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Prevalência de dor crônica em estudantes universitários de enfermagem

Prevalence of chronic pain in nursing undergraduate students

La prevalencia del dolor crónico en estudiantes de enfermería

Resumos

A dor crônica é uma das principais causas de incapacidade entre os indivíduos. O objetivo do estudo foi estimar a prevalência deste tipo de dor em estudantes universitários de enfermagem e caracterizá-la segundo a ocorrência, localização, duração, intensidade e qualidade. Estudo transversal, desenvolvido em uma Faculdade de Enfermagem de Goiás, entre maio e junho de 2008, com 211 estudantes. A prevalência de dor crônica autorrelatada foi de 59,7%, frequentemente localizada na cabeça (38,1%), região lombar (11,9%) e ombros/ membros superiores (11,9%). Em 46% dos casos, o convívio com a dor variou de um a cinco anos; a intensidade foi caracterizada como forte (Mediana do escore de dor=7,0) e descrita como latejante, pontada, cansativa, enjoada, que incomoda e aperto. A alta prevalência de dor entre jovens universitários de enfermagem aponta o futuro da saúde dessa população, a necessidade de intervenções para redução de agravos e adequado alívio dessa experiência.

Dor; Estudantes de enfermagem; Prevalência


Chronic pain is one of the major causes of disability among individuals. This study aims to estimate the prevalence of this type of self-reported pain by undergraduate nursing students and characterize it concerning its occurrence, location, duration, intensity, and quality. This cross-sectional study was developed at a Nursing College in Goiás, Brazil, between May and June of 2008 with 211 students. The prevalence of self-reported chronic pain was 59.7%, frequently located in the head (38.1%), lower back (11.9%) and shoulder/upper members (11.9%). In 46% of the cases, living with the pain ranged from one to five years with a strong intensity (Median pain scores=7) and was described as throbbing, stabbing, tiring, sickening, that bothers, and tight. The prevalence of pain is higher than that estimated in similar studies, pointing to the future health of this generation and the need for disease prevention and health promotion programs for adequate relief among this population.

Pain; Students, nursing; Prevalence


El dolor crónico es una de las principales causas de discapacidad entre las personas. Los objetivos de este estudio: estimar la prevalencia este tipo de dolor en los estudiantes universitarios de enfermería, caracterizar el dolor según la aparición, localización, duración, intensidad y calidad. Se trata de un estudio transversal desarrollado en un Facultad de Enfermería de Goiás, de mayo a junio de 2008, con 211 estudiantes. La prevalencia del dolor crónico informado fue del 59,7%, localizado a menudo en la cabeza (38,1%), en la región lumbar (11,9%) y en el hombro/extremidades superiores (11,9%). En el 46% de los casos, la convivencia con el dolor varió de uno a cinco años, la intensidad se caracterizó por ser muy fuerte (puntación de dolor media=7,0) y se describe como palpitante, agudo, agotador, repugnante, y que incomoda y aprieta. La alta prevalencia de dolor entre los estudiantes de enfermería indica la salud futura de esta población, la necesidad de intervenciones para reducir las lesiones y el alivio adecuado de esta experiencia.

Dolor; Estudiantes de enfermería; Prevalencia


ARTIGO ORIGINAL

Prevalência de dor crônica em estudantes universitários de enfermagem1 Correspondência: Lilian Varanda Pereira Rua 227 Qd 68, S/N 74605-080 - Setor Leste Universitário Goiânia, GO, Brasil E-mail: lvaranda@terra.com.br

Prevalence of chronic pain in nursing undergraduate students

La prevalencia del dolor crónico en estudiantes de enfermería

Camila Damázio da SilvaI; Gisely Carvalho FerrazII; Layz Alves Ferreira SouzaIII; Ligia Vanessa Silva CruzIV; Marina Morato StivalV; Lilian Varanda PereiraVI

IEnfermeira da Estratégia Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. Goiás, Brasil. E-mail: camiladamazio7@hotmail.com

IIEnfermeira do Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia. Goiás, Brasil. E-mail: gisely_ferrazz@yahoo.com.br

IIIMestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da FEN/UFG. Enfermeira fiscal do Conselho Regional de Enfermagem-Goiás. Goiás, Brasil. E-mail: layzenf@gmail.com

IVAluna do Curso de Graduação em Enfermagem da FEN/UFG. Bolsista PIBIC/CNPq. Goiás, Brasil. E-mail: ligia_blessed@hotmail.com

VMestre em Enfermagem. Professora assistente da Universidade de Brasília. Distrito Federal, Brasil. E-mail: mstival@gmail.com

VIDoutora em Enfermagem. Professora adjunto da FEN/UFG. Goiás, Brasil. E-mail: lvaranda@terra.com.br

Correspondência Correspondência: Lilian Varanda Pereira Rua 227 Qd 68, S/N 74605-080 - Setor Leste Universitário Goiânia, GO, Brasil E-mail: lvaranda@terra.com.br

RESUMO

A dor crônica é uma das principais causas de incapacidade entre os indivíduos. O objetivo do estudo foi estimar a prevalência deste tipo de dor em estudantes universitários de enfermagem e caracterizá-la segundo a ocorrência, localização, duração, intensidade e qualidade. Estudo transversal, desenvolvido em uma Faculdade de Enfermagem de Goiás, entre maio e junho de 2008, com 211 estudantes. A prevalência de dor crônica autorrelatada foi de 59,7%, frequentemente localizada na cabeça (38,1%), região lombar (11,9%) e ombros/ membros superiores (11,9%). Em 46% dos casos, o convívio com a dor variou de um a cinco anos; a intensidade foi caracterizada como forte (Mediana do escore de dor=7,0) e descrita como latejante, pontada, cansativa, enjoada, que incomoda e aperto. A alta prevalência de dor entre jovens universitários de enfermagem aponta o futuro da saúde dessa população, a necessidade de intervenções para redução de agravos e adequado alívio dessa experiência.

Descritores: Dor. Estudantes de enfermagem. Prevalência.

ABSTRACT

Chronic pain is one of the major causes of disability among individuals. This study aims to estimate the prevalence of this type of self-reported pain by undergraduate nursing students and characterize it concerning its occurrence, location, duration, intensity, and quality. This cross-sectional study was developed at a Nursing College in Goiás, Brazil, between May and June of 2008 with 211 students. The prevalence of self-reported chronic pain was 59.7%, frequently located in the head (38.1%), lower back (11.9%) and shoulder/upper members (11.9%). In 46% of the cases, living with the pain ranged from one to five years with a strong intensity (Median pain scores=7) and was described as throbbing, stabbing, tiring, sickening, that bothers, and tight. The prevalence of pain is higher than that estimated in similar studies, pointing to the future health of this generation and the need for disease prevention and health promotion programs for adequate relief among this population.

Descriptors: Pain. Students, nursing. Prevalence.

RESUMEN

El dolor crónico es una de las principales causas de discapacidad entre las personas. Los objetivos de este estudio: estimar la prevalencia este tipo de dolor en los estudiantes universitarios de enfermería, caracterizar el dolor según la aparición, localización, duración, intensidad y calidad. Se trata de un estudio transversal desarrollado en un Facultad de Enfermería de Goiás, de mayo a junio de 2008, con 211 estudiantes. La prevalencia del dolor crónico informado fue del 59,7%, localizado a menudo en la cabeza (38,1%), en la región lumbar (11,9%) y en el hombro/extremidades superiores (11,9%). En el 46% de los casos, la convivencia con el dolor varió de uno a cinco años, la intensidad se caracterizó por ser muy fuerte (puntación de dolor media=7,0) y se describe como palpitante, agudo, agotador, repugnante, y que incomoda y aprieta. La alta prevalencia de dolor entre los estudiantes de enfermería indica la salud futura de esta población, la necesidad de intervenciones para reducir las lesiones y el alivio adecuado de esta experiencia.

Descriptores: Dolor. Estudiantes de enfermería. Prevalencia.

INTRODUÇÃO

A dor é uma das queixas mais comuns entre os indivíduos que procuram atendimento nos serviços de saúde.1 Quando aguda, tem função biológica de preservação da integridade e defesa. Por outro lado, a dor crônica é uma das principais causas de incapacidade, levando à exacerbação de sintomas como: alterações no padrão de sono, apetite, libido, irritabilidade, alterações de energia, diminuição da capacidade de concentração, restrições na capacidade para as atividades familiares, profissionais e sociais.1

A alta prevalência de dor na população, os elevados custos impostos à sociedade, às companhias de seguro e aos serviços de saúde, bem como o impacto negativo nas atividades cotidianas daqueles que convivem com tal experiência,2 colocam-na como um problema de saúde pública.

Nos Estados Unidos da América são gastos anualmente aproximadamente 89 bilhões de dólares para tratamento e compensações trabalhistas envolvendo doentes com dor crônica. É uma das principais causas de afastamento do trabalho e incapacidade funcional, sendo que mais de 1/3 dos brasileiros afirmaram que suas atividades recreacionais e relações sociais e familiares foram comprometidas pela dor.2

A prevalência de dor crônica na população em geral, investigada em estudo multicêntrico, com 249 pessoas maiores de 18 anos (média de 42,9 anos), de 17 países, foi de 38,4%.3 A maioria (52,3%) era do sexo feminino e (59,9%) possuía nível secundário completo. Os resultados apontaram prevalência maior de dor crônica nos países em desenvolvimento, associada a comorbidades como depressão e ansiedade em 15,4% dos casos.

Na Austrália, a prevalência de dor lombar em estudantes de enfermagem de duas universidades (n=897) foi de 79%. A maioria eram mulheres (91%) e os relatos apontaram diminuição na capacidade de realizar as atividades cotidianas para 44,4% dos estudantes do 1º ano, 36,6% do 2º ano e 34,3% dos estudantes do 3º ano. Observou-se, também, que os estudantes do 3º ano utilizavam mais medicamentos para o alívio da dor que os de outros anos letivos.4 Na Espanha, estudo de coorte que investigou a prevalência de dor lombar entre 174 estudantes do curso de enfermagem mostrou índice de 31% no ano de ingresso ao curso e de 72% no último ano da graduação. Esse aumento foi associado à maior carga física ocupacional dos estudantes do último ano em relação aos do primeiro ano.5

A literatura sobre estudos epidemiológicos de dor crônica entre estudantes universitários de enfermagem é escassa. No Brasil, não foram encontrados estudos tipo. Há carência de pesquisas que contribuam no preenchimento de lacunas relacionadas ao problema e permitam conhecer sua magnitude, contribuindo com a implementação de programas para prevenção e manejo da dor nessa população. Assim, este estudo foi proposto e teve como objetivos (1) estimar a prevalência de dor crônica auto-referida em estudantes universitários de enfermagem e (2) caracterizar a dor segundo a localização, duração, intensidade e qualidade.

MÉTODO

Trata-se de um estudo observacional, com delineamento transversal, realizado na Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás (UFG), no período de março a junho de 2008. O estudo foi desenvolvido após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás, protocolo nº 173/2007.

A população alvo constituiu-se de 250 alunos, matriculados no Curso de Graduação em Enfermagem. Foram excluídos aqueles com menos de 18 anos de idade. Dos 250 estudantes elegíveis, 39(15,6%) recusaram-se a participar da pesquisa ou não foram localizados nas salas de aula em mais de três tentativas. Assim, a população constituiu-se de 211 estudantes, distribuídos nos cinco anos do curso de enfermagem.

As variáveis de desfecho foram: ocorrência de dor crônica (principal dor) e suas características (localização, intensidade, qualidade e alívio). Dor crônica foi considerada como aquela sentida há seis meses ou mais em um mesmo lugar. A intensidade da principal dor (no pior momento) foi mensurada por meio de uma Escala Numérica (0-10)6 em que zero significava sem dor e 10 a pior dor; a localização da dor foi feita por meio de diagramas corporais e a qualidade avaliada por meio do Questionário de McGill, com 78 descritores de dor, categorizados em quatro grandes grupos e 20 subgrupos (sensitivo, afetivo, cognitivo e misto).7 As variáveis de exposição, socioeconômicas e demográficas incluíram: sexo (feminino e masculino), classe socioeconômica (A- renda mensal per capita > $8100; B- renda mensal per capita > $2300; C- renda mensal per capita > $950; D- renda mensal per capita > $600; e E- renda mensal per capita > $400),8 idade (18-20, 21-23, > 24), estado civil (com companheiro, sem companheiro), ano de matrícula no curso (1°, 2°, 3°, 4° e 5°), atividades extracurriculares (pesquisa, monitoria, extensão, estágios, cursos) e prática regular de atividade física (mínimo de três vezes semanalmente).

Os dados foram coletados por entrevistadores treinados, nas salas de aula da Faculdade de Enfermagem, em momentos de disponibilidade dos estudantes, local onde foram informados sobre a pesquisa e seus objetivos. Tendo assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os estudantes passaram à entrevista, preenchendo um questionário elaborado para este fim, com itens contendo variáveis socioeconômicas, demográficas, acadêmicas e relacionadas à experiência dolorosa e escalas de medida já validadas.

As variáveis numéricas foram exploradas pela média, mediana e moda; mínima, máxima, desvio padrão; frequências absolutas e porcentuais. Todas as análises foram realizadas utilizando o software "Statistical Package for the Social Sciences" (SPSS), versão 15.0. Os dados foram organizados em tabelas. As associações entre as variáveis categóricas foram estudadas pelos testes não paramétricos; qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher e, no caso de variáveis quantitativas, pelo teste de Kruskal-Wallis ou de Mann-Whitney. A normalidade das distribuições das médias amostrais foi verificada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov e a homogeneidade das variâncias pelo teste de Bartlett. O nível de significância para todos os testes foi de 0,05 (α=5%).

RESULTADOS

A prevalência de dor crônica entre os estudantes de enfermagem foi de 59,7% (n=126). A maior frequência de relatos desse tipo de dor (65,3%) foi observada entre os alunos do 3º ano, seguidos por aqueles do 1º e 5º anos, com 62,9% e 61,9%, respectivamente, e a menor frequência de relatos foi encontrada entre os alunos do 4º ano (53,7%), seguidos pelos do 2º ano (54,5%). As diferenças não foram significativas (p=0,455).

Na tabela 1 observa-se que entre os estudantes que apresentaram este tipo de dor, 97,6% eram mulheres e as idades variaram de 18 a 29 anos ( = 21,1 anos; Dp=2,1). Dos indivíduos investigados, 49,2% pertenciam à classe econômica A, 65,9% participavam de atividades extracurriculares (34,9% em duas ou mais atividades), e 22,2% praticavam atividade física regularmente.

A dor aparecia com maior frequência à tarde (40,5%). Para 44,4% deles, permanecia por algumas horas do dia, 46,0% conviviam com essa experiência de um a cinco anos e 19,0% de cinco a 10 anos (tabela 2). Não houve associação significativa entre a variável "período do curso que o aluno frequentava" e as variáveis "ocorrência" e "intensidade de dor crônica".

Também não houve associação significativa entre classe econômica, prática de atividades extracurriculares e de atividade física com a ocorrência de dor crônica (p=0,966; p=0,615; p=0,267, respectivamente).

Quanto à localização da principal dor (a que mais incomodava), prevaleceu a cabeça (38%), seguida pela região lombar (12%), ombros e membros superiores (12%), membros inferiores (6,3%) e outros locais (31,7%).

Quando questionados sobre a causa da dor, 54,8% dos estudantes não souberam informá-la, 11,1% relacionaram-na aos estudos e 7,9% referiram-se ao estresse.

Sobre a intensidade subjetiva desta experiência observou-se que 49,2% dos estudantes atribuíram escores 7, 8 e 9 por meio da escala numérica (dor forte), 32,5% atribuíram escores 5 e 6 (dor moderada), 12,7%, escores 1, 2, 3, 4 (dor leve), e 5,5% escores 10 (pior dor sentida (tabela 3). A mediana dos escores foi igual a 7 (Moda=8, Percentil 25=5, Percentil 75=8, Máxima=10, Mínima=2).

Quanto à qualidade, os estudantes descreveram a dor sentida como latejante (57,9%), pontada (54,0%), enjoada (46,8%) e cansativa (45,2%), descritores dos agrupamentos sensitivo-discriminativo e afetivo-motivacional do Questionário para Dor de McGill (MQP). Na tabela 4 podem ser observados os descritores escolhidos por mais de 33% dos estudantes, categorizados nos agrupamentos sensitivo, afetivo, avaliativo e misto do MQP.8

DISCUSSÃO

Estudos epidemiológicos sobre a dor crônica, no contexto mundial, concluíram que a sua prevalência varia dentro dos subgrupos específicos da população.9,10 Ademais, a prevalência de dor nos diferentes estudos pode ser discrepante devido aos critérios utilizados para se considerar a dor como crônica, métodos de pesquisa e às populações de diferentes áreas geográficas que participaram dos estudos.11

Neste estudo, com população eminentemente jovem, a prevalência de dor crônica foi maior que aquela encontrada em estudo realizado na Alemanha (8,7%), com acadêmicos que se consultaram com enfermeiros em clínicas de cinco cidades do país;12 e menor que os achados de estudo4 desenvolvido na Austrália, em que a prevalência de dor crônica entre acadêmicos de enfermagem e enfermeiros recém-formados foi de 79%. Tais achados apontam diferentes índices dessa dor entre estudantes universitários, o que pode ser explicado, também, pela população investigada, no entanto, tais achados apontam comprometimento à saúde dos futuros profissionais de enfermagem.

Estudos de prevalência de dor crônica em estudantes universitários de enfermagem são escassos, no entanto, na população em geral da Dinamarca, a prevalência dessa dor foi de 19%,14 e na Austrália, de 20% entre as mulheres.15 Prevalências maiores foram observadas na Espanha (78,6%).13 No Brasil, não foram encontrados estudos sobre a dor crônica em estudantes universitários, dificultando a comparação entre os achados desta pesquisa e o de outras pesquisas.

A maioria (96,2%) dos estudantes que participaram deste estudo eram mulheres, sexo mais representado entre estudantes de cursos de graduação em enfermagem. No entanto, aqueles que investigaram a experiência dolorosa em grupos homogêneos em relação ao sexo, estimaram prevalência significativamente maior de dor entre as mulheres, quando comparadas a homens de idades semelhantes.5-21 Estudo realizado na Alemanha, com 900 participantes atendidos em serviços de saúde, revelou que as mulheres sofriam dor crônica duas vezes mais que os homens.20 Na Dinamarca, estudo em que a dor crônica foi definida como aquela que persistia por seis meses ou mais, como neste estudo, estimou-se a prevalência de 16% de dor crônica para os homens e de 21% para as mulheres.14

Estudiosos destacaram a influência de fatores constitucionais, endócrinos, culturais e relacionados aos hábitos de vida no predomínio de dor no sexo feminino, apontando variação na ocorrência de alguns tipos de dor no período menstrual.21 Ademais, a dor tem sido prevalente entre os adultos com classe socioeconômica mais baixa,10,14 o que não foi observado neste estudo, uma vez que 47% dos jovens pertenciam à classe socioeconômica A.

Considerando os locais de dor referidos por estudantes que participaram de outros estudos, no Japão observou-se prevalência de dor no ombro de 14,9%, na região lombar, de 13,5%, na região cervical, de 9,5%, e na cabeça, de 4,5%.17 Na zona rural da Austrália, a prevalência de dor lombar (59,2%), cervical (34,6%), nos ombros (23,8%) e de cabeça, em 7,7% foi maior entre os estudantes,18 diferindo dos dados do presente estudo, em que a cabeça foi o local prevalente (38%) de dor, seguido pela região lombar (12%), ombros e membros superiores (12%) e membros inferiores (6,3%).

Em relação à cefaleia, nos Estados Unidos da América, 17,3% dos estudantes universitários referiram tal queixa uma ou mais vezes por semana, 33,6% referiram episódios uma ou duas vezes ao mês, 50,9% relataram pelo menos um episódio ao mês e 49% disseram que a frequência era reduzida.22 A dor na cabeça ocorre em 70% da população, em algum momento da vida, e é mais frequente nas mulheres.2

Quanto à dor lombar, este estudo mostrou que 11,9% dos estudantes apresentaram tal queixa. No Japão, entre 222 estudantes universitários, com média de idade de 20,2 anos (Dp=2,2), a prevalência de dor musculoesquelética (36,9%)17 foi menor que aquela observada na Austrália (80%), em estudo18 realizado com 260 estudantes de enfermagem, com média de idade de 25,5 anos (Dp= 8,7).

No Brasil, estudo23 desenvolvido na região metropolitana de Recife-PE, com 2000 pessoas de diferentes idades, mostrou prevalência de cefaléia de 97,3% nas mulheres e de 93,3% nos homens.

A frequência de estudantes do presente estudo, com dor crônica na região lombar (12,0%), foi semelhante à de estudo conduzido no Japão (13,5%),17 e muito inferior aos achados de estudos australianos (59,2% e 79,0%).4,18 Mas, se considerarmos estudos brasileiros com a população adulta, em Salvador-BA, 14,7%24 dos participantes apresentaram dor na região lombar e em Pelotas-RS, 4,2%.25

Neste sentido, vale ressaltar que o trabalho diário com sobrecarga imposta à musculatura lombar, especialmente quando associada ao posicionamento corporal incorreto, pode gerar dores musculoesqueléticas, e os estudantes dos cursos de enfermagem estão sujeitos a essas situações, devido à exigência de cuidado contínuo aos pacientes, à movimentação e transferência. Este pode ser um dos fatores envolvidos na gênese da dor lombar, como referido no estudo australiano, em que 66% dos estudantes de enfermagem apontaram o movimento de transferência dos clientes como um fator agravante da dor lombar.4

Estudo26 realizado no Brasil associou o trabalho em hospitais com a maior prevalência de dor musculoesquelética no ombro (14,9%), apontando maior sobrecarga física como responsável pelo aumento do risco de dor no ombro em 4,4 vezes entre a população estudada. A dor no ombro, no presente trabalho, foi relatada por 11,9% dos estudantes que referiram dor crônica, sendo menor que os resultados de outros estudos com a mesma população.17-18

Embora a maior prevalência de dor crônica tenha sido encontrada entre os estudantes do 3º ano, não houve associação significativa entre dor crônica e período/semestre do curso, semelhantemente aos estudos realizados em outros países.17-18

A dor crônica relatada por estudantes não foi caracterizada em outros estudos quanto à intensidade e qualidade, dificultando comparações com os resultados deste estudo, em que a maior frequência de escores foi para a dor forte (MD=7, Q1=5, Q3=8, MAX=10, MIN=2). A medida da dor ainda é pouco difundida e praticada em nosso país, no entanto, os profissionais de enfermagem têm reconhecido o uso de instrumentos de medida como forma de contribuir com o manejo adequado dessa experiência no meio clínico.27

Quando os estudantes foram indagados sobre a qualidade da dor sentida, descreveram sua experiência com maior frequência por meio de descritores do agrupamento sensitivo-discriminativo (latejante, pontada), afetivo-motivacional (enjoada, cansativa), cognitivo-avaliativo (que incomoda) e miscelânea (aperta), do Questionário de Dor de McGill.7 Vale ressaltar que os descritores latejante e pontada, da dimensão sensitiva-discriminativa da dor, foram os mais frequentemente escolhidos pelos estudantes que referiram dor crônica na cabeça, corroborando os achados de outro estudo26 cujos participantes também utilizaram tais descritores para descrever a cefaléia primária.

A grande frequência de relatos de dor forte na população deste estudo pode estar relacionada ao fato de ter sido considerada apenas a principal dor, ou seja, a que mais incomodava. Contudo, aponta-se a exposição dos estudantes aos prejuízos da dor na produtividade e qualidade da produção, afetando o desenvolvimento satisfatório das habilidades para tomada de decisão, comprometendo o futuro profissional e pessoal dessa população.

CONCLUSÃO

A prevalência de dor crônica nesta população de jovens universitários de enfermagem, eminentemente feminina, é alta.

A dor é considerada como forte para a maioria dos estudantes, frequentemente localizada na cabeça, com ocorrência dos episódios principalmente no período vespertino, permanecendo por algumas horas do dia, fato que pode impactar negativamente as atividades cotidianas e acadêmicas dos estudantes.

A qualidade da dor é descrita por palavras dos agrupamentos sensitivo, afetivo e avaliativo do MPQ, apontando a multidimensionalidade da experiência dolorosa.

A falta de estudos com população semelhante dificultou a comparação dos achados. No entanto, vale ressaltar que a alta prevalência de dor crônica em uma população tão jovem aponta o futuro da saúde desta geração e a urgente necessidade de implantação de programas que possam prevenir agravos e promover saúde entre jovens universitários.

Recebido: 19 de agosto de 2010

Aprovação: 5 de agosto de 2011

1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Enfermagem (FEN) da Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2008.

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  • Correspondência:
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      23 Dez 2011
    • Data do Fascículo
      Set 2011

    Histórico

    • Aceito
      05 Ago 2011
    • Recebido
      19 Ago 2010
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