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PREVALÊNCIA E ASSOCIAÇÃO ENTRE ESTRESSE E ANSIEDADE EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM PERIOPERATÓRIA: ESTUDO MISTO

RESUMO

Objetivo:

analisar a prevalência e associação entre estresse e ansiedade de profissionais de enfermagem perioperatória.

Método:

estudo sequencial explanatório de método misto. Os dados foram coletados entre outubro de 2022 e março de 2023. Etapa quantitativa transversal desenvolvida com 56 profissionais de enfermagem perioperatória, que responderam questionário sociodemográfico, a Lista de Sinais e Sintomas de Estresse e o GAD 7 - Transtorno de Ansiedade Geral. Dados qualitativos obtidos com oito entrevistas semiestruturadas. Mixagem de dados por conexão.

Resultados:

prevaleceram profissionais com ansiedade moderada (n=21; 36,8%) e alto estresse (n=24; 42,1%). Constatou-se associação entre ansiedade e estresse (r=0,827; p=0,01). Dados qualitativos corroboraram com aspectos do contexto de trabalho perioperatório que predispõem ao estresse e à ansiedade, como sobrecarga de trabalho, pouca colaboração interprofissional, limitada governabilidade sobre as rotinas e a dicotomia entre gestão de macroprocessos e prática assistencial.

Conclusão:

evidenciou-se associação entre alto estresse e ansiedade presente nos profissionais investigados, agravos relacionados a aspectos do trabalho desenvolvido em contextos de cuidado perioperatório.

DESCRITORES:
Saúde do trabalhador; Ansiedade; Estresse ocupacional; Enfermagem perioperatória; Assistência perioperatória.

ABSTRACT

Objective:

to analyze prevalence and association between stress and anxiety among perioperative nursing professionals.

Method:

this is mixed methods explanatory sequential research. Data were collected between October 2022 and March 2023. Cross-sectional quantitative stage was developed with 56 perioperative nursing professionals, who answered a sociodemographic questionnaire, the List of Signs and Symptoms of Stress and General Anxiety Disorder 7-item (GAD-7). Qualitative data obtained from eight semi-structured interviews. Data mixing occurred per connection.

Results:

professionals with moderate anxiety (n=21; 36.8%) and high stress (n=24; 42.1%) prevailed. An association was found between anxiety and stress (r=0.827; p=0.01). Qualitative data supported aspects of the perioperative work context that predispose to stress and anxiety, such as work overload, little interprofessional collaboration, limited governance over routines and dichotomy between macroprocess management and care practice.

Conclusion:

an association was evidenced between high stress and anxiety present in the professionals investigated, injuries related to aspects of the work carried out in perioperative care contexts.

DESCRIPTORS:
Ocuppational health; Anxiety; Occupational stress; Perioperative nursing; Perioperative care.

RESUMEN

Objetivo:

analizar la prevalencia y asociación entre estrés y ansiedad entre profesionales de enfermería perioperatoria.

Método:

estudio secuencial explicativo de método mixto. Los datos se recopilaron entre octubre de 2022 y marzo de 2023. Se desarrolló una etapa cuantitativa transversal con 56 profesionales de enfermería perioperatorios, quienes respondieron un cuestionario sociodemográfico, el Listado de Signos y Síntomas de Estrés y GAD 7 (Trastorno de Ansiedad General). Datos cualitativos obtenidos de ocho entrevistas semiestructuradas. Se produjo una mezcla de datos por conexión.

Resultados:

predominaron los profesionales con ansiedad moderada (n=21; 36,8%) y alto estrés (n=24; 42,1%). Se encontró asociación entre ansiedad y estrés (r=0,827; p=0,01). Los datos cualitativos corroboraron aspectos del contexto laboral perioperatorio que predisponen al estrés y la ansiedad, como la sobrecarga de trabajo, la poca colaboración interprofesional, la gobernanza limitada de las rutinas y la dicotomía entre la gestión de macroprocesos y la práctica asistencial.

Conclusión:

hubo asociación entre el alto estrés y la ansiedad presentes en los profesionales investigados, problemas relacionados con aspectos del trabajo realizado en contextos de atención perioperatoria.

DESCRIPTORES:
Salud laboral; Ansiedad; Estrés laboral; Enfermería perioperatoria; Atención perioperativa.

INTRODUÇÃO

O contexto da saúde do trabalhador configura-se como interdisciplinar, multi-institucional e complexo. Dentre outros aspectos, visa à promoção, prevenção e assistência, sendo o trabalhador o protagonista de mudanças em seus processos de trabalho11. Silva FFV. Comprehensive worker’s health care: Limitations, advances, and challenges. Rev Bras Saúde Ocup [Internet]. 2021 [cited 2023 Jul 10];46:e12. Available from: https://doi.org/10.1590/2317-6369000020719
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. Apesar dos avanços na área, há ambientes laborais em que permeiam fatores que interferem na saúde biopsicossocioespiritual dos trabalhadores11. Silva FFV. Comprehensive worker’s health care: Limitations, advances, and challenges. Rev Bras Saúde Ocup [Internet]. 2021 [cited 2023 Jul 10];46:e12. Available from: https://doi.org/10.1590/2317-6369000020719
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-33. Luz EMF, Munhoz OL, Morais BX, Greco PBT, Camponogara S, Magnago TSBS. Repercussions of Covid-19 in the Mental Health of Nursing Workers. Rev Enferm Cen-Oeste Min [Internet]. 2020 [cited 2023 Jul 10];10:e382. Available from: https://doi.org/10.19175/recom.v10i0.3824
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.

No que se refere aos ambientes de assistência em saúde, profissionais de enfermagem encontram-se vulneráveis ao adoecimento psíquico relacionado ao trabalho22. Assis BB, Azevedo C, Moura CC, Mendes PG, Rocha LL, Roncalli AA, et al. Factors Associated with Stress, Anxiety and Depression in Nursing Professionals in the Hospital Context. Rev Bras Enferm [Internet]. 2022 [cited 2023 Jul 10];75(Suppl 3):e20210263. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2021-0263
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-44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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. Suas ações são dependentes de seus objetos laborais, como gestão, cuidado e educação em saúde, estes influenciados por rotina de trabalho desgastante, limitações de materiais e de pessoal e por relações interpessoais intensas e conflitantes33. Luz EMF, Munhoz OL, Morais BX, Greco PBT, Camponogara S, Magnago TSBS. Repercussions of Covid-19 in the Mental Health of Nursing Workers. Rev Enferm Cen-Oeste Min [Internet]. 2020 [cited 2023 Jul 10];10:e382. Available from: https://doi.org/10.19175/recom.v10i0.3824
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-44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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.

Frente aos diferentes ambientes de assistência em saúde, as unidades de perioperatório estão entre os locais que ocasionam o desgaste psicológico dos profissionais de enfermagem44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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-55. Appel AP, Carvalho ARS, Santos RP. Prevalência e fatores associados à ansiedade, depressão e estresse numa equipe de enfermagem COVID-19. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2021 [cited 2024 Jan 26];42(Spec):e20200403. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200403
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. Isso deve-se, dentre outros aspectos, à alta complexidade de pacientes e à necessidade de competência e autonomia específicas destes cenários44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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.

Nesse sentido, a literatura nacional e internacional revela que a ansiedade66. Ghawadra SF, Adbullan KL, Choo WY, Phang CK. Psychological Distress and its Association with Job Satisfaction Among Nurses in a Teaching Hospital. J Clin Nurs [Internet]. 2019 [cited 2023 Aug 10];28(21-22):4087-97. Available from: https://doi.org/10.1111/jocn.14993
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e o estresse44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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,66. Ghawadra SF, Adbullan KL, Choo WY, Phang CK. Psychological Distress and its Association with Job Satisfaction Among Nurses in a Teaching Hospital. J Clin Nurs [Internet]. 2019 [cited 2023 Aug 10];28(21-22):4087-97. Available from: https://doi.org/10.1111/jocn.14993
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estão entre os agravos vivenciados pelos profissionais de enfermagem perioperatória. Em estudo desenvolvido na Malásia66. Ghawadra SF, Adbullan KL, Choo WY, Phang CK. Psychological Distress and its Association with Job Satisfaction Among Nurses in a Teaching Hospital. J Clin Nurs [Internet]. 2019 [cited 2023 Aug 10];28(21-22):4087-97. Available from: https://doi.org/10.1111/jocn.14993
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, constatou-se prevalência de 44% de ansiedade e de 14,3% de estresse em profissionais destes contextos. No Sul do Brasil, 64,5% dos investigados vivenciavam altas demandas psicológicas, condição que se encontrava associada a burnout44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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. Quando verificadas as categoriais profissionais, identifica-se uma prevalência de 56,8% de ansiedade e 35,1% de estresse, em técnicos(as) de enfermagem e 50% de ambos os agravos em enfermeiros(as)55. Appel AP, Carvalho ARS, Santos RP. Prevalência e fatores associados à ansiedade, depressão e estresse numa equipe de enfermagem COVID-19. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2021 [cited 2024 Jan 26];42(Spec):e20200403. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200403
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. Ainda, estudo multicêntrico chinês demonstrou que, mesmo após a pandemia da Covid-19, trabalhadores hospitalares mantiveram impacto psicológico negativo, forte e sustentado77. Lixia W, Xiaoming X, Lei S, Su H, Wo W, Xin F, et al. A Cross-Sectional Study of the Psychological Status of 33,706 Hospital Workers at the Late Stage of the COVID-19 Outbreak. J Affect Disord [Internet]. 2022 [cited 2024 Jan 26];297:156-68. Available from: https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.10.013
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.

Diante do exposto, verifica-se a complexa relação entre o trabalho em unidades de cuidado perioperatório e a prevalência de estresse e ansiedade dos profissionais de enfermagem que nelas atuam44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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-66. Ghawadra SF, Adbullan KL, Choo WY, Phang CK. Psychological Distress and its Association with Job Satisfaction Among Nurses in a Teaching Hospital. J Clin Nurs [Internet]. 2019 [cited 2023 Aug 10];28(21-22):4087-97. Available from: https://doi.org/10.1111/jocn.14993
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. Ainda, a avaliação de ambos os agravos no contexto perioperatório, de maneira concomitante, é limitada. Estas lacunas do conhecimento justificam a condução desta investigação. Assim, objetiva-se analisar a prevalência e associação entre estresse e ansiedade de profissionais de enfermagem perioperatória.

MÉTODO

Pesquisa de métodos mistos, com estratégia sequencial explanatória (QUANT → Qual), na qual os dados quantitativos são coletados e analisados primeiro e os resultados obtidos orientam a coleta dos dados qualitativos88. Creswell JW, Clark VLP. Pesquisa de métodos mistos. 2nd ed. Porto Alegre, RS(BR): Penso; 2013.. Quanto à atribuição de peso, a prioridade foi da pesquisa quantitativa. A combinação dos dados ocorreu por conexão88. Creswell JW, Clark VLP. Pesquisa de métodos mistos. 2nd ed. Porto Alegre, RS(BR): Penso; 2013..

A etapa quantitativa foi de natureza transversal, relatada de acordo com o Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE)99. Cuschieri S. The STROBE guidelines. Saudi J Anaesth [Internet]. 2019 [cited 2023 Aug 10];13(1):31-4. Available from: https://doi.org/10.4103/sja.SJA_543_18
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. A etapa qualitativa teve caráter descritivo-exploratório e foi norteada pelo Consolidated Criteria for Reporting Qualitative Research (COREQ)1010. Souza VR, Marziale MH, Silva GT, Nascimento PL. Tradução e validação para a língua portuguesa e avaliação do guia COREQ. Acta Paul Enferm [Internet]. 2021 [cited 2023 Jul 12];34:eAPE02631. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2021AO02631
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. No método misto, utilizou-se o Mixed Methods Appraisal Tool (MMAT) para auxiliar na transparência de redação1111. Hong QN, Fàbregues S, Bartlett G, Boardman F, Cargo M, Dagenais P, et al. The Mixed Methods Appraisal Tool (MMAT) Version 2018 for Information Professionals and Researchers. Educ Inform [Internet]. 2018 [cited 2023 Sep 05];34(4):285-91. Available from: https://doi.org/10.3233/EFI-180221
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.

A pesquisa foi desenvolvida em um hospital de ensino do Rio Grande do Sul, nos setores intra-hospitalares: Bloco Cirúrgico (BC), Sala de Recuperação Anestésica (SRA), Unidade de Clínica Cirúrgica (UCC) e Unidade de Processamento de Materiais e Esterilização (UPME), os quais prestam assistência a pacientes que necessitam de intervenções cirúrgicas, nos períodos pré, trans e pós-operatório, de diferentes especialidades e distintos perfis assistenciais.

Foram incluídos profissionais de enfermagem que estavam atuando nas unidades de perioperatório supracitadas no período investigado, e que possuíam no mínimo três meses de atuação em unidade perioperatória. Foram excluídos, das duas etapas, aqueles ausentes no período da coleta de dados por motivo de férias ou licenças prolongadas.

Assim, na etapa quantitativa constituiu-se uma amostra não probabilística por conveniência de 56 profissionais de enfermagem. Para a investigação qualitativa foram incluídos, por meio de sorteio, oito profissionais que participaram previamente da etapa quantitativa e se encontravam com ansiedade (≥10 pontos, segundo o instrumento GAD 7 Transtorno Geral de Ansiedade1212. Robert L, Spitzer RL, Kurt K, Janet BW, Williams BL. A Brief Measure for Assessing Generalized Anxiety Disorder the GAD-7. Arch Intern Med [Internet]. 2006 [cited 2023 Sep 05];166(10):1092-7. Available from: https://doi:10.1001/archinte.166.10.1092
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), e com no mínimo nível médio de estresse (≥29 pontos, com base na Lista de Sinais e Sintomas de Estresse - LSS1313. Ferreira EAG, Vasconcellos EG, Marques AP. Assessment of Pain and Stress in Fibromyalgia Patients. Rev Bras Reumatol [Internet]. 2002 [cited 2023 Sep 05];42(2):104-10. Available from: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-413701
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). A população elegível do estudo era de 146 profissionais. Ocorreram 26 recusas na coleta quantitativa e nenhuma na qualitativa.

Os dados quantitativos foram coletados entre outubro de 2022 e março de 2023. Previamente, a equipe de coleta dos dados foi capacitada quanto aos cuidados necessários nesta etapa, lhes sendo apresentado o manual do coletador e realizado teste piloto. Utilizaram-se: um instrumento para identificar o perfil dos participantes, com variáveis relacionadas a sexo, data de nascimento, estado civil, possuir filhos, unidade de trabalho, cargo, maior formação, tempo de formado e de atuação na profissão e no setor; o GAD-7, instrumento que avalia a ansiedade dos indivíduos considerando as últimas duas semanas, possui sete itens em escala Likert, com pontuação de 0 a 3 para cada pergunta (0 corresponde a “nenhuma vez”, 1 a “vários dias”, 2 a “mais da metade dos dias” e 3 a “quase todos os dias)1212. Robert L, Spitzer RL, Kurt K, Janet BW, Williams BL. A Brief Measure for Assessing Generalized Anxiety Disorder the GAD-7. Arch Intern Med [Internet]. 2006 [cited 2023 Sep 05];166(10):1092-7. Available from: https://doi:10.1001/archinte.166.10.1092
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; e a LSS, composta por 60 itens, na qual assinala-se a frequência com que se percebe ou sente cada sintoma de estresse, utilizando as opções: 0 (nunca), 1 (raramente), 2 (frequentemente) e 3 (sempre)1313. Ferreira EAG, Vasconcellos EG, Marques AP. Assessment of Pain and Stress in Fibromyalgia Patients. Rev Bras Reumatol [Internet]. 2002 [cited 2023 Sep 05];42(2):104-10. Available from: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-413701
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.

A produção de dados qualitativos ocorreu de janeiro a março de 2023. Os participantes foram convidados, pessoal e individualmente, a participarem de entrevista semiestruturada em seu local de trabalho, visando que pudessem ausentar-se de suas atividades laborais sem prejuízo. Um roteiro específico foi submetido a um teste-piloto prévio desenvolvido pelos autores, com os seguintes questionamentos: “você se sente ansioso e/ou estressado no seu ambiente de trabalho? Se sim, por quais motivos? Você identifica situações do seu cotidiano de trabalho geradoras de ansiedade e estresse?”

As entrevistas foram realizadas por um pesquisador doutor em enfermagem com experiência nesta técnica, com uso de aparelho de gravação de voz, e duraram em média 23 minutos, ocorreramem salas de educação em saúde dos cenários investigados, locais reservados, livres de ruídos e que favoreceram a privacidade das informações. Após, foram realizadas as transcrições das entrevistas na íntegra, na forma literal, utilizando o Microsoft Office Word®, sinalizando hesitações, risos e silêncios. Dois integrantes da equipe de pesquisa realizaram a revisão das respostas em áudio, sendo realizadas adequações quanto aos vícios de linguagem, quando necessário. A saturação teórica foi considerada quando se verificou repetitividade dos aspectos relacionados ao estresse e ansiedade dos investigados, assim como dos fatores geradores destes agravos1414. Fontanella BJB, Luchesi BM, Saide MGB, Ricas J, Turato ER, Melo DG. Amostragem em pesquisas qualitativas: proposta de procedimentos para constatar saturação teórica. Cad Saúde Pública [Internet]. 2011 [cited 2023 Jul 12];27(2):289-394. Available from: https://doi.org/10.1590/S0102-311X2011000200020
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.

Os dados quantitativos foram digitados em planilhas Excel, por dois digitadores independentes capacitados, com posterior checagem das inconsistências e erros de digitação. Após, foram processados pelo Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 18.0. Variáveis categóricas foram analisadas e apresentadas com frequências absolutas (n) e relativas (%).

A análise do GAD-7 e da LSS baseou-se na soma dos pontos das respostas, com posterior categorização de acordo com cada instrumento. A ansiedade foi dicotomizada em: ≥10 = presente; <10 = ausente; e categorizada em: 0 a 4 = ansiedade mínima; 5 a 9 = baixa; 10 a 14 = moderada; e de 15 a 21 = severa13. O estresse foi classificado em ausente (0 a 11 pontos), baixo (12 a 28), médio (29 a 60), alto (61 a 120) e altíssimo nível (acima de 120 pontos)14.

A correlação entre as variáveis quantitativas foi realizada com o de Spearman (dados assimétricos). Consideraram-se valores de: │r│=1 correlação perfeita; 0,80≤│r│<1, muito alta; 0,60≤ │r│<0,80, alta; 0,40≤ │r│<0,60, moderada; 0,20≤ │r│<0,40, baixa; 0<│r│<0,20, muito baixa; e, r=0, correlação nula15. Para identificar a associação entre ansiedade e estresse utilizou-se o teste do Qui-Quadrado com correção. O nível de significância adotado para todos os testes foi de 5%.

Na etapa qualitativa, os depoimentos foram analisados de acordo com a Análise Textual Discursiva1616. Moraes R, Galiazi MC. Análise textual discursiva. 3rd ed. Ijuí, RS(BR): Editora Unijuí; 2020., sendo esta desenvolvida a partir de um processo auto organizado em que emergem compreensões com base na sequência recursiva de três componentes: unitarização, estabelecimento de relações e comunicação1616. Moraes R, Galiazi MC. Análise textual discursiva. 3rd ed. Ijuí, RS(BR): Editora Unijuí; 2020.. Assim, possibilitou-se a construção de uma categoria central e, a partir dela, originaram-se uma unidade de base e três categorias de análise. Estas foram discutidas e validadas por três autores, garantindo a confiabilidade do estudo.

Na mixagem dos dados, a análise qualitativa foi realizada a partir dos achados quantitativos, momento em que se buscou com as entrevistas a compreensão dos achados significativos da primeira etapa da pesquisa88. Creswell JW, Clark VLP. Pesquisa de métodos mistos. 2nd ed. Porto Alegre, RS(BR): Penso; 2013.,1717. Creswell JW, Clarck VLP. Designing and conducting mixed methods research. Thousand Oaks, CA(US): Sage; 2017.. Após, interpretou-se em que extensão e de que maneira os resultados qualitativos explicariam e adicionariam insights aos resultados quantitativos88. Creswell JW, Clark VLP. Pesquisa de métodos mistos. 2nd ed. Porto Alegre, RS(BR): Penso; 2013.,1717. Creswell JW, Clarck VLP. Designing and conducting mixed methods research. Thousand Oaks, CA(US): Sage; 2017.. Como recurso analítico, foram utilizados diagramas de exibição conjunta dos resultados das duas abordagens, bem como as metainferências resultantes da combinação de ambas (joint-display)1717. Creswell JW, Clarck VLP. Designing and conducting mixed methods research. Thousand Oaks, CA(US): Sage; 2017.-1818. Oliveira JLC, Magalhães AMM, Matsuda LM, Santos JLG, Souto RQ, Riboldi CO, et al. Mixed Methods Appraisal Tool: Strengthening the Methodological Rigor of Mixed Methods Research Studies in Nursing. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2021 [cited 2023 Sep 05];30:e20200603. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2020-0603
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Na Figura 1, apresenta-se o joint display do desenho desta pesquisa.

Figura 1 -
Joint display representativo de desenho do estudo, adaptado1717. Creswell JW, Clarck VLP. Designing and conducting mixed methods research. Thousand Oaks, CA(US): Sage; 2017..

As recomendações éticas que envolvem investigações com seres humanos foram seguidas, conforme as Resoluções nº 466 de 2012 e nº 510 de 2016. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da instituição, e obteve Parecer nº 3.897.861, em março de 2020. A participação ocorreu após ciência, aceite e assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para garantir o anonimato dos participantes, lhes foi atribuída a letra “P”, de participante, seguida de um número.

RESULTADOS

Dos 57 participantes, maior parcela foi de pertencentes ao sexo feminino (n=52; 91,2%), casados (n=28; 49,1%), com filhos (n=47; 82,5%), com entre 37 e 44 (n=20; 35,1%) e 45 e 63 (n=20; 35,1%) anos de idade, e que atuavam na Unidade de Clínica Cirúrgica (n=30; 52,6%). Prevaleceram técnicos de enfermagem (n=38; 66,7%) e profissionais que possuíam graduação como maior formação completa (n=18; 31,6%). Ainda, 20 participantes possuíam entre 16,5 e 35 anos de formados na categoria; e 23, entre 8 e 32 anos (40,4%) de tempo de trabalho da instituição. Quanto aos respondentes da etapa qualitativa, sete (87,5%) pertenciam ao sexo feminino.

Por meio da análise dicotômica, constatou-se que, dos 57 (100%) profissionais de enfermagem, 29 (50,9%) encontravam-se com transtorno de ansiedade generalizada ausente, e outros 28 (49,1%), presente. Na estratificação por categoria, nove (52,9%) enfermeiros estavam com ansiedade ausente e oito (47,1%), presente; 19 (50,0%) técnicos de enfermagem tinham ansiedade ausente e 19 (50,0%), o transtorno presente. Quanto ao estresse, seis (35,3%) enfermeiros apresentaram médio estresse, sete (41,2%), alto e um (5,9%), altíssimo. Ainda, houve 16 (42,1%) técnicos de enfermagem com médio estresse, outros 16 (42,1%) com alto e dois (5,3%) com altíssimo nível.

Dados categóricos relacionados à prevalência de estresse e ansiedade encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1 -
Prevalência de ansiedade e estresse dos profissionais de enfermagem das unidades de perioperatório. Santa Maria, RS, Brasil, 2023. (n=57)

As correlações entre estresse e variáveis categóricas estão na Tabela 2. Uma parcela grande dos profissionais de enfermagem perioperatória esteve exposta a estressores moderados (n=22; 38,6%) e altos (n=24; 42,1%), como o déficit de recursos humanos e a falta de apoio mútuo entre os colegas, o que ocasionou sobrecarga de trabalho e sintomas moderados de ansiedade que repercutiram em sintomas psicossomáticos como as lesões de pele e, ainda, a ingesta alimentar aumentada, conforme ilustram os depoimentos:

Tabela 2 -
Correlações de Spearman entre estresse e variáveis categóricas. Santa Maria, RS, Brasil, 2023.

[...] estava com lesões de pele, por causa da ansiedade, no abdome, membros inferiores, região cervical, no auge da ansiedade e estresse. [...] ansiosa, estressada, chegava aqui plantão corrido [...] teve dias que a gente ficou com 12 pacientes, por falta de colega, atestado. Então isso foi somando, aumentando (P4). [...] muito irritada porque eu estava sobrecarregada de coisa e ninguém me ajudou, na área que eu estava. Eu vou pedir ajuda porque estou vendo, aí tu vais lá pra dentro e ajuda, mas ninguém pode vim aqui te ajudar. E também a questão da comida, né, estava comendo bastante, ansiosa nos últimos dias [...] (P5).

Evidenciaram-se correlações: muito alta e positiva entre ansiedade e estresse (r=0,827; p=0,01); moderada e positiva entre tempo de formado e idade (r=0,519; p=0,01); moderada e positiva entre tempo de trabalho e idade (r=0,465; p=0,01) e entre tempo de trabalho no setor e idade (r=0,305; p=0,05) e tempo de atuação (r=0,330; p=0,01).

Por meio da análise bivariada identificou-se que participantes com estresse ausente (n=4; 100%) e baixo (n=4; 100%) encontravam-se com ansiedade ausente, ao passo que aqueles com estresse altíssimo (n=3; 100%) e alto (n=17; 70,8%) estavam com ansiedade presente (p<0,001). A partir deste achado, buscou-se compreender, na etapa qualitativa, qual era a percepção sobre os aspectos laborais em unidades de perioperatório que elucidavam essa associação. Desse modo, na análise do material empírico produzido pelas entrevistas, o cotidiano profissional foi considerado um estressor severo/alto para o desfecho de sintomas de ansiedade. Com isso, emergiu a categoria central: “Cotidiano profissional como gerador de ansiedade e estresse”. A partir desta, originaram-se uma unidade de base, intitulada “Exposição aos estressores no cotidiano profissional e os sintomas de ansiedade generalizada”, e três categorias de análise.

Na primeira categoria, denominada: “Às vezes a gente não dá conta: sobrecarga de trabalho”, os profissionais de enfermagem mencionaram características vivenciadas no processo de trabalho que os predispunham à ansiedade e ao estresse. Na segunda, “Fragilidades no trabalho em equipe”, são apresentadas inconsistências no cotidiano laboral que repercutiam em estresse para os investigados. E, na terceira, “Estresse e sintomas de ansiedade: repercussões do ambiente e da rotina de trabalho”, apresentam-se estressores do ambiente e do processo de trabalho geradores de ansiedade.

“Às vezes a gente não dá conta”: sobrecarga de trabalho

O processo de trabalho nas unidades de cuidado perioperatório possuem características que contribuem para a sobrecarga laboral e, consequentemente, para gerar ansiedade e estresse, como o déficit no dimensionamento de pessoal, a cobrança/necessidade de agilidade ou performance, e a ausência de padronização de horários para a admissão de pacientes, majoritariamente, conforme ilustram os depoimentos:

[...] às vezes a gente está trabalhando e não consegue dar conta do serviço e isso acaba me incomodando. Parece que não estamos assistindo o paciente direito. Isso me deixa bastante frustrado, esgotado (P7). [...] às vezes na escala tem nove, daí acontece alguma coisa e um entra em atestado, a gente fica em oito, e são muitos pacientes, são 10 pacientes pra atender, muitos detalhes, cuidados, e às vezes não conseguimos dar aquele cuidado especial que gostaríamos. Isso traz ansiedade e estresse [...] (P1).

[...] no ambiente de trabalho tem que ser tudo muito ágil, a gente trabalha com não tantos funcionários como seria o ideal, acaba sobrecarregando [...] principalmente no final do plantão, aqui a gente não tem o limite de horário pra receber paciente, às vezes é 18:30, 18:40 e estamos recebendo paciente, e temos que passar o plantão, isso acaba criando uma ansiedade e estresse (P3). [...] pouco pessoal pra muita atividade, parece que vem agregando mais. Há pouco tempo os maqueiros desciam sozinhos, agora a gente tem que descer junto. Mas não temos pessoal e tempo pra isso. Tem dias que são dez, onze paciente pra cada um. Em alguns plantões, pacientes instáveis. Acaba sobrecarregando, é bem estressante (P4).

As características do processo laboral autorrelatadas repercutem em sobrecarga laboral e, consequentemente, para a alta correlação entre a ansiedade e o estresse (r=0,827; p=0,01). A alta prevalência destes agravos pode causar impacto na segurança dos pacientes assistidos, predispondo à ocorrência de incidentes e à redução da qualidade na assistência:

[...] a sobrecarga de trabalho acarreta em alguns erros, que com certeza causam ansiedade, nervosismo, preocupação [...] a falta de pessoal também é outra situação que gera estresse, que tu acabas, além de estar responsável pela tua área, estar por outras, isso causa mais um pouco de ansiedade e esgotamento (P8).

Fragilidades no trabalho em equipe

À luz da voz dos participantes, as fragilidades no cotidiano laboral dizem respeito à pouca colaboração interprofissional no trabalho em equipe. Esta esteve presente nas demandas que poderiam ser atendidas por colegas, mas que, não são feitas, predispõem à sobrecarga, à irritabilidade e ao estresse:

[...] às vezes alguns colegas acabam te irritando um pouco [...] às vezes é uma coisa simples que tu podes fazer, é só ir ali levantar e fazer, e a pessoa fica enrolando e não faz, ou fica reclamando do paciente, mas não se coloca no lugar do que o paciente está passando, e aí me deixa irritado [...] não quer trabalhar, está ali só pelo salário (P7).

[...] às vezes a gente não tem ajuda dos colegas, mas ficam nos cobrando que a gente tem que ajudar, então, tem muita reclamação, tem muita fofoca, o que te estressa [...] a gente se estressa muito (P5). [...] falta um pouco de colaboração ou de visão por parte dos enfermeiros, porque tem coisa que não precisa só o técnico fazer, que dá pro enfermeiro fazer e que agiliza mais o trabalho, sobrecarregando menos (P3).

Estresse e sintomas de ansiedade: repercussões do ambiente e da rotina de trabalho

Além de corroborar com os achados da correlação entre a exposição ao estresse e os sintomas de ansiedade, os depoimentos elucidaram características do ambiente e do processo de trabalho perioperatório como causador desses agravos, conforme se segue:

[...] me dá bastante angústia. Como eu fumo, sinto até vontade de fumar [...] (P7).

Sim, gera ansiedade, estresse e esgotamento, porque a demanda é muito grande [...] (P5). ...] o estresse é o mais violento. Dá uma irritabilidade muito grande. Uma perda de paciência. Eu fico estressada de não conseguir dar a atenção que eu preciso, que o paciente e o familiar necessitam. Eu fico ansiosa de querer conseguir dar conta de tudo. Daí me embrulha o estômago, fico irritada com todo mundo, com colega, com telefone que toca, com o pessoal chamando. A irritabilidade é bem grande nesse momento [...] acabo respondendo mais travada, ríspida, mais alto [...] acaba me bloqueando de um diálogo melhor com o paciente e colegas [...] sei que estou estressada, angustiada, ansiosa, então eu evito alguns contatos [...] quando é um plantão que me estressei, saio com uma energia pesada, menos tolerante, com menos ânimo de chegar em casa, de fazer as coisas, chego esgotada, sem energia. Só que a vida pessoal continua (P4).

Para além disso, há situações autorrelatadas que aludem à pouca governabilidade sobre as rotinas de trabalho e a dicotomia existente entre a gestão dos macroprocessos e a prática assistencial in loco. Estas situações são percebidas como estressores diários importantes e predispõem à ocorrência de sintomas ansiosos, conforme visualiza-se:

[...] situações com as quais a gente não consegue resolutividade, a gente se vê atada [...]. No geral, esses são os que mais me incomodam, abrange quase 100% dos meus gatilhos de estresse aqui dentro. São coisas que a gestão decide que é confortável pro andamento do serviço, mas que a gente entende que não é o mais adequado pro tratamento do paciente (P2). [...] as coisas que a gente vê e que não dependem da gente. Tu estás ali dando o teu melhor e as coisas não andam, não por causa tua e nem da equipe, e isso me estressa [...] o paciente aguardando leito na Unidade de Terapia Intensiva, quinto, sexto, décimo quinto pós-operatório [referindo-se ao setor que não é indicado para este perfil de paciente] [...] tu fazes de tudo porque tu queres ver o paciente bem. Às vezes acaba sendo uma rotina, o que eu acho muito ruim. Não tem como não te dar uma angústia, não ficar estressada, é difícil (P6).

Elaborou-se um joint-display (Quadro 1), com as metainferências derivadas dos depoimentos dos participantes no que diz respeito aos resultados quantitativos:

Quadro 1
Joint display representativo da mixagem dos dados e metainferências. Santa Maria, RS, Brasil, 2023.

DISCUSSÃO

O presente estudo evidenciou correlação moderada e positiva entre tempo de trabalho/trabalho no setor/atuação e idade. Embora essa relação seja esperada, infere-se sobre o aspecto de que os profissionais com maior idade tendem a possuir maior tempo de formados e, com isso, maior tempo de trabalho na instituição. Neste sentido, podem adquirir mais confiança sobre as suas atividades laborais, o que se configura como um fator de proteção contra o estresse22. Assis BB, Azevedo C, Moura CC, Mendes PG, Rocha LL, Roncalli AA, et al. Factors Associated with Stress, Anxiety and Depression in Nursing Professionals in the Hospital Context. Rev Bras Enferm [Internet]. 2022 [cited 2023 Jul 10];75(Suppl 3):e20210263. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2021-0263
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.

Quanto à severidade das desordens emocionais, identificou-se que quase 50% dos profissionais investigados apresentaram sintomas de ansiedade (36,8% com sintomas moderados e 12,3% com severos). Este resultado foi similar em profissionais de enfermagem no contexto hospitalar que obtiveram prevalência de 49,61% de ansiedade22. Assis BB, Azevedo C, Moura CC, Mendes PG, Rocha LL, Roncalli AA, et al. Factors Associated with Stress, Anxiety and Depression in Nursing Professionals in the Hospital Context. Rev Bras Enferm [Internet]. 2022 [cited 2023 Jul 10];75(Suppl 3):e20210263. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2021-0263
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. Estudo aponta que a sobrecarga de trabalho pode estar associada ao adoecimento, como depressão, estresse, especialmente em enfermeiros1919. Muniz DC, Andrade EGS, Santos WLS. A saúde do enfermeiro com a sobrecarga de trabalho. Rev Iniciaç Cient Ex [Internet]. 2019 [cited 2023 Jul 12];2(Spe 2):274-9. Available from: https://revistasfacesa.senaaires.com.br/index.php/iniciacao-cientifica/article/view/275/213
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, intensificada, em especial, durante o período de enfrentamento da pandemia de Covid-1955. Appel AP, Carvalho ARS, Santos RP. Prevalência e fatores associados à ansiedade, depressão e estresse numa equipe de enfermagem COVID-19. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2021 [cited 2024 Jan 26];42(Spec):e20200403. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200403
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-2020. Costa AS, Griep RH, Rotenberg L. Perceived Risk from COVID-19 and Depression, Anxiety, and Stress Among Workers in Healthcare Units. Cad Saúde Pública [Internet]. 2022 [cited 2024 Jan 28];38(3):e00198321. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00198321
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Evidências semelhantes, porém, com magnitudes levemente menores, foram obtidas com 2.996 profissionais atuantes em unidades de saúde. Nesse estudo, 29,6% dos investigados foram classificados com sintomas de ansiedade severa e 17,9% com ansiedade moderada. Ainda, a gravidade dos sintomas associou-se ao histórico atrelado às mulheres, aos solteiros/separados, que cuidavam de criança/pessoa idosa e que trabalhavam mais de 40 horas/semana2020. Costa AS, Griep RH, Rotenberg L. Perceived Risk from COVID-19 and Depression, Anxiety, and Stress Among Workers in Healthcare Units. Cad Saúde Pública [Internet]. 2022 [cited 2024 Jan 28];38(3):e00198321. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00198321
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.

Os achados de 80,7% de profissionais de enfermagem perioperatória com estresse moderado a alto ratificam que pode ocorrer o desgaste mental e, consequentemente, situações nocivas à saúde dos trabalhadores. Estudo em unidades de perioperatório observou que os profissionais apresentaram altas demandas psicológicas e baixo controle sobre elas, o que se caracteriza por um trabalho em alta exigência e, por conseguinte, pode ter efeitos adversos na saúde mental dos trabalhadores44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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Na presente pesquisa, a prevalência de estresse e ansiedade foi semelhante entre enfermeiros(as) e técnicos(as) de enfermagem, dado que difere de estudo em que estes agravos foram mais prevalentes nos profissionais de nível médio2020. Costa AS, Griep RH, Rotenberg L. Perceived Risk from COVID-19 and Depression, Anxiety, and Stress Among Workers in Healthcare Units. Cad Saúde Pública [Internet]. 2022 [cited 2024 Jan 28];38(3):e00198321. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00198321
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. Entretanto, sabe-se que as categorias profissionais possuem diferentes funções e carga laboral, aspectos que, consequentemente, repercutem de forma distinta na sua saúde mental.

As atividades específicas do ambiente de trabalho em unidades de perioperatório são caracterizadas por necessidade de domínio de dispositivos e equipamentos de alta tecnologia, assim como a realização de procedimentos complexos. À vista disso, também há de se considerar que, quando se trata de unidade de bloco cirúrgico, por exemplo, é necessário trabalho integrado, o que, por sua vez, demanda da equipe capacidade de enfrentar situações advindas do ambiente fechado, carregado de tecnologias complexas2121. Ribeiro B, Souza JSM. A segurança do paciente no centro cirúrgico: papel da equipe de enfermagem. Semin Cienc Biol Saude [Internet]. 2022 [cited 2023 Sep 23];43(1):27-38. Available from: https://doi.org/10.5433/1679-0367.2022v43n1p27
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. Além disso, presta-se atendimento tanto eletivo quanto de urgência e emergência. Essas condições exigem da equipe da enfermagem comprometimento, equilíbrio emocional, conhecimento e habilidades específicas da área técnica e de relações humanas2121. Ribeiro B, Souza JSM. A segurança do paciente no centro cirúrgico: papel da equipe de enfermagem. Semin Cienc Biol Saude [Internet]. 2022 [cited 2023 Sep 23];43(1):27-38. Available from: https://doi.org/10.5433/1679-0367.2022v43n1p27
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Os resultados qualitativos apoiaram os quantitativos e também forneceram significados contextuais laborais, ou seja, aspectos do cuidado perioperatório como ambiente e processo de trabalho que predispõem à ocorrência de estresse e ansiedade. Estes incluíram: sobrecarga de trabalho, fragilidades relativas à pouca colaboração interprofissional, pouca governabilidade sobre as rotinas de trabalho e a dicotomia existente entre a gestão dos macroprocessos e a prática assistencial in loco. Tais aspectos estão relacionados às desordens emocionais investigadas.

Entende-se que a ocorrência de sobrecarga de trabalho na equipe de enfermagem perioperatória pode desenvolver um estado de superestímulo entre os profissionais, que, em função disso, sofrem em relação a tal situação, uma vez que as exigências voltadas à sua atuação ultrapassam as suas capacidades de processá-las e cumpri-las. Tal contexto pode ocasionar danos à saúde física e psíquica dos profissionais2222. Martins BS, Corgozinho MM, Gomes JRAA. Percepção de enfermeiros acerca dos desafios à gestão do cuidado perioperatório: um estudo qualitativo. Rev Sobecc São Paulo [Internet]. 2023 [cited 2023 Jul 12];28:e2328862. Available from: https://revista.sobecc.org.br/sobecc/article/view/862/813
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Estudo sobre desafios da gestão no cuidado perioperatório evidenciou que a carência de recursos humanos é uma das dificuldades da gestão e reflete em sobrecarga para trabalhadores2222. Martins BS, Corgozinho MM, Gomes JRAA. Percepção de enfermeiros acerca dos desafios à gestão do cuidado perioperatório: um estudo qualitativo. Rev Sobecc São Paulo [Internet]. 2023 [cited 2023 Jul 12];28:e2328862. Available from: https://revista.sobecc.org.br/sobecc/article/view/862/813
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. No entanto, revisão de escopo evidenciou que a atividade gerencial do enfermeiro, especialmente em Centro Cirúrgico, não se encontra desarticulada da assistência direta ao paciente, o que confere a este profissional uma posição estratégica de liderança ao articular diversos saberes e fazeres neste cenário. Ademais, este profissional perpassa do “isolamento asséptico”, inerente à assistência operatória, para o protagonismo na gestão de recursos humanos e físicos, visando a um cuidado centrado no paciente. Logo, a atuação da equipe de enfermagem constitui sustentação dos processos que contemplam a concretização do tratamento cirúrgico2323. Trevilato DD, Martins FZ, Schneider DSS, Sakamoto VTM, Oliveira JLC, Pai DD, et al. Perioperative Nurses' Activities in the Brazilian Scenario: A Scoping Review. Acta Paul Enferm [Internet]. 2023 [cited 2024 Jan 28];36:eAPE01434. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2023AR001434
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Para além disso, os profissionais pesquisados vincularam a sobrecarga de trabalho com a pouca colaboração interprofissional. A dificuldade em trabalhar em equipe pode estar associada a algumas barreiras, como: a falta de reconhecimento do trabalho pela equipe; limitada colaboração dos profissionais, o que acarreta insatisfação e distanciamento entre a equipe; conflitos gerados no cotidiano; e divergência entre os objetivos individuais e coletivos2424. Valentim LV, Luz RA, Santos LSC, Noca CRS. Perception of Nursing Professionals Regarding Teamwork. Rev Baiana Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Sep 05];34:e37510. Available from: https://doi.org/10.18471/rbe.v34.37510
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. Assim, torna-se fundamental superar as dificuldades e promover o trabalho em equipe, visto que o seu desenvolvimento entre os profissionais de enfermagem auxilia na agilidade de execução das atividades, estimula a comunicação eficaz, favorece um cuidado seguro e qualifica a assistência prestada2424. Valentim LV, Luz RA, Santos LSC, Noca CRS. Perception of Nursing Professionals Regarding Teamwork. Rev Baiana Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Sep 05];34:e37510. Available from: https://doi.org/10.18471/rbe.v34.37510
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Aliado a isso, percebeu-se que os profissionais se apresentavam estressados e ansiosos diante do enfrentamento de adversidades e fragilidades do ambiente laboral, como na interface entre gestão e assistência. Vale destacar que o gerenciamento de enfermagem está relacionado às finalidades do trabalho em enfermagem com o intuito de planejar, desenvolver e coordenar as atividades2525. Ferreira VHS, Teixeira VM, Giacomini MA, Alves LR, Gleriano JS, Chaves LDP. Contributions and Challenges of Hospital Nursing Management: Scientific Evidence. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2019 [cited 2023 Sep 05];40:e20180291. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180291
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. A partir disso, a gestão tem função essencial para contribuir e favorecer condições adequadas e desejáveis para o desenvolvimento das atividades, promovendo o bem-estar dos pacientes e profissionais, bem como desenvolvendo uma assistência segura e de qualidade2525. Ferreira VHS, Teixeira VM, Giacomini MA, Alves LR, Gleriano JS, Chaves LDP. Contributions and Challenges of Hospital Nursing Management: Scientific Evidence. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2019 [cited 2023 Sep 05];40:e20180291. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20180291
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Cabe mencionar que os profissionais de enfermagem perioperatória encontravam-se com ansiedade e estresse, desfechos que podem resultar em sintomas psicossomáticos, como lesões de pele2626. Zhang H, Wang M, Zhao X, Wang Y, Chen X, Su J. Role of Stress in Skin Diseases: A Neuroendocrine-Immune Interaction View. Brain Behav Evolut [Internet]. 2024 [cited 2024 Jan 28];116:286-302. Available from: https://doi.org/10.1016/j.bbi.2023.12.005
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. Nesse caso, o desenvolvimento de doenças de pele pode estar atrelado ao aumento da carga psicológica, o que sugere a necessidade de entender essa relação. Assim, quando o sistema imunológico se encontra em desequilíbrio, resultante do estresse, pode refletir na interação entre as células imunológicas e mediadores inflamatórios da pele, repercutindo em desregulação e aumento da suscetibilidade às doenças de pele2626. Zhang H, Wang M, Zhao X, Wang Y, Chen X, Su J. Role of Stress in Skin Diseases: A Neuroendocrine-Immune Interaction View. Brain Behav Evolut [Internet]. 2024 [cited 2024 Jan 28];116:286-302. Available from: https://doi.org/10.1016/j.bbi.2023.12.005
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Além disso, percebeu-se que a ansiedade se relacionou ao aumento do consumo alimentar para alguns participantes. Justifica-se isso, uma vez que a desregulação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal pode influenciar no desajuste do apetite. Além de aumentar o apetite, pode estimular a ingestão de alimentos com excesso gordura, sal e açúcares2727. Maynard DC, Anjos HÁ, Magalhães ACV, Grimes LN, Costa MGO, Santos RB. Consumo alimentar e ansiedade da população adulta durante a pandemia do COVID-19 no Brasil. Res Soc Dev [Internet]. 2020 [cited 2023 Jul 12];9(11):e4279119905. Available from: https://doi.org/10.33448/rsd-v9i11.9905
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. Somado a isso, recente revisão de estudos clínicos sugere que alimentação excessiva e comportamentos alimentares pouco saudáveis estão associados à alimentação emocional, ou seja, a alimentar-se em resposta a situações emocionais2828. Dakanalis A, Mentzelou M, Papadopoulou SK, Papandreou D, Spanoudaki M, Vasios GK, et al. The Association of Emotional Eating with Overweight/Obesity, Depression, Anxiety/Stress, and Dietary Patterns: A Review of the Current Clinical Evidence. Nutrients [Internet]. 2023 [cited 2024 Jan 26];15(5):1173. Available from: https://doi.org/10.3390/nu15051173
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. Nesta perspectiva, sugerem que uma dieta equilibrada e saudável pode favorecer a promoção da saúde e auxiliar na redução dos riscos de acometimentos psicológicos2828. Dakanalis A, Mentzelou M, Papadopoulou SK, Papandreou D, Spanoudaki M, Vasios GK, et al. The Association of Emotional Eating with Overweight/Obesity, Depression, Anxiety/Stress, and Dietary Patterns: A Review of the Current Clinical Evidence. Nutrients [Internet]. 2023 [cited 2024 Jan 26];15(5):1173. Available from: https://doi.org/10.3390/nu15051173
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Foi possível observar que, ao passo em que os profissionais de enfermagem atuantes no cuidado perioperatório se encontram estressados e ansiosos, pode haver repercussões negativas na segurança dos pacientes por eles assistidos, podendo levar à ocorrência de incidentes. Nesta perspectiva, estudo aponta que maiores prevalências de estresse entre os profissionais de enfermagem aumentam as chances de ocorrência de incidentes44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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. Entende-se que acometimentos como estresse e ansiedade causam desgastes nos profissionais, podendo interferir no desempenho da equipe durante a prestação da assistência44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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-55. Appel AP, Carvalho ARS, Santos RP. Prevalência e fatores associados à ansiedade, depressão e estresse numa equipe de enfermagem COVID-19. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2021 [cited 2024 Jan 26];42(Spec):e20200403. Available from: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200403
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Assim, destaca-se a necessidade de ampliar a relação entre satisfação e qualidade de vida no trabalho e saúde dos trabalhadores, principalmente, porque as condições físicas e psíquicas destes impactam diretamente na qualidade da assistência em enfermagem44. Munhoz OL, Arrial TS, Barlem ELD, Dalmolin GL, Andolhe R, Magnago TSBS. Occupational Stress and Burnout in Health Professionals of Perioperative Units. Acta Paul Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Aug 10];33:eAPE20190261. Available from: https://doi.org/10.37689/acta-ape/2020AO0261
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e, consequentemente, na segurança dos pacientes.

Diante dos resultados obtidos, é preciso ressaltar o impacto que a alta prevalência de estresse e ansiedade pode causar no sistema de saúde hospitalar, podendo aumentar o absenteísmo2929. Alves ABSL, Matos FGOA, Carvalho ARS, Alves DCI, Tonini NS, Santos RP, et al. Absenteeism in Nursing in the Face of Covid-19: A Comparative Study in a Hospital from Southern Brazil. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2022 [cited 2024 Jan 26];31:e20210254. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2021-0254
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-3030. Maltezou HC, Ledda C, Sipsas NV. Absenteeism of Healthcare Personnel in the Covid-19 Era: A Systematic Review of the Literature and Implications for the Post-Pandemic Seasons. Healthcare [Internet]. 2023 [cited 2024 Jan 26];11(22):2950. Available from: https://doi.org/10.3390/healthcare11222950
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, o qual também figura entre os fatores que podem comprometer a segurança do paciente em nível organizacional, predispondo à perda de qualidade da gestão e de recursos financeiros para a instituição. Somado a isso, vale mencionar que, durante a pandemia da Covid-19, o absenteísmo obteve taxas mais elevadas, com repercussões até os dias atuais2929. Alves ABSL, Matos FGOA, Carvalho ARS, Alves DCI, Tonini NS, Santos RP, et al. Absenteeism in Nursing in the Face of Covid-19: A Comparative Study in a Hospital from Southern Brazil. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2022 [cited 2024 Jan 26];31:e20210254. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2021-0254
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Por terem sido utilizados os métodos quantitativo e qualitativo, tornou-se possível minimizar as fragilidades inerentes de ambos, visto que os pontos positivos de uma abordagem compensaram as fragilidades da outra88. Creswell JW, Clark VLP. Pesquisa de métodos mistos. 2nd ed. Porto Alegre, RS(BR): Penso; 2013.. As limitações dizem respeito ao tamanho amostral e uso de medidas de autorrelato. No delineamento transversal, as causalidades não podem ser inferidas. Ainda, os resultados obtidos devem ser interpretados com cautela e não podem ser generalizados, visto que retratam o contexto vivenciado por profissionais de enfermagem perioperatória de um hospital de ensino.

Em suma, este estudo fornece uma compreensão aprofundada da natureza complexa da relação entre estresse, ansiedade e profissionais de enfermagem perioperatória, como também subsídios aos gestores das instituições de saúde para que desenvolvam estratégias eficazes para promover a saúde mental e bem-estar das equipes de enfermagem. Ainda, o estudo aponta a necessidade de instituições de saúde aderirem a modelos de gestão com políticas de suporte emocional, sobretudo, estratégias de manejo e enfrentamento dos estressores e gatilhos de ansiedade.

CONCLUSÃO

A pesquisa de métodos mistos foi promissora na medida em que analisou a associação entre estresse e ansiedade, na amostra específica da equipe de enfermagem perioperatória, de forma aprofundada e integral, revelando um diagnóstico situacional relevante e com subsídios para que estratégias de enfrentamento a estes agravos sejam desenvolvidas e implementadas. Assim, pôde-se constatar maior prevalência de profissionais de enfermagem com moderado e severo transtorno de ansiedade generalizada. Outro resultado alarmante é a prevalência de estresse moderado a alto, assim como a correlação forte e significativa entre ansiedade e estresse.

Tais constatações são corroboradas por meio dos depoimentos, os quais revelaram que os profissionais investigados estavam estressados e ansiosos diante de aspectos do contexto como ambiente e processo de trabalho, com predisposição à ocorrência de estresse e ansiedade. Em síntese, estes incluíram: sobrecarga de trabalho, fragilidades relativas à colaboração interprofissional, pouca governabilidade sobre as rotinas de trabalho e a dicotomia existente entre a gestão dos macroprocessos e a prática assistencial in loco. Tais situações estão relacionadas às desordens emocionais investigadas e, estas, influenciam diretamente na prática de trabalho exercida por eles. Logo, os resultados desta pesquisa demonstram a complexa relação entre estresse, ansiedade e profissionais de enfermagem perioperatória.

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NOTAS

  • FINANCIAMENTO

    Apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), processo nº 311451/2020-9, Brasil. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) - Código de Financiamento 001, Brasil. Apoio financeiro do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica/FAPERGS, processo nº 21/2551-0000987, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Maria, parecer n. 3.897.861/2020, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 22328819.8.0000.5346.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: José Luís Guedes dos Santos, Ana Izabel Jatobá de Souza.
Editor-chefe: Elisiane Lorenzini.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Ago 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    05 Out 2023
  • Aceito
    08 Abr 2024
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