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APRENDENDO COM O SUBALTERNIZADO: O QUE MARIA LINDALVA NOS ENSINA SOBRE A IDEOLOGIA HEGEMÔNICA DO SENSO COMUM E A SELEÇÃO DE TEXTOS PARA MATERIAIS DIDÁTICOS DE INGLÊS?

RESUMO

No âmbito dos materiais didáticos para o ensino crítico e vocacional de línguas, a escrita de materiais que vão ao encontro dos objetivos profissionais no ensino público médio-técnico integrado e comprometido com a agenda da educação crítica para a formação cidadã merece devida atenção. Se, por um lado, o Letramento Crítico consubstancia práticas de engajamento com a mudança social (LUKE; FREEBODY, 1997LUKE, A.; FREEBODY, P. (1997) Critical literacy and the question of normativity: an introduction. In: Muspratt, S.; Luke, A.; Freebody, P. (org.), Constructing critical literacies: teaching and learning textual practices. New Jersey: Hampton Press Inc., Cresskill, pp. 1-17.), a promoção de oportunidades para o desenvolvimento de um olhar crítico a respeito de ideologias, culturas, economias, instituições e sistemas políticos dominantes (TILIO, 2013TILIO, R.C. (2013). Repensando a abordagem comunicativa: multiletramentos em uma abordagem consciente e conscientizadora. In: Rocha, C.H. e Maciel, R.F. (org.), Língua estrangeira e formação cidadã: por entre discursos e práticas. São Paulo: Pontes Editores, pp. 51-67.; 2017TILIO, R.C. (2017) Ensino crítico de língua: afinal, o que é ensinar criticamente? In: Jesus, D.M.; Zolin-Vesz, F.; Carbonieri, D. (org), Perspectivas críticas no ensino de línguas: novos sentidos para a escola. Campinas, SP: Pontes Editores, pp. 19-31.), e o exame de nosso locus de enunciação para que sejamos capazes de desaprender nossos lugares de privilégios e aprender com o subalternizado (ANDREOTTI, 2007ANDREOTTI, V. (2007). An ethical engagement with the other: Spivak’s ideas on education. Critical Literacies: Theories and Practices. v.1, nº 1, pp. 69-79, July 2007. Available at: http://www.criticalliteracyjournal.org/cljournalissue2volume1.pdf. Access on: 10 Jan. 2016.
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); por outro lado, os materiais didáticos disponíveis para cursos técnicos de nível médio parecem não levar em consideração tais premissas, especialmente a última. Com o intuito de preencher essa lacuna, escrevi uma unidade didática (Society Matters?) para aprendizes do 3º ano do ensino médio-técnico, em que a autobiografia de Maria Lindalva, uma ex-ativista sem-terra subalternizada, cria oportunidades de discussão acerca dos ideais de trabalho, esforço e sucesso que desafiam a ideologia hegemônica do senso comum. Por meio da bricolagem construtivista (DENZIN; LINCOLN, 2005) envolvendo sua vídeo-autobiografia, a referida unidade didática, as memórias dos meus encontros pedagógicos com os aprendizes de 2015 a 2018, e duas linhas de interpretação que foram levantadas no seu decorrer, examinei em que medida os discursos a respeito da narrativa de Maria Lindalva refletem e refratam ideologias do capitalismo neoliberal, contribuindo com o desenvolvimento da postura crítica e a seleção de textos para materiais didáticos de ensino de línguas. Os resultados demonstraram que as análises que validam as realizações de Maria Lindalva podem ser confrontadas com o ponto de vista de sua relação com a escassez (SANTOS, 2017SANTOS, M. (2017). Toward an other globalization: from the single thought to universal conscience. Switzerland: Springer.), o que favoreceu o desenvolvimento da postura crítica dos aprendizes; e, finalmente, que foi possível avançar em sua narrativa para mostrar o que Maria Lindalva nos ensina sobre seleção de textos para unidades didáticas destinadas ao ensino crítico de línguas.

Palavras-chave:
Letramento crítico; Ideologia hegemônica do senso comum; escrita de materiais didáticos

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