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EDITORIAL

EDITORIAL

Quando refletimos sobre a educação ou a saúde, numa dimensão filosófica, é possível compará-las ao mito de Sísifo. Imenso empenho para chegar-se a um topo que nunca se alcança. É engodo imaginar que educação e/em/ou saúde rima com plenitude. São bens inalcançáveis nesta perspectiva de idealização. Mesmo assim, no mundo da educação, destacando a educação em saúde, ou a popular em saúde, não podemos negar Sísifo. Se não continuamos a "rolar a pedra das educações" em saúde "montanha acima", contraditoriamente, sucumbiremos sob seu peso.

Atualmente, a humanidade passa por uma crise planetária, plena de interrogações e perplexidades. Questiona-se sobre o que nos levou a essa condição e como sair dela. Podemos dizer que quebramos quase todos os nossos contratos de convivência com a vida. Primeiro, com os animais e as plantas. Depois, com as florestas, os rios, os mares e ares, e principalmente, com a própria espécie. A saída é única: educarmos-nos para a saúde, como nosso bem maior, abrangendo o cuidado com a teia da vida em sua diversidade de manifestações e interdependência. Neste sentido, torna-se necessária a reflexão sobre a possibilidade educativa para a saúde e a vida em perspectiva mundializada a partir de nós, com os outros, o que já foi expresso por Paulo Freire. Só a educação para a vida é capaz de extrapolar a constatação e possibilitar a intervenção. Educamos-nos ou morreremos! Entretanto, não basta constatarmos as necessidades educativas, é necessário intervir. A educação popular em saúde, no seu sentido amplo, delineia-se como a possibilidade à consciência coletiva das mudanças que emergem. Nesta direção, considerando sua trajetória com a humanidade, sensibilidade e compromisso, a Enfermagem é desafiada a contribuir na superação dos principais agravos à sua sustentabilidade da vida. Com isso, interpretamos que emergem dois desafios importantes à categoria: um, pedagógico; outro, político. O desafio pedagógico refere-se à consciência de que sua práxis é sempre educativa, desde que se permita ao diálogo capaz de promover a inclusão solidária, transcendendo a humanidade marginalizada. É necessário promover pedagogias educativas em saúde que possibilitem a participação, a cooperação e a solidariedade; uma educação popular que contemple a sociabilidade e a responsabilidade de todos com a vida, com a paz e com possibilidades de sonhar algum sonho à frente. Ainda não é passado, talvez seja futuro a proposta da pedagogia do "educar-se", do "aprender com": com o outro, com a natureza, com as plantas, com os bichos e com as outras formas de energias que compõem a teia da vida. De acordo com esta perspectiva, há o desafio para a construção de práticas educativas com a participação dos sujeitos das ações, respeitando sua visão de mundo e seus saberes. Torna-se necessária a defesa de material educativo que respeite a cultura e os saberes da população, e que a saúde possa ser considerada como dispositivo para a construção de subjetividades que contribuam para a constituição de sujeitos cidadãos.

A educação popular em saúde, pela sua própria história, representa um movimento político de busca de relações mais dignas e respeitosas entre as pessoas, as instituições e o meio ambiente. O desafio político à Enfermagem, especialmente no Brasil, refere-se ao intervir no constatado. Quais as possibilidades de manter acesa a chama educativa em saúde com o universo popular? O que se apresenta e o que vislumbrar? Acontecem articulações, redes, tendas, associações, conferências, encontros presenciais e virtuais. De acordo com o que se percebe nestes eventos, a Enfermagem brasileira é responsável pela gênese e sustentáculo da maioria das ações e organizações que objetivam educação popular para uma vida melhor dos indivíduos, do país e do planeta.

Esta edição da Texto & Contexto Enfermagem acolhe artigos que debatem o processo pedagógico e político da educação popular e saúde, através do relato de atividades de ensino, pesquisa e atenção à saúde, nos quais enfermeiras e enfermeiros são os atores de ponta. Louve-se pela iniciativa de inclusão de um tema de relevância nacional e internacional.

Prof. Dr. Antonio de Miranda Wosny

– Professor Associado do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Vice-Coordenador do Núcleo de Extensão e Pesquisa em Enfermagem na Educação Popular e Saúde (NEPEPS/UFSC) –

Prof.ª Dr.ª Astrid Eggert Boehs

– Professora Associada do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Coordenadora do Núcleo de Extensão e Pesquisa em Enfermagem na Educação Popular e Saúde (NEPEPS/UFSC) –

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Set 2007
  • Data do Fascículo
    Jun 2007
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