Acessibilidade / Reportar erro

MEDIAÇÃO DA RESISTÊNCIA AO FASCISMO CONTEMPORÂNEO NO YOUTUBE: EVOCANDO DISSIDÊNCIAS NO RAP BRASILEIRO

RESUMO

Nos últimos anos, uma mudança crescente nas relações políticas, sociais e culturais mais progressistas em direção a uma visão conservadora retrógada está em andamento em boa parte do mundo. Uma postura política fascista (STANLEY, 2018STANLEY, J. (2018). How fascism works: the politics of us and them. New York: Random House.) tem sido observada em diferentes partes do globo e diferentes políticos têm sido capazes de reunir seguidores insatisfeitos com economias em decadência nos seus países, geralmente recorrendo a um discurso do “nós contra eles”. Tal insatisfação encontrou terreno fértil em plataformas de mídia social como, por exemplo, Facebook e WhatsApp, e elevou as tensões em torno dessas questões a um nível jamais visto anteriormente. Na eleição presidencial de 2018 no Brasil, tensões semelhantes foram alimentadas por um candidato com um discurso autoritário, xenófobo e misógino. Mais importante, porém, esse discurso autoritário não deixou de ser contestado e as mesmas plataformas de mídia social foram palco de resistências a ele, como, por exemplo, o movimento #elenão, criado no Facebook pelo grupo “Mulheres Unidas contra o Bolsonaro”, e o movimento hip hop no Brasil, que lançou canções de protesto e um manifesto chamado “Rap pela Democracia” no YouTube. Neste artigo, selecionamos um videoclipe em particular, ‘Primavera Fascista’, para apresentar uma análise multimodal de como a resistência ao discurso daquele candidato foi construída, com foco nos recursos visuais, sonoros, musicais e linguísticos (KRESS, 2010KRESS, G. (2010). Multimodality: a social semiotic approach to contemporary communication. London: Routledge.; MACHIN, 2010MACHIN, D. (2010). Analysing Popular Music: Image, Sound, Text. London: Sage.) utilizados. Partindo de uma visão da linguagem como performativa (PENNYCOOK, 2004PENNYCOOK, A. (2004). Performativity and language studies. Critical inquiry in Language Studies: An International Journal. V. 1, No. 1, pp. 1-19.; 2007PENNYCOOK, A. (2007). Global Englishes and transcultural flows. London: Routledge.), usamos os construtos teórico-analíticos de entextualização (BAUMAN & BRIGGS, 1990BAUMAN, R. & BRIGGS, C. (1990). Poetics and performance as critical perspectives on language and social life. Annual Review of Anthropology. V. 19, pp. 59-88.) e indexicalidade (BLOMMAERT, 2005BLOMMAERT, J. (2005). Discourse. Cambridge: Cambridge University Press.; 2010BLOMMAERT, J. (2010). The sociolinguistics of globalization. Cambridge: Cambridge University Press.) para discutir como este rap é um intenso exercício discursivo de reflexividade metapragmática sobre os efeitos performativos de uma série de declarações fascistas produzidas pelo candidato.

Palavras-chave:
fascismo social; resistência; mídias sociais; Rap/Hip Hop

UNICAMP. Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) Unicamp/IEL/Setor de Publicações, Caixa Postal 6045, 13083-970 Campinas SP Brasil, Tel./Fax: (55 19) 3521-1527 - Campinas - SP - Brazil
E-mail: spublic@iel.unicamp.br