EDITORIAL
Este número de Trabalho, Educação e Saúde publiciza reflexões e análises que evidenciam a linha editorial deste periódico, principalmente no que diz respeito à busca da totalidade social para se pensar a formação em saúde. Isso se traduz em textos que abordam as questões de maneira que não fiquem apartadas as políticas econômicas e sociais das políticas de educação do trabalhador da saúde, não ignorando as inflexões que promovem no cotidiano do trabalho educativo e do trabalho na saúde.
O ensaio "Análisis del contexto político, social y económico como base para la formación de personal técnico de salud en América Latina", de autoria de Miguel Márquez, historiza a formação de técnicos da saúde, ressaltando os desvios mediante o contexto político, econômico e social e suas imbricações com as concepções e modelos hegemônicos na saúde.
"Educação e saúde: ensino e cidadania como travessia de fronteiras" é o título do artigo de Ricardo Burg Ceccim e Alcindo Antônio Ferla. Analisa o caminho percorrido entre as áreas da educação e da saúde até a "emergência de um domínio de conhecimento designado por Educação e Ensino da Saúde". Os autores destacam nesse processo a educação permanente em saúde como fator significativo para a integração ensino-saúde-cidadania.
Vera Joana Bornstein e Eduardo Navarro Stotz são os autores do artigo "O trabalho dos agentes comunitários de saúde: entre a mediação convencedora e a transformadora", que tem como questão central as formas de mediação presentes no cotidiano do trabalho do agente comunitário de saúde, a partir da premissa de que "a função mediadora desempenhada pelos agentes pode ser de grande importância na mudança do modelo assistencial, na medida em que assuma um caráter transformador", e que "entende a educação popular como um caminho para o fortalecimento desta forma de mediação e para a mudança do modelo assistencial".
Os autores Jacob Carlos Lima e Fernanda Flávia Cockell, no artigo "As novas institucionalidades do trabalho no setor público: os agentes comunitários de saúde", refletem as relações sociais de trabalho no âmbito da categoria dos agentes comunitários de saúde, em um cenário de flexibilização e vulnerabilidade social do trabalhador.
"Formação profissional no SUS: oportunidades de mudanças na perspectiva da Estratégia de Saúde da Família" é o título do texto de Roberta Kaliny de Souza Costa e Francisco Arnoldo Nunes de Miranda, que trata das transformações na formação profissional em saúde diante da Estratégia Saúde da Família e do Sistema Único de Saúde.
"A Globalização capitalista e formação profissional em saúde: uma agenda necessária ao ensino superior", de autoria de Verônica Santos Albuquerque e Karen Mary Giffin, examina o impacto da globalização capitalista contemporânea e suas inflexões sobre a educação profissional em saúde e possibilidades de ruptura com o trabalho alienado acentuado por esse modelo capitalista.
Solange Baraldi, Monica Yolanda Padilla Díaz, Wagner de Jesus Martins, Daniel Alvão de Carvalho Júnior são os autores do artigo "Globalização e seus impactos na vulnerabilidade e flexibilização das relações do trabalho em saúde", que analisa a situação do mercado de trabalho no setor saúde brasileiro sob o contexto da globalização, partindo da proposição do aumento da flexibilização laboral e do caráter vulnerável da população.
O artigo "Ideologias do capital humano e do capital social: da integração à inserção e ao conformismo", de Vânia Cardoso da Motta, analisa as noções ideológicas da teoria do capital social como um dos componentes das políticas introduzidas nos países de 'capitalismo dependente', na virada do século, conduzidas pelos principais organismos multilaterais e materializadas nas 'políticas de desenvolvimento do milênio', as PDMs. Segundo a autora, "No âmbito da educação, compreende-se que esse processo de ajuste vai deflagrar uma nova etapa de rejuvenescimento da ideologia do capital humano que alarga as atribuições da escola e restringe a dimensão política que insere a ação pedagógica".
A seção Debate se debruça sobre o tema 'financiamento da saúde' e tem como texto-base o artigo "Federalismo fiscal e financiamento descentralizado do SUS: balanço de uma década expandida", de autoria de Luciana Dias de Lima. Na mesma seção, Ana Luiza d'Ávila Viana, no texto "Financiamento da saúde: impasses ainda não resolvidos", dialoga com o de Luciana, segundo a autora "mediante a apresentação de resultados parciais e inéditos de um estudo, realizado no período 2006-2008, sobre estratégias de financiamento da atenção básica em municípios com mais de 100 mil habitantes do estado de São Paulo". Também referido ao tema em questão, no artigo intitulado "Os problemas de gestão do SUS decorrem também da crise crônica de financiamento?", Carlos Octávio Ocké-Reis tece considerações a partir da proposta de que "o aumento de recursos financeiros é uma precondição para negarmos o SUS da 'não-universalidade' e da 'não-descentralização', para que ele não negue si mesmo enquanto direito social". Sulamis Dain, no artigo "Os impasses do financiamento fiscal do SUS", ressalta o potencial de desconstrução das relações federativas do SUS analisado por Luciana Dias de Lima.
Na seção Relato, no texto intitulado "Vivência de educação em saúde: o grupo enquanto proposta de atuação", Rosilda Veríssimo Silva, Priscila Pimentel Costa e Jocemara Souza Fermino apresentam uma experiência de educação em saúde em grupo, realizada em uma unidade de saúde da família na cidade de Joinville, em Santa Catarina.
A entrevista deste número de Trabalho, Educação e Saúde é com Nelson Rodrigues dos Santos (Nelsão), conhecida liderança na luta pela democracia e pela reforma sanitária brasileira. Graduado em medicina e com doutorado em medicina preventiva pela Universidade de São Paulo, respectivamente em 1961 e 1967, foi professor titular de Saúde Coletiva na Universidade Estadual de Londrina e Consultor da Opas/OMS. Atualmente, Nelsão é professor colaborador da Universidade Estadual de Campinas e presidente do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (Idisa).
Por fim, a revista apresenta duas resenhas. A primeira, escrita por Márcia de Oliveira Teixeira, sobre o livro Mais trabalho!: a intensificação do labor na sociedade contemporânea, de Sadi Dal Rosso. A segunda, escrita por Ramón Peña Castro, sobre o livro O emprego no desenvolvimento da nação, de Marcio Pochmann.
Isabel Brasil Pereira
Angélica Ferreira Fonseca
Carla Macedo Martins
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
23 Out 2012 -
Data do Fascículo
2008