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Paternidade na adolescência no contexto dos serviços de saúde, escola e comunidade1 1 Extraído da dissertação - Paternidade na adolescência no contexto dos serviços de saúde, escola e comunidade: uma perspectiva bioecológica, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGEnf) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em 2012.

Resumos

Objetivou-se conhecer a percepção do pai adolescente quanto à sua interação com o serviço de saúde, escola e comunidade. Trata-se de um recorte da pesquisa multicêntrica denominada Redes Sociais de Apoio à Paternidade na Adolescência, com abordagem qualitativa, exploratória, descritiva, realizado com 14 pais adolescentes em um hospital universitário. As entrevistas semiestruturadas ocorreram seis meses após o nascimento do filho, entre 2009 e 2010. Utilizou-se análise textual discursiva e referencial teórico de Urie Bronfenbrenner para construção de três categorias: Percepção do pai adolescente quanto à sua interação com a escola, com os serviços de saúde e com a comunidade. Os pais adolescentes se mostraram receptivos aos estudos formais, presentes e participativos nos serviços de saúde e comunidade. As possíveis dificuldades de interação entre os adolescentes pais e os ambientes estudados parecem decorrer da falta de organização e preparo adequado para o acolhimento destes.

Enfermagem; Paternidade; Adolescente; Apoio social


This study aimed to investigate the perception of the adolescent father regarding his interaction with the health services, school and community. It is an extract from the multicentric study turned Social Support Networks for Fatherhood in Adolescence, and has a qualitative, exploratory and descriptive approach. It was undertaken with 14 adolescent fathers in a university hospital. The semi-structured interviews were held six months after the birth of the child, between 2009 and 2010. Discursive textual analysis and the theoretical framework of Urie Bronfenbrenner were used for the construction of three categories: The adolescent father's perception regarding his interaction with the school; with the health services; and with the community. The adolescent fathers were shown to be receptive to formal study, and present and participative in the health services and community; the possible difficulties of interaction between the adolescent fathers and the environments studied seem to result from the lack of organization and appropriate preparation for embracing them.

Nursing; Fatherhood; Adolescent; Social support


Este estudio tuvo como objetivo conocer la percepción del padre adolescente cuanto a su interacción con el servicio de salud, escuela y comunidad. Se trata de un recorte de la investigación multicéntrica Redes Sociales de Apoyo a la Paternidad en la adolescencia, con abordaje cualitativo, exploratorio, descriptivo, realizado con 14 padres adolescentes en un hospital universitario. Las entrevistas semiestructuradas ocurrieron seis meses después del nacimiento del hijo, entre 2009 y 2010. Se utilizó análisis textual discursiva y referencial teórico de Urie Bronfenbrenner para la construcción de tres categorías: Percepción de los padres adolescentes cuanto a su interacción con la escuela, con los servicios de salud y la comunidad. Los padres adolescentes se mostraron receptivos a los estudios formales, presentes y participativos en los servicios de salud y comunidad. Las posibles dificultades de interacción entre los adolescentes padres y los ambientes estudiados parecen originarse de la falta de organización y preparo adecuado para el acogimiento de éstos.

Enfermería; Paternidad; Adolescente; Apoyo social


INTRODUÇÃO

A temática da paternidade na adolescência tem recebido pouca atenção dos pesquisadores, talvez por tratar-se de situação menos frequente comparada à maternidade nesse período da vida.11. Hollman D, Alderman E. Fatherhood in adolescence. Pediatr Rev. 2008 Out; 29(10):364-6. Desse modo, o papel do pai adolescente no contexto em que está inserido, seu modo de vivenciar esse processo, significados e responsabilidades, muitas vezes são desconhecidos tanto no âmbito familiar quanto no científico.2 2. Levandowski D, Piccinini CA. Expectativas e sentimentos em relação à paternidade entre adolescentes e adultos. Psicol Teoria Pesq. 2006 Jan-Abr; 22(1):17-27.

Tratar de forma negligente as transformações, incertezas e responsabilidades que acompanham o novo papel de pai poderá incentivar um senso de alienação.33. Freitas WMF, Coelho EAC, Silva ATMC. Sentir-se pai: a vivência masculina sob o olhar de gênero. Cad Saúde Pública. 2007 Jan; 23(1):137-45. Assim, essa postura social pode gerar, nos pais adolescentes, maiores dificuldades de desenvolvimento humano no processo de paternidade, na participação ativa na gestação, na criação do próprio filho e de uma nova família, justificando, talvez, seu afastamento.44. Frewin K, Tuffin K, Rouch G. Managing identity: adolescent fathers talk about the transition to parenthood. N Z J Psychology. 2007 Nov; 36(3):161-7.

5. Almeida AFF, Hardy E. Vulnerabilidade de gênero para a paternidade em homens adolescentes. Rev Saúde Pública. 2007 Ago; 41(4):565-72.
- 66. Luz AMH, Berni NIO. Processo da paternidade na adolescência. Rev Bras Enferm. 2010 Fev; 63(1):43-50.

Dessa maneira, ao estudar a paternidade na adolescência, é indispensável visualizar a pessoa de forma integral, em seu contexto composto por relações sociais e os ambientes em que está inserido. Nesses contextos, ocorrem influências emocionais, culturais, religiosas e familiares vividas nos diferentes níveis da sociedade (família e comunidade), ditando como serão estabelecidas as interações afetivas, emocionais e econômicas entre pai, mãe e filho.6 6. Luz AMH, Berni NIO. Processo da paternidade na adolescência. Rev Bras Enferm. 2010 Fev; 63(1):43-50.

Contudo, é de extrema relevância a coparticipação de outros atores sociais, para sair da obviedade da família, como rede expressiva de apoio.77. Silva MNRMO. Redes sociais Significativas na saúde mental: (des)cobrindo relações no sofrimento psíquico grave e (redes) cobrindo elos de encontro [dissertação]. Brasília (DF): Universidade de Brasília. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica; 2010. Nesse sentido, estudos88. Amparo DM, Galvão ACT, Alves PB, Brasil KT, Koller SH. Adolescentes e jovens em situação de risco psicossocial: redes de apoio social e fatores pessoais de proteção. Estud Psicol. 2008 Ago; 13(2):165-74.

9. Meincke SMK, Carraro TE. Vivência da paternidade na adolescência: sentimentos expressos pela família do pai adolescente. Texto Contexto Enferm. 2009 Jan-Mar; 18(1):83-91.
- 1010. Carvalho GM, Merighi MAB, Jesus MCP. Recorrência da parentalidade na adolescência na perspectiva dos sujeitos envolvidos. Texto Contexto Enferm. 2009 Jan-Mar; 18(1):17-24. identificam possíveis benefícios de inclusão do pai adolescente em uma rede social articulada, que pode ser composta pela escola, comunidade e o próprio serviço de saúde.

A rede social é entendida como um sistema de interação sequencial formado por ambientes e pessoas que se relacionam direta ou indiretamente com a pessoa em desenvolvimento.1111. Bronfenbrenner U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1996. Esses ambientes são entendidos, nesse estudo, como a escola (ambiente escolar, professores), a comunidade (vizinhos, igreja, clube esportivo) e os serviços de saúde (Unidades Básicas de Saúde (UBS); hospitais). Investigar a percepção e significados que os adolescentes atribuem à sua rede social de apoio oportunizará a compreensão dos diversos níveis de interações estabelecidos, o que poderá auxiliar na vivência da paternidade.

Interação relaciona-se com o estudo de processos e relações entre variáveis que estão em constante alteração, e não com elementos isolados, e sempre ocorrem com pessoas, mas também delas com símbolos e seus contextos.1212. Bronfenbrenner U. Making human beings human: bioecological perspectives on human development. Londres (UK): Sage; 2005. As interações são peças fundamentais no desenvolvimento humano; por meio delas, as pessoas interferem no comportamento umas das outras, e essas interações são denominadas de processo proximal.1212. Bronfenbrenner U. Making human beings human: bioecological perspectives on human development. Londres (UK): Sage; 2005. Nessa conjuntura, a paternidade é considerada um papel social1313. Vasconcelos VMR. Desenvolvimento humano, psicologia e cultura. In: Silveira P, organizador. Exercício da paternidade. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1998. p. 41-5. e o seu desenvolvimento ocorre por meio de processos de interação estabelecidos entre pessoas e, dessas, com o ambiente. Essas interações1414. Prati L, Couto MCPP, Moura A, Poletto M, Koller SH. Revisando a Inserção Ecológica: uma proposta de sistematização. Psicol Reflex Crit. 2008; 21(1):160-9. promovem a criação de sentidos que definem a forma particular de pensar e agir das pessoas.

Destarte, propõe-se preencher uma lacuna teórica sobre o tema, visto que há uma escassez de dados que descrevam os corresponsáveis pela gravidez na adolescência,1515. Costa COM, Lima IC, Martins Júnior DF, Santos CAST, Araújo FPO, Assis DR. Gravidez na adolescência e coresponsabilidade paterna: trajetória sociodemográfica e atitudes com a gestação e a criança. Ciênc Saúde Coletiva. 2005 Jul-Set; 10(3):719-27. e, ainda, visa contribuir para modificar interações estabelecidas por parte dos professores, profissionais de saúde, que muitas vezes não conseguem abordar, de forma integral e cidadã, o pai adolescente,99. Meincke SMK, Carraro TE. Vivência da paternidade na adolescência: sentimentos expressos pela família do pai adolescente. Texto Contexto Enferm. 2009 Jan-Mar; 18(1):83-91. além de aprofundar conhecimentos acerca das interações estabelecidas entre este pai e a rede social de apoio, justificando este estudo.

Ainda, a partir de estudos que evidenciaram a família como principal rede social de apoio do pai adolescente,88. Amparo DM, Galvão ACT, Alves PB, Brasil KT, Koller SH. Adolescentes e jovens em situação de risco psicossocial: redes de apoio social e fatores pessoais de proteção. Estud Psicol. 2008 Ago; 13(2):165-74. - 99. Meincke SMK, Carraro TE. Vivência da paternidade na adolescência: sentimentos expressos pela família do pai adolescente. Texto Contexto Enferm. 2009 Jan-Mar; 18(1):83-91. , 1616. Bueno MEN, Meincke SMK, Schwartz E, Soares MC, Corrêa ACL. Paternidade na adolescência: a família como rede social de apoio. Texto Contexto Enferm. 2012 Jun; 21(2):313-9. questionam-se, portanto, os processos interacionais estabelecidos entre o adolescente pai e a escola, a comunidade e os serviços de saúde como rede social de apoio. Considerando a relevância das interações estabelecidas entre o pai adolescente e a rede social de apoio, formulou-se o seguinte objetivo: conhecer a percepção do pai adolescente quanto à sua interação com o serviço de saúde, a escola e a comunidade.

REFERENCIAL TEÓRICO

O Modelo Bioecológico do desenvolvimento humano, de Urie Bronfenbrenner, possui propriedades que envolvem quatro núcleos inter-relacionados: o Processo, a Pessoa, o Contexto e o Tempo, designados como PPCT. O processo é analisado pela forma como cada pessoa significa suas experiências e interpreta o ambiente, com ênfase nos processos proximais, que são a "forma particular de interação de pessoas com outras pessoas, com símbolos, objetos e ambientes, que operam ao longo do tempo". 12:178 O tempo pode ser entendido como o desenvolvimento humano no sentido histórico através das gerações, pois esse pode ser alterado, em qualquer direção, não só para indivíduos, mas para segmentos grandes da população. A pessoa envolve características geneticamente determinadas e as construídas na interação com o ambiente, as quais irão influenciar a direção e o conteúdo dos processos proximais dentro do contexto, o qual é composto de quatro níveis ambientais entrelaçados: o microssistema, caracterizado pelas interações face a face; o mesossistema, que consiste no conjunto de microssistemas e nas inter-relações estabelecidas neles; o exossistema, que diz respeito a ambientes onde a pessoa não está presente, mas que podem afetar seu contexto; e o macrossistema, entendido por ideologias, crenças e culturas que perpassam as formas de relação estabelecidas entre os sistemas.12

Para o desenvolvimento humano ser efetivo, é necessário que a pessoa esteja engajada em uma atividade, e as interações estabelecidas devem ocorrer de forma regular, em períodos estendidos de tempo,, que envolvam a participação ativa da pessoa por meio de uma interação progressivamente mais complexa. Nesse contexto, é indispensável que os objetos, símbolos e pessoas presentes no ambiente despertem, estimulem a atenção, a participação e o interesse da pessoa em desenvolvimento, baseado na reciprocidade.1212. Bronfenbrenner U. Making human beings human: bioecological perspectives on human development. Londres (UK): Sage; 2005.

Desta maneira, demonstra-se a importância de conduzir o olhar desse estudo para o sistema meso, pois nele estarão contemplados a comunidade (igreja, clube esportivo), serviços de saúde (UBS, hospital) e a escola. Contudo, não se pode desconsiderar os outros ambientes, o microssistema, exossistema e macrosistema no contexto da paternidade na adolescência.

METODOLOGIA

Estudo qualitativo, do tipo exploratório e descritivo, realizado a partir de dados previamente coletados na pesquisa multicêntrica: "Redes Sociais de Apoio à Paternidade na Adolescência" (RAPAD), financiada pelo CNPq sob Processo n. 551222/2007-7, realizada em três hospitais universitários vinculados a universidades públicas de três estados brasileiros: Rio Grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e Paraíba (PB).77. Silva MNRMO. Redes sociais Significativas na saúde mental: (des)cobrindo relações no sofrimento psíquico grave e (redes) cobrindo elos de encontro [dissertação]. Brasília (DF): Universidade de Brasília. Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica; 2010. A pesquisa RAPAD foi desenvolvida no período de dezembro de 2008 a dezembro de 2010, incluindo dois subestudos, um de cunho quantitativo e outro qualitativo.

Para este estudo, utilizaram-se os dados obtidos no subestudo qualitativo, o qual foi dividido em dois momentos: o primeiro logo após o nascimento do(a) filho(a) do pai adolescente e o segundo, seis meses após o nascimento. Os sujeitos deste estudo foram os pais adolescentes da cidade de Pelotas-RS, selecionados no banco de dados da pesquisa RAPAD, que participaram do segundo momento do estudo qualitativo.

Os critérios de inclusão dos sujeitos foram: ter idade entre 10 e 19 anos, conforme critério cronológico de adolescência da Organização Mundial de Saúde; residir no perímetro urbano da cidade; aceitar receber o entrevistador em seu domicílio. Dos 23 pais adolescentes que participaram do primeiro momento da pesquisa RAPAD, 14 pais aceitaram participar do segundo momento da pesquisa, cinco não foram localizados e quatro se recusaram a serem entrevistados novamente.

A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas e gravadas, com questões fechadas referentes à idade, renda familiar, escolaridade, e questões abertas, com a intenção de guiar as discussões acerca da percepção dos pais adolescentes sobre sua interação com a rede social de apoio. As entrevistas ocorreram no domicílio dos sujeitos seis meses após o nascimento do(a) filho(a), no período de junho de 2009 a junho de 2010. O prazo estipulado entre a primeira e a segunda entrevista deu-se com o intuito de investigar, após um período de tempo, o pai no exercício e vivência da paternidade.

Os dados foram analisados por meio da análise textual discursiva, compreendida como um processo auto-organizado de construção de compreensão, em que novos entendimentos emergem a partir de uma sequência recursiva de três componentes: a unitarização, o estabelecimento de relações e a captação do novo emergente.1717. Moraes R, Galiazzi MC. Análise textual discursiva. Ijuí (RS): Ed. Unijuí; 2011. A unitarização foi realizada a partir da desconstrução do texto, mediante sua leitura rigorosa e aprofundada, analisando o texto em seus detalhes, fragmentando-o e destacando as unidades de significado. A construção de categorias ocorreu a partir do estabelecimento de relações entre as unidades. A última etapa deste processo constituiu a captação do novo emergente: o metatexto é o resultado desse processo, que permitiu produzir novos entendimentos sobre os fenômenos e discursos investigados.1717. Moraes R, Galiazzi MC. Análise textual discursiva. Ijuí (RS): Ed. Unijuí; 2011. A análise textual discursiva pressupõe ser "impossível ver sem teoria; é impossível ler e interpretar sem ela",17:15 e portanto, buscou-se, neste estudo sustentação e coerência com o referencial teórico do Modelo PPCT de Urie Bronfrenbrenner.

A pesquisa RAPAD foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas (Parecer n. 007/2008). Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os preceitos éticos foram obedecidos em sua totalidade, e, para tanto, aos menores de 18 anos foi solicitada também a assinatura dos pais ou responsáveis que estivessem presentes no momento da entrevista, a fim de cumprir a Lei n. 10.4068, de 10 de janeiro de 2002, do Código Civil Brasileiro.1818. Brasil. Lei n. 10.406, de 10 de Janeiro de 2002: Institui o novo código civil. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Institui o Código Civil. Diário Oficial da União de 11 de janeiro de 2002, p. 1. 2002. Cada entrevista foi codificada por um nome fictício, seguido de um número referente à idade, para garantir o anonimato dos participantes.

RESULTADOS

A partir da caracterização dos 14 pais adolescentes entrevistados, evidenciaram-se seis com idade de 19 anos, seis entre 17 e 18 anos, um com 16 e o outro com 14 anos. A cor de pele branca foi referida por sete pais adolescentes, cinco se autodeclararam de cor preta, e dois, de cor parda. Em relação ao estado civil, 13 se declararam solteiros, havendo entre eles sete com companheira, e um, separado. Quanto ao vínculo empregatício, um pai não estava trabalhando, e os demais apresentavam emprego informal. A renda média mensal referida foi de dois salários mínimos. O valor do salário mínimo considerado neste estudo foi de R$ 465,00. Em relação ao ensino fundamental, um o havia concluído e os demais possuíam ensino fundamental incompleto.

A partir da análise dos dados e do referencial teórico de Bronfenbrenner, foram construídas, a priori, três categorias referentes ao mesossistema do pai adolescente: Percepção do pai adolescente quanto à sua interação com a escola; Percepção do pai adolescente quanto à sua interação com os serviços de saúde; e Percepção do pai adolescente quanto à sua interação com a comunidade. Ressalta-se que o mesmo ambiente nunca será percebido de forma igual por duas pessoas, assim, os pais adolescentes não manifestaram necessariamente níveis de interação específicos a todos os ambientes, apresentando maior ênfase em um ou em outro, conforme descrito a seguir.

Percepção do pai adolescente quanto à sua interação com a escola

Os pais adolescentes referiram valorizar a educação formal, reconhecida neste estudo como aquela que se processa dentro do ambiente escolar, com conteúdos previamente demarcados. Essa valorização é caracterizada nas falas pela possibilidade de proporcionar maiores subsídios para a criação dos filhos e melhores condições de vida para a família do pai adolescente. Ainda, os entrevistados reconheceram as dificuldades de trabalhar, estudar e cuidar do filho, e alguns, mesmo não frequentando a escola por motivos do trabalho, almejavam voltar à sala de aula, local no qual vivenciaram tempo significativo.

Eu voltei a estudar quando minha filha nasceu, acabei o fundamental, vou para o ensino médio e estou trabalhando [...]. Eu voltei a estudar porque com ensino fundamental o que eu ia poder dar para ela? (Lauro16).

A noite eu chego do trabalho, estudo, vou para o colégio, e depois venho para ver meu filho [...]. Os professores, a escola são coisas positivas para o meu futuro [...], mas é um pouco puxado, trabalhar, estudar e ao mesmo tempo cuidar do filho, eu me sinto feliz. O que me dá ânimo para fazer todas essas atividades é o meu filho (Carlos Alberto19).

Parei de estudar [...] porque tinha que trabalhar, considero a escola próxima do meu dia a dia, me criei estudando nesse colégio aqui [...] pretendo voltar, porque ainda sinto vontade de estudar, muita coisa para aprender (Ricardo19).

O reconhecimento da importância de estudar não advém somente do pai adolescente, mas do casal, que tenta se articular para que ambos consigam alcançar seus objetivos por meio da educação formal. Também demonstraram, inúmeras vezes, preocupação com a manutenção do emprego já adquirido, ressaltando a importância do suporte familiar no enfrentamento e incentivo de estudar e cuidar de um filho.

A minha mulher vai voltar a estudar também, só que de manhã, eu vou estudar de noite, aí de manhã eu fico com o meu filho [...] depois de noite ela fica com ele. Aí qualquer coisa, se nós estudarmos de noite, a mãe fica cuidando dele (Ricardo19).

[...] eu tenho vontade de me formar em eletrotécnica, mas no momento não dá para eu estudar e trabalhar porque minha esposa está se formando, então até que ela se forme e possa trabalhar, aí eu posso me preocupar menos, porque ela vai estar trabalhando, aí eu arranjo um serviço de meio turno, daí eu posso estudar e trabalhar para me formar (Bernardo19).

No entanto, alguns pais adolescentes relataram optar por não frequentar a escola, motivados pela coincidência de horários com o trabalho, dificuldades de cuidar do filho e a não gostarem do ambiente escolar.

[...] eu não quis mais estudar, minha família quer que eu estude, me aconselham a voltar estudar, para ter futuro, para ajudar meu filho, bastante (Conrado14).

Percepção do pai adolescente quanto à sua interação com os serviços de saúde

Os pais adolescentes demonstraram comprometimento com os cuidados de saúde de seus filhos junto à Unidade Básica de Saúde (UBS). Alegaram acompanhar expressivamente as consultas de rotina, com disposição para entender os cuidados orientados e discutir estratégias saudáveis a serem adotadas, de maneira autônoma e independente, mesmo referindo que, em alguns momentos, eram impossibilitados de acompanhá-las por causa do trabalho.

[...] acho que, bem dizer, acompanhei todas as consultas [...] desde os primeiros dias, todas, sempre vou junto [...] estar com ela na vacina, ver o que pode dar depois, quais os sintomas que podem vir depois, sempre perguntando (Carlos Alberto19).

[...] contribuição só do postinho, que ele estava com uma ameaça de bronquite o médico deu o remédio para ele, a enfermeira [...] emprestou um copo de estabilizador para ele [...] sempre que ele fica doente eu vou junto no médico para ver o que ele tem, até fui eu que entrei para falar com a médica, fui eu que entrei, não foi minha mulher (Johnatan18).

No posto eu costumo acompanhar quase todas consultas. Até era eu que levava no postinho, mas agora eu não tenho muito tempo (Renato18).

Contudo, alguns pais adolescentes relataram comportamentos de desinteresse em escutar e presenciar a avaliação de saúde de seu filho, demonstrando, ao mesmo tempo, a falta de incentivo e estímulo por parte da equipe de saúde frente a esse adolescente. Este comportamento da equipe de saúde pode demonstrar algumas das dificuldades quanto ao acolhimento da UBS.

As consultas só acompanhava minha esposa, assim ela entrava e eu ficava esperando, eu não via eles atendendo. Não quis e também acho que não podia. Se podia eu não quis saber, não tive interesse de saber (Carlos19).

Eu tenho mais vínculo com o posto de lá perto da casa da minha mãe, o atendimento é bom [...] pouca coisa melhor que o daqui, mas é melhor (Carlos Alberto19).

Eu não tenho tempo de ir, quem vai é minha mulher (Roberto Carlos17).

Já a procura pelo hospital foi referida por um pai adolescente nas situações de problemas de saúde da criança, principalmente por não haver interação com a UBS.

[...] quando preciso de atendimento levo só no pronto socorro, com o posto não tenho nenhuma ligação ou vínculo (Clóvis19).

Percepção do pai adolescente quanto à sua interação com a comunidade

Nas falas dos pais adolescentes observou-se as alterações da relação entre as pessoas com as quais o pai adolescente interagia. Além de enfrentar julgamentos da comunidade que o cercava, o adolescente pai passou a selecionar suas companhias de acordo com o bem estar da sua família.

Na comunidade todo mundo esteve contra porque a gente era novo [...] e amigo é como um bonequinho correndo para longe (João17).

[...] ah, antes de eu ser pai, eles vinham para cá, nós jogávamos junto, eu e os guri, aí agora está todo mundo meio afastado, não vem muito aqui. Porque teve uns que já estão usando drogas, aí eu já me afastei deles (Ricardo19).

Porém, alguns pais adolescentes referiram ter recebido apoio dos vizinhos e amigos, mostrando a relevância de interagir de forma recíproca com o outro, o que pode motivar, confortar e auxiliar no processo de vivência da paternidade. A igreja é citada como o ambiente no qual a família convive com os outros e consigo mesma, diferente do futebol e escola de samba, conforme segue nos exemplos relatados:

[...] todo mundo me ajudou, vizinho, amigo, conhecido, dando apoio, porque um ensina assim como ser pai, chega para conversar e me dizer como fazer, fala o que estou fazendo errado (Bernardo19).

[...] na comunidade frequentamos a igreja, o meu filho é batizado, participamos ali (Ricardo19).

[...] ah, eu vou sempre é na quadra de futebol, no ginásio (Carlos Alberto19).

Eu vou no ensaio da escola de samba (Clóvis19).

DISCUSSÃO

O Modelo PPCT visa proporcionar conhecer a pessoa no seu contexto ecológico, por meio de suas interações nos ambientes no qual vive/convive.1212. Bronfenbrenner U. Making human beings human: bioecological perspectives on human development. Londres (UK): Sage; 2005. , 19 19. Narvaz MG, Koller SH. O Modelo bioecológico do desenvolvimento humano. In: Koller SH, organizador. Ecologia do desenvolvimento humano: pesquisa e intervenção no Brasil. São Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 2004. p. 51.Destarte, o mesossistema, composto pelos microssistemas escola, comunidade e serviços de saúde, influencia e é influenciado pelas dinâmicas interacionais estabelecidas com o adolescente nos processos proximais, o que o torna um diferencial no desenvolvimento humano saudável.

Acrescentar ao período da adolescência o fenômeno da paternidade significa vivenciar um processo de transformações e (re)construções,44. Frewin K, Tuffin K, Rouch G. Managing identity: adolescent fathers talk about the transition to parenthood. N Z J Psychology. 2007 Nov; 36(3):161-7. em busca da identidade para este homem ainda adolescente, bem como para sua família.20 20. Carraro TE, Meincke SMK, Collet N, Tavares BC, Kempfer SS. Conhecimento acerca da família do pai adolescente observado por meio do genograma. Texto Contexto Enferm. 2011; 20(spe):172-7.O pai adolescente passa a vivenciar um novo papel frente à sociedade.44. Frewin K, Tuffin K, Rouch G. Managing identity: adolescent fathers talk about the transition to parenthood. N Z J Psychology. 2007 Nov; 36(3):161-7.Esse processo poderá configurar mudanças interacionais junto à rede social de apoio de acordo com a conjuntura sociocultural, o tempo histórico e o estágio de desenvolvimento do ser humano e da família.

A passagem de um papel para o outro ocorre algumas vezes ao longo de todo o ciclo vital, toda vez que uma pessoa tem sua posição alterada em virtude do meio ou dos papéis e atividades desenvolvidos. Estas passagens entre papéis são entendidas como elemento básico do processo de desenvolvimento humano, chamado de transição ecológica.1111. Bronfenbrenner U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1996.

Neste estudo, os pais adolescentes entrevistados referiram que, após receberem a notícia da paternidade, tiveram como dever, quase que único, o sustento de seus filhos, e referiram sentir angústia, medo de não conseguirem cumprir com esta responsabilidade financeira. Nesta mesma direção, o amadurecimento do adolescente que passa a ser pai ocorre devido às necessidades impostas pela lógica da sobrevivência, uma vez que as condições econômicas para atender às demandas e necessidades dos filhos são oriundas, muitas vezes, do seu trabalho.44. Frewin K, Tuffin K, Rouch G. Managing identity: adolescent fathers talk about the transition to parenthood. N Z J Psychology. 2007 Nov; 36(3):161-7. , 21 21. Fernandes VS, Meincke SMK, Soares MC, Bueno MEN, Monteiro RFC, Burille A. Vivência da paternidade na adolescência. J Nurs UFPE [online]. 2011 [acesso 2012 Dez 5]. Disponível em: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/1460
http://www.revista.ufpe.br/revistaenferm...

As modificações de papéis geram variações nas interações e nas formas como as pessoas se comunicam;1111. Bronfenbrenner U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1996. assim, comportamentos e opiniões só fazem sentido se compreendidos no contexto no qual foram construídos. Este estudo demonstrou que os adolescentes pais entrevistados vivenciavam interações distintas para ambientes escolares, de saúde e comunitários, uma vez que expressaram em suas falas traços qualitativos de valorização desses ambientes, por meio do reconhecimento, responsabilidade e cuidados, ou de desvalorização, pelo desinteresse e dificuldades de estabelecer interações recíprocas, e todos esses traços pareciam transcender gerações. O adolescente busca se adaptar ao novo papel de pai, construindo suas características pessoais somadas as características dos ambientes em que convive ao longo da vida.

Nessa linha reflexiva, a paternidade na adolescência e as interações estabelecidas frente aos serviços de saúde, escola e comunidade reafirmam discussões préestabelecidas socialmente entre o homem e o cuidado com a saúde, educação e o sustento da família, questões que por meio do tempo podem se perpetuar, de forma cultural e social. No entanto, o mesmo tempo que perpetua opiniões também promove mudanças.1919. Narvaz MG, Koller SH. O Modelo bioecológico do desenvolvimento humano. In: Koller SH, organizador. Ecologia do desenvolvimento humano: pesquisa e intervenção no Brasil. São Paulo (SP): Casa do Psicólogo; 2004. p. 51.

Quanto à interação com a escola,1010. Carvalho GM, Merighi MAB, Jesus MCP. Recorrência da parentalidade na adolescência na perspectiva dos sujeitos envolvidos. Texto Contexto Enferm. 2009 Jan-Mar; 18(1):17-24. , 2222. Bunting L, McAuley C. Research review: teenage pregnancy and parenthood: the role of fathers. Child Fam Soc Work. 2004 Ago; 9(3):295-303. o despreparo do adolescente para lidar com a paternidade dificulta a conciliação com a escola, trabalho, cuidado do filho, tornando-se um desafio, que resulta na evasão escolar como atitude predominante entre os adolescentes. Neste estudo, os entrevistados apresentaram um baixo nível de escolaridade, e a percepção quanto ao professor como profissional que deveria estar à sua disposição, com a intenção de apoiá-lo, não foi observada. No entanto, demonstraram significar o ambiente escolar como um espaço positivo para seu futuro e de sua família, tendo em vista que os entrevistados frequentavam a escola ou pretendiam retornar à educação formal.

As experiências particulares e o modo como cada pai adolescente as significou diz respeito a características subjetivas da pessoa, mas também da qualidade das interações estabelecidas com pessoas, símbolos e ambientes nos processos proximais.12 12. Bronfenbrenner U. Making human beings human: bioecological perspectives on human development. Londres (UK): Sage; 2005.Assim, nesse estudo, evidenciou-se a realidade paterna na adolescência por outro ponto de vista, que enfatiza o sonho e a busca pela educação formal, constatando-se que o reconhecimento das dificuldades existentes parece servir de estímulo para alguns pais que almejavam um futuro melhor para si e sua família.

Cabe ressaltar a mobilização que alguns casais adolescentes referiram no intuito de permanecerem estudando, buscando uma condição de vida melhor para a família que estavam construindo. Parentalidade na adolescência diz respeito à forma de responsabilização das pessoas, ou seja, da tríade pai, mãe e filho, face à preparação para o futuro, em busca de melhoria na qualidade de vida e nas questões de planejamento acerca das condições sociais individuais e familiares.1010. Carvalho GM, Merighi MAB, Jesus MCP. Recorrência da parentalidade na adolescência na perspectiva dos sujeitos envolvidos. Texto Contexto Enferm. 2009 Jan-Mar; 18(1):17-24.

Observou-se que a família ofereceu incentivo verbal e presencial em relação ao retorno e manutenção da educação formal, assim como na questão dos serviços de saúde, visto que se percebeu a presença constante de alguém da família, além do casal adolescente, nas consultas de emergência ou de rotina. Há o aumento do potencial desenvolvimental da pessoa quando a família também se envolve na formação da rede social de apoio.1111. Bronfenbrenner U. A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais e planejados. Porto Alegre (RS): Artes Médicas; 1996.

No contexto dos serviços de saúde, os pais adolescentes do presente estudo demonstraram frequentar a UBS. Contudo, percebeu-se a ausência de reciprocidade no desenvolvimento das interações entre a equipe de saúde e o pai adolescente, devido à escassez de relatos acerca das mesmas diretamente com o enfermeiro e/ou outro profissional de saúde. Os serviços de saúde são percebidos como desorganizados na forma de inclusão do pai adolescente, tanto no acompanhamento pré-natal, quanto no auxílio à vivência da paternidade,11. Hollman D, Alderman E. Fatherhood in adolescence. Pediatr Rev. 2008 Out; 29(10):364-6. , 44. Frewin K, Tuffin K, Rouch G. Managing identity: adolescent fathers talk about the transition to parenthood. N Z J Psychology. 2007 Nov; 36(3):161-7. , 66. Luz AMH, Berni NIO. Processo da paternidade na adolescência. Rev Bras Enferm. 2010 Fev; 63(1):43-50. o que corrobora com os achados deste estudo. Pode-se, então, dizer que o contexto tem, portanto, papel-chave, já que é nele que as interações e os processos proximais acontecem.

As interações entre as pessoas ocorrem conforme o nível de reciprocidade na relação, nas quais elas devem ser percebidas como seres participativos e atuantes. Dessa forma, o adolescente não é o único responsável pela efetividade e estímulo dentro dos processos proximais que podem ocorrer junto aos serviços de saúde.12 12. Bronfenbrenner U. Making human beings human: bioecological perspectives on human development. Londres (UK): Sage; 2005.Os processos proximais vivenciados como fonte de motivação devem integrar o propósito da rede social de apoio, por meio de interação mútua das pessoas envolvidas, com a intenção de que essa rede passe a integrar a vida do pai adolescente de maneira significativa. Esses processos não devem ser realizados de maneira unilateral, como, por exemplo, o atendimento tecnicista da consulta de pré-natal ou de puericultura, relacionado ao serviço de saúde. Assim, o acolhimento social, quando realizado de forma adequada, pode incentivar o adolescente pai a reconhecer seu papel junto aos serviços de saúde.16 16. Bueno MEN, Meincke SMK, Schwartz E, Soares MC, Corrêa ACL. Paternidade na adolescência: a família como rede social de apoio. Texto Contexto Enferm. 2012 Jun; 21(2):313-9.

Em relação à interação dos pais adolescentes com a comunidade, verificou-se que esses reconheciam mudanças significativas no convívio com os amigos devido às responsabilidades impostas pela paternidade, relatando que essas mesmas responsabilidades só eram reconhecidas pela comunidade quando faziam referência ao apoio financeiro. A igreja apareceu como local de socialização familiar e religioso, contrapondo-se aos espaços de lazer, como o ginásio e escola de samba, que pareciam estabelecer uma relação individualista com o pai adolescente. A responsabilidade de cuidar de um filho e de uma família modifica o comportamento do adolescente, que passa a buscar com mais ênfase ambientes e pessoas que proporcionem experiências e situações de compreensão e suporte que favoreçam o desenvolvimento do papel de pai. Assim, a comunidade pode ser entendida como promotora do desenvolvimento humano, da socialização e da construção de identidade.66. Luz AMH, Berni NIO. Processo da paternidade na adolescência. Rev Bras Enferm. 2010 Fev; 63(1):43-50.

O adolescente pode vivenciar inúmeros sentimentos, até mesmo contraditórios, o reconhecimento e o entendimento do novo papel de pai nem sempre ocorre de forma imediata, visto que o papel pode ser construído no decorrer da vivência da paternidade.44. Frewin K, Tuffin K, Rouch G. Managing identity: adolescent fathers talk about the transition to parenthood. N Z J Psychology. 2007 Nov; 36(3):161-7. , 2121. Fernandes VS, Meincke SMK, Soares MC, Bueno MEN, Monteiro RFC, Burille A. Vivência da paternidade na adolescência. J Nurs UFPE [online]. 2011 [acesso 2012 Dez 5]. Disponível em: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/1460
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Essa consideração compreende, além do microssistema da família, a importância dos amigos, vizinhos, professores e equipe de saúde como atores que podem apoiar o adolescente no desenvolvimento do papel de pai ao estabelecerem interações recíprocas, por períodos prolongados de tempo.

Cabe destacar que observar o pai adolescente de forma integral dentro do mesossistema em que vive permite afirmar que os achados desse estudo ratificaram que o modo de exercer a paternidade parece ser alterado de maneira positiva nos diferentes ambientes, de acordo com o tempo e a pessoa. Isso foi constatado pela participação dos adolescentes pais nas consultas de saúde e no seu interesse em entender as orientações. A busca pelo desenvolvimento da sua família por meio da educação formal, o reconhecimento de que, a partir da paternidade, o pensamento individualista precisava ser superado, a preocupação em cuidar do filho, da mulher e da família, também colaboraram para o exercício da paternidade de forma saudável e efetiva.

Destarte, há o surgimento de um pai adolescente20 20. Carraro TE, Meincke SMK, Collet N, Tavares BC, Kempfer SS. Conhecimento acerca da família do pai adolescente observado por meio do genograma. Texto Contexto Enferm. 2011; 20(spe):172-7.que demonstra maior envolvimento e preocupação com a educação e o cuidado dos filhos, deixando de exercer unicamente o papel de pai provedor. Assim, enfatiza-se a importância de incentivar a ampliação e o aperfeiçoamento de novas formas de processos de interação baseados na reciprocidade entre a rede social de apoio e o pai adolescente, para que os adolescentes possam vivenciar a paternidade de forma saudável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que os pais adolescentes valorizaram a educação formal, como meio de melhorar de vida e oferecer um suporte mais adequado para o desenvolvimento de sua família. Acredita-se que a simbologia da formação teórica por meio do tempo fomenta a necessidade e o desejo de estudar. Já os serviços de saúde referenciados pelos pais adolescentes estavam relacionados frequentemente ao contexto da UBS ou hospital, o que pode estar relacionado a uma interação deficiente, por parte dos profissionais, com esse pai adolescente, possivelmente pelas dificuldades de acolhimento do ser adolescente pelos próprios serviços de saúde. Em relação à comunidade, alguns sujeitos alegaram continuar com suas atividades de lazer, como jogar futebol, frequentar escola de samba, apesar de outros referirem sentir-se excluídos pelos amigos e encontrarem dificuldades de aceitação da comunidade.

De acordo com os dados deste estudo, o desenvolvimento humano não pode ser considerado efetivo na paternidade adolescente em todos os ambientes que compõem o mesossistema, devido a não regularidade de tempo e de reciprocidade das interações nos processos proximais e a não inter-relação entre os ambientes estudados. Porém, os resultados obtidos demonstraram que os pais adolescentes se mostraram receptivos a educação formal, presentes e participativos na comunidade e nos serviços de saúde. Dessa forma, dificuldades de interação com a escola, serviços de saúde e comunidade parecem não decorrer da inserção do adolescente nos ambientes estudados, mas da sua organização e preparo adequado para o acolhimento desses adolescentes.

Deste modo, observa-se a necessidade da intervenção dos profissionais de enfermagem, atuando junto à população adolescente, buscando novas ações voltadas para a inserção dos pais adolescentes nos serviços de saúde, escola e comunidade, que podem servir de forma mais efetiva como contexto em potencial para uma mudança social, nas maneiras de fortalecer e apoiar efetivamente o adolescente na vivência da paternidade, por meio de ações que promovam a saúde e a educação, uma vez que é possível estabelecer interações recíprocas que formem uma rede social de apoio presente nesses ambientes.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    19 Fev 2013
  • Aceito
    04 Dez 2013
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