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ENFERMAGEM NO CUIDADO DE PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE: CONTRIBUIÇÕES DE UMA ESPECIALIZAÇÃO A DISTÂNCIA

RESUMO

Objetivo:

analisar as contribuições de um curso de especialização na qualificação dos enfermeiros para a prevenção e o cuidado de pessoas com sobrepeso e obesidade.

Método:

pesquisa avaliativa, de abordagem qualitativa e quantitativa, realizada com 289 enfermeiros de curso de especialização à distância para atenção de pessoas com sobrepeso e obesidade. Foram aplicados questionários pré-curso (2021) e pós-curso (2022) sobre os resultados da formação acerca dos conhecimentos, das práticas e das percepções sobre a temática, e comparados os resultados. Para comparação das médias foi aplicado teste estatístico de Mann Whitney. Para análise de dados qualitativos, aplicou-se a análise de conteúdo.

Resultados:

predominaram participantes do sexo feminino, com idade entre 30 e 39 anos, atuantes na APS e com vínculo de servidor estatutário. Ao comparar as médias obtidas pré e pós-curso, a maioria apresentou aumento com significância estatística, representando aumento do conhecimento acerca do tema, qualificação das práticas de vigilância alimentar e nutricional, da abordagem individual, coletiva, intersetorial e da implementação da linha de cuidado. Houve melhoria na percepção sobre a aptidão própria e da equipe, no cuidado, na prevenção e no controle do sobrepeso e da obesidade.

Conclusão:

o curso de especialização contribuiu para atuação dos enfermeiros no cuidado de pessoas com excesso de peso na atenção primária. Houve aquisição de conhecimento, sensibilização e ampliação do olhar sobre a abordagem da doença. Os enfermeiros foram instrumentalizados para prática de vigilância alimentar e nutricional, uso dos sistemas de informação em saúde, realização de atividades individuais, coletivas e intersetoriais.

DESCRITORES:
Sobrepeso; Obesidade; Educação à distância; Enfermagem em saúde comunitária; Atenção primária à saúde

ABSTRACT

Objective:

to analyze the contributions of a specialization course in qualifying nurses for the prevention and care of individuals with overweight and obesity.

Method:

an evaluative research employing a mixed-methods approach, incorporating both qualitative and quantitative methodologies, conducted with 289 nurses enrolled in a distance specialization course focusing on the care of individuals with overweight and obesity. Pre-course (2021) and post-course (2022) questionnaires were administered to assess the outcomes of the training regarding knowledge, practices, and perceptions related to the topic, with results being compared between the two time points. The statistical Mann-Whitney test was applied to compare the means. For qualitative data analysis, content analysis was employed.

Results:

the majority of participants were female, aged between 30 and 39 years, working in Primary Health Care (PHC), and with a status of statutory civil servants. When comparing the means obtained pre and post-course, the majority showed a statistically significant increase, indicating enhanced knowledge regarding the topic, improved qualification in food and nutritional surveillance practices, individual and collective approach, intersectoral interventions, and implementation of the care pathway. There was an improvement in the perception regarding the adequacy of both individual and team fitness in the care, prevention, and control of overweight and obesity.

Conclusion:

the specialization course contributed to enhancing nurses' performance in the care of individuals with overweight in primary care settings. There was an acquisition of knowledge, sensitization, and broadening of perspectives regarding disease management. The nurses were equipped with the necessary tools for food and nutritional surveillance practice, utilization of health information systems, and implementation of individual, collective, and intersectoral activities.

DESCRIPTORS:
Overweight; Obesity; Education at a distance; Nursing in community health; Primary health care

RESUMEN

Objetivo:

analizar los aportes de un curso de especialización en la calificación de los enfermeros con fines preventivos y para la atención de personas con sobrepeso y obesidad.

Método:

investigación evaluativa con enfoque cualitativo y cuantitativo, realizada con 289 enfermeros que asistieron a un curso de especialización a distancia para la atención de personas con sobrepeso y obesidad. Se aplicaron cuestionarios antes (2021) y después (2022) del curso sobre los resultados de la capacitación acerca de los conocimientos, las prácticas y las percepciones sobre la temática, además de contrastarse los resultados. Para comparar los valores medios se aplicó la prueba estadística de Mann Whitney. Para analizar los datos cualitativos se aplicó análisis de contenido.

Resultados:

hubo predominio de participantes del sexo femenino, de entre 30 y 39 años de edad, activos en APS y con vínculos laborales estatutarios. Al comparar los valores medios obtenidos antes y después del curso, la mayoría presentó un aumento estadísticamente significativo, representando una mejora en el conocimiento acerca del tema, de la calificación de las prácticas de vigilancia alimentaria y nutricional, del enfoque individual, colectivo e intersectorial y de la implementación de la línea de cuidado. Se registró una mayor percepción sobre la aptitud propia y del equipo, tanto en la atención y la prevención del sobrepeso y la obesidad como en su control.

Conclusión:

el curso de especialización contribuyó a perfeccionar el accionar de los enfermeros en la atención provista a personas con exceso de peso en el nivel de Atención Primaria de la Salud. Los participantes adquirieron conocimientos, se sensibilizaron con respecto al tema y expandieron su perspectiva sobre cómo abordar la enfermedad. Se equipó a los enfermeros para que pongan en práctica la vigilancia alimentaria y nutricional, utilicen los sistemas de información en salud y realicen actividades individuales, colectivas e intersectoriales.

DESCRIPTORES:
Sobrepeso; Obesidad; Educación a distancia; Enfermería en salud comunitaria; Atención primaria de la salud

INTRODUÇÃO

A categoria excesso de peso abrange o sobrepeso e a obesidade, representando o acúmulo excessivo de gordura corporal que é prejudicial à saúde. O índice de massa corporal (IMC) é o indicador que relaciona peso e altura ao quadrado (kg/m22. World Health Organization (WHO). WHO European Regional Obesity Report 2022 [Internet]. Copenhagen (DK): WHO; 2022 [cited 2023 Sep 10]. Available from: https://iris.who.int/handle/10665/353747
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) usado para classificar sobrepeso (IMC>24,9) e obesidade (IMC>29,9) em adultos11. World Health Organization (WHO). Physical Status: The Use and Interpretation of Anthropometry. World Health Organ Tech Rep Ser [Internet]. 1995 [cited 2023 Sep 20];854:1-452. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/8594834/
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. Configura-se como um dos principais fatores de risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), como doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, alguns tipos de câncer, doenças osteomusculares e depressão22. World Health Organization (WHO). WHO European Regional Obesity Report 2022 [Internet]. Copenhagen (DK): WHO; 2022 [cited 2023 Sep 10]. Available from: https://iris.who.int/handle/10665/353747
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-33. Safaei M, Sundararajan EA, Driss M, Boulila W, Shapi'i A. A Systematic Literature Review on Obesity: Understanding the Causes & Consequences of Obesity and Reviewing Various Machine Learning Approaches Used to Predict Obesity. Comput Biol Med [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];136:104754. Available from: https://doi.org/10.1016/j.compbiomed.2021.104754
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. Na Europa, o excesso de peso se destacou também como o principal fator de risco para incapacidade e a obesidade se mostrou associada a uma maior morbimortalidade por Covid-1922. World Health Organization (WHO). WHO European Regional Obesity Report 2022 [Internet]. Copenhagen (DK): WHO; 2022 [cited 2023 Sep 10]. Available from: https://iris.who.int/handle/10665/353747
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Uma pesquisa realizada em 195 países identificou 603,7 milhões de adultos com obesidade. No período analisado, de 1980 a 2015, na maioria dos países as prevalências aumentaram e em 35,9% (n=70) os números dobraram44. Afshin A, Forouzanfar MH, Reitsma MB, Sur P, Estep K, Lee A, et al. Health Effects of Overweight and Obesity in 195 Countries over 25 Years. N Engl J Med [Internet]. 2017 [cited 2023 Dec 22];377(1):13-27. Available from: https://doi.org/10.1056/NEJMoa1614362
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. Na Europa, identificou-se que 60% dos adultos europeus estavam com excesso de peso em 2017. No período de 2006 a 2016, verificou-se aumento de 21% na prevalência de obesidade; em outro período analisado, entre 1975 e 2017, esse percentual chegou a 138%22. World Health Organization (WHO). WHO European Regional Obesity Report 2022 [Internet]. Copenhagen (DK): WHO; 2022 [cited 2023 Sep 10]. Available from: https://iris.who.int/handle/10665/353747
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No Brasil, a prevalência de adultos com excesso de peso em um conjunto das 27 cidades brasileiras pesquisadas em 2021 foi de 57,2%, aumentando 42,6% em relação aos dados de 2006, enquanto a prevalência de obesidade passou de 11,8% para 22,4%55. Ministério da Saúde (Brasil). Vigitel Brasil 2006-2021, vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica do estado nutricional e consumo alimentar nas capitais dos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal entre 2006 e 2021, estado nutricional e consumo alimentar [Internet]. 2022 [cited 2023 Sep 20]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2006-2021_estado_nutricional.pdf
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Dados de 161 países sobre gastos em saúde mostraram que os custos da atenção às situações de excesso de peso, em 2019, representaram 2,19% do Produto Interno Bruto (PIB) global, com projeções de atingir 3,29% em 206066. Okunogbe A, Nugent R, Spencer G, Powis J, Ralston J, Wilding J. Economic Impacts of Overweight and Obesity: Current and Future Estimates for 161 Countries. BMJ Glob Health [Internet]. 2022 [cited 2023 Dec 22];7(9):e009773. Available from: https://doi.org/10.1136/bmjgh-2022-009773
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. Além disso, observaram-se perdas e custos indiretos, com repercussão negativa na qualidade de vida, mortes prematuras e absenteísmo no trabalho, todos relacionados à obesidade77. Destri K, Alves J, Gregório MJ, Dias SS, Henriques AR, Mendonça N, et al. Obesity-attributable Costs of Absenteeism Among Working Adults in Portugal. BMC Public Health [Internet]. 2022 [cited 2023 Dec 22];22(1):978. Available from: https://doi.org/10.1186/s12889-022-13337-z
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Em 2018, no Brasil, foram gastos R$ 3,45 bilhões, aproximadamente US$ 890 milhões, para assistência de pacientes acometidos por hipertensão, diabetes e obesidade no SUS. Desse montante, R$ 1,42 bilhão, 41% do total, foram gastos para o cuidado de pacientes com obesidade88. Nilson EAF, Andrade RCS, Brito DA, Oliveira ML. Custos atribuíveis à obesidade, hipertensão e diabetes no Sistema Único de Saúde, Brasil, 2018. Rev Panam Salud Publica [Internet]. 2019 [cited 2023 Dec 22];44:e32. Available from: https://doi.org/10.26633/RPSP.2020.32
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Diante desse cenário epidemiológico, dos impactos na saúde da população e no orçamento em saúde, demarca-se a necessidade de trabalho multiprofissional para prevenção e controle do excesso de peso na Atenção Primária à Saúde (APS)99. Semlitsch T, Stigler FL, Jeitler K, Horvath K, Siebenhofer A. Management of Overweight and Obesity in Primary Care - A systematic overview of international evidence‐based guidelines. Obes Rev [Internet]. 2019 [cited 2023 Dec 22];20(9):1218-30. Available from: https://doi.org/10.1111/obr.12889
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, qualificando as estratégias já existentes no contexto brasileiro1010. Lopes MS, Freitas PP D, Carvalho MCR D, Ferreira NL, Menezes MC D, Lopes ACS. O manejo da obesidade na atenção primária à saúde no Brasil é adequado? Cad Saúde Pública [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];37:e00051620. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00051620
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O enfermeiro no contexto da APS tem como atribuição realizar atenção individual, atividades em grupo e encaminhamentos para demais pontos da rede de atenção. Também deve realizar a estratificação de risco e elaborar planos de cuidado, em conjunto com a equipe, para a população com doenças crônicas1111. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria no 2.436, de 21 de setembro de 2017 [Internet]. 2017 [cited 2023 Sep 20]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html
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, incluindo a obesidade1212. Braga VAS, Jesus MCP, Conz CA, Silva MH, Tavares RE, Merighi MAB. Actions of Nurses Toward Obesity in Primary Health Care Units. Rev Bras Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Dec 22];73(2):e20180404. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0404
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Um estudo que analisou a atuação do enfermeiro junto às pessoas com obesidade na APS identificou que este profissional, rotineiramente, tem a oportunidade de realizar o aconselhamento sobre alimentação e atividade física, por meio de recursos digitais, técnicas motivacionais e consultas de enfermagem, com obtenção de bons resultados; contudo, revelou que os profissionais relataram ter conhecimentos limitados sobre a obesidade, o que é um dificultador no acolhimento e na abordagem dos usuários. Além disso, verificou-se que os enfermeiros manifestaram interesse em participar de capacitações sobre o tema, ressaltando que a educação permanente pode atuar na sensibilização e aptidão para identificação e abordagem dos casos1313. Braga VAS, Jesus MCP, Conz CA, Tavares RE, Silva MH, Merighi MAB. Nursing Interventions with People with Obesity in Primary Health Care: An Integrative Review. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [cited 2023 Dec 22];51:e03293. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017019203293
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A partir da necessidade de qualificação profissional das equipes da APS para abordagem do excesso de peso, em 2019 foi ofertado um curso de especialização à distância, intitulado “Atenção à Saúde das Pessoas com Sobrepeso e Obesidade”, com pesquisa avaliativa relacionada à sua execução. O público-alvo foram profissionais de saúde da APS, com prioridade para algumas categorias, incluindo a enfermagem1414. Lindner SR, Coelho EBS, Warmling D, Araújo CAH, Campos DA. Sobrepeso e obesidade: experiência de uma especialização para Atenção Primária à Saúde. RESDITE [Internet]. 2023 [cited 2023 Dec 22];8(Spe 4):172-87. Available from: http://periodicos.ufc.br/resdite/index
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A pergunta de investigação desta pesquisa foi: “quais as contribuições do curso de especialização na formação e prática dos enfermeiros para abordagem das pessoas com sobrepeso e obesidade?” Assim, o objetivo foi analisar as contribuições de um curso de especialização na qualificação dos enfermeiros para a prevenção e o cuidado de pessoas com sobrepeso e obesidade.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa avaliativa de abordagem quantitativa e qualitativa, focalizada nos resultados de oferta educacional sobre a atuação dos profissionais enfermeiros da APS inscritos na especialização à distância “Atenção Integral à Saúde das Pessoas com Sobrepeso e Obesidade”, realizada pela Universidade Aberta do SUS da Universidade Federal de Santa Catarina (UNASUS/UFSC) em parceria com a Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, no período de 2020 a 2022. Para os egressos do curso, esperava-se que fossem capazes de intervir na prevenção e no controle do sobrepeso e da obesidade na população que acompanhavam, com base na realidade em que estavam inseridos. O curso teve como público-alvo profissionais de nível superior atuantes na APS, Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) e polos de Academia da Saúde, distribuídos em todo território nacional, com prioridade aos enfermeiros, médicos, nutricionistas, psicólogos, orientadores de atividade física e gestores de saúde.

A presente pesquisa foi precedida por um estudo de avaliabilidade, no qual foi desenvolvido e validado um modelo avaliativo para aplicar aos estudantes do curso de especialização, com base no estudo de Colussi et al.1515. Colussi CF, Hellmann F, Verdi M, Serapioni M, Savassi LCM, Ferreira DD, et al. Estudo de avaliabilidade do Programa Multicêntrico de Qualificação Profissional em Atenção Domiciliar a Distância (PMQPAD). Cad Saude Publica [Internet]. 2021 [cited 2023 Sep 20];37(10):e00081920. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00081920
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. A matriz avaliativa possui três dimensões, cada uma com subdimensões e indicadores específicos (Quadro 1). Tem como fontes de dados os alunos, tutores e gestores do curso.

Quadro 1 -
Dimensões e subdimensões da matriz avaliativa dos cursos de especialização e autoinstrucionais, com as respectivas quantidades de indicadores e medidas. Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

Os participantes desta pesquisa foram os enfermeiros matriculados no curso de especialização. A coleta dos dados relativos à subdimensão (S5) de “Conhecimentos, práticas e percepções relativas ao sobrepeso e à obesidade”, da dimensão de “Resultados” (III), ocorreu em dois momentos distintos - pré e pós-curso - de modo que pudesse ser feita a comparação dos resultados. Trata-se de um questionário com 14 questões em escala likert e 1 questão dicotômica (sim/não), relativas às 15 medidas dos 3 indicadores que compõem a subdimensão (Quadro 2). No pós-curso foi incluída a questão aberta: “A realização do curso contribuiu para mudanças no processo de trabalho para promoção da saúde, prevenção e controle do sobrepeso e da obesidade? Descreva as principais mudanças”.

Quadro 2 -
Indicadores e medidas, parâmetros e fontes da dimensão III (resultados), subdimensão S5 (conhecimentos, práticas e percepções relativas ao sobrepeso e à obesidade). Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

Os questionários foram aplicados por meio da ferramenta Survey Monkey, no primeiro mês de curso (março de 2021) e após a apresentação de TCC (junho de 2022). As respostas do questionário foram convertidas para escore 1 a 5, sendo 1 a pior alternativa e 5 a melhor. Foi então calculada a média da pontuação das respostas para cada questão, e a partir dos parâmetros estabelecidos (Quadro 2) foi emitido o juízo de valor “Bom”, “Regular” ou “Ruim”. As médias dos dois momentos avaliativos foram comparadas por meio da aplicação de teste estatístico de medianas de Mann Whitney, considerando-se a não normalidade das amostras, constatada pelo teste de Shapiro-Wilk. As diferenças foram consideradas significativas quando houve valores de p < 0,05. As análises quantitativas foram conduzidas com auxílio do software estatístico Stata 14.0.

Para caracterização dos respondentes (sexo, idade, estado e região brasileira que atua, tipo de vínculo de trabalho, tempo de atuação) foi realizada estatística descritiva e apresentação das frequências absolutas e relativas e intervalos de confiança (IC 95%).

Foi utilizada análise de conteúdo16-17 para tratamento dos dados qualitativos relativos ao campo aberto dos questionários, operacionalizada nas seguintes etapas: 1 - organização da análise (leitura flutuante e preparação dos materiais); 2 - a codificação (exploração do material: construção dos códigos e seleção de segmentos do texto para posterior análise); 3 - categorização (agrupamento de códigos de interesse em dimensões analíticas); 4 - tratamento e interpretação dos resultados. Utilizou-se o software ATLAS.ti 8 (Qualitative Data Analysis) no processo de análise. As etapas 1, 2 e 3 da análise de conteúdo foram realizadas no software. As análises da questão aberta foram realizadas a partir de três categorias apriorísticas baseadas nas subdimensões da matriz avaliativa (conhecimento acerca do excesso de peso; percepções relativas ao excesso de peso; práticas relativas ao excesso de peso).

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética, e foram respeitados todos os aspectos éticos que envolvem a pesquisa com seres humanos conforme preconizado pela Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), inclusive a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) por todos os participantes da pesquisa.

RESULTADOS

Considerando os enfermeiros matriculados (n=349) e concluintes (n=218) no curso de especialização, obteve-se uma taxa de resposta de 82,8% (n=289) no questionário pré-curso e 85,8% (n=187) no pós-curso. De acordo com a informações da Tabela 1, mais de 80% dos enfermeiros que concluíram o curso eram do sexo feminino e a faixa etária predominante de 30 a 39 anos. Quanto à distribuição geográfica, as regiões Sudeste e Nordeste foram as que tiveram maior número de profissionais que ingressaram e concluíram a especialização. A respeito da variável “tipo de equipe”, a maioria atuava em Equipes de Atenção Primária. Nas informações dos egressos do curso, emergiu uma nova categoria, para os que relataram não estar trabalhando no momento. Sobre o vínculo de trabalho, mais da metade eram servidores públicos estatutários.

Tabela 1 -
Caracterização dos enfermeiros concluintes do Curso de Especialização em Atenção à Saúde das Pessoas com Sobrepeso e Obesidade - Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

Na Tabela 2 são apresentadas as médias obtidas para cada medida avaliada. Destaca-se que a maioria (n=14) das medidas apresentou aumento significativo das médias após a realização do curso. A única medida em que o aumento significativo não foi observado trata da relevância do sobrepeso e da obesidade no contexto de trabalho dos profissionais, que já possuía escore inicial elevado (4,84).

Tabela 2 -
Comparação das médias obtidas sobre “Conhecimentos, práticas e percepções relativas ao sobrepeso e à obesidade” na aplicação de questionários pré e pós-curso. Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

A partir da análise do conteúdo da questão aberta, o processo de codificação resultou em 41 códigos, e com base nas três categorias apriorísticas, foram identificadas oito dimensões analíticas, conforme descrito no Quadro 3.

Quadro 3
Categorias apriorísticas e suas dimensões analíticas. Florianópolis, SC, Brasil, 2021.

Conhecimentos acerca do excesso de peso

Nos relatos dos enfermeiros, foi recorrente a afirmação de que a formação possibilitou o acesso a conhecimentos novos sobre aspectos gerais do excesso de peso, tanto teóricos quanto práticos, incrementando os saberes desses profissionais para lidar com a problemática em seus territórios. Foram destacados os aprendizados sobre os fatores que contribuem para o sobrepeso e a obesidade, reconhecimento dos casos, bem como intervenções de promoção da saúde, prevenção e cuidado das pessoas com excesso de peso nos âmbitos coletivo e individual.

[...] conhecimentos sobre os principais fatores que contribuem para o aumento da obesidade e como trabalhar nos grupos existentes na UBS (ENF 02). [...] aumento do conhecimento técnico e científico sobre o tema, melhora da abordagem individual e coletiva, mais clareza nas orientações e nas formulações e avaliação de resultados (ENF 08).

[...] como sou enfermeira sempre agimos nas condições de saúde, pouco era se trabalhado na prevenção da condição. Com curso e conhecimento sobre vigilância alimentar, temos outros olhares para esta condição (ENF 60).

Ainda, acerca dos conhecimentos, foi apontado que a formação possibilitou a compreensão da necessidade do trabalho multiprofissional e do papel das atribuições individuais, dando segurança para a abordagem das pessoas com excesso de peso.

[...] após o curso me sinto mais segura na abordagem do paciente portador de sobrepeso e obesidade. Antes me sentia desconfortável, pois já tive alguns problemas com usuários se sentindo ofendidos em minha abordagem (ENF 130). [...] o curso nos fez refletir sobre o trabalho multiprofissional com maior êxito no cuidado (ENF 14).

Práticas relativas ao excesso de peso

Os enfermeiros referiram que durante a formação passaram a introduzir no seu cotidiano de trabalho e de suas equipes ações de vigilância alimentar e nutricional. Foi relatada a incorporação de atividades na rotina de trabalho, como a realização de avaliação do estado nutricional por meio de avaliação antropométrica e avaliação do consumo alimentar nos usuários atendidos. O preenchimento dessas informações nos sistemas de informação também foi potencializado.

[...] comecei a avaliar o IMC nas consultas de enfermagem (ENF 173). [...] implantação de avaliação nutricional sistemática em consultas na UBS (ENF 174).

[...] o curso me sensibilizou para a realização e o registro da antropometria em todas as consultas; despertou a abordagem ao usuário com sobrepeso/obesidade seja realizada em todas as oportunidades (ENF 95).

Nas mudanças práticas, destacou-se a realização de planejamento de atividades para abordagem do excesso de peso, baseadas nos diagnósticos do estado nutricional e das condições do território, inclusive utilizando o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Observou-se alterações na organização do fluxo de trabalho das equipes e articulação com outros setores para atenção integral das pessoas com excesso de peso. Houve avanços na implementação de LCSO em algumas falas.

[...] análise dos perfis epidemiológicos populacionais e uso dos bancos de dados para embasar os processos de trabalho (ENF 186). [...] vi as pessoas com outro olhar, visando sempre o território e os hábitos que elas têm na família e comunidade... Mostrou que devemos falar individualmente e coletivamente sobre hábitos saudáveis (ENF 75).

[...] planejamento das ações, análise de dados no SISVAN (ENF 163). [...] sistematização do processo de trabalho; formatar o fluxograma da atenção ao sobrepeso e à obesidade no município e regionalmente (ENF 157). [...] foi realizada a implantação da linha de cuidado em meu município (ENF 154).

A compreensão da necessidade do trabalho multiprofissional tornou-se prática nos acolhimentos e nas abordagens individuais e coletivas, visando proporcionar a atenção integral aos usuários. Destacam-se a identificação dos casos, a realização de ações de promoção da alimentação adequada e saudável e estímulo à prática de atividade física para prevenção e controle dos casos de sobrepeso e obesidade, além da qualificação das ações em consultas individuais. Houve reativação e criação de atividades coletivas, em especial de grupos coordenados pelos enfermeiros, voltados para abordagem do excesso de peso com base nas metodologias propostas no curso.

[...] acolher a pessoa com sobrepeso e obesidade com olhar humanizado (ENF 173). [...] abordagem dos pacientes para dar orientações sobre mudanças no estilo de vida, incentivando as atividades físicas e mudanças alimentares gradativas (ENF 140).

[...] melhor atendimento aos pacientes com sobrepeso e obesidade pela equipe multiprofissional, garantindo integralidade (ENF 170). [...] melhoria na atuação profissional, abordagem dos pacientes com sobrepeso e obesidade, formação de grupos de trabalho interdisciplinares (ENF 107).

[...] com certeza, pois criamos grupos de atividade física, e também desenvolvemos pesquisas para que possamos conhecer o perfil (ENF 110).

Também foram identificadas práticas intersetoriais e voltadas para os territórios, especialmente no contexto escolar, com crianças e familiares, bem como ações amplas com a mobilização de feiras comunitárias para promoção da segurança alimentar e nutricional, aumentando a disponibilidade de alimentos saudáveis.

[...] ações para motivação dos alunos e pais para adequar hábitos alimentares saudáveis na escola e no convívio familiar (ENF 148). [...]

[...] atividades para mudanças nos hábitos alimentares dos estudantes, pais/ou responsáveis das escolas de abrangência de ESF (ENF 149). [...] criação de feiras comunitárias no município (ENF 146).

Percepções relativas ao excesso de peso

Acerca das percepções dos enfermeiros sobre o excesso de peso, foi identificado nos relatos que a realização do curso teve como efeito a sensibilização para a temática. Houve avanço no reconhecimento da problemática como atribuição da enfermagem, envolvendo-os nas ações de abordagem do sobrepeso e da obesidade na APS.

[...] olhar ampliado sobre a atuação do enfermeiro na abordagem da obesidade na APS e motivação para realização do trabalho proposto na comunidade (ENF 70).

[...] a principal e mais importante mudança sob minha ótica é o fato de não só olhar o indivíduo com sobrepeso, mas diagnosticar este fato para estabelecer um plano de cuidados (ENF 71).

[...] possibilitou o desenvolvimento de um olhar mais sensível e orientações mais direcionadas aos usuários com sobrepeso e obesidade (ENF 77).

Observou-se que a formação despertou esses profissionais para a relação do excesso de peso com as outras DCNTs. Também possibilitou que os enfermeiros transcendessem de uma visão reducionista e que responsabiliza o indivíduo pela sua condição de saúde, com abordagens centradas nos comportamentos e em práticas individuais, para uma visão ampliada, a qual compreende o excesso de peso relacionado aos determinantes biológicos, socioeconômicas, culturais e ambientais.

[...] identificar o sobrepeso e a obesidade da população e a sua relação com a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis (ENF 79).

[...] encarar o sobrepeso e a obesidade como um problema crônico (ENF 78).

[...] enxergar o usuário que tem obesidade não como sendo culpado (ENF 65).

[...] passei a ter outro olhar para usuários com sobrepeso, onde antes o olhar estava mais direcionado ao obeso (ENF 59).

DISCUSSÃO

A avaliação do curso demonstrou que houve contribuição significativa na qualificação dos enfermeiros em relação a conhecimentos, práticas e percepções acerca do sobrepeso e da obesidade na APS. Destacam-se o aumento do conhecimento sobre os determinantes, a magnitude e as consequências do excesso de peso, bem como da atenção integral e do trabalho em equipe. Em relação às práticas, destacam-se a qualificação na realização da avaliação do estado nutricional, o uso do SISVAN, a abordagem dos usuários e a implementação da LCSO. A percepção dos enfermeiros em relação à problemática foi ampliada, reconhecendo a obesidade como uma DCNT, multicausal, relacionada ao ambiente e a aspectos socioeconômicos e culturais, além dos aspectos individuais. A percepção sobre a aptidão da equipe e do enfermeiro no cuidado das pessoas com sobrepeso e obesidade também melhorou ao final do curso.

Considerando a crescente magnitude do excesso de peso, a APS é central no cuidado de pessoas com sobrepeso e obesidade99. Semlitsch T, Stigler FL, Jeitler K, Horvath K, Siebenhofer A. Management of Overweight and Obesity in Primary Care - A systematic overview of international evidence‐based guidelines. Obes Rev [Internet]. 2019 [cited 2023 Dec 22];20(9):1218-30. Available from: https://doi.org/10.1111/obr.12889
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. O enfermeiro é considerado um protagonista no cuidado e assume papéis de liderança na APS, seja na gestão da equipe ou em ações para abordagem de usuários com DCNTs1818. Walsh K, Grech C, Hill K. Health Advice and Education Given to Overweight Patients by Primary Care Doctors and Nurses: A Scoping Literature Review. Prev Med Rep [Internet]. 2019 [cited 2023 Dec 22];14:100812. Available from: https://doi.org/10.1016/j.pmedr.2019.01.016
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. Em estudo de revisão, a falta de capacitação para o manejo do sobrepeso e da obesidade aparece como uma das dificuldades enfrentadas pelo enfermeiro1919. Barbone FGI, Mendes VL, Andrade HS. Dificuldades enfrentadas pelo enfermeiro na prevenção da obesidade infantil: uma revisão integrativa. Rev Conexão Ciência [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];16(2):101. Available from: https://doi.org/10.24862/cco.v16i2.1299
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. Em outro estudo de revisão, ressaltou-se a importância dos enfermeiros nas ações preventivas do excesso de peso infanto-juvenil, devido à magnitude da sua força de trabalho. A formação adequada otimiza a qualificação da atenção ofertada pelos enfermeiros na prevenção da obesidade infantil2020. Whitehead L, Kabdebo I, Dunham M, Quinn R, Hummelshoj J, George C, et al. The Effectiveness of Nurse-Led Interventions to Prevent Childhood and Adolescent Overweight and Obesity: A Systematic Review of Randomised Trials. J Adv Nurs [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];77(12):4612-31. Available from: https://doi.org/10.1111/jan.14928
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Em Minas Gerais, um estudo enfatizou a necessidade de capacitações para qualificação do enfermeiro na prevenção e no controle do excesso de peso, ainda incipiente nas graduações. A formação continuada contribui para atualização sobre as políticas no âmbito da APS, para instrumentalizar os enfermeiros nas orientações sobre alimentação saudável e atividade física, no monitoramento do estado nutricional e em fluxos de referência na rede de atenção1212. Braga VAS, Jesus MCP, Conz CA, Silva MH, Tavares RE, Merighi MAB. Actions of Nurses Toward Obesity in Primary Health Care Units. Rev Bras Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Dec 22];73(2):e20180404. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0404
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Evidenciou-se a ampliação de práticas voltadas à prevenção e ao controle do excesso de peso adotadas pelos enfermeiros na APS, assim como o monitoramento do estado nutricional da população adscrita. No contexto internacional, em uma revisão de escopo, identificou-se que a abordagem das pessoas com excesso de peso por parte dos enfermeiros acontece na medida em que os pacientes ganham peso; todavia, muitas vezes, esse tema não é abordado de forma oportuna, há dificuldades na classificação de IMC, bem como falta de registros dos dados antropométricos e de consumo alimentar2020. Whitehead L, Kabdebo I, Dunham M, Quinn R, Hummelshoj J, George C, et al. The Effectiveness of Nurse-Led Interventions to Prevent Childhood and Adolescent Overweight and Obesity: A Systematic Review of Randomised Trials. J Adv Nurs [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];77(12):4612-31. Available from: https://doi.org/10.1111/jan.14928
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Em estudo realizado na APS de São Paulo, verificou-se expressiva atuação dos enfermeiros na aferição de medidas antropométricas e a classificação do IMC em gestantes, público que costuma ser acompanhado pela equipe de enfermagem; porém, os demais usuários ainda eram avaliados predominantemente pelo nutricionista2121. Ferreira MCS, Negri F, Galesi LF, Detregiachi CRP, Oliveira MRM. Monitoramento nutricional em unidades de Atenção Primária à Saúde. RASBRAN [Internet]. 2017 [cited 2023 Dec 22];8(1):7-45. Available from: https://www.rasbran.com.br/rasbran/article/view/227
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. A ampliação das práticas de vigilância nutricional e alimentar nas equipes de saúde da família é essencial para o adequado diagnóstico da população adscrita.

A importância do monitoramento do estado nutricional se dá pelo reconhecimento da problemática em nível individual, possibilitando uma abordagem integral e eficiente, mas também da compreensão dos índices na população adscrita, auxiliando no planejamento de atividades de promoção de saúde e prevenção desse agravo. O não acompanhamento desses indicadores pode levar à privação do atendimento de pessoas que necessitam de acompanhamento do peso2222. Baggio MA, Alves KR, Cavalheiro RF, Matias L de, Hirano AR, Machineski GG, et al. Childhood Obesity in the Perception of Children, Families and Health and Education Professionals. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];30:e20190331. Available from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-TCE-2019-0331
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. Em estudo que mapeou as ações de prevenção e controle da obesidade no estado do Rio de Janeiro, os entrevistados relataram que a abordagem centrada nos agravos do excesso de peso, como doenças cardiovasculares e diabetes, muitas vezes decorre da não realização do monitoramento do estado nutricional dos usuários, o que faz com que não haja um manejo adequado e aconteça consequente agravamento dos casos que chegam às equipes2323. Burlandy L, Teixeira MRM, Castro LMC, Cruz MCC, Santos CRB, Souza SR, et al. Modelos de assistência ao indivíduo com obesidade na atenção básica em saúde no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saude Publica [Internet]. 2020 [cited 2023 Dec 22];36(3):e00093419. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00093419
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Após a realização do curso, verificou-se aumento do uso do SISVAN, tanto para inserção de dados quanto para o planejamento de ações. Destaca-se que o uso adequado dos sistemas de informação de saúde é um desafio constante do SUS2424. Saraiva LIM, Ramos FAZ, Santos GF, Vetorazo JVP. Sistemas de informação em saúde, o instrumento de apoio à gestão do SUS: aplicabilidade e desafios. REAS [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];9:e6418-e6418. Available from: https://doi.org/10.25248/reaenf.e6418.2021
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. Embora tenha ocorrido aumento nos registros do SISVAN, a cobertura populacional permanece baixa2525. Santos SMC, Ramos FP, Medeiros MATD, Mata MMD, Vasconcelos FDAGD. Avanços e desafios nos 20 anos da Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Cad Saude Publica [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];37(Suppl 1):e00150220. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00150220
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. Além da não obrigatoriedade do SISVAN, relaciona-se ao baixo uso e sobrecarga de trabalho dos profissionais da APS, à falta de capacitação dos profissionais para coleta e digitação dos dados, à rotatividade e à dificuldade de conexão com a internet para acesso aos formulários2626. Ferreira CS, Rodrigues LA, Bento IC, Villela MPC, Cherchiglia ML, César CC. Fatores associados à cobertura do Sisvan Web para crianças menores de 5 anos, nos municípios da Superintendência Regional de Saúde de Belo Horizonte, Brasil. Cien Saude Colet [Internet]. 2018 [cited 2023 Dec 22];23(9):3031-40. Available from: https://doi.org/10.1590/1413-81232018239.15922016
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. A sistematização das informações é fundamental para o monitoramento do estado nutricional da população.

A realização de ações individuais, coletivas e intersetoriais foram potencializadas após o curso. Em consonância com os resultados, um estudo realizado no estado do Rio de Janeiro identificou que as consultas individuais, as atividades em grupos (educativos, de apoio, salas de espera), bem como a articulação com políticas públicas, além da articulação intra e intersetorial, são as principais práticas de atenção à obesidade desenvolvidas2323. Burlandy L, Teixeira MRM, Castro LMC, Cruz MCC, Santos CRB, Souza SR, et al. Modelos de assistência ao indivíduo com obesidade na atenção básica em saúde no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saude Publica [Internet]. 2020 [cited 2023 Dec 22];36(3):e00093419. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00093419
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. Em um outro estudo de revisão, evidenciou-se que atividades lideradas por enfermeiros e destinadas a pessoas com excesso de peso acontecem em espaços comunitários, serviços de educação e saúde. Elas envolvem os pais e pautam-se em entrevistas motivacionais para mudança no estilo de vida de crianças e adolescentes2020. Whitehead L, Kabdebo I, Dunham M, Quinn R, Hummelshoj J, George C, et al. The Effectiveness of Nurse-Led Interventions to Prevent Childhood and Adolescent Overweight and Obesity: A Systematic Review of Randomised Trials. J Adv Nurs [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];77(12):4612-31. Available from: https://doi.org/10.1111/jan.14928
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.

Conhecer normativas, programas e políticas públicas para o cuidado de pessoas com excesso de peso é necessário para sistematizar as ações, bem como definir as atribuições de cada nível da rede de atenção à saúde, para consolidação da LCSO e fortalecimento do sistema de referência e contrarreferência. Além disso, evidencia-se a necessidade de os enfermeiros serem capacitados e participarem do processo de planejamento das ações para os usuários com excesso de peso, visto que a promoção de hábitos de vida saudáveis já ocorre para o público em geral. Ou seja, para além das ações de promoção da saúde, são necessárias ações de controle, prevenção e tratamento para a população com excesso de peso1212. Braga VAS, Jesus MCP, Conz CA, Silva MH, Tavares RE, Merighi MAB. Actions of Nurses Toward Obesity in Primary Health Care Units. Rev Bras Enferm [Internet]. 2020 [cited 2023 Dec 22];73(2):e20180404. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0404
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Verificou-se nesta pesquisa que o curso trouxe um olhar ampliado para a problemática, indo de uma visão culpabilizadora para uma percepção que considera os determinantes sociais do excesso de peso. Este resultado representa um avanço importante relativo aos estigmas e estereótipos que, por muitas vezes, são reproduzidos pelos profissionais de saúde no cuidado de pessoas com excesso de peso. Em pesquisa conduzida em 92 municípios do Rio de Janeiro, os participantes (nutricionistas, enfermeiros, médicos) responderam considerar a obesidade como “pouca vergonha”, legitimando a culpa individual, ao invés da corresponsabilização pelo cuidado2323. Burlandy L, Teixeira MRM, Castro LMC, Cruz MCC, Santos CRB, Souza SR, et al. Modelos de assistência ao indivíduo com obesidade na atenção básica em saúde no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saude Publica [Internet]. 2020 [cited 2023 Dec 22];36(3):e00093419. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00093419
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Identificou-se atitudes preconceituosas acerca da obesidade em estudo com 42 enfermeiros na APS em Blumenau, Santa Catarina. Houve responsabilização dos usuários pelo excesso de peso e a percepção de que a condição relacionava-se apenas com a ingestão de “muita besteira”. O estigma levou a julgamentos de valor moral com impacto negativo na vida dos usuários, afetando a autopercepção, prejudicando a autoestima e autoconfiança, bem como deixando-os suscetíveis a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e ideação suicida2727. Geissler ME, Korz V. Atitudes de enfermeiros de equipe da saúde da família em relação à obesidade. Demetra [Internet]. 2020 [cited 2023 Dec 22];15(1):e46085. Available from: https://doi.org/10.12957/demetra.2020.46085
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. Atitudes preconceituosas por profissionais de saúde, incluindo enfermeiros, são corroboradas na literatura internacional com a identificação de abordagens preconceituosas, provocando sofrimento mental, compulsão alimentar e ganho de peso entre os usuários2828. Lawrence BJ, Kerr D, Pollard CM, Theophilus M, Alexander E, Haywood D, et al. Weight Bias Among Health Care Professionals: A Systematic Review and Meta-Analysis. Obesity [Internet]. 2021 [cited 2023 Dec 22];29(11):1802-12. Available from: https://doi.org/10.1002/oby.23266
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O reconhecimento dos múltiplos determinantes do processo saúde-doença relacionados ao sobrepeso e à obesidade também foi potencializado após a realização do curso. Este aspecto é fundamental para a superação do estigma da obesidade, pois possibilita a percepção do impacto do ambiente obesogênico, das desigualdades de acesso à alimentação adequada e saudável e à prática de atividade física, bem como de outras relações multicausais do excesso de peso2929. Swinburn B, Kraak V, Rutter H, Vandevijvere S, Lobstein T, Sacks G, et al. Strengthening of Accountability Systems to Create Healthy Food Environments and Reduce Global Obesity. Lancet [Internet]. 2015 [cited 2023 Dec 22];385(9986):2534-45. Available from: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(14)61747-5/fulltext
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Para a compreensão ampliada do excesso de peso e promoção da integralidade do cuidado, o trabalho em equipe multiprofissional é fundamental para que o enfermeiro tenha apoio para complementar as competências específicas sobre a prevenção e o manejo das pessoas com excesso de peso1313. Braga VAS, Jesus MCP, Conz CA, Tavares RE, Silva MH, Merighi MAB. Nursing Interventions with People with Obesity in Primary Health Care: An Integrative Review. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [cited 2023 Dec 22];51:e03293. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017019203293
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,2323. Burlandy L, Teixeira MRM, Castro LMC, Cruz MCC, Santos CRB, Souza SR, et al. Modelos de assistência ao indivíduo com obesidade na atenção básica em saúde no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saude Publica [Internet]. 2020 [cited 2023 Dec 22];36(3):e00093419. Available from: https://doi.org/10.1590/0102-311X00093419
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. O enfermeiro atua como articulador da atenção e no fortalecimento da produção do cuidado qualificado, por meio da escuta, do acolhimento e do vínculo, e esses atributos do trabalho são motivações para exercerem suas funções cotidianas, com vistas à continuidade e qualidade do cuidado1313. Braga VAS, Jesus MCP, Conz CA, Tavares RE, Silva MH, Merighi MAB. Nursing Interventions with People with Obesity in Primary Health Care: An Integrative Review. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [cited 2023 Dec 22];51:e03293. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017019203293
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. A interação com a equipe multiprofissional e o apoio matricial contribuem na efetivação do cuidado na APS, na medida em que potencializam a ampliação de saberes acerca de agravos complexos e possibilitam melhor oferta de cuidado aos usuários dos serviços de saúde1313. Braga VAS, Jesus MCP, Conz CA, Tavares RE, Silva MH, Merighi MAB. Nursing Interventions with People with Obesity in Primary Health Care: An Integrative Review. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2017 [cited 2023 Dec 22];51:e03293. Available from: https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017019203293
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Enquanto limitações, verifica-se que neste estudo não foi possível mensurar o impacto da formação diretamente no campo de atuação dos enfermeiros, processo que exigiria a análise de indicadores de saúde dos territórios e do processo de trabalho das equipes. Contudo, ressalta-se a relevância dos resultados obtidos, nos quais identificaram-se mudanças positivas promovidas pelo curso na formação e nas práticas dos enfermeiros na abordagem de pessoas com excesso de peso.

CONCLUSÃO

O curso de especialização “Atenção à Saúde das Pessoas com Sobrepeso e Obesidade” contribuiu com a qualificação da atuação dos enfermeiros diante da problemática do excesso de peso na APS. A partir da formação, houve aquisição de conhecimento sobre o tema, possibilitando que os profissionais ampliassem o olhar sobre o cuidado das pessoas nessa condição, transcendendo uma visão reducionista e culpabilizadora para um olhar ampliado, considerando os múltiplos determinantes envolvidos, bem como a necessidade de atuação qualificada do profissional, engajado com suas equipes e seus territórios.

O curso instrumentalizou os enfermeiros para as práticas de vigilância alimentar e nutricional, envolvendo avaliações antropométricas, de consumo alimentar, inserção de dados no SISVAN, extração e uso das informações para o planejamento das ações. Também se verificou o protagonismo dos enfermeiros nas atividades coletivas, tal como na criação e coordenação de grupos, nos avanços no cuidado individual e, em alguns momentos, na articulação intersetorial, atuando na promoção de ambientes saudáveis.

AGRADECIMENTO

Agradecemos a colaboração dos membros da Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde do Brasil, na construção e validação da matriz avaliativa da Saúde e a Carolina Abreu Henn de Araújo pela colaboração na condução do projeto e nas coletas de dados.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído do projeto “Avaliação dos Cursos de Capacitação e Especialização para Prevenção e Controle do Sobrepeso e Obesidade” desenvolvido por grupo de pesquisadores do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina, no período de 2020 a 2022.
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho contou com financiamento proveniente de um projeto de extensão por meio de termo de cooperação entre a Universidade Federal de Santa Catarina e a Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde. TED 115-2018 - Projeto de Programa Nacional de Formação e Qualificação de Gestores e Profissionais da Saúde no Combate da Obesidade.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina, parecer n. 4.536.584/2021, Certificado de Apresentação para Apreciação Ética 42601920.0.0000.0121.

Editado por

EDITORES

Editores Associados: Glilciane Morceli, Ana Izabel Jatobá de Souza. Editor-chefe: Elisiane Lorenzini

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    29 Set 2023
  • Aceito
    14 Fev 2024
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