A hilária trama de Les nègres du traducteur, romance de Claude Bleton publicado na França em 2004, permite-nos explorar as relações que tradutores estabelecem com seus autores e originais. O texto de Bleton é particularmente útil para uma discussão de algumas noções relacionadas a teorias contemporâneas do texto e da tradução que giram em torno da noção nietzschiana de "morte do autor". Aaron Janvier, narrador e protagonista de Bleton, é um escritor frustrado que consegue se transformar em um importante tradutor de romances espanhóis para o francês, cujo gosto pelas estratégias domesticadoras de tradução faz dele uma figura poderosa nos círculos editoriais de Paris, Madri e Barcelona. À medida que conquista mais e mais influência no mundo editorial, Janvier não hesita em transformar os autores que traduz em seus "nègres", ou seja, em ghostwriters encarregados de escrever os "originais" que devem ser estritamente fiéis às "traduções" que ele lhes envia. Quando alguns dos autores começam a questionar essa situação peculiar, Janvier os elimina sumariamente. Por meio de um exame detalhado da caracterização que Bleton faz do tradutor como um assassino, este artigo propõe uma reconsideração de alguns clichês que estão associados ao tradutor, ao seu trabalho e à suposta impropriedade de sua íntima relação com textos e autores.
tradução; impropriedade; Claude Bleton; Les nègres du traducteur