RESUMO
Os estudos sobre populismo tendem a entender o populismo como um fenômeno puramente político (MUDDE; KALTWASSER, 2017; MÜLLER, 2016). A categorização de alguém como populista ou não é em muitos casos apenas baseada numa avaliação do discurso, estilo ou mesmo ideologia. É muito mais raro encontrar abordagens do populismo centradas na relação entre política e mídia, em particular meios digitais (exceções bem-vindas são CESARINO, 2019 e SILVA, 2019). Ao longo deste artigo, argumentarei que não podemos compreender plenamente o populismo sem nos concentrarmos em pormenor na forma como os populistas e outros constroem efetivamente a voz populista, como se comunicam em diferentes plataformas como os “verdadeiros representantes do povo”. Isto significa, inevitavelmente, ter em conta a paisagem mediática em mutação como um contexto-chave que molda o populismo contemporâneo. O sistema híbrido das mídias, suas lógicas midiáticas, seus meios de comunicação e a sua cultura de conectividade têm de ser considerados quando se tenta dar sentido ao populismo e à política em geral no século XXI.