Acessibilidade / Reportar erro

Dezessete: a Maçonaria dividida

Resumos

O artigo analisa a especificidade e peculiaridade da maçonaria pernambucana, suas divergências em relação aos pedreiros-livres flumineneses, e a participação dos mações na revolução de 1817. Fugindo ao controle do Grande Oriente Lusitano, a maçonaria de Pernambuco esteve no centro dos projetos para o novo governo da capitania, depois da vitória da insurreição. As diferenças entre as várias correntes políticas que abrigava fez com que as propostas para o novo regime pudessem variar muito, passando da radicalidade republicana à restauração do pacto dos Bragança com a capitania. Longe de ser sepatatista, o movimento pretendia preservar a autonomia local no âmbito do Estado que surgisse com o colapso da monarquia absoluta, fosse este um Império constitucional luso-brasileiro ou uma monarquia liberal na antiga América Portuguesa.


This article analyses the specific characteristics of the Masonry of the state of Pernambuco, in particular its divergences with the Mansonry of the state of Rio de Janeiro and the participation of freemasons in the Revolution of 1817. The Pernambucan Masonry escaped the control of the Grande Oriente Lusitano and, after the triumph of the insurrection, played a key role in the formulation of new projects for the government of the capitania. Given the ample spectrum of political forces it hosted, its political proposals for the new regime ranged from the republican radicalism to the restoration of the pact of the Braganças with the capitania. Rather than cultivating separatism, it intended to preserve local autonomy in the face of the new state that would presumably emerge from the collapse of the absolutist monarchy, be it a constitutional Luso-Brazilian empire or a liberal monarchy based on the former Portuguese possessions in America.


Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

  • 1
    A. H. de Oliveira Marques. História da maçonaria em Portugal. i, Das origens ao triunfo, Lisboa, 1990, p. 109.
  • 2
    Documentos históricos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. ciii, pp.109-10.
  • 3
    Documentos históricos, ciii, pp.109-10; cvii, pp. 201,234, 240, 258.
  • 4
    4Oliveira Marques, op. cit., p.74.
  • 5
    L.-F. de Tollenare. Notes dominicales. 3 vols., Paris, 1971-1973, ii, pp.548, 550,592,610.
  • 6
    Dias Martins. Os mártires pernambucanos. Recife, 1853, p. 5; Muniz Tavares. História da revolução de Pernambuco em 1817. 3a. ed., Recife, 1969, p.83.
  • 7
    Dias Martins, op. cit., p.51.
  • 8
    Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. São Paulo, 2001, p. 141; Muniz Tavares, op. cit., pp.60-1; Documentos históricos, cv, pp.96-7.
  • 9
    Documentos históricos, cviii, 70, 89.
  • 10
    Tollenare, op.cit., ii, p. 576.
  • 11
    Documentos históricos, cvii, p. 232.
  • 12
    "Outros documentos sobre a revolução pernambucana de 1817". Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, xxx, 1 (1867), p. 117.
  • 13
    João Alfredo Correia de Oliveira. Minha meninice e outros ensaios. Recife, 1988, p. 64; "Outros documentos sobre a revolução pernambucana de 1817", p. 118.
  • 14
    Outros documentos sobre a revolução pernambucana de 1817', p. 118.
  • 15
    Ibid., pp.161-2.
  • 16
    Documentos históricos, ci, p.126
  • 17
    Ibid., civ, p. 154.
  • 18
    "Outros documentos sobre a revolução pernambucana de 1817", pp.121-2.
  • 19
    Dias Martins, op. cit., p.13.
  • 20
    Francisco Solano Constâncio. História do Brasil, 2 vols., Paris, 1839, ii, p.207.
  • 21
    Muniz Tavares, op.cit., p. 174.
  • 22
    Melo Morais. História do Brasil Reino e do Brasil Império, 2 vols., Belo Horizonte, 1982, i, p. 475. Sobre a pretendida participação do conde dos Arcos, ver Oliveira Lima. D. João VI no Brasil, 3a. ed., Rio de Janeiro, 1996, p. 502; Sebastião Pagano. O conde dos Arcos e a revolução de 1817, São Paulo, 1938.
  • 23
    23Tollenare, op.cit., iii, p. 863.
  • 24
    24Jean-Baptiste de Lesseps ao duque de Richelieu, 20.v.1817; Tollenare, op.cit., iii, p. 897.
  • 25
    Oliveira Lima. D. João VI no Brasil, passim; J. F. de Almeida Prado. D. João VI e o início da classe dirigente do Brasil, 1815-1889. São Paulo, 1968, p.112.
  • 26
    Mello Moraes, op.cit., i, pp. 456-7, 464-6.
  • 27
    Oliveira Marques, op.cit., i, pp.195-6, 291.
  • 28
    Oliveira Marques, op. cit., i, pp. 288-9; Graça e J.S. da Silva Dias. Os primórdios da maçonaria em Portugal, i, 2, Lisboa, 1980, pp. 510,654.
  • 29
    Para a posição da grande burguesia lusitana, Valentim Alexandre. Os sentidos do Império. Questão nacional e questão colonial na crise do Antigo Regime português, Lisboa, 1993, pp. 392-410.
  • 30
    Documentos históricos, iii, pp.110,127.
  • 31
    Tollenare, op.cit., ii, p. 596, iii, p.662.
  • 32
    Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, 42 (1948-1949), p. 92.
  • 33
    Dias Martins, op. cit., p. 320.
  • 34
    M. Arruda da Câmara. Obras reunidas, Recife, 1982, p. 259.
  • 35
    Dias Martins, op. cit., pp.320-1.
  • 36
    Muniz Tavares, op.cit., p. 87.
  • 37
    Dias Martins, op.cit., pp.320-1.
  • 38
    Ibid., pp.317-20.
  • 39
    Gonçalo de Mello Mourão. A revolução de 1817 e a história do Brasil. Belo Horizonte, 1996, p. 148.
  • 40
    Sérgio Buarque de Holanda. "A herança colonial. Sua desagregação", História geral da civilização brasileira. O Brasil monárquico.i, Rio de Janeiro, 1962, p.16.
  • 41
    Tobias Monteiro. O Primeiro Reinado, 2 vols., Rio de Janeiro, 1939, i, p.108.
  • 42
    Citado por Mello Mourão, op.cit., p. 260.
  • 43
    Henry Chamberlain a lord Castlereagh, 28.iii.1817, Tollenare, op.cit., iii, pp. 857-8.
  • 44
    Carlos de Alvear a Matias de Irigoyen, 25.iv.1817, Tollenare, op.cit., iii, p.863.
  • 45
    Lord Castlereagh a Lord Stuart, 4.vi.1817, citado por Mello Mourão, op.cit., p. 258.
  • 46
    Documentos históricos, ciii, pp. 39-40.
  • 47
    Tollenare, op.cit., ii, p.568.
  • 48
    Documentos históricos, cviii, p.278.
  • 49
    Tollenare, op.cit., iii, p.854.
  • 50
    Documentos históricos, cix, p.265.
  • 51
    51Tollenare, op.cit., iii, 664; Muniz Tavares, op.cit., p. 36.
  • 52
    Oliveira Lima, notas a Muniz Tavares, pp.317-8.
  • 53
    Muniz Tavares, op.cit., pp.151-2.
  • 54
    Documentos históricos, cviii, pp.277-8.
  • 55
    Dias Martins, op.cit., p.318.
  • 56
    O projeto de lei orgânica em Documentos históricos, civ, pp.16-23; Muniz Tavares, op.cit., pp.377-83; Frei Caneca, pp. 441-5. Ao publicar o projeto em 1824, frei Caneca observaria que o texto que lhe fora fornecido parecia-lhe que "está truncado, ainda que em poucas coisas", ibid., p.445
  • 57
    Muniz Tavares, op.cit., p.152. Ao escrever sua história de Dezessete, o autor não devia tê-lo à mão, pois o refere como havendo abolido "a pluralidade de indivíduos no poder executivo, o qual devia ser temporário e eleito pela massa dos eleitores", ibid. Na realidade, o projeto já se achava pronto a 29 de março, quando foi remetido às câmaras para ser aprovado.
  • 58
    Documentos históricos, civ, p. 95. Aqui também a memória traiu Muniz Tavares, para quem o projeto de lei orgânica devia ser objeto apenas de discussão pelos "homens notáveis dos seus distritos", p. 152.
  • 59
    Dias Martins, op. cit., p. 54; Muniz Tavares, op. cit., pp.152-3.
  • 60
    Dias Martins, p. 54. A consulta às Câmaras ao projeto de lei orgânica realizou-se nos primeiros dias de abril, enquanto a declaração sobre os escravos já havia sido feita dias depois do 6 de março, Tollenare, op. cit., ii, p.568.
  • 61
    Muniz Tavares, op. cit., p. 152.
  • 62
    Dias Martins, op. cit., p. 318.
  • 63
    Ibid., ibid.
  • 64
    Gláucio Veiga. História das idéias da Faculdade de Direito do Recife, i, Recife, 1980, p. 281.
  • 65
    Tollenare, op.cit, ii, p.568.
  • 66
    Pierre Rosanvallon. Le sacre du citoyen. Paris, 1992, pp. 98-100.
  • 67
    Tollenare, op.cit., ii, p.575.
  • 68
    François Furet e Mona Ouzouf. Dictionnaire critique de la Révolution française. Acteurs, Paris, 1992, verbete Condorcet.
  • 69
    Pierre Rosanvallon, op.cit., pp.46ss. Posteriormente, Condorcet admitiria que o proprietário de imóvel urbano pudesse ser assimilado ao proprietário rural.
  • 70
    Tollenare, op.cit., ii, p.568.
  • 71
    Rosanvallon, op.cit.,p. 61.
  • 72
    Muniz Tavares, op.cit., pp.153-4.
  • 73
    Documentos históricos, ci, p.155.
  • 74
    Documentos históricos, ci, p.123.
  • 75
    Dias Martins, op.cit., p.320.
  • 76
    Muniz Tavares, op.cit., pp. 114-5.
  • 77
    Documentos históricos, civ, p. 87, cii, p.10.
  • 78
    78Joaquim Nabuco. Um estadista do Império. 4a. ed., Rio de Janeiro, 1975, p.113.
  • 79
    79 Fernando de Azevedo. Canaviais e engenhos na vida política do Brasil. 2a. ed., São Paulo, s/d, pp. 119-20.
  • 80
    Tollenare, op.cit., iii, p.647.
  • 81
    Francisco Sierra y Mariscal. "Idéias gerais sobre a revolução do Brasil e suas conseqüências", 1823, Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, 43-4 (1920-1921), p. 62.
  • 82
    Documentos históricos, cvii, p.231; Frei Caneca, op. cit., pp.253-6. Como detentores dos manuscritos da "Nobiliarquia pernambucana", redigida em meados do século XVIII por A.J.V. Borges da Fonseca, os beneditinos eram frequentemente solicitados a expedirem certidões de nobreza.
  • 83
    J. A. Gonsalves de Mello. "Nobres e mascates na Câmara do Recife, 1713-1738". Revista do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, 53 (1981), pp. 146-7.
  • 84
    Gilberto Freyre. Sobrados e mucambos. 8a. ed., Rio, 1990, p. 574.
  • 85
    Ao contrário do que afirma Fernando de Azevedo, Manuel Correia de Araujo era um grande proprietário, como senhor do engenho Camaragibe, embora sua família tivesse tido origem mercantil em Pernambuco.
  • 86
    Oiveira Lima. D. João VI no Brasil. p. 513.
  • 87
    Dias Martins, op.cit., p.328.
  • 88
    Arruda da Câmara. Obras reunidas. p. 264.
  • 89
    Proclamação do governo provisório, s/d, Mello Moraes, op. cit., i, 471.
  • 90
    Ibid., 9.v.1817, Mello Moraes, op.cit., i, p.476. Por erro provavelmente de copista, a proclamação aparece dirigida aos "pernambucanos do norte", quando, na realidade, destinava-se aos do sul, como se infere do contexto e das próprias circunstâncias de Dezessete e confirma o depoimento de Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, que se refere à proclamação "dirigida aos habitantes do Ceará e aos do sul", redigida pelo padre Miguel Joaquim de Almeida e Castro, "Outros documentos sobre a revolução pernambucana de 1817", op. cit., p.136.
  • 91
    Muniz Tavares, op.cit., p.174.
  • 92
    Ibid., p. 175; Tollenare, op.cit., iii, p. 641; Dias Martins, op.cit.,p.59.
  • 93
    Muniz Tavares, op.cit., p. 174.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2002
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro Largo de São Francisco de Paula, n. 1., CEP 20051-070, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel.: (55 21) 2252-8033 R.202, Fax: (55 21) 2221-0341 R.202 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: topoi@revistatopoi.org