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TRADUZIR A IDENTIDADE FEITO MANTEIGA: O FRANCÊS BEUR

RESUMO

A palavra francesa arabe («árabe») está na origem do termo francês beur que foi criado em verlan para designar as pessoas nascidas na França cujos pais ou avós eram imigrantes vindos do Magrebe. Depois de uma breve descrição sobre como esse termo foi formado dentro da língua francesa durante a década de oitenta do século passado, este artigo começará questionando a razão de a forma feminina ser beurette e não beure. Na sequência, apresentaremos como alguns tipos muito específicos de tradução da identidade do Outro foram realizadas em outros tempos colonizados. O fato de beur ser um homófono perfeito de beurre (manteiga) em francês acarreta uma série de consequências simbólicas que se resumem na nula vontade política do governo francês de traduzir, adequada e corretamente, todos os pertencimentos da identidade mestiça das pessoas nascidas na França com origens magrebinas, em prol de uma suposta “integração” republicana francesa. Assim, no uso coloquial da língua francesa, foram criados, em verlan, dois neologismos (beur e beurette) que, dada a sua dificuldade de tradução, foram exportados para outras línguas como empréstimos lexicais, mas a correta interpretação desses termos deixa muito a desejar. No final do artigo, apresentamos uma reflexão crítica, a título de conclusão, sobre os termos beur e beurette como «intraduzíveis» no sentido apontado por Barbara Cassin, propondo como podemos resolver a aparente contradição de traduzir «o intraduzível» quando quem traduz e interpreta sabe situar-se «entre» línguas e culturas, graças à noção de paratradução.

Palavras-chave:
identidade; paratradução; transculturalidade; mestiçagem; beur, beurette

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