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Interpretações das dimensões educacionais das Jornadas de 2013: debates, sentidos e legados

Interpretations of the educational dimensions of the 2013 Journeys: debates, meanings and legacies

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Resumo

O artigo tem como tema as interpretações de pesquisadoras e pesquisadores a respeito dos sentidos e legados das Jornadas de 2013 no Brasil. Apresentam-se as temáticas destacadas por esses sujeitos e as suas experiências de pesquisa com 2013, além dos resultados da pesquisa “Dimensões educacionais das Jornadas de 2013”. Foram feitas 18 entrevistas semiestruturadas, de forma presencial, no primeiro semestre de 2023. As entrevistas se justificam pela escassez de produção acadêmica sobre as dimensões educacionais das Jornadas. Como resultado, destacam-se os interesses acadêmicos em assuntos relacionados com o evento em questão, como movimentos sociais, ações coletivas e participação política das juventudes. As interpretações das e dos depoentes convergem no que se refere às causas e à dinâmica de 2013, considerado um complexo fenômeno histórico, causado pelos limites das políticas do lulismo e a insatisfação com a democracia representativa. No que tange aos legados, há divergência: alguns consideram-nos mais positivos (promovem renovação do agir político); outros, mais negativos (favorecem a ascensão da extrema direita). Como conclusão, referenda-se a importância de tratar desse tema como momento ímpar de subjetivação política de uma unidade de geração juvenil progressista nos anos 2010, assim como o legado das pautas relativas ao direito à cidade.

Palavras-chave
jornadas de 2013; juventudes; formação política; pautas educacionais

Abstract

The article focuses on researchers’ interpretations of the meanings and legacies of the 2013 Journeys in Brazil. The topics highlighted by these subjects and their research experiences with 2013 are presented, in addition to the results of the research “Educational dimensions of the 2013 Journeys”. Eighteen semi-structured interviews were conducted in person in the first half of 2023. The interviews are justified by the scarcity of academic production on the educational dimensions of the Journeys. As a result, academic interests in topics related to the event in question stand out, such as social movements, collective actions and political participation of youth. The interpretations of the deponents converge with regard to the causes and dynamics of 2013, considered a complex historical phenomenon, caused by the limits of Lula’s policies and dissatisfaction with representative democracy. Regarding the legacies, there is divergence: some consider them more positive (promoting renewal of political action); others, more negative (favoring the rise of the extreme right). In conclusion, we highlight the importance of treating the Journeys as a unique moment of political subjectivation of a progressive youth generation in the 2010s, as well as the legacy of the agendas related to the right to the city.

Keywords
2013 journeys; youth; political formation; educational agendas

Resumen

El tema del artículo son las interpretaciones de los investigadores sobre los significados y legados de las Jornadas de 2013 en Brasil. Se presentan los temas destacados por estos sujetos y sus experiencias de investigación en 2013, además de los resultados de la investigación “Dimensiones educativas de las Jornadas 2013”. Se realizaron 18 entrevistas semiestructuradas, presenciales, en el primer semestre de 2023. Las entrevistas se justifican por la escasez de producción académica sobre las dimensiones educativas de las Jornadas. Como resultado, se destacan intereses académicos en temas relacionados con el evento en cuestión, como movimientos sociales, acciones colectivas y participación política de los jóvenes. Las interpretaciones de los entrevistados convergen respecto de las causas y dinámicas de 2013, considerado un fenómeno histórico complejo, provocado por los límites de las políticas lulistas y el descontento con la democracia representativa. Respecto a los legados, hay divergencia: algunos los consideran más positivos (promueven la renovación de la acción política); otros, más negativos (favorecen el ascenso de la extrema derecha). En conclusión, se refrenda la importancia de tratar las Jornadas como un momento único de subjetivación política de una unidad de generación juvenil progresista en la década de 2010, así como el legado de las agendas relativas al derecho a la ciudad.

Palabras clave
Jornadas de 2013; juventud; formación política; pautas educativas

Introdução

Neste texto, comunicam-se os resultados da pesquisa “Dimensões educacionais das Jornadas de 2013: pautas educacionais, experiências escolares e formação política de jovens em protesto”. Essa pesquisa teve como objetivo geral analisar e interpretar as dimensões educacionais desse ciclo de protestos no Brasil, as Jornadas de 2013, destacando as trajetórias educacionais e políticas de jovens que foram ativistas e militantes de organizações, coletivos e movimentos que convocaram as Jornadas, bem como a formação política propiciada pelos protestos e as influências de 2013 nas políticas educacionais nos anos vindouros.

A educação aqui é pensada em seu sentido amplo, incluindo não apenas a educação escolar ou formal, mas também a educação informal e a educação não formal. Assim, a socialização política na família, na comunidade e nos movimentos sociais, por exemplo, é compreendida como um processo que tem dimensão educacional informal (quando não planejada ou incidental) e não formal (quando planejada, mas realizada de formas distintas da escolar). Dimensões educacionais são compreendidas como as diferentes facetas que a educação, como processo de formação, assumiu durante o ciclo de protestos chamado de Jornadas de 2013; também, os impactos sofridos pelas pessoas em suas trajetórias políticas, escolares e profissionais, como efeito da experiência das Jornadas; e, enfim, os efeitos sofridos nas políticas educacionais em decorrência dos protestos, como a influência de suas pautas de caráter educacional.

Segundo Gerbaudo ( 2017GERBAUDO, Paolo. The mask and the flag. Populism, citizenism and global protest. New York: Oxford University Press, 2017. ), as Jornadas de 2013 no Brasil fazem parte de um ciclo global de protestos dos anos 2010. Destacam-se como latência desse evento o tema do transporte público e o Movimento Passe Livre (MPL) e o tema das obras para os megaeventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíadas) e Comitês Populares da Copa (CPCs) (Dowbor e Zwako, 2013 DOWBOR, Monika; SZWAKO, José. Respeitável público…: performance e organização dos movimentos antes dos protestos de 2013. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 97, p. 43-55, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-33002013000300004 . Acesso em: 5 maio 2022.
https://doi.org/10.1590/S0101-3300201300...
). Os eventos na capital paulista, mesmo tendo sido precedidos pelo movimento de Porto Alegre, foram eleitos como marco cronológico e interpretativo do ciclo de protestos de 2013: manifestações com uso da ação direta, organizadas pelo MPL, alvo de forte repressão. A repressão desmedida provocou apoio da opinião pública, e os governos atenderam a pauta da revogação do aumento da tarifa, mas os protestos continuaram e se massificaram rotundamente, na segunda metade de junho, com o apoio da mídia comercial. Os protestos ganharam outras grandes cidades país afora e chegaram mesmo a se interiorizar.

Comunicam-se resultados da análise de 18 entrevistas com pesquisadoras e pesquisadores das Jornadas de 2013 no Brasil. O objetivo das entrevistas era suscitar reflexões e provocar ideias ou hipóteses significativas das e dos depoentes sobre aspectos educacionais das Jornadas de 2013.

Essas entrevistas se justificam pelo fato de que, tanto na pesquisa exploratória quanto na primeira fase da pesquisa (de caráter bibliográfico), se constatou pequena produção com abordagem explícita das dimensões educacionais das Jornadas, tendo se notado diversas lacunas a serem investigadas sobre esse ciclo de protestos, como a presença das pautas educacionais e a condição educacional das e dos manifestantes. Pretende-se, neste artigo, sistematizar e analisar os principais resultados dessas entrevistas, no que se refere à forma como as e os depoentes abordaram as Jornadas, que interpretações fizeram dela e quais legados que identificam para o presente.

Metodologia e realização das entrevistas

As entrevistas com pesquisadoras e pesquisadores que fizeram trabalhos importantes sobre as Jornadas foram de caráter semiestruturado. Compreende-se a entrevista semiestruturada como uma “série de perguntas abertas, feitas verbalmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador pode acrescentar perguntas de esclarecimento” (Laville e Dione, 1999LAVILLE, Christian; DIONE, Jean. A construção do saber. Manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artmed; Belo Horizonte: Editora UFMG,1999. , p. 188). A abordagem da pessoa entrevistada, a condução da entrevista e as preocupações com a intersubjetividade se baseiam na proposta da entrevista reflexiva segundo Szymanski ( 2004SZYMANSKI, Heloisa (org.). A entrevista na pesquisa em Educação: a prática reflexiva. Brasília: Liber Livro, 2004. ).

As entrevistas se realizaram entre fevereiro e julho de 2023, de modo presencial, por meio da gravação de áudio, nos horários e locais de preferência da pessoa depoente. A condução ficou a cargo do coordenador da pesquisa, do professor colaborador, das pesquisadoras bolsistas, de mestranda e mestrando e de bolsistas de iniciação científica – que também atuaram no processo de transcrição das entrevistas. As pessoas que entrevistaram o fizeram quase sempre em dupla, por vezes em trio, em poucos casos de modo solo. Foram feitas 18 entrevistas, sendo que uma delas foi coletiva (o convidado Sérgio Haddad foi acompanhado de mais dois pesquisadores).

A entrevista seguiu um roteiro preestabelecido de questões, precedidas por uma pergunta específica para cada pesquisadora e pesquisador, com base em um de seus produtos acadêmicos a respeito das Jornadas de 2013. Durante a entrevista, os entrevistadores faziam perguntas adicionais de esclarecimento e de aprofundamento, de acordo com a necessidade e pertinência. O roteiro continha 17 questões: após a específica, perguntas sobre o que a pessoa depoente pesquisou sobre as Jornadas; aspectos educacionais das Jornadas (a presença de jovens, estudantes e profissionais da educação entre ativistas, militantes e manifestantes, a formação política de ativistas e militantes, a formação política propiciada pela participação nas manifestações e influências das Jornadas nas políticas educacionais); e a relação entre as Jornadas e as transformações sociais e políticas posteriores.

Desde o projeto, esboçara-se uma lista de possíveis pessoas a entrevistar, com base na pesquisa bibliográfica exploratória. Havia a previsão de 12 entrevistas. Por meio da pesquisa bibliográfica, a lista foi ampliada: primeiro, pela necessidade de substituir nomes que ou não tiveram condições de conceder a entrevista, ou não deram retorno ao nosso contato; segundo, para contemplar um número mais vasto de áreas acadêmicas e tendências teóricas; terceiro, pela percepção de que era interessante e necessário considerar nomes de outras regiões fora do Sudeste (foco da lista inicial).

As entrevistas inicialmente se concentraram em São Paulo, com pesquisadoras e pesquisadores com perspectivas teóricas e críticas dentro da sociologia da educação, da sociologia da juventude e da ciência política, ligados a instituições reconhecidas no campo, como a Universidade de São Paulo, a Universidade Federal de São Carlos e a Ação Educativa. Essas entrevistas indicaram um cenário muito restrito aos eventos na capital paulista, com abordagens teóricas inspiradas em clássicos da sociologia, como o marxismo e o weberianismo, e posições ético-políticas reformistas, ou seja, nas quais se valorizavam os avanços sociais no combate à miséria e pobreza durante o lulismo, mas se percebiam limites e mesmo contradições dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT). Com a abertura para outros estados, como se verá, outras vertentes teóricas estiveram presentes, como outras interpretações mais revolucionárias do marxismo, a teoria dos processos políticos e a sociologia fiscal – mas ainda dentro de um campo ético-político progressista.

Quadro 1 -
Pesquisadoras e pesquisadores que concederam entrevistas - 2023

Para a análise dos dados do Quadro 1 , quando se tratar da entrevista coletiva com Sérgio Haddad, Gabriel Di Pierro e Renato Almeida, consideram-se apenas os dados do primeiro, que foi o entrevistado principal. Predominam as áreas educação e ciência política, cada qual com 7 depoentes; com 1 depoente cada, as áreas de Sociologia, Filosofia, Antropologia e História. Entre depoentes da área da Educação, predominou a subárea da sociologia da educação (Marília Spósito, Kimi Tomizaki, Maria Carla Corrochano, Ana Karina Brenner e Igor Oliveira). Se houve equilíbrio entre os gêneros masculino e feminino – 9 depoentes cada –, predominaram as pessoas de cor branca (15), com apenas 2 negras e 1 amarela. Enfim, entre as pessoas entrevistadas, 6 afirmaram que não apenas pesquisaram as Jornadas, mas que também participaram delas na qualidade de ativistas de coletivos autonomistas (4) ou advogada e advogado de apoio (2). Quanto às demais pessoas, 5 delas afirmaram que participaram de, ao menos, uma das manifestações.

Apesar do empenho em considerar todas as regiões, predominou a Sudeste (10 entrevistas), com destaque para São Paulo (6), seguido por Rio de Janeiro e Minas (2 cada). Trata-se da região com a maior produção acadêmica nas ciências humanas, inclusive no tema pesquisado. Contudo, buscou-se desconcentrar as entrevistas, com 3 na região Sul (todas no Rio Grande do Sul), 3 na Centro-Oeste (2 em Goiás e 1 no Distrito Federal), 1 na Nordeste (Piauí) e 1 na Norte (Pará). O olhar para além de São Paulo, mesmo quando ainda restrito aos estados mineiro e fluminense, já revelava a complexidade, multiplicidade e riqueza do evento, que envolveram outros sujeitos sociais e outras cronologias e dinâmicas de protesto. As entrevistas nas demais regiões do país só aumentaram essa certeza e a importância desse olhar plural. Se o momento crucial – o “Junho de 2013” – teve a capital paulista como gatilho, logo se revelou empobrecedora a generalização da experiência de São Paulo para todo o país, frágil em sua suposta representatividade das Jornadas.

As pessoas entrevistadas no contexto das Jornadas

Eu lembro das imagens (…), eu lembro que a gente se reunia na minha casa (…), absolutamente fascinados para compreender, como tantos outros pesquisadores. Compreender o que estava acontecendo. (Monika Dowbor, entrevista, 2023)

Pesquisadoras e pesquisadores relataram, em suas entrevistas, o que as e os motivou a analisar as Jornadas, os temas que investigaram e as experiências vivenciadas durante as pesquisas. Destacam-se, aqui, as motivações apontadas nas entrevistas para a busca do assunto Jornadas de 2013 no Brasil, as quais contêm os temas específicos abordados, e, enfim, as experiências de investigar esse ciclo de protestos.

É importante informar que duas pesquisadoras – Ana Karina Brenner e Kimi Tomizaki – afirmaram que não pesquisaram os protestos como um tema em si mesmo, mas sim considerando-as como um processo histórico que contextualiza os temas mais afinados com as suas investigações recentes sobre juventude, gerações e política. Quatro outras pesquisadoras – Marília Spósito, Maria Carla Corrochano, Bárbara Lou Dias e Olívia Perez –, ainda que tenham se interessado mais propriamente pelas Jornadas, o fizeram por motivos semelhantes às duas anteriores, todas interessadas nas novas práticas políticas das jovens gerações, pouco compreendidas pelo mundo acadêmico (Marília Spósito) ou pelas gerações militantes adultas (Bárbara Lou Dias).

As Jornadas de 2013 se tornaram um processo histórico fundamental para o que era, então, seu tema de pesquisa, como reconhecem, por exemplo, Francisco Tavares e Monika Dowbor, que pesquisavam a organização dos movimentos sociais e as formas de protesto. Há também quem foi impactado não apenas pelo interesse acadêmico pelo evento, mas também pessoalmente, como Marcelo Kunrath Silva e Nildo Viana, que, assim como Tavares e Dowbor, vinham pesquisando os movimentos sociais.

A motivação para tratar do objeto da pesquisa pode ter vindo na forma de uma provocação do mercado editorial, como é o caso de Marcos Nobre, que escreveu um pequeno livro sobre as Jornadas em relação à crise da democracia representativa (Nobre, 2013NOBRE, Marcos. Choque de democracia: razões da revolta. São Paulo: Cia. das Letras, 2013. ), e de Paulo Arantes, que, em livro voltado à análise do capitalismo contemporâneo, sua crise e as novas formas de resistência social, acrescentou um capítulo sobre as Jornadas (Arantes, 2014ARANTES, Paulo. Depois de junho a paz será total. In: ARANTES, Paulo. O novo tempo do mundo e outros estudos sobre a era da emergência. São Paulo: Boitempo, 2014. p. 353-460. ).

Há também as pessoas que eram ativistas e militantes, que chegaram ao tema justamente por sua prática política: Giuseppe Cocco, no Rio de Janeiro, tinha envolvimento com movimentos e campanhas que anteciparam as Jornadas de 2013; Francisco Foureaux e Igor Oliveira eram ativistas do Tarifa Zero de Belo Horizonte. Próxima a eles, Leila Saraiva, ativista do MPL do Distrito Federal, mobilizou a Antropologia para a compreensão das experiências das e dos integrantes desse movimento. Sérgio Haddad e Roberta Rosa tiveram como motivação, justamente, analisar as práticas educacionais de outros dois movimentos, nos quais, entretanto, não eram ativistas ou militantes: o primeiro, o MPL de São Paulo; a segunda, o Bloco de Lutas pelo Transporte Público de Porto Alegre.

Quatro depoentes iniciaram a sua vida na pesquisa, ao menos no nível da pós-graduação, justamente, com trabalhos a respeito das Jornadas de 2013. Não à toa, apareceram no parágrafo anterior, entre quem era simultaneamente ativista/militante – Igor Oliveira, Leila Saraiva e Francisco Foureaux – ou entre quem investigou as práticas educativas dos movimentos autonomistas – Roberta Rosa. As demais 14 pessoas entrevistadas tinham larga experiência nos campos de pesquisa em educação e ciência política, notadamente, tratando de temas que tornaram inevitável abordar as Jornadas.

Destacam-se, portanto, que as motivações acadêmicas para pesquisar 2013 surgiram, por vezes, no próprio ‘calor da hora’ e em outros casos apenas nos anos seguintes. As Jornadas se tornam contexto obrigatório a considerar em pesquisas sobre movimentos sociais e ações coletivas, bem como para quem aborda o tema da juventude e participação política. Há também, ainda que em menor número, quem migrou do campo político – do ativismo e da militância – para o campo acadêmico: em geral, jovens que pesquisam os próprios movimentos e coletivos dos quais participavam. Entretanto, como se vê, a maioria das pessoas entrevistadas, que tiveram apenas a motivação acadêmica para pesquisar 2013, estiveram nas ruas em alguns momentos, alternando a condição observadora com a de manifestante, por vezes na situação de perplexidade diante da disputa de sentidos do protesto.

Interpretações sobre as Jornadas

Uma das questões cruciais do roteiro perguntava sobre a interpretação da pessoa entrevistada a respeito das Jornadas. A mesma questão ainda interrogava se essa interpretação mudara ao longo do tempo e, caso sim, o que havia mudado.

A questão também permitiu o cotejamento das respostas com as interpretações emanadas da revisão bibliográfica. Na revisão bibliográfica, destacaram-se cinco campos teóricos ou paradigmáticos presentes nas interpretações: marxismo, teoria dos novos movimentos sociais, teoria da multidão, repertório de contestação e subjetivação política (Groppo et al., 2024 GROPPO, Luís A. et al. Interpretações dos sentidos de Junho, da luta de classes à subjetivação política. Revista Eletrônica Interações Sociais, v. 6, n. 2, p. 75-97, 2024. DOI: 10.14295/reis.v6i2.15566. Disponível em: https://periodicos.furg.br/reis/article/view/15566 . Acesso em: 22 mar. 2024.
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). Na análise, referendou-se a posição teórica definida desde o projeto, qual seja adotar como categoria-chave a subjetivação política, inspirada em Jacques Rancière ( 1996RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996. ), assim como considerar a riqueza da noção de repertórios de contestação para mapear a diversidade das formas de atuação política e possíveis impactos na formação política das Jornadas de 2013 (Alonso e Mische, 2017 ALONSO, Angela; MISCHE, Ann. Changing Repertoires and Partisan Ambivalence in the New Brazilian Protests. Bulletin of Latin American Research, v. 36, n. 2, p. 144-159, 2017. 10.1111/blar.12470. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/blar.12470 . Acesso em: 24 mar. 2023.
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).

Ainda que a subjetivação política e repertórios de contestação fossem os conceitos menos presentes em nossa revisão, eles se mostraram potentes para atender os objetivos principais da pesquisa. A subjetivação política contribui para a compreensão de impactos pessoais e coletivos das experiências de participação em protestos poderosos e capazes de interromper a ‘normalidade’ da ordem social. Nos termos de Rancière, trata-se da emersão da igualdade substantiva entre todas as pessoas, no que se refere ao falar e agir politicamente, considerando a política como ‘desentendimento’ ou dissenso, capaz de enfrentar os poderes policiais que buscam defender as fronteiras artificiais estabelecidas para separar quem teria o direito de atuar politicamente e quem não teria (Ranciére, 1996RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996. ). O conceito de repertório político, aplicado a 2013, reúne os principais conjuntos de práticas de ação e organização presentes nas Jornadas de 2013 no Brasil: autonomismo, socialismo e patriotismo (Alonso e Mische, 2017 ALONSO, Angela; MISCHE, Ann. Changing Repertoires and Partisan Ambivalence in the New Brazilian Protests. Bulletin of Latin American Research, v. 36, n. 2, p. 144-159, 2017. 10.1111/blar.12470. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/blar.12470 . Acesso em: 24 mar. 2023.
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), a que é preciso acrescentar uma derivação do populismo democrático radical, o cidadanismo (Gerbaudo, 2017GERBAUDO, Paolo. The mask and the flag. Populism, citizenism and global protest. New York: Oxford University Press, 2017. ).

Das 18 entrevistas, em sete se relatou a mudança na interpretação de 2013. Entre os quatro casos considerados como ‘outra resposta’, três pessoas não deixaram explícito se houve mudança; a resposta de Leila Saraiva é peculiar, já que ela sempre se recusou a fazer ou a adotar uma interpretação geral das Jornadas, preferindo, do ponto de vista antropológico, conhecer as experiências pessoais vividas por militantes e ativistas do MPL do Distrito Federal.

Em relação às sete pessoas que afirmaram ter alterado sua interpretação sobre as Jornadas, os motivos são diversos. Três pessoas afirmam que, inicialmente, não deram maior importância aos significados e impactos das Jornadas, mas que interesses de pesquisa posteriores fizeram com que elas reavaliassem suas posições. Essas pessoas reforçam o que se demonstrou na seção anterior, a centralidade das Jornadas como evento histórico, com caráter heurístico para compreender contextos e causalidades em campos da realidade social como movimentos sociais, participação política e juventude. Duas pessoas alteraram a posição pela incorporação de novas categorias de análise ou campo de conhecimento como o de contramovimentos e a sociologia fiscal, o que significou, antes, uma incorporação de temas e perspectivas de análise sobre 2013, de caráter complementar, do que uma alteração na forma de compreender o ciclo de protestos.

As interpretações sobre as Jornadas, mesmo considerando as mudanças ao longo do tempo, apontaram mais convergências e complementaridades do que divergências, parecendo indicar um sistema interpretativo mais ou menos homogêneo a respeito desse ciclo de protestos, a despeito de certa diversidade das áreas acadêmicas e dos referenciais teóricos. Mesmo quem alterou sua interpretação veio por corroborar essa interpretação mais geral, ao conceder importância maior a 2013, ou ao pesquisar o evento com base em outras abordagens. Trata-se de um resultado que se diferencia do encontrado na revisão bibliográfica (Groppo et al., 2023b GROPPO, Luís A. et al. Subjetivações políticas em campo: itinerários juvenis e as Jornadas de Junho de 2013. Educação e Pesquisa, v. 49, e271463, 2023b. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349271463por . https://doi.org/10.1590/S0101-33002013000300004 . Disponível em: https://www.scielo.br/j/ep/a/F3T5RGp4hKpXsnvCxmX55RC/ . Acesso em 20 jan. 2024.
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). No artigo, os referenciais teóricos adotados pareciam levar a análises mais diferenciadas. Mais importante, o fato de um produto ser feito próximo ou distante de 2013 era fundamental para uma análise mais otimista a respeito do ciclo de protestos ou não: quanto mais próximos de 2013, em especial quando feitos no ‘calor da hora’, os produtos tendiam a exprimir uma posição mais otimista sobre os sentidos das mobilizações; as análises posteriores tendiam a ser menos otimistas, mais comedidas ou até mesmo pretensamente ‘neutras’.

Buscando aglutinar os conteúdos principais presentes nas interpretações oriundas das entrevistas, elaborou-se a tipologia A com as seguintes categorias: I) complexidade; II) novas formas políticas; III) movimento estudantil e juvenil; IV) expressões de crises. Foi ainda possível compor a tipologia B, na qual 2013 é considerado um processo histórico, em seus diferentes momentos: causas; caracterização; efeitos.

Em relação à tipologia A, a categoria I (complexidade) foi a mais proeminente. A maioria das entrevistas (dez) continha na descrição, geralmente inicial, das Jornadas o termo “complexo” ou correlato, por meio do qual se buscava caracterizar 2013 como evento constituído de diversos protestos, grupos sociais mobilizados e pautas de forma concomitante nas ruas: “polifonia de vozes”, “não monolítico”, “diversas”, “contraditória” e “várias manifestações justapostas”. Algumas respostas explicitaram que a direita e a extrema direita se apropriaram de 2013, ao menos em parte, ou que aquele ano assistiu à emergência da direita, na forma de contramovimentos.

Eu continuo achando que foi um movimento muito complexo, que houve muitas camadas. Teve uma captura da mídia, em determinados setores da sociedade, para uma interpretação reacionária que, de fato, ajudou a construir um movimento da direita reacionária. (…) Não existia no país, inclusive, ninguém tinha coragem de dizer que era de direita (…). Agora a gente vê que (…) um monte de gente diz que é de direita (…). Isto começa em 2013, mas vem pela captura de um pedaço de 2013 e tem muitos outros pedações, tanto é que tem um aumento da disposição de se engajar pela esquerda, por movimentos e ações progressistas. (Ana Karina Brenner, entrevista, 2023)

A categoria III tratou de 2013 como um movimento estudantil e juvenil, com sete depoentes. Entre estes, três deles trataram dos efeitos de 2013 com jovens e quatro consideraram o ciclo de protestos como um importante marco de socialização política ou de formação política.

E hoje a minha interpretação é a de que foi um processo de abertura societária importante, foi um processo que marcou uma geração (…). Não se pode olhar para 2013 apenas a partir do impacto que teve do ponto de vista político-institucional, essa leitura (…) muito rasa, de que Junho de 2013 deu no golpe e depois acabou. (…) tem marcas que ficam aí, para uma geração (…). No começo, eu não tinha essa interpretação muito clara, porque primeiro começa com esses jovens, essa coisa muito autonomista. Muita gente reclamava: “isso de horizontalidade não existe”. […] Eu falava: “calma, vamos olhar o que está acontecendo, ver o que os jovens estão vivendo, quais questões estão sendo colocadas”. O próprio Movimento Passe Livre recua quando percebe para onde estava indo a coisa. (Maria Carla Corrochano, entrevista, 2023)

Não foram nem espontâneas, nem foram, vamos dizer, organizadas de uma maneira consistente, digo, com formação política, com estratégia. Elas foram muito construídas na luta. As pessoas iam fazendo, iam construindo, tomavam porrada e faziam de novo. (…) Eu acho que a repressão do companheiro Alckmin não foi brincadeira, então, não sei o quanto que essa juventude, já na vida adulta, aguentaria esse processo sem uma organização mais adensada e sem uma formação que pudesse levar a outras lutas e outras categorias. Porque eu acho que nem categorias mais diretamente interessadas se uniram ao movimento de forma organizada. Ele foi mais um trabalho desse grupo de jovens. (Sérgio Haddad, entrevista, 2023)

Essa caracterização de 2013 como um movimento estudantil e juvenil parece complementar as interpretações que foram classificadas na categoria II (novas formas políticas) e, em certa contraposição a quem descreveu as Jornadas como ciclo apropriado pela direita e extrema direita, de modo categórico indica o início das Jornadas como um movimento progressista: tratava-se de movimentos autonomistas e, em parte socialistas, reunidos em torno da questão urbana e do direito à cidade, que promoveram a renovação democrática.

[...] foi um movimento de esquerda, progressista, que queria que houvesse uma radicalização do governo do PT, que foi criado e se elegeu prometendo isso e que não cumpriu. E essa minha expectativa ficou cada vez mais confirmada pela narrativa que o próprio PT estabeleceu sobre 2013 no pós-2013. Porque mesmo a Dilma tendo ganhado as eleições de 2014, eles começaram a insistir que 2013 havia sido um movimento de direita, um movimento cooptado (…). (Francisco Foureaux, entrevista, 2023)

Eu não hesitaria de maneira nenhuma, inclusive sendo um lugar-comum no campo progressista, de dizer o seguinte: Junho foi um Movimento Estudantil. Se eu penso no MPL, se eu penso na influência do MPL, se eu penso que tudo começou por causa da tarifa zero para todos os cidadãos, mas sobretudo Catraca Livre para os estudantes, e que isso foi o estopim, eu posso então dizer que foram os estudantes secundaristas organizados que fizeram Junho! Não é nenhum absurdo. É o que aumenta a complexidade desse fenômeno. Como é que secundaristas botaram fogo no país, durante uma semana pelo menos, e depois deixam a direita e a extrema direita assumirem a direção? A extrema direita apareceu naquela outra personagem que ninguém contava. (Paulo Arantes, entrevista, 2023)

Finalmente, na categoria IV (expressão de crises), é citada a própria questão urbana, ao lado de crises mais propriamente políticas: a crise da democracia representativa e a questão fiscal.

Considerando a tipologia B, o conjunto de interpretações avalia que, entre as causas de 2013 (categoria I), estava uma importante expressão das contradições das políticas do lulismo: a questão urbana, que, envolvida com a ascensão da demanda pelo direito à cidade, implicava a pauta do acesso popular efetivo aos benefícios propiciados pelo patrimônio urbano e seus serviços para as camadas populares, os custos econômicos e humanos dos sistemas públicos de transporte, em especial nos grandes centros urbanos, passavam a ser vistos como um impedimento. Não à toa, ganhou força a pauta simples, mas radical – por ser inegociável –, proposta pelo MPL de São Paulo, de revogação do aumento das tarifas (Maricato et al., 2013MARICATO, Ermínia et al. Cidades rebeldes. Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do país. São Paulo: Boitempo; Carta Maior, 2013. (Coleção Tinta Vermelha). ).

Havia outras contradições do lulismo que poderiam ter sido citadas nos depoimentos, presentes na revisão bibliográfica, mas que foram secundárias como conteúdo das respostas sobre a interpretação geral acerca das Jornadas: as obras para os megaeventos esportivos, que implicavam uso duvidoso dos recursos públicos, remoções e deslocamentos forçados de populações; e efeitos limitados do acesso de jovens populares a empregos formais e à educação média e superior (Groppo et al., 2023aGROPPO, Luís A. et al. Jornadas de Junho de 2013 e repertórios de contestação: do autonomismo à ambiguidade. In: OLIVEIRA, Gustavo; DOWBOR, Monika (org.). Movimentos sociais e autonomias: imaginação, experiências e teorias na América Latina. Marília: Lutas Anticapital, 2023a. p. 203-244. , 2023b GROPPO, Luís A. et al. Subjetivações políticas em campo: itinerários juvenis e as Jornadas de Junho de 2013. Educação e Pesquisa, v. 49, e271463, 2023b. https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349271463por . https://doi.org/10.1590/S0101-33002013000300004 . Disponível em: https://www.scielo.br/j/ep/a/F3T5RGp4hKpXsnvCxmX55RC/ . Acesso em 20 jan. 2024.
https://doi.org/10.1590/S1678-4634202349...
). Ganharam mais destaque nas entrevistas as análises que trataram dos impasses do sistema político brasileiro, incluindo a original interpretação de Francisco Tavares acerca dos limites dos municípios na definição dos usos dos recursos públicos arrecadados e redistribuídos pela União (não à toa, foram os municípios e seus governantes os alvos preferenciais das manifestações iniciais das Jornadas, em geral quem administra os sistemas públicos de transporte nas cidades) (Tavares, 2022TAVARES, Francisco M. M. Tributos importam: Junho de 2013 sob o olhar da sociologia fiscal. In: TAVARES, Francisco M. M.; BALLESTRINI, Luciana; MENDONÇA, Ricardo F. (org.). Junho de 2013: sociedade, política e democracia no Brasil. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2022. p. 111-140. ). As análises trataram da perda da legitimidade do sistema político-democrático representativo diante da população, em especial de jovens, motivo de atração e sucesso de manifestações organizadas por repertórios de contestação progressistas, mas desconfiados do sistema político representativo – autonomistas e socialistas críticos ao PT.

Como principal elemento a caracterizar as Jornadas (categoria II da tipologia B), as respostas tratam da forma como jovens, ou mesmo a sociedade civil em sua plenitude, passam a considerar que o sistema político formal era incapaz de responder a suas demandas efetivas, materiais (como o direito à cidade) e simbólicas (como o anseio de participação política). Essa insatisfação passa a alimentar o recurso à expressão em manifestações de rua, inicialmente pensadas pelos movimentos progressistas que as convocaram como formas de ação direta em prol de pautas muito específicas (como a revogação do aumento das tarifas), posteriormente se alargando como palco de expressão das mais diversas pautas, cada vez mais difusas e nem sempre de caráter progressista.

Segundo Marcos Nobre, o sistema político procurou se manter blindado ante os arroubos de democracia participativa da sociedade civil, causa principal, segundo ele, do avanço e vitória de candidaturas de extrema direita, supostamente antissistêmicas, em 2018.

Junho de 2013 é, para mim, um divórcio entre o que estava acontecendo na base da sociedade e o que estava acontecendo no sistema político. Eu interpretei Junho ali, quando estava acontecendo, como um protesto contra essa maneira de funcionar do sistema político. (…) Agora, o fato de o sistema político ter se recusado a se autorreformar, isso tem consequências para o que aconteceu depois, inclusive para a eleição de Jair Bolsonaro. (Marcos Nobre, entrevista, 2023)

As consequências de 2013 são abordadas em algumas das interpretações, em especial naquelas que, ao tratar da sua complexidade, anunciam o avanço ou o oportunismo da direita e extrema direita. Isso se deu, em parte, ainda nas Jornadas, mas principalmente pela ocupação do vácuo criado pelas inócuas respostas do sistema político e econômico às crescentes crises anunciadas em 2013: a crise econômica oriunda da derrocada do capitalismo global (iniciada em 2008) e a crise de legitimidade dos sistemas políticos institucionalizados.

O fato de se buscar descentrar as entrevistas de São Paulo e mesmo do Sudeste permitiu um entendimento mais rebuscado da historicidade do ciclo de 2013. O caso do Rio Grande do Sul é exemplar: a luta contra o aumento das tarifas do transporte público, orientada pelo repertório autonomista e com apoio de socialistas críticos ao PT, se inicia em março em Porto Alegre, organizada pelo Bloco de Lutas pelo Transporte Público, movimento que foi vitorioso; entretanto, em junho, quando começam os protestos conduzidos pelo MPL de São Paulo, há um efeito contágio no país de manifestações (em muitos casos, também contra o aumento das tarifas, mas quase sempre com ampliação das pautas), inclusive com novos protestos em Porto Alegre; em junho de 2013, segundo Marcelo Kunrath Silva, o Bloco tem agora de disputar o sentido dos protestos com manifestantes das mais diversas colorações ideológicas – afora a presença de jovens das camadas populares com mais interesse nos saques a lojas; em vez de deixar a “multidão órfã”, como teria feito o MPL-SP (Ortellado, 2017 ORTELLADO, Pablo. “Cidadanismo” interrompido. Folha de S. Paulo, 20 jun. 2017. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pablo-ortellado/2017/06/1894308-cidadanismo-interrompido.shtml . Acesso em: 10 fev. 2021.
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, on line ), o Bloco de Lutas teria permanecido nas ruas nessa disputa das pautas, tendo evitado, ao menos em Porto Alegre, maior dispersão das pautas e o fortalecimento de pautas liberais e conservadoras. Ou seja, o enredo paulistano das ruas acossadas por multidões desorientadas, em parte contrabandeadas para pautas liberais e conservadoras (Singer, 2013 SINGER, André. Brasil, junho de 2013, classes e ideologias cruzadas. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 97, p. 22-40, 2013. https://doi.org/10.1590/S0101-33002013000300003 [ https://doi.org/10.1590/S0101-33002013000300004 . Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/6WV7TBcKVrbZDdb7Y8mFVZp/ . Acesso em: 20 jan. 2021.
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), não pode ser generalizado de forma apressada para todo o país.

Cada cidade teve uma dinâmica particular, específica. (…) Porto Alegre, a gente tem que entender que 2013 começa no final de 2012, porque já havia uma mobilização histórica nesse período, final do ano, porque é o período no qual começa a discussão sobre o reajuste da passagem, que vai ser em geral feito ali entre fevereiro e março. (…) em Porto Alegre, no final de 2012, se constitui o Bloco de Lutas pelo Transporte Público. E a ideia do Bloco, esse termo que vem do carnaval, (...) vem exatamente porque era uma convergência de grupos muito heterogêneos. Tinha grupos anarquistas, tinha grupos ligados a partidos de esquerda (…). Isso foi uma inovação naquele período. (Marcelo Kunrath Silva, entrevista, 2023)

O exemplo do Rio de Janeiro é patente de que houve, dentro do ‘ciclo curto’ de Junho de 2013, um outro mais longo, que se anuncia com a luta do Bloco gaúcho em março e tem continuidade na radical e longa greve de docentes do município carioca e do estado fluminense, na também longa ocupação em frente à residência do governador Sérgio Cabral e até mesmo na greve dos garis durante o Carnaval de 2014 na capital fluminense (Cava e Cocco, 2014CAVA, Bruno; COCCO, Giuseppe (org.). Amanhã vai ser maior: o levante da multidão no ano que não terminou. São Paulo: Annablume, 2014. ). O ano de 2013 foi o que teve maior número de greves, em boa parte de caráter defensivo, por meio das quais se buscava assegurar o cumprimento de direitos ou simplesmente o pagamento de salários (Braga, 2017BRAGA, Rui. Os sentidos de junho. In: BRAGA, Rui. A rebeldia do precariado: trabalho e neoliberalismo no Sul global. São Paulo: Boitempo, 2017. p. 221-244. ). Protestos contra a Copa do Mundo têm continuidade e relativa força após Junho de 2013 e mesmo em 2014, como exemplificam os protestos em Fortaleza.

Finalmente, as entrevistas no Norte e no Nordeste narram, sobretudo, um momento de irrupção de práticas políticas juvenis alternativas, inovadoras, mais participativas e mais horizontalizadas. As Jornadas serviram muito mais como uma renovação das práticas políticas progressistas do que um acontecimento resumido na tese do ‘ovo da serpente’. Segundo essa tese, 2013 foi, tão somente, e até mesmo intencionalmente, uma preparação do caminho para o impeachment de Dilma Rousseff e a eleição do candidato da extrema direita em 2018, temas tratados mais adiante neste artigo.

As entrevistas tendem a convergir para uma interpretação de 2013 como evento complexo, composto de diferentes grupos sociais em ação coletiva, no qual se fez uso de distintos repertórios de contestação e se legitimaram inúmeras pautas. Junho de 2013 percorre, entretanto, uma dinâmica semelhante à já descrita por Alonso e Mische ( 2017 ALONSO, Angela; MISCHE, Ann. Changing Repertoires and Partisan Ambivalence in the New Brazilian Protests. Bulletin of Latin American Research, v. 36, n. 2, p. 144-159, 2017. 10.1111/blar.12470. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/blar.12470 . Acesso em: 24 mar. 2023.
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): nasce progressista, juntando autonomistas e socialistas críticos ao PT e mobilizando jovens das classes populares, mas depois motiva inúmeros outros grupos sociais e etários a ocupar as ruas, trazendo pautas inúmeras e difusas, mas sob forte atração de um renascido repertório patriota, com apoio da grande mídia. O reconhecimento das Jornadas como um intenso processo de subjetivação política, ao menos nas fases iniciais e francamente progressistas do fenômeno, aparece em algumas das entrevistas, em especial nas de quem tem feito das juventudes e suas mobilizações tema de investigação. Essa interpretação – as Jornadas como processo de subjetivação política – pode contribuir para a compreensão de uma das facetas desse ciclo de ações coletivas, que, realmente, por sua complexidade, não pode ser reduzido a um único ponto: a faceta, as experiências políticas que jovens ativistas, militantes ou meros manifestantes tiveram nas ruas e as influências dessas experiências em suas formações políticas.

As Jornadas e seus legados

Uma das questões do roteiro perguntava a respeito de quais eram os legados das Jornadas e se eles poderiam ser considerados positivos ou negativos. Algo que não apareceu na entrevista-teste, portanto não sendo detectado a tempo, foi o fato de que várias das pessoas entrevistadas consideravam que o termo ‘legado’, por si só, tinha conotação positiva, o que ajuda a explicar diversas respostas que contestam a própria pergunta, substituem o termo legado por outro (como “consequências”, “transformações” e “heranças”) ou parecem indecisas em seu posicionamento.

Em parte, o número relativamente grande de respostas classificadas como “outros” no Quadro 2 se deve a esse problema na formulação da questão. São sete depoentes, a categoria de maior frequência. Entretanto, ao esmiuçar as respostas, verificaram-se interessantes elementos para a análise. Entre essas respostas, três disseram que os legados ainda estão em disputa ou não são suficientemente visíveis. Apenas uma resposta diz que, do ponto de vista do seu campo de pesquisas, 2013 não deixou legados relevantes (nem positivos, nem negativos). Destaca-se aqui a posição de Francisco Tavares que, ao classificar 2013 como um “acontecimento” – de complexas conotações –, considera que a resposta sobre os seus legados vai depender da pergunta que se faça.

Junho não é o golpe que se dá depois, como Junho tampouco é a libertação da juventude contra as amarras da burocracia petista. Junho é algo como um “acontecimento”, como o Ricardo Fabrini diz (...), que condensa, que manifesta de maneira muito clara uma conflituosidade de um tempo, de modo que todas essas leituras acadêmicas têm a sua força de verdade, dependendo do tipo de problema que pretendem resolver. Então eu não posso, simplesmente, descartaras leituras mais apaixonadas, não posso descartar as leituras extremamente críticas, mas eu preciso tentar contextualizá-las quanto a que tipo de perguntas elas respondem adequadamente. (Francisco Tavares, entrevista, 2023)

Quadro 2 -
Legados das Jornadas de 2013 segundo as pessoas entrevistadas - 2023

Desta forma, é possível considerar que a proeminência da categoria “outros” como resposta aos legados das Jornadas de 2013 se deve, antes de tudo, ao fato de que a maioria das pessoas entrevistadas reconhece a complexidade desse ciclo de protestos. Vislumbra-se desde já que, se houve interpretações mais bem definidas a respeito dos sentidos de 2013 entre as pesquisadoras e os pesquisadores, que inclusive tendem a confluir sobre suas causas e características, o mesmo não ocorre quanto às supostas heranças trazidas pelo evento. As pessoas entrevistadas reconhecem a disputa intensa dos sentidos de 2013 quanto à história pregressa do país, retratam a diversidade de interpretações feitas e suas relações tensas com o próprio campo político-partidário – diante da interpretação de que 2013 continha tão somente o ‘ovo da serpente’, feita pelo PT.

Como dito, entretanto, apenas um depoente considerou que as Jornadas não tiveram legado ou impacto consequente – sendo que ela apenas se referiu ao seu campo de pesquisa, das políticas públicas. Demais depoentes se dividiram entre quem apontou legados considerados por elas e eles como positivos (cinco pessoas) e entre quem apontou legados em parte positivos, em parte negativos (seis pessoas).

Ao listar os aspectos positivos citados por estas 11 pessoas – as seis que indicaram também aspectos negativos, mais as cinco que apenas indicaram legados positivos – pode-se dividir esses legados em duas categorias: legados relacionados às pautas; e legados relativos à participação política, esses mais abundantes nas respostas. Em relação às pautas, que se veriam influentes não apenas em novos movimentos sociais, mas nas políticas públicas e até mesmo nas campanhas eleitorais, tem-se, basicamente, a visibilidade de pautas novas ou outrora pouco visíveis, como o transporte público, incluindo o avanço do tema da tarifa zero, a mobilidade urbana e o direito à cidade. Em relação à participação política, os legados citados são: continuidade de manifestações progressistas, demonstração da capacidade de mobilização popular, reconhecimento pelas novas gerações do potencial das mobilizações juvenis, ampliação das possibilidades de participação política das pessoas, com o questionamento das formas tradicionais de fazer política, politização da sociedade civil, aprendizado do fazer político no espaço público e de instrumentos das políticas públicas sobre o espaço urbano, proliferação e diversificação dos coletivos e descoberta de que é possível fazer mudanças por meio da política, o que trouxe “a abertura de horizonte para a esperança” (Paulo Arantes, entrevista, 2023).

Essa questão do transporte público se tornou central. E hoje você tem prefeituras que têm uma preocupação essencial com a questão do transporte público e do acesso ao transporte público, ainda muito precarizado. Mas já se fala em gratuidade de uma maneira mais tranquila, uma coisa que era inimaginável. Então se colocaram pautas em 2013, que ficaram. No espaço público, nas políticas públicas. (Bárbara Lou Dias, entrevista, 2023)

Muitos jovens foram socializados politicamente em 2013 com essa ideia de antipolítica institucional, antissistema. (…) Eu trabalho com os legados de Junho de 2013 e a formação do que a gente disse que são novas formas de organização, embora tenha uma novidade, carrega muito de ideias antigas, que é essa crítica à hierarquia das instituições políticas tradicionais, como os partidos políticos, e um recado de que todas as instituições políticas devem ser abertas, abertas à diversidade, à entrada de mulheres, negros, jovens, moradores de periferia, de modo interseccional. (Olívia Perez, entrevista, 2023)

Os pontos negativos citados giram em torno da ascensão da direita e extrema direita nos anos seguintes, com depoentes adotando posições tais como: considerar que o que foi feito (ou não foi feito) da energia popular desperta nas Jornadas é que pavimentou o avanço da direita nos anos seguintes, como a forma como o PT lidou com as demandas das Jornadas após sua vitória eleitoral em 2014 e como o sistema político se blindou contra as reformas exigidas pela sociedade civil; considerar que 2013 promoveu transformações sociais e políticas que favoreceram a médio prazo a extrema direita, na forma de contramovimentos que se opuseram às pautas progressistas dos movimentos que iniciaram as Jornadas ou que cresceram graças a elas; e considerar que a fase massiva das Jornadas ampliou a visibilidade da extrema direita ou possibilitou sua ascensão, incluindo o aprendizado por esse campo político de formas espetaculares do uso das novas tecnologias de informação e comunicação.

Eu acho que o movimento de junho era irrepresentável e não foi representado por ninguém, e esse é um dos enigmas, e aí se tem todo um debate se ele foi constituinte; com certeza ele foi desconstituinte. Agora, (…) o fato de ser irrepresentável fez com que nenhuma força política conseguisse representar, aqui no Rio pelo menos – o PSOL [Partido Socialismo e Liberdade] tentou lidar com junho, até apoiar os ativistas, os midiativistas, mas não conseguiu representar esse momento, ninguém conseguiu – e, em cima disso, o movimento foi pacificado com sucesso pela hegemonia Lula ou petista, poderíamos dizer. (Giuseppe Cocco, entrevista, 2013)

A categoria com a segunda maior frequência no Quadro 2 tem seis depoentes, que apontaram legados tanto positivos quanto negativos. Tal qual se observou na caracterização das interpretações acerca das Jornadas, essa categoria evidencia a história de um ciclo de protestos que é inicialmente progressista, capaz de trazer pautas inovadoras (como a mobilidade urbana e o direito à cidade), bem como de propor e efetivar novas formas de participação política, mas que acabou abrindo espaços ou pavimentando vias que ajudaram a ascensão da extrema direita na política nacional. Entretanto, a posição de cinco depoentes que listaram apenas aspectos positivos abre espaço para uma interpretação mais otimista das Jornadas, segundo a qual se busca também dissociá-las do avanço da extrema direita nos anos seguintes, e até mesmo dissociá-las da ameaça de derrocada do próprio sistema democrático representativo (por meio de um duvidoso processo de impeachment que afastou Dilma Rousseff em 2016).

A categoria mais proeminente, a dos ‘outros’, apresenta a complexidade das Jornadas como justificativa para não ser possível apontar taxativamente heranças positivas ou negativas de 2013, considerando também que tal resposta necessita de determinado ponto de vista para ser respondida, ou seja, deve ser feita com base em um determinado problema de pesquisa, e não de forma genérica.

Considerações finais

Neste artigo, comunicaram-se os principais resultados da pesquisa “Dimensões educacionais das Jornadas de 2013”, quando 18 pesquisadoras e pesquisadores concederam entrevistas nas quais foram provocadas reflexões, hipóteses e considerações acerca das dimensões educacionais desse ciclo de protestos.

Como visto, entre os resultados destacam-se, primeiro, as necessidades acadêmicas de interpretação de 2013 para explorar temas de pesquisa como movimentos sociais, ações coletivas e participação política das juventudes. Essas interpretações convergem nas causas apontadas e na complexa dinâmica do ciclo de protestos, distinguindo-se um pouco mais no que se refere à avaliação dos legados das Jornadas. Elas permitem formular importantes considerações para a pesquisa, a respeito dos processos de formação política de jovens e a configuração de demandas no campo da educação.

A se considerar o objetivo geral da presente pesquisa, que trata das dimensões educacionais das Jornadas, as respostas dadas nas entrevistas indicam interessantes resultados, sobre percepções das e dos pesquisadores sobre 2013. Esses resultados, cotejados com algumas referências bibliográficas, tratam, primeiro, da socialização política ou formação política de jovens propiciada pelas Jornadas; segundo, das inovações trazidas pelas pautas de 2013.

Sobre a formação política ou socialização política promovida entre jovens pela experiência de participar de 2013, tem-se, de um lado, a constituição de uma unidade de geração progressista que realizou ou inspirou novos movimentos juvenis progressistas (Corrochano, Dowbor e Jardim, 2018 CORROCHANO, Maria Carla; DOWBOR, Monika; JARDIM, Fabiana. Juventudes e participação política no Brasil do século XXI: quais horizontes? Laplage em Revista, Sorocaba, v. 4, n.1, p. 50-66, 2018. https://doi.org/10.24115/S2446-6220201841436p.50-66 . Disponível em: https://repositorio.usp.br/item/003047777 . Acesso em: 24 mar. 2023.
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), como as ocupações de escolas em 2015 e 2016, e que esteve na contramão do avanço da extrema direita, tentando evitar a eleição da candidatura vencedora em 2018 (na campanha Ele Não!) e se organizando contra a reeleição do presidente em 2022, agora com mais êxito; de outro, o fato de uma enorme quantidade de pessoas irem para as ruas, em especial ao longo de junho de 2013, sem maiores definições acerca das pautas que as mobilizavam, nem dos objetivos dos protestos, pode ter levado a um desejo de participação política que foi canalizado, nos anos seguintes, por candidaturas e pautas da direita e extrema direita, que se apresentaram como se fossem antissistema. De toda forma, trata-se de legados que significaram maior politização da sociedade civil e das jovens gerações, muitas vezes se orientando aos extremos do espectro político: a extrema direita, capaz de eleger muitas de suas candidaturas; tendências autonomistas e socialistas à esquerda do PT, que vieram a apoiar ou a se aliar, afinal, ao menos no segundo turno do pleito, às candidaturas do PT à presidência desde 2014.

A respeito das pautas ou demandas educacionais que ficaram como legado das Jornadas, as mais explícitas nas respostas, espelhando a sua força na fase inicial de 2013, estiveram ligadas ao transporte público e, como derivação, ao direito à cidade. Pautas educacionais apareceram de forma genérica na fase massiva, ou, antes, como justificativa para as críticas ao uso dos recursos públicos para financiar os megaeventos, em especial na construção de estádios para a Copa do Mundo (“Queremos escolas e hospitais padrão Fifa!”). O ímpeto progressista das pautas e demandas educacionais das Jornadas parece ter sido muito presente nos movimentos de ocupações de escolas nos anos seguintes, ainda que tenham sido campanhas, sobretudo, de rechaço a políticas educacionais regressivas propostas por governos estaduais e pelo governo do recém-empossado Michel Temer, após o impeachment de Dilma Rousseff.

Esses resultados, no que se referem às experiências de formação política da juventude e às pautas inovadoras, referendam a relevância da abordagem das Jornadas desde o conceito de subjetivação política de Jacques Rancière ( 1996RANCIÈRE, Jacques. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996. ). O ano de 2013 é um momento de afirmação de sujeitos políticos – jovens que organizam e engrossam manifestações do MPL, por exemplo – e de preparo para novos momentos – como o das ocupações estudantis de 2015 e 2016 e suas e seus ‘secundas’ ou ‘ocupas’. Mas 2013 também é um momento de politização (ou repolitização) de temas de interesse público que haviam sido mantidos nas mãos de tecnocratas ou de oligarquias de alcova, em especial o transporte público; a pauta da redução das tarifas; e a capacidade de jovens ativistas contestarem tecnicamente as planilhas de custo do transporte público levaram à legitimação de um novo direito social: o ‘direito à cidade’, importante legado das Jornadas para os anos seguintes.

Referências

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  • Como citar:

    GROPPO, Luís A. et al. Interpretações das dimensões educacionais das Jornadas de 2013: debates, sentidos e legados. Trabalho, Educação e Saúde , Rio de Janeiro, v. 22, 2024, e02837271. https://doi.org/10.1590/1981-7746-ojs2837
  • Aspectos éticos Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Unifal-MG, com o CAAE 54907522.1.0000.5142.
  • Financiamento
    Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) e Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).
  • Apresentação prévia Não se aplica.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Out 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    24 Mar 2024
  • Aceito
    17 Jul 2024
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