RESUMO
Este artigo propõe uma indagação sobre as escritas fragmentárias frequentadas por autores da América Latina nos séculos XX e XXI. Trata-se de práticas de escrita que se configuram no trânsito entre a anotação, a crônica, o diário e o ensaio, num movimento discursivo que tende a apagar as distinções entre literatura e vida. Ainda que a fragmentação seja reconhecível como estratégia discursiva crítica de uma modernidade literária que, como diz Jacques Rancière, fez da corrosão do próprio conceito de literatura seu fundamento, cabe colocar a pergunta acerca das inflexões que ela assume nos dias de hoje, em que a literatura parece abandonar seus foros específicos e, em um movimento de identificação com a experiência e o mundo, colocar em xeque a autonomia estética. Em diálogo com uma reflexão teórica sobre as escritas fragmentárias, que contempla os aportes de Lacoue-Labarthe, Nancy, Barthes, Blanchot e Rancière, o artigo traça um percurso por escritas fragmentárias da América Latina que convoca os nomes de Macedonio Fernández, Ricardo Piglia, Salvador Elizondo, Mario Levrero, dentre outros autores.
Palavras-chave:
Fragmento; Escritura; Comunidade