Também vejo como uma precarização [referindo-se aos quartos/enfermarias]; não temos telas nas janelas. Falta aparelhos de HGT, cadeiras de banho, aparelho de eletrocardiograma, suporte de soro, biombos, e a própria estrutura da unidade, que é muito longa (E6). Os quartos são apertados. Não se consegue chegar para atender o paciente, para avaliar, fazer uma punção, aspirar. São as mochilas do acompanhante, a poltrona, o acompanhante, as bombas de infusão, é o monitor que não funciona, a janela emperrada (E5). O paciente não tem as coisas à beira. Os leitos são muito próximos. Os banheiros não têm água quente. Só temos duas cadeiras de banho. Monitores, também temos poucos no andar! Então, bem difícil assim. Essa falta intensifica o nosso trabalho (TE7). As enfermarias têm cinco pacientes e mais cinco acompanhantes, e aí tu vais dar um banho numa idosa, que se protegeu a vida toda e não tem biombo. Não temos ar condicionado e nem ventiladores nos quartos, e isso impacta também (TE13). O espaço físico é precário! A cabeceira do leito que é pequena, a gaveta está caindo! (TE2). Às vezes, precisamos de bombas de infusão, e, ter que pedir emprestado, isso toma tempo. De noite, não temos acesso a ventiladores mecânicos, aí, quando o paciente piora, é difícil (E05). Nas enfermarias de dois leitos, só tem uma cabeceira com uma rede de oxigênio e uma saída de ar comprimido, aí tem que trocar o paciente de quarto. O paciente não tem as coisas à beira leito, você tem que estar correndo de um lado para outro (E10). As campainhas não funcionam, ou o sensor apita, mas não mostra qual quarto, aí tu precisas sair procurando [...] nesse quesito, aumenta nossa carga de trabalho (E1). Você vai buscar o paciente, não tem cadeira de rodas, aí precisa ir lá no térreo buscar a cadeira para aí levar o paciente para o exame. Atrasa muito, é tempo perdido! (TE15). |
Classe II - Complexidade da condição clínica do paciente |
Não é incomum a gente ter no andar pacientes em ventilação mecânica. Então, nossos pacientes acabam ficando [internados na unidade] (TE2). A gente recebe pacientes vindos da UTI, da sala de recuperação, do pronto-socorro, da unidade de cardiologia, então são pacientes que demandam muitos cuidados (E9). Os pacientes são cada vez mais instáveis. A gente atende menos pacientes, mas com níveis de complexidade muito diferentes. Então, fica puxado para a equipe de enfermagem. Então, esse fator da gravidade do paciente é um fator imutável (E10). Temos muitos pacientes semicríticos ou alguns crônicos que vêm da UTI, traqueostomizados, com lesão de pele, fazendo uso de sonda, cateter venoso central, sonda vesical (E4). Os pacientes são cada vez mais graves, cada vez mais instáveis, principalmente os pacientes cirúrgicos que a gente tem. A unidade, apesar de ser aberta, tem muitos pacientes graves, até de pacientes que seriam de unidades intensivas. Hoje, eu estava com dois pacientes na ventilação mecânica, dois com traqueostomia (E10). |
Classe III - Fragilidades na formação, qualificação e quantitativo de profissional |
Agora, nessa época de pandemia, a falta de pessoal e o absenteísmo são bem visíveis, e isso interfere, e muito, no nosso cotidiano (E16). Na pandemia, quem cobria os atestados éramos nós, que estamos trabalhando, e aí, os dias que a gente teria de folga, a gente acaba tendo que trabalhar (TE2). Em geral, a gente trabalha em quatro colegas (técnicos de enfermagem) e um ou dois enfermeiros; tem dias que a gente assume até 10 ou 11 pacientes. Ainda temos auxiliares de enfermagem, e sobrecarrega bastante, porque eles não têm respaldo para fazer algumas atividades. Então, o enfermeiro deve estar atento para organizar a escala (TE3). Um dos fatores que influencia no trabalho do enfermeiro é a própria equipe. A gente conhece os nossos colegas, e a gente sabe, hoje vai ser pesado! (E14). As equipes de técnicos de enfermagem não são fixas, e se tu ‘pegar’ uma equipe fraca, tu já sabes que terá que ficar “de olho” o tempo todo, então, é bem difícil! (E17). A formação está frágil, não só a do técnico de enfermagem, mas dos demais profissionais da equipe. Se o médico ou o fisioterapeuta tem mais domínio daquela situação, as condutas são mais acertadas e tu não tem que estar se preocupando com outras coisas (E18). É visível que as escolas, que o ensino, está frágil. Tem muita gente que foi contratada e que não entende do processo, de algumas coisas que são consideradas básicas (E13). A falta de qualificação é gritante e, com a pandemia, ficou muito mais evidente (E17). |
Classe IV - Ritmos e exigências do trabalho |
Tem que ter atenção e visão. São muitos detalhes, são muitas chances de cometer erros, muitas chances! Então, tem que ler, reler, interpretar uma prescrição médica (TE3). O horário que o paciente recebe mais medicações é à noite. Então, são várias bandejas durante toda a noite, então acaba que de noite o uso da medicação se intensifica mais (TE3). Eu acho que o trabalho está sendo maçante. Tem coisas que não competem ao técnico [de enfermagem], por exemplo, a aspiração e aqui ainda a gente faz isso (TE7). Exige organização, compreensão das prioridades, conhecimento para avaliar os pacientes. Exige habilidade, competência, liderança, conhecimento sobre clínica mesmo (E1). Essa diversificação da clínica dos pacientes, tu estás o tempo inteiro estudando, acaba intensificando, porque, além do teu turno de trabalho, quando tu chegas em casa, queira ou não, tem que estudar para conseguir dar conta do teu trabalho no outro dia (E11). Acontece diariamente essas situações, que tem que improvisar, que tem que saí atrás. Então, tudo isso acaba cansando e, até, às vezes, te desmotivando muito (E6). Tem épocas que falta mais material, você acaba gastando mais tempo procurando o material ou indo nos outros setores pedir emprestado. Há pouco tempo, por exemplo, faltou seringas de 20 (ml) e aí a gente acaba usando duas de 10 ml, tem que improvisar (TE12). A gente tem que ser criativo e buscar outros recursos. Isso acaba também influenciando na intensificação do trabalho ali no dia a dia (TE9). |
Classe V - A organização do processo de trabalho |
A informatização facilita, mas ela também gera mais trabalho; requer que você escreva mais, que você fale mais detalhado, que você avalie melhor o paciente, e isso toma tempo, principalmente porque, às vezes, o sistema está bem lento (TE2). A gente faz um esforço para deixar o mínimo de pendências possível, mas, por vezes, fica alguma coisa, mas isso não está ao teu alcance (E4). O que interfere também são as duplas jornadas. Você tem funcionário que está cansado, estressado, devido à quantidade de horas trabalhadas, e aqui, no hospital, muitos colegas têm dupla ou tripla jornada, e isso influencia para que aconteçam alguns erros (E17). A falta de rotina, de conversa, de padronização gera uma sobrecarga. Não há uma implementação de uma rotina que vise a melhora do fluxo para as equipes (E14). Além do nosso serviço, a gente tem que acabar conferindo tudo que os técnicos fazem. Então, tem algumas equipes que a gente consegue confiar e tem outras equipes que isso já é mais complicado, que a gente precisa ir atrás, que a gente precisa conferir tudo (E7). |
Classe VI - Fragilidades no gerenciamento |
Seguidamente, a gente precisa dar “parecer” sobre alguns materiais, mas, mesmo assim, dali um tempo, a gente nota que, mesmo assim, o material foi comprado (E18). Outro aspecto que poderia ser visto, é a questão da falta de gerenciamento, das rotinas, de pequenas coisas que podem ser realizadas diariamente, tanto por quem faz a gestão (TE3). A falta de material influencia bastante, às vezes precisa consertar equipamentos e demora para retornar, daí tem que estar pedindo emprestado em outras unidades (E9). A falta de equipamentos com certeza é um entrave, porque, muitas vezes, a gente tem que estar arrumando daqui, dali para pode fazer uma assistência melhor (E6). Então, desde prover materiais mínimos necessários para o plantão, a questão de treinar a secretária, isso demanda tempo e um certo cuidado (E6). |
Classe VII - Falta da colaboração interprofissinal |
Depende da equipe que tu estás; se a equipe é boa, o trabalho flui. Claro que cada um tem suas particularidades, mas eu vejo a falta de trabalho em equipe intensifica isso! (TE12). Se todas as equipes centrassem no paciente, convergindo os pensamentos, melhoraria muito a qualidade da assistência, diminuiria o estresse e o retrabalho (E18). Às vezes, a gente nem sabe que o paciente tem um exame. Isso já poderia ter sido visto. E, olha, acontece muito [mudou a intensidade na voz], é bem complicado! (E14). Às vezes, um setor quer que você leve o paciente ‘correndo’, mas eles não sabem das condições; precisa do maqueiro, elevador; tem a questão do quadro do paciente. Essa falta de comunicação atrapalha muito, e tem também a falta de empatia entre os colegas (E06). Eu vejo que a falta de trabalho em equipe intensifica isso! Quando você trabalha em equipe, a intensificação do trabalho fica menor. Tem dias que eu saio do trabalho esgotada que eu não aguento de dor nas pernas de tanto caminhar (E5). |