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Diálogos catequéticos coloniais: cena textual versus performance

RESUMO

Objetiva-se demonstrar a aplicação de preceitos retóricos quando da composição de diálogos catequéticos no Estado do Brasil, correlacionando-se a enunciação jesuítica sobre a participação de índios na fatura das traduções dos catecismos para as línguas peregrinas do Novo Mundo - o que indiciaria a presença de uma fala índia ainda rumorejante nesses diálogos -, e o estilo pedestre próprio do gênero "diálogo", com vistas a patentear como essa correlação produz o efeito da "naturalidade da fala selvagem" e, também, o da falta de aplicação de artifício compositivo por parte dos padres da Companhia de Jesus. Discute-se, outrossim, como a "cena" em que dialogam catequista e catecúmeno fixa um modelo para posterior replicação em situações de prática catequética, "cena" essa que, no entanto, era infletida de vários modos pelo hiato entre modelo textual e performance. Por fim, discute-se como a escritura de diálogos, ao se apropriar da fala índia, só o faz para nela inscrever as matérias sacras, as verdades da fé católica, que caberá ao índio, por repetição e interiorização do que repetidamente enuncia, inscrever em si mesmo como duplo do catecúmeno que, nos diálogos, é um seu reflexo perfeito, reflexo que, no entanto, se embacia quando da prática catequética pela impossibilidade de o índio "atuar" como o modelo mimético que o representa à sua revelia.

Palavras-chave:
retórica epidítica; catequização; Estado do Brasil; diálogos; Aristóteles; ­Poética.

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