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APRESENTAÇÃO

Neste número 50 (1) da Revista Trabalhos em Linguística Aplicada, anunciamos uma ampliação da Comissão Editorial, que passa, a partir de agora, a contar com dois editores-chefe, Profas. Dras. Matilde Virginia Ricardi Scaramucci e Maria José R. F. Coracini, e uma editora assistente, Profa. Dra. Maria Rita Salzano Moraes.

Informamos, também, outra mudança, que diz respeito ao segundo volume do ano, dedicado, já há algum tempo, a um tema específico sob a organização de um(a) ou mais colegas. A partir do próximo ano, o segundo volume terá caráter misto: conterá um dossiê sobre um tema a ser escolhido pelas editoras e anunciado na página da revista, assim como uma parte geral, visando maior fluidez aos artigos submetidos à publicação.

As normas editoriais foram revistas no que se refere aos resumos. Um deles deverá ser escrito na língua do artigo e o outro em inglês, assim como as palavras-chave. Se o artigo for escrito em inglês, um dos resumos deverá ser em português.

Voltando-nos mais especificamente para o número em questão, temos doze artigos, que, como sempre, apresentam temas variados (identidade do brasileiro, ensinoaprendizagem de língua estrangeira, ensino-aprendizagem de língua portuguesa e tradução) e diferentes linhas teóricas, escritos por pesquisadores de diferentes universidades, cidades e estados do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Paraíba, Goiás e Minas Gerais), além de dois provenientes de diferentes países da América Latina: um, do México e outro, do Chile, o que, uma vez mais, confere ao periódico o estatuto de internacional. Tal variedade dá a medida do retrato e riqueza do Brasil e, quiçá, da América Latina, em termos de Linguística Aplicada, heterogênea em sua própria constituição, fazendo jus à classsificação Qualis 1 A da CAPES .

Inicialmente, temos três textos que versam, de modos diferentes, sobre a constituição identitária do brasileiro. O primeiro, de Wânia Terezinha Ladeira e Elaine Luzia da Silva, ambas da Universidade Federal de Viçosa (MG ), fundamentado em teorias da Sociolinguística Interacional e em técnicas da Análise da Conversação, investiga a construção de identidade que emerge da produção discursiva dos consumidores nas audiências de conciliação de um Juizado Especial Cível de Relações de Consumo de uma cidade mineira. A pesquisadora concluiu que as posições identitárias assumidas são, por um lado, de vítima (o reclamante) e, por outro, de vilão.

O segundo, de Anderson S. Magalhães, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM ), que distingue memória objetiva de memória subjetiva, com base em Bakhtin, assume uma abordagem discursiva capaz de trabalhar a constituição identitária de uma nação, no caso a brasileira, através da análise dos primeiros periódicos a circularem no Brasil (A Gazeta do Rio de Janeiro e o Correio Braziliense), tomando-os como "metonímias da postura ética assumida por cada projeto discursivo editorial". Assim, conclui que essesjornais revelam a tensão ética e discursiva, que funda a imprensa brasileira e contribui para a construção de possibilidades identitárias nacionais.

O terceiro, de Lucielena Mendonça de Lima, da Universidade Federal de Goiás(UFG), tem por objetivo discutir os conceitos relacionados com a educação interculturalno processo de ensino-aprendizagem de espanhol como língua estrangeira no ensinomédio brasileiro, buscando observar, em contexto pedagógico, se, em contato com aheterogeneidade linguístico-cultural hispano-americana, o brasileiro volta-se para si e aprende a conhecer-se melhor.

Os seis artigos a seguir versam sobre a língua inglesa, abordando aspectos identitários e pedagógicos, com ênfase em livros didáticos, seguidos de dois outros sobre a aquisição de línguas estrangeiras.

O primeiro desse grupo, de autoria de Valdeni da Silva Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG ), Lucienne de Castro Silva (Escola Estadual São Sebastião - EESS) e Ana Márcia Melo Soares Torres (Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade – EM CDA / Fundação de Ensino de Contagem / FUNE C) parte de uma discussão, sempre relevante, a respeito da relação entre teoria e prática na formação de professores de língua inglesa, analisando diários de duas professoras de inglês participantes de um projeto de pesquisa-ação com o intuito de observar possíveis deslocamentos nas posições subjetivas de cada uma e como esses deslocamentos se dão na constituição identitária e como emergem em sala de aula.

O segundo artigo desse bloco, de autoria de Marília Mendes Ferreira, da Universidade de São Paulo (USP), analisa o livro didático da série Interchange para o ensino de inglês como língua estrangeira. O foco recai sobre a escrita que, via de regra, assume o vocabulário e a gramática como aspectos mais relevantes, camuflados por estratégias como o uso de termos das orientações pedagógicas mais atuais. Assim, a escrita é tomada como "demonstração de conhecimento gramatical e de vocabulário [...], prática mecânica de uso da língua descontextualizada, padronizada" que prescinde de modelos ou amostras.

Com base na análise do discurso enquanto atividade multidisciplinar, fazendo referência a Bakhtin, Chouliaraki, Fairclough e Halliday, Danielle de Almeida Menezes, da Universidade Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisa o dizer de professores universitários de literaturas de língua inglesa, que foram entrevistados para identificar como caracterizavam seu discurso sobre literatura e ensino. Metodologicamente, a análise se baseia em ferramentas da Linguística de Corpus. A pesquisadora identifica cinco dimensões para caracterizar o discurso dos participantes: ontológica, metodológica, institucional, cognitiva e sócio-histórica.

A seguir, ainda utilizando a ferramenta da Linguística de Corpus, o artigo de autoria de Eduardo Batista da Silva, da Universidade Estadual de Goiás (UEG ) e Maurizio Babini, da Universidade do Estado de São Paulo (UNES P – São José do Rio Preto), tem por objetivo primeiro mostrar, através da análise quantitativa e qualitativa a pertinência do que a autora denomina "ferramentas linguístico-computacionais (WordSmith Tools e VocabProfile) a fim de sugerir alternativas práticas para o ensino de língua inglesa, colaborando, assim, para a elaboração de material didático. Para tal, o corpus da pesquisa foi constituído de material escrito na língua inglesa em diversas áreas de especialidade. Dentre os resultados, salienta-se a capacidade dos programas Wordsmith Tools juntamente com o VocabProfile em fornecerem dados importantes para a pesquisa na área da linguagem.

Por sua vez, o texto intitulado "Pontos de possível diálogo entre aprendizado multimodal e ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras", de autoria de Miguel Angel

Faria, Katica Obilinovic e Roxana Orrego, os três da USA CH, de Santiago do Chile, constitui-se, num primeiro momento, de uma resenha de modelos socio-semióticos de aquisição, que os autores relacionam com a aprendizagem de uma segunda língua; em seguida, são descritos e discutidos pontos de convergência entre o modelo teórico escolhido e a aprendizagem de segunda língua, para, finalmente, apresentar alguns estudos realizados em torno da aprendizagem multimodal como exemplos do diálogo entre a aprendizagem multimodal e o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras.

Dando prosseguimento à aquisição do português como língua estrangeira, desta vez no plano da fonética, Marianne Akerberg, da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), examina a capacidade dos estudantes de língua portuguesa da UNAM de distinguir os padrões de entonação de afirmações e perguntas do tipo sim / não em português, considerando que as duas línguas apresentam diferenças, sobretudo no modo de perguntar. A título de conclusão, são oferecidas propostas que possam facilitar a aquisição dos traços supra-segmentais no ensino das duas línguas em questão.

O último grupo contém dois artigos que versam sobre a língua portuguesa. Assim, o texto de Renilson José Menegassi, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), consiste em apresentar resultados de uma pesquisa sobre livros didáticos de língua portuguesa. As duas coleções mais utilizadas no Noroeste do Paraná foram analisadas, no que diz respeito às propostas de produção de textos escritos, considerando, sobretudo, a imagem e a influência do interlocutor. Uma coleção apresentou propostas de produção sem definição de interlocutores, enquanto a outra leva em consideração a interlocução, ao mesmo tempo em que tenta eliminar a artificialidade da escrita na escola.

O penúltimo artigo, intitulado "Mobilização de práticas letradas na produção de palestras: uma análise de redações de vestibular", de autoria de Elizabeth Maria da Silva e Denise Lino de Araújo, ambas da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), elenca os seguintes objetivos: (1) observar que práticas letradas são requeridas na produção da palestra proposta na prova de redação aplicada no vestibular da UFCG, em 2007; (2) analisar as associações entre as práticas letradas mobilizadas nas palestras e o histórico de letramento dos candidatos. Pesquisa descritivo-interpretativa de cunho qualitativo, o corpus se constitui de dados provenientes da análise da prova de redação aplicada no vestibular, de uma amostragem de palestras produzidas, do questionário socioeconômico e cultural respondido pelos candidatos e da entrevista semi-estruturada realizada com esses candidatos. Os resultados da pesquisa apontam para a presença de multiletramento na prova e indiciam que a história de letramento dos candidatos é fator decisivo para a mobilização de práticas letradas na tarefa de produção de textos.

Finalmente, um artigo sobre o uso da tradução no ensino de línguas estrangeiras, de Ruth Bohunovsky (UFPR, Paraná). Depois de propor quatro aspectos metodológicos, a autora argumenta a favor de uma metodologia de sala de aula que contemple a tradução como estratégia para o ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras. Ela reconhece que, em geral, predomina, na sala de aula, um conceito de tradução enraizado no senso comum – visão que tem sido questionada há décadas por estudiosos do assunto. Sugere, portanto, um diálogo mais intenso entre a área do ensino de línguas estrangeiras e os estudos da tradução.

A Comissão Editorial

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Ago 2011
  • Data do Fascículo
    Jun 2011
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