamento do Time de Resposta Rápida.	O mecanismo de acionamento é um dos critérios a serem bem implantados, pois deve ser de fácil acesso e de conhecimento de todos os atores inseridos no contexto hospitalar. O uso de ferramentas que possam auxiliar as equipes assistenciais na identificação de pacientes em risco de forma rápida, facilita a resposta do Time de Resposta Rápida e permite a realização de uma assistência oportuna, segura e com qualidade aos pacientes internados.
Utilizar escala para avaliação fisiológica e detecção precoce de alterações fisiológicas e deterioração clínica em pacientes não críticos.	A escala de pontuação fisiológica é uma ferramenta importante para mensurar o risco de deterioração clínica de pacientes adultos hospitalizados em enfermaria, sua avaliação consiste em parâmetros dos sinais vitais que resultam em diferentes escores, como o Escore de Alerta Precoce e a sua versão modificada.
Implantar indicadores de monitoramento e avaliação da efetividade da atuação do Time de Resposta Rápida.	Importante para avaliar os benefícios e a efetividade da implantação de um Time de Resposta Rápida.

DISCUSSÃO

O presente estudo, fundamentado no referencial metodológico da Soft Design Science Research, que orienta a condução de pesquisas voltadas à solução de problemas, prototipou o Time de Resposta Rápida (TRR) como solução para a segurança e qualidade na atenção hospitalar em situação crítica de saúde, a exemplo de contextos de epidemia e pandemia, em que os protocolos de segurança podem estar ameaçados em vista da situação de caos e insegurança que se instaura8. Há evidências de que a implantação de um TRR no hospital colabora para maior taxa de sobrevida20 e favorece a intervenção de cuidados nos momentos em que a condição do paciente está comprometida, propiciando melhora no quadro clínico e diminuição do tempo de permanência no hospital20^-21.

A segurança e qualidade do cuidado são elementos fundamentais nos princípios da gestão da clínica, modelo organizacional utilizado como referencial teórico neste estudo, que por meio dos elementos estruturantes e indissociáveis “gestão-assistência-educação”, visa promover melhorias de qualidade para uma atenção à saúde segura, humanizada, contínua e centrada no indivíduo22^,23. À luz da gestão da clínica, a obtenção do cuidado seguro e de qualidade ocorre quando há redução dos riscos inerentes e danos decorrentes aos profissionais de saúde, pacientes e familiares, sendo necessário o envolvimento de todos estes atores implicados na produção de cuidado, de modo a assegurar um cuidado contínuo, embasado no compartilhamento de informações e poder, vigilância contínua e seguimento horizontalizado de cada caso 23^-24.

Ao triangular os dados do estudo, evidencia-se que o artefato projetado é propulsor de segurança e qualidade na assistência prestada, pautada em uma comunicação efetiva. Nesse sentido, a implantação de TRR é considerada uma estratégia favorável para a mitigação de erros frente à assistência ao paciente, permitindo a segurança nos procedimentos de emergência, bem como a segurança da equipe envolvida25^-27.

No cenário internacional, outros estudos desenvolveram proposta de equipes de atendimento, na mesma linha de atuação do TRR, tais como: a Equipe de Resposta Rápida para emergências ocorridas em cirurgias de emergência durante a pandemia da covid-1927; implantação das Equipes de Acesso Venoso Central durante a pandemia da covid-19 na China25 e nos Estados Unidos26.O artefato proposto aqui tem por objetivo a garantia da segurança do paciente, por meio da oferta de um atendimento de qualidade, realizado por profissionais qualificados e treinados para tal finalidade.

As contingências do ambiente encontradas neste estudo mostraram que a situação de pandemia pode causar falhas na assistência, problemas na comunicação entre as equipes de saúde e a gestão, e sobrecarga de trabalho para as equipes de saúde. Tais fatos corroboram com a literatura que aponta, como desafios à segurança e à qualidade em saúde e potencializadores das chances de falhas assistenciais, a inserção de profissionais inexperientes no mercado de trabalho, a ausência de treinamento10, a sobrecarga de trabalho e o número insuficiente de profissionais28^-29.

Ao avaliar o contexto interno e externo do ambiente, para o qual o artefato deve ser projetado, fica evidente os desafios relacionados à segurança do paciente. Um time de resposta rápida tem por objetivo atender situações em que a saúde do paciente está se deteriorando, e que uma intervenção rápida, com qualidade, realizada por profissionais qualificados, onde a comunicação é realizada de forma efetiva, possa ser a garantia da segurança do paciente em situações de epidemia/pandemia, e até mesmo no dia a dia da assistência ao paciente20.

A experimentação no design é parte indissociável do processo de construção científica, pois permite externalizar ideias de maneira que possam ser absorvidas e complementadas pelos stakeholders no momento em que são concebidas. Nesse sentido, consiste em um processo de pensar e de construir junto, que permite projetar e comunicar de maneira tangível pensamentos envoltos no processo de cocriação por meio de protótipos que funcionam como catalisadores de inovação30.

A realização do estudo em contexto de pandemia foi uma limitação, pois pode ter restringido a prototipação de soluções em outros tipos de catástrofes. Pontua-se que, embora as etapas da SDSR tenham se proposto à prática projetual do design, suas experimentações registraram relatos sobre a prática que podem não refletir com exatidão e profundidade a maneira como a segurança do cuidado é implementada no cotidiano hospitalar, sendo este um limite, mas, também, uma possibilidade de aprofundamento dos achados com outros tipos de estudo sobre o mesmo objeto.

Reconhece-se ainda como limitação o fato de o protótipo necessitar de aprimoramentos no seu design e funcionalidades, sendo recomendada a iteração deste artefato, mediante estudo de validação com juízes e testagem na prática na atenção hospitalar com profissionais designados para compor uma comissão responsável pelo TRR. Nesse processo de aprimoramento, recomenda-se a inserção de novos elementos ao protótipo, a exemplo da virtualização deste em seu processo de aplicação, recomendando-se a testagem por meio de simulação, com avaliação dos impactos na performance do TRR como forma de sustentar sua incorporação nas instituições hospitalares, visando à melhoria das práticas de segurança e do cuidado em situações catastróficas.

CONCLUSÃO

É importante e necessário o desenvolvimento de pesquisas relevantes, do ponto de vista organizacional, orientadas por experimentações do design e que preservem o rigor indispensável a qualquer pesquisa científica, à luz de referenciais interpretativos robustos, tal qual se propõe a SDSR. Por conseguinte, o presente estudo poderá impulsionar novas hipóteses para que outras pesquisas sejam geradas, visando à identificação de soluções relevantes à prática nos serviços de saúde e que propiciem avanços no conhecimento e na implementação de tecnologias e práticas inovadoras.

A integração dos dados provenientes de diversas fontes na operacionalização das etapas da SDSR, e por meio da investigação que adotou abordagens dedutivas, fundamentadas em metodologias tradicionais de pesquisa para explicar o fenômeno em estudo; indutivas, por meio de experimentações em design thinking que permitem vislumbrar a funcionalidade da solução; e abdutiva, que sugere como esta solução pode ser; ilustram o potencial desta investigação, no desenvolvimento de tecnologias e inovação para o avanço das práticas de atenção hospitalar.

Apesar do protótipo não ter sido testado, ele foi cocriado pelos próprios profissionais que o usarão e passou pela avaliação de gestores do hospital investigado no processo de iteração, sendo avaliado de maneira positiva, o que representa um grande potencial para impulsionar a segurança no cuidado hospitalar em situações de catástrofes. Sugere-se que pesquisas futuras possam ser realizadas para que o protótipo proposto possa ser posto em prática, testado e adaptado para atingir o objetivo principal que é a garantia de um cuidado seguro e com qualidade no contexto hospitalar.

REFERENCES

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NOTAS

• ORIGEM DO ARTIGO

  Extraído da dissertação - Segurança e Qualidade na Atenção Hospitalar em contexto de Pandemia: criação de artefatos para Gestão da Clínica por meio da Soft Design Science Research, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas a Atenção Hospitalar, do Hospital Universitário Júlio Müller, da Universidade Federal de Mato Grosso, em 2021.

• APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

  Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Hospital Universitário Julio Mueller, parecer n.º 3.285.978/2019, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 09495919.9.0000.5541.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: José Luís Guedes dos Santos, Maria Lígia Bellaguarda.

Editor-chefe: Elisiane Lorenzini.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  14 Out 2024
• Data do Fascículo
  2024

Histórico

• Recebido
  01 Out 2023
• Aceito
  17 Jul 2024