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LETRAMENTO SEM FRONTEIRAS: AS MINÚCIAS DE GRANULARIDADE FINA DAS INTERAÇÕES SOCIAIS QUE TANTO IMPORTAM (TAMBÉM PARA PROMOVER LETRAMENTO EM SAÚDE)

RESUMO

Este artigo explora a granularidade das minúcias interacionais envolvidas em promover letramento em saúde em interações médicas. Mais especificamente, explora os recursos interacionais multimodais (verbais e não-verbais) que profissionais em saúde e participantes leigas mobilizam para atribuir sentido a imagens fetais ultrassonográficas. Adotamos a perspectiva etnometodológica da Análise da Conversa Multimodal (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1974SACKS, H.; SCHEGLOFF, E.; JEFFERSON, G. (1974). A simplest systematic of turn-taking. Language, 50, pp. 696-735.; GOODWIN, 1981GOODWIN, C. (1981). Conversational organization: interaction between speakers and hearers. New York: Academic Press. ; 2010GOODWIN, C. (2010). Action and embodiment within situated human interaction. Journal of Pragmatics, 32, pp. 1489-1522.; MONDADA, 2018MONDADA, L. (2018). Multiple Temporalities of Language and Body in Interaction: Challenges for Transcribing Multimodality. Research on Language and Social Interaction, v. 51, n. 1, p. 85-106.) para investigar 10 interações que foram gravadas em áudio e vídeo durante exames de ultrassonografia fetal, realizadas em uma ala de atendimento a gestações de médio e alto risco em um hospital público no Brasil. Nosso objetivo é ‘tornar visíveis’ os etnométodos multimodais que os/as interagentes empregam para transformar as imagens ultrassonográficas em ‘textos’ inteligíveis. Dentre os diversos recursos semióticos mobilizados para alcançar intersubjetividade, focamos nossa análise no uso que as profissionais fazem de símiles e na importância fundamental da temporalidade em que os recursos (verbais e não-verbais) são acionados no processo de tornar as imagens inteligíveis. Assim, almejamos trazer para este número temático especial as vantagens que a perspectiva analítica da Análise da Conversa Multimodal pode oferecer à discussão sobre multiletramentos e, de forma prática, ao avanço do letramento em saúde. Em contextos médicos, o letramento em saúde pode (e talvez deva!) ser uma preocupação constante. Nesse sentido, não deveria haver ‘fronteiras’ para o que constitui algo como fonte ou recurso de letramento em saúde. Assim, defendemos as seguintes posições: (i) de que imagens ultrassonográficas constituem materiais a serem ‘lidos’ e entendidos - também por participantes leigos/as; (ii) de que profissionais em saúde podem (e talvez devam) promover o letramento em saúde entre pacientes através de esforços interacionais para tornar as imagens ‘legíveis’; e finalmente, (iii) de que a interação social é um dos loci constitutivos para promoção de eventos de multiletramento.

Palavras-chave:
letramento em saúde; multiletramentos; interação social

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