Resumo
Neste artigo, abordo a ideia de negação da coetaneidade e como ela toma forma em discursos da mídia e em pressupostos epistemológicos dos estudos da linguagem para os quais uma “identidade indígena autêntica” se faz importante. Para isso, inicio a discussão apresentando um caso radical e violento de materialização da negação da coetaneidade indígena na imprensa brasileira e busco, na sequência, aprofundar a compreensão desse conceito, desde seu contexto original de crítica interna à Antropologia, até sua apropriação e ampliação pelos estudos decoloniais. Desde esse aparato teórico, apresento instâncias de sua implementação em outros discursos jornalísticos hegemônicos no Brasil com os objetivos de demonstrar como essa negação é estratégica e atende a interesses supralocais que fazem com que circulem facilmente na sociedade. Finalmente, apresento a hipótese de que a negação da coetaneidade é implementada, talvez de forma mais sutil e naturalizada, em pressupostos teóricos dos estudos da linguagem que se dedicam às línguas e situações sociolinguísticas indígenas. Para isso, relato uma pesquisa empírica, de caráter metateórico, cujos resultados tendem a confirmar essa hipótese.
Palavras-chave:
negação da coetaneidade; povos indígenas; identidade