RESUMO
Objetivo: identificar as vulnerabilidades em saúde das pessoas transgênero profissionais do sexo.
Método: revisão integrativa realizada em julho de 2020 nas bases PubMed, Web of Science, SCOPUS, CINAHL, IBECS e LILACS, sem restrição de idioma e tempo. Utilizaram-se os descritores indexados no DECS e MESH e seus respectivos sinônimos: “Pessoas transgênero”, “Profissionais do sexo” e “Vulnerabilidade em Saúde”. Os dados foram analisados a partir da análise temática.
Resultados: foram resgatados 547 artigos e, após o processo de seleção e análise, 34 compuseram esta revisão. Quatro classes temáticas emergiram: “O conhecimento, prevenção e exposição às ISTs no trabalho sexual”; “O uso (e abuso) de substâncias ilícitas e o álcool”; “A dimensão social e estrutural das vulnerabilidades: das redes de apoio fragilizadas às violências reproduzidas contra os corpos dissidentes.” e “As doenças psicossociais, discriminação e desafios das pessoas trans profissionais do sexo”.
Conclusão: as vulnerabilidades em saúde vivenciadas pelas pessoas trans profissionais do sexo são marcadas pela discriminação, exclusão social, estigma, contextos de encarceramento, violência física, psicológica e sexual, uso de substâncias ilícitas e álcool, além das dificuldades de acesso aos serviços essenciais como saúde, educação e lazer.
DESCRITORES: Pessoas transgênero; Profissionais do sexo; Vulnerabilidade em saúde; Minorias sexuais e de gênero; Enfermagem
ABSTRACT
Objective: to identify the health vulnerabilities of transgender sex workers.
Method: an integrative review conducted in July 2020 in the PubMed, Web of Science, SCOPUS, CINAHL, IBECS and LILACS databases, with no language or time restrictions. The following descriptors indexed in DeCS and MESH and their respective synonyms were used: “Transgender persons”, “Sex workers” and “Health vulnerability”. The data were analyzed based on thematic analysis.
Results: a total of 547 articles were retrieved and, after the selection and analysis process, 34 were included in this review. Four thematic classes emerged: “Knowledge, prevention and exposure to STIs in sex work”; “Use (and abuse) of illegal substances and alcohol”; “The social and structural dimension of vulnerabilities: from weakened support networks to violence reproduced against dissident bodies”; and “Psychosocial diseases, discrimination and challenges of transgender sex workers”.
Conclusion: the health vulnerabilities experienced by transgender sex workers are marked by discrimination, social exclusion, stigma, incarceration contexts, physical, psychological and sexual violence and use of illegal substances and alcohol, in addition to difficulties in accessing essential services such as health, education and leisure.
DESCRIPTORS: Transgender persons; Sex workers; Health vulnerability; Sexual and gender minorities; Nursing
RESUMEN
Objetivo: identificar las vulnerabilidades en términos de salud de las personas transgénero que ofrecen servicios profesionales de sexo.
Método: revisión integradora realizada en julio de 2020 en las siguientes bases de datos PubMed, Web of Science, SCOPUS, CINAHL, IBECS y LILACS, sin restricciones de idioma o de tiempo. Se utilizaron los descriptores indexados en DeCS y en MESH y sus respectivos sinónimos: “Personas transgénero”, “Profesionales del sexo” y “Vulnerabilidad en términos de salud”. Los datos se analizaron sobre la base del análisis temático.
Resultados: se recuperó un total de 547 artículos y, luego del proceso de selección y análisis, 34 de ellos fueron incluidos en esta revisión. Surgieron cuatro clases temáticas: “El conocimiento, la prevención y la exposición a las ITS en el trabajo sexual”; “El uso (y abuso) de sustancias ilícitas y del alcohol”; “La dimensión social y estructural de las vulnerabilidades: de las redes de apoyo debilitadas a las diversas formas de violencia reproducidas contra los cuerpos disidentes”; y “Las enfermedades psicosociales, la discriminación y los desafíos de las personas transgénero que ofrecen servicios profesionales de sexo”.
Conclusión: las vulnerabilidades en términos de salud experimentadas por las personas transgénero que ofrecen servicios profesionales de sexo están marcadas por la discriminación, la exclusión social, el estigma, los contextos de encarcelamiento, la violencia física, psicológica y sexual y el uso de sustancias ilícitas y de alcohol, además de las dificultades para acceder a los servicios esenciales como salud, educación y recreación.
DESCRIPTORES: Personas transgénero; Profesionales del sexo; Vulnerabilidad en términos de salud; Minorías sexuales y de género; Enfermería
INTRODUÇÃO
As análises de vulnerabilidade em saúde emergiram no contexto norte-americano no início dos anos 1990, em estudos sobre as respostas políticas à epidemia ocasionada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids)1. Contrapunha-se tal perspectiva às análises epidemiológicas da epidemia de HIV/aids que se voltavam aos fatores de risco e aos grupos de risco2. Partiram-se, então, às análises de vulnerabilidade a partir de uma compreensão de totalidade e de complexidade que considerava o indivíduo, porém, contextualizando-o a partir de suas relações sociais e de suas relações com o Estado3-4.
Designa-se a categoria vulnerabilidade em sua origem a grupos ou indivíduos fragilizados, jurídica ou politicamente, na promoção, na proteção e/ou garantia de seus direitos de cidadania5. Toma-se a vulnerabilidade como uma condição ou situação que entrelaça relações estruturais de dominação ou formas injuriosas de formação dessas identidades6. Desse modo, compreende-se que as análises de vulnerabilidade são ferramentas analíticas potentes para a compreensão do caso de determinados grupos sociais, como o de pessoas transgênero*.
O termo pessoas trans designa um conjunto de sujeitos cujas identidades de gênero tensionam a unidade entre sexo-gênero-desejo, própria da lógica cis-heteronormativa7. Evidencia-se que aproximadamente 0,4% a 1,3% da população acima dos 15 anos não se identifica com a identidade de gênero atribuída ao nascer8.
As pessoas trans têm sido historicamente submetidas às relações de poder e dominação que, ao mesmo tempo em que sofrem processos de invisibilização, tomam-nas como seres abjetos. A abjeção impossibilita essas pessoas a serem inteligidas a partir de suas performances de gênero, visto que rompem com a lógica hegemônica. Numa sociedade na qual as relações e a condição de humanidade dos sujeitos passam pelo crivo dos processos de generificação, as pessoas trans podem experimentar um conjunto de vulnerabilidades em suas vidas cotidianas, notadamente quem trabalha como profissional do sexo8. Identificam-se experiências de violência física, verbal, sexual, psicológica, crimes de ódio, tortura, exposição à infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e maior susceptibilidade ao uso de substâncias psicoativas com desfechos psíquicos de depressão e suicídio. Assim, a midiatização e a visibilização de como as estruturas de poder - imbricadas socio e historicamente - agem sobre os corpos e vidas que “não importam” pode contribuir para o fomento e a potencialização do debate entre gestores, profissionais de saúde e sociedade civil, além do fortalecimento de políticas públicas direcionadas para esse público no Brasil, como a Política de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero (LGBT+)9.
Há evidências de que pessoas trans possuem redes sociais e comunitárias precárias; possuem escassas oportunidades de emprego formal, além dos relatos de transfobia que interferem, de forma direta e indireta, nas relações socioeconômicas10-11. Tal situação se expressa, inclusive, na baixa expectativa de vida dessas pessoas: 35 anos de idade8,12. Além disso, observa-se que há um maior índice de travestis e mulheres transexuais que se envolvem em trabalho sexual como meio de sobrevivência13. Dessa forma, objetivou-se identificar as vulnerabilidades em saúde vivenciadas por pessoas trans profissionais do sexo.
MÉTODO
O estudo de revisão integrativa foi desenvolvido em seis etapas: identificação do tema e questão norteadora; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; definição das informações a serem extraídas dos estudos selecionados; avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa; interpretação dos resultados e síntese do conhecimento14-15.
Inicialmente, houve a identificação do tema e da questão norteadora por meio da estratégia PICo16. P (População) AND I: (Fenômeno de interesse) AND Co: (Contexto), em que: P= Transgender persons OR Transgenders Person OR Transgender Persons, Transgender OR Transgenders OR Transgender OR Transsexual Persons AND I= Health Vulnerability AND Co= Sex Work OR Work Sex OR Sex Industry OR Prostitution. A partir da estratégia, foi gerada a seguinte pergunta norteadora: quais as vulnerabilidades em saúde vivenciadas pelas pessoas transgênero profissionais do sexo?
Estabeleceu-se, em seguida, a amostragem com a definição dos critérios de inclusão e exclusão: foram incluídos artigos originais, sem delimitação temporal para as buscas, publicados em todos os idiomas e relacionados à pergunta norteadora. Foram excluídos os artigos duplicados, contabilizados uma vez; os que tiveram abordagem de pessoas trans e cisgênero no mesmo estudo sem a apresentação separada dos resultados; os que abordassem pessoas trans não profissionais do sexo; os de revisão e provenientes da literatura cinza sem editoração científica.
A busca dos artigos foi realizada em julho de 2020 por meio do sistema da Biblioteca Central da Universidade de São Paulo e periódico CAPES, que forneceu acesso às principais bases de dados: PubMed Central, Web of Science, SCOPUS, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL), Índice Bibliográfico Espanhol de Ciência da Saúde (IBECS) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foi utilizada estratégia de busca, adaptada para cada base de dados de acordo com suas especificidades de reconhecimento, bem como suas palavras chaves e seus entry terms separados com operadores booleanos OR para distingui-los e AND para associá-los, de forma a integrar e direcionar o máximo de estudos sobre o tema, conforme o Quadro 1.
Estratégias geradas a partir dos descritores e entry terms controlados. Recife, PE, Brasil, 2020.
Na fase seguinte, houve a categorização dos estudos com estabelecimento dos dados a serem extraídos: após a localização dos estudos, exportaram-se os resultados para o software gerenciador bibliográfico Zotero, a fim de identificar e excluir os duplicados. Em seguida, esses foram transferidos para a plataforma online do Rayyan QCRI17, em que ocorreu a leitura do título e resumo por dois pesquisadores independentes. Quando necessário, um terceiro examinador foi introduzido na seleção para solucionar as discordâncias18.
Prosseguiram-se, assim, a avaliação dos estudos inclusos com as leituras na integra dos estudos selecionados, análise crítica e síntese dos resultados da revisão. Obteve-se a extração dos dados a partir de um formulário metodológico validado19-20, composto pelas seguintes variáveis: identificação do artigo original, ano de publicação, país, características metodológicas do estudo; amostra do estudo, avaliação do rigor metodológico, principais resultados, limitações e conclusões.
Avaliou-se o nível de evidência com base na proposta de Melnyk e Fineout-Overholt: 1- as evidências são resultantes de revisão sistemática, metanálise ou de diretrizes clínicas oriundas de revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados e controlados; 2- evidências de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado; 3- evidências derivadas de ensaios clínicos bem delineados sem aleatorização; 4- evidências oriundas de estudo de coorte e de caso-controle bem delineados; 5- evidências apresentadas de revisão sistemática, de estudos descritivos e qualitativos; 6- evidências provenientes de um único estudo descritivo ou qualitativo; 7- evidências derivadas da opinião de autoridades e/ou parecer de comissão de especialistas21.
Na interpretação dos resultados, os artigos incluídos na amostra final foram analisados de maneira qualitativa, a partir da análise temática22, a qual possibilitou a categorização em 4 classes: “O conhecimento, prevenção e exposição às ISTs no trabalho sexual”; “O uso (e abuso) de substâncias ilícitas e o álcool”; “A dimensão social e estrutural das vulnerabilidades: das redes de apoio fragilizadas às violências reproduzidas contra os corpos dissidentes.”; e “As doenças psicossociais, discriminação e desafios das pessoas trans profissionais do sexo”. As classes foram validadas pelo grupo de pesquisa a partir do confronto de conhecimento teórico, expertise e experiência sólida dos pesquisadores nesse tipo de análise. Destaca-se que houve a apresentação de forma prévia das categorias pré-formuladas ao grupo em questão. Foram considerados os dados descritivos dos estudos quantitativos na categorização das classes.
Os resultados, a triagem e o processo de seleção foram apresentados por meio de fluxograma de acordo com as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA)23 e também por quadros e de forma descritiva com o objetivo de sintetizar e fomentar discussão sobre vulnerabilidades em saúde das pessoas transgênero profissionais do sexo.
RESULTADOS
Foram identificados 547 artigos primários e incluíram-se, ao final desse processo, 34 artigos. As etapas de seleção estão descritas na Figura 1:
Fluxograma do processo de seleção dos estudos primários adaptado do PRISMA. Recife, PE, Brasil, 2020
Obtiveram-se 547 artigos no processo preliminar de busca e seleção nas bases de dados, sendo 34 (100%) incluídos nesta revisão, oriundos de pesquisas realizadas nos Estados Unidos da América (EUA) - 8 (23,5%); Canadá - 3 (8,8%); Argentina, República Dominicana, Peru, China, Tailândia, Paquistão - 2 (5,8%) e Malásia, Uruguai, Jamaica, África do Sul, Brasil, Turquia, Índia, Holanda, Porto Rico, Guatemala e México 1 (3%). Todos os estudos (100%) estão no idioma inglês. Quanto às bases de dados de origem, foram indexados artigos na PubMed 32,3% (n=11), Scopus 41,2% (n=14), Web Of Science 23,5 (n=8), e Lilacs 3% (n=1). A descrição dos artigos inclusos está no Quadro 2 e as classes temáticas e a síntese das vulnerabilidades em saúde no Quadro 3.
Autoria, Ano de publicação, Delineamento da pesquisa e Nível de evidência dos estudos incluídos na amostra final. Recife, Pernambuco, Brasil, 2020. (N=34)
Categorização temática e Síntese das vulnerabilidades em saúde das pessoas trans profissionais do sexo. Recife, PE, Brasil, 2020. (N=34)
DISCUSSÃO
Conhecimento, prevenção e exposição às ISTs no trabalho sexual
As vulnerabilidades em saúde das pessoas trans profissionais do sexo identificadas nesse estudo estão situadas em vários contextos do trabalho profissional que, analisados numa perspectiva macrossocial, alude a concepções como a qualidade de informações sobre o autocuidado, a capacidade de incorporar práticas preventivas no cotidiano e o nível de preocupações que contribuem com a exposição ou proteção ao adoecimento49.
Os riscos de adoecimento na exposição do trabalho sexual são reconhecidos em razão das condições sociais interpostas pela violência, prostituição, uso de drogas e álcool50. Foi possível identificar como a negociação dos preços do trabalho sexual objetivando a prática sexual sem o preservativo, além da realização de desejos sexuais relacionados a fetichização do corpo e a exploração das pessoas consideradas abjetas39, resultam na comercialização sexual associada às agressões físicas e psicológicas em detrimento da saúde e das vidas que não importam7,30,41.
O desconhecimento dos riscos e de determinadas doenças podem estar envolvidos, em alguns cenários, com a negação de acesso à educação e à condição socioeconômica que condiciona as pessoas trans à desinformação quanto à transmissão e acometimento por diversas ISTs. É possível observar que pessoas transgênero profissionais do sexo possuem um maior risco de serem acometidas pelo HIV, além da estimativa de que 27,3% das pessoas trans profissionais do sexo em todo o mundo possuem HIV55-57. Logie et al (2020) sugere que pessoas mulheres trans profissionais do sexo possuem nove vezes mais taxas de infecções por HIV, se comparadas a mulheres trans não profissionais do sexo10,13-14,37,39-40.
Observa-se, em estudo realizado na Malaysia, que 28,3% de pessoas trans profissionais do sexo possuem sífilis, bem como taxas significativas de gonorreia. Todos esses dados sugerem que a desinformação pode estar atrelada, em alguma medida, com o acometimento e a transmissão de algumas dessas doenças, como HIV, sífilis e gonorreia43. Em um estudo realizado em Portugal com travestis profissionais do sexo, observou-se em uma etnografia que o conhecimento sobre a prevenção ao HIV e outras ISTs eram permeados por conhecimentos não científicos e do senso comum, como pomadas, receber sexo oral sem preservativo, utilização de banhos quentes ou ainda práticas sexuais desprotegidas quando o cliente apresentava boa aparência física58.
Observou-se que o sexo anal e oral com ejaculação na boca se mostrou como prática rotineira no cotidiano do público em tela, constituindo-se, assim, fatores de risco relevantes, motivando-se essas práticas pelos desejos “excêntricos” dos clientes36,38. O acometimento do HPV, por exemplo, pode ser resultante das práticas sexuais com múltiplos parceiros, da não identificação das verrugas anais e da prática sexual anal sem preservativo, fatores que se articulam com a negação e a dificuldade de acesso à educação e à saúde. Além disso, encontraram-se diversos estudos nos quais há a associação e a evidência da prevalência do HIV com as pessoas trans profissionais do sexo, entretanto, essa população encontra-se exposta também a sífilis e a Chlamydia, demonstrando a necessidade de articulação não só na prevenção do HIV/aids, mas também de outras ISTs31,36-38.
As relações vulnerabilizadoras permeiam a vida das pessoas transgêneros e impactam no processo saúde-doença. As experiências exitosas decorrem, em vários contextos, do ativismo frente às dificuldades sociais e de saúde dessas pessoas, no entanto, ainda são insuficientes e demanda participação dos atores sociais no enfrentamento à transfobia, na defesa da vida e na solidariedade. A Enfermagem possui papel plural no cuidado, assim, o enfermeiro pode atender de forma singular, ouvir e participar ativamente das ações de promoção da saúde, prevenção de doenças e agravos, ofertar assistência básica e especializada de forma interdisciplinar e com a inclusão dos movimentos sociais em espaços de tomada de decisões e educação permanente.
O uso (e abuso) de substâncias ilícitas e álcool
A experiência noturna das pessoas trans nos locais de prostituição, por vezes, mostrou-se associada ao uso e abuso de drogas lícitas e ilícitas ofertadas por clientes e socializadas, ocasionalmente, pelas profissionais. Estimam-se que 77% dessas pessoas fazem uso de drogas, seja por imposição do cliente, seja por vício31,40. Refere-se que o uso de drogas, muitas vezes, é iniciado desde a saída da casa dos pais e se mantém no cotidiano das pessoas trans, sobretudo, nos espaços de prostituição, o que pode culminar em contextos de encarceramento, criminalização e violência40.
Pode-se inferir que vivenciar determinados contextos da profissão sexual potencializa o uso e a associação de substâncias psicoativas no trabalho sexual ou fora dele, possibilitando, inclusive, a comercialização dessas substâncias como a cocaína e drogas injetáveis. Relata-se, ainda, a associação do uso de drogas ilícitas no trabalho sexual, mostrando-se como um dos motivos para a não adesão ao preservativo e como forma de “escapar” da realidade que produz contextos de sofrimento40,43. A utilização de substâncias psicoativas nos espaços de trabalho sexual é caracterizada, ainda, pela facilidade de acesso na prática sexual com o cliente ou pelo vício46.
Tanto o consumo de bebidas alcoólicas quanto de drogas ilícitas mostrou-se intenso nos estudos identificados, já que, de alguma forma, faz parte da rotina diária das pessoas trans profissionais do sexo. Outro fator a ser considerado é o uso associado do álcool e drogas ilícitas, sendo necessárias orientações quanto aos riscos dessa combinação, a exemplo, os efeitos danosos causados pelo uso do crack e do álcool simultaneamente. Ressalta-se, no entanto, a importância de não associar às vivências e experiências de pessoas trans ao uso de drogas, haja vista que tal processo reafirma o preconceito que possui como base as relações estruturais de poder, o estigma e as representações negativas dessas pessoas presentes na sociedade59.
Ressalta-se, ainda, a importância do papel dos gestores e profissionais de saúde na assistência às pessoas trans profissionais do sexo que fazem uso e abuso de drogas ilícitas. Livre de julgamento de valores, o suporte dado por esses profissionais capacitados pode possibilitar a criação de uma rede de ações que visem, sobretudo, o rastreio, a discussão sobre a redução de danos, a reabilitação e a prevenção de complicações.
A dimensão social e estrutural das vulnerabilidades: das redes de apoio fragilizadas às violências reproduzidas contra os corpos dissidentes
O reconhecimento, por parte do setor da saúde, da importância de identificar a influência dos processos macrossociais na vida das pessoas dissidentes à norma é realizado a partir da consideração e da interação dos contextos dos atores sociais nas situações vulnerabilizadoras. Entretanto, tal reconhecimento não é, por si só, suficiente para resolver os contextos desiguais e injustiças sociais, como acontece com pessoas trans profissionais do sexo. Na própria rede familiar, por exemplo, o público em questão é alvo de violência física, verbal e psicológica10,38 em que não podem expressar a sua identidade de gênero, recorrendo a amigos ou colegas que possam auxiliar nessa fase38,52.
A rede familiar se constitui como principal pilar de afeto e de apoio e a negativa dessa base fragiliza as alianças de proteção, culminando com a expulsão de jovens transgênero de casa. Quando esse elo fragiliza, as pessoas trans dificilmente possuem acesso à escola e a outros serviços sociais, sendo forçados a viver na rua e a lançar estratégias que possam ajudar na sua sobrevivência26,29.
O contexto de sobrevivência pode ser atrelado à transfobia, que impacta no exercício ao direito da cidadania das pessoas trans profissionais do sexo, garantido por leis e defendido em todo o mundo12,15,25,27. A exclusão social é configurada como um processo complexo e alicerçado em dimensões materiais e políticas, uma maneira que envolve pessoas e suas relações para com o outro, sendo afirmado sob diversas óticas: cultural e étnica, econômica, sexual, de gênero e patológica44. Além disso, observa-se que a relação do gênero das travestis e/ou mulheres trans com a sociedade - e aqui menciona-se as estruturas de poder e as hierarquizações tidas a partir da lógica da hegemonia heterossexual e cisgênero -, vão, em alguma medida, potencializar não só a exclusão social, mas toda uma cadeia de inferiorização, evidenciando, inclusive, problemáticas como a violência e a vivência de contextos vulnerabilizadores60.
A associação entre estigma e exclusão social resulta na violência que impacta na expectativa de vida das pessoas trans que não ultrapassa os 35 anos de idade12. No relatório da TGEU, divulgado em 2017, observa-se o seguinte: 11% das pessoas transexuais assassinadas entre 1º de janeiro de 2008 e 31 de dezembro de 2017 tinham até 20 anos de idade; 46% entre 20 e 29 anos; 29% entre 30 e 39 anos; 11% entre 40 e 49 anos; 3% entre 50 e 59 anos; 1% era maior de 60 anos8,16.
O que se molda no pensamento social da figura das mulheres transexuais, por exemplo, está situado no senso comum de desarranjo social, em que pessoas trans e o cenário de prostituição estão atrelados, além da pobreza, ao encarceramento e ao tráfico. Essa representação emerge de um sistema que possui a cis-heterossexualidade como um dispositivo de produção de sofrimentos e que localiza as pessoas dissidentes à norma numa periferia social e de existência. Faz-se necessário a compreensão de que as vulnerabilidades entre esse público não estão apenas no acesso às políticas públicas, mas à educação, ao lazer, ao trabalho e ao exercício como cidadãs. As vulnerabilidades em saúde das pessoas trans profissionais do sexo são, portanto, decorrentes não só da forma dos riscos que o trabalho sexual oferece, mas também da potencialização dos processos estruturais que legitimam “quais vidas importam”. Além disso, não se deve considerar apenas os aspectos individuais dentro do contexto da vulnerabilidade, pois isso seria simplório e indutivo à culpabilização dos sujeitos.
As doenças psicossociais, discriminação e desafios das pessoas trans profissionais do sexo
No que se discute sobre a existência das pessoas trans na sociedade, essa é permeada por um conjunto de mecanismos que possuem o controle social como forma de regular ações instituídas contra as pessoas que tensionam a norma, sendo estas caracterizadas por operações que vão favorecer a vivência de estigmas e discriminações sociais61.
As discriminações contra pessoas trans profissionais do sexo estão presentes em diferentes esferas: apresenta-se na família, a qual resulta na expulsão do seio familiar; nas instituições formais, como a escola e o trabalho, corroborando para a evasão escolar e o ingresso em atividades precárias e vinculadas a subalternização, sendo a prostituição a prática mais recorrente; no acesso aos serviços de saúde, que não atende as demandas deste público, bem como não respeita o uso do nome social e possui atendimentos imbricados em práticas coercitivas e transfóbicas62-63. Tais situações produzem contextos que vão potencializar o surgimento das doenças psicossociais e reafirmar uma localização na sociedade que envolve o sistema de estratificação e hierarquia social64.
O contexto social, econômico e psicológico no qual as pessoas trans profissionais do sexo estão inseridas é, dentro do contexto macrossocial a qual tais indivíduos estão configurados, situado numa perspectiva de “mapa social”64. Aponta-se, dessa forma, que a discriminação social pode resultar em adoecimento e sofrimento, podendo se apresentar em diferentes tipos de violências. As experiências de estigmatização vivenciadas pelo público contribuem para o surgimento do sofrimento mental e psíquico das pessoas trans. Identificaram-se quadros de depressão, ansiedade, transtornos de humor e violência autodirigida em pessoas que sofrem discriminação, sendo estes acentuados quando a razão do preconceito está associada às questões de gênero61-62.
A discriminação é, portanto, materializada pela exclusão social, pela violência e estigma, pelos estereótipos reproduzidos pela sociedade, pela família e até mesmo pelos clientes das e dos profissionais. O estado psicológico é fragilizado devido à rejeição e à insegurança experenciada e influenciada por tal contexto de trabalho sexual, levando a ideações suicidas32 e depressivas, como demonstra um estudo da Argentina65, em que se explicita que pelo menos um terço dos participantes profissionais do sexo já relatou tentativa de suicídio resultante do contexto social que o público em tela experimenta62.
As implicações dos resultados evidenciados podem potencializar a discussão sobre os processos vulnerabilizadores e como tais estruturas agem no contexto das pessoas trans profissionais do sexo. Tais resultados podem, ainda, ajudar a compreensão por parte de profissionais de saúde, gestores e equipe de Enfermagem a compreender e elaborar estratégias que possam ser capazes de dialogar com as necessidades das pessoas transgênero profissionais do sexo e que compreenda as dinâmicas socioculturais estabelecidas a partir do modo de vida, promovendo problematizações e diálogos que favoreçam o acolhimento, acesso e resolutividade das demandas do público em tela.
Apontam-se como limitações do estudo a categorização temática realizada na análise, visto que um mesmo estudo poderia se enquadrar em diferentes categorias, mas não nos mesmos níveis de predominância. Dessa forma, optou-se por alocar o estudo nas classes temáticas que possuísse relação e que, não necessariamente, abordasse só determinada temática. Ressalta-se, além disso, as bases de dados escolhidas que podem ter limitado, em alguma medida, a identificação de outros estudos e o nível de evidência predominantemente VI e V dos estudos inclusos na amostra final.
CONCLUSÃO
As publicações analisadas demonstraram que as vulnerabilidades em saúde vivenciadas pelas pessoas trans profissionais do sexo são marcadas por discriminação, exclusão social e estigma, atreladas à dissidência de gênero e potencializadas pelo trabalho sexual. Além disso, foi identificado como as iniquidades sociais, a dificuldade de acesso aos serviços essenciais como saúde, educação e lazer, o encarceramento e a negligência de atendimento dos serviços de saúde são resultantes de processos que possuem como base estruturas de poder e de regulação social. Nesse aspecto, pode-se refletir sobre a necessidade de articulação de processos que podem visibilizar as demandas e existências dessas pessoas, do reconhecimento das suas especificidades em diferentes esferas, da necessidade de atendimento equânime, holístico e que compreenda o contexto social e histórico sem inferir julgamentos de valores ou reproduzir preconceitos e violências.
Além disso, identificaram-se lacunas de conhecimento, ainda no contexto das pessoas trans profissionais do sexo, como a ausência de estudos que abordassem aspectos situados fora da lógica centrada unicamente na infecção pelo HIV, mas também por outros contextos que podem produzir cenários de vulnerabilização e que vão, em alguma medida, potencializar a sua entrada no mercado de trabalho sexual. Recomenda-se, assim, a formulação e execução de estudos empíricos - seja das Ciências da Saúde ou das Ciências Humanas - que possam fomentar o debate a respeito dessa lacuna identificada.
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NOTAS
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*
Reconhecendo a diversidade sexual e de gênero e tentando abarcar uma maior representatividade no que se discute às categorias de autoidentificação, utilizaremos, durante o estudo, o termo “pessoas trans” para se referir a todas as pessoas transgênero, sinalizando as identidades específicas (homens trans, travestis, mulheres trans ou pessoas não-binárias) quando forem pertinentes.
NOTAS
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ORIGEM DO ARTIGO
Extraído da dissertação - Representações Sociais do Câncer de Pênis pelas Travestis Profissionais do Sexo, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco, em 2019.
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FINANCIAMENTO
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/CAPES. Número do Processo: 88882379291/201901.
Editado por
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
27 Ago 2021 -
Data do Fascículo
2021
Histórico
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Recebido
13 Out 2020 -
Aceito
13 Jan 2021