RESUMO
Embora o discurso científico do século XX tenha descartado o afeto por considerá-lo não científico, e apesar de tal posição haver sido contestada por pensadores como Nietzsche e Spinoza, apenas recentemente pôde-se argumentar cientificamente que o afeto é inseparável tanto da cognição quanto da própria construção do conhecimento. Este artigo objetiva analisar como minhas próprias práticas tradutórias foram mediadas pelo afeto ao traduzir para o português brasileiro o diário de Virginia Woolf. O projeto foi conduzido como parte de minha pesquisa de doutorado, durante a qual minha ideia inicial de “imparcialidade” na tradução caiu por terra perante os manuscritos do diário woolfiano. Diante de um texto que até então eu só conhecia impresso e de forma impessoal, de uma obra teoricamente de natureza privada, escrita ao longo de 44 anos, com suas lacunas, borrões e caligrafia oscilante, não me foi mais possível não tomar posição. Este artigo pretende contribuir para os estudos sobre tradução e afeto pensando possibilidades de utilizar a indecidibilidade de Derrida como estratégia tradutória, valendo-se de meu processo de tradução dos diários de Woolf como ilustração, ao mesmo tempo em que busca refletir como a teoria do afeto pode expandir considerações anteriores feitas pela própria Woolf e por pensadores como L. Zimmermann, G. Spivak e H. de Campos.
Palavras-chave:
afetos; práticas tradutórias; Virginia Woolf; escritas de si