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A superação intuitiva da metafísica: o kantismo de Bergson1 1 "La relève intuitive de la métaphysique: le kantisme de Bergson." Texto originalmente publicado em RIQUIER, C.; WORMS, F. Lire Bergson. Paris: PUF, 2011, p. 35-59. Tradução de Débora Morato Pinto. Nota da tradutora sobre o título: o termo "superação" foi escolhido para a tradução de "relève", substantivo cujo significado mais direto é "substituição" ou "revezamento", mas, derivado do verbo "relever", que possui entre os seus significados "reconstruir", "reerguer", "retomar", "remontar", "sublinhar", "substituir", "revezar". A dificuldade em traduzi-lo envolve ainda o sentido preciso que o autor do artigo intencionou, e que se refere à noção hegeliana de Aufhebung, por sua vez, referida ao verbo aufheben. O título remete, portanto, diretamente a Hegel e à ideia de um movimento imanente do pensamento, pelo qual se ultrapassa um "anterior", suprimindo-o, ao mesmo tempo em que o conserva, realizando virtualidades nele contidas, talvez sob um outro ponto de vista. Riquier cita explicitamente o verbo aufheben e seu duplo sentido: "ultrapassar" e "realizar". Poderíamos traduzir "relève" por "retomada" ou "reconstrução", mas as considerações aqui apresentadas nos encaminharam para "superação" como opção mais adequada. A tese central do artigo confirma a adequação dessa escolha, pois se trata de defender que Bergson supera a Crítica da Razão Pura e retoma a metafísica, no ponto em que o filósofo alemão a abandonou, mas levando em consideração os limites que a crítica kantiana lhe impôs e através de um processo de conhecimento presidido pela intuição da duração. Sobre o sentido hegeliano, ver PERTILLE, J. Aufhebung, meta-categoria da lógica hegeliana. Revista Eletrônica Estudos Hegelianos, Ano 8, n. 15, p. 58-66, dez. 2011.

The intuitive overcoming of metaphysics: Bergson’s Kantianism

Resumo:

O texto aqui apresentado analisa aspectos relevantes da complexa relação que Bergson estabelece com Kant. Defende-se a hipótese de que Bergson não pode ser considerado mero adversário do filósofo alemão, mas seu projeto filosófico tem como objetivo retomar a metafísica, levando em consideração os limites que a crítica kantiana lhe impôs. Nesse sentido, a Crítica da Razão Pura, à qual Bergson dedicou sua atenção, serve de guia e apoio para a colocação das questões propriamente metafísicas, as quais a filosofia da duração busca responder. Procuramos mostrar também que, se Bergson criticou Kant em vários momentos da sua obra, foi apenas na medida em que a Crítica o impedia e impedia os outros de avançar. A relação entre as interdições kantianas para a razão especulativa e as ilusões da inteligência dissolvidas em A Evolução Criadora revela como Kant condensa ilusões que existiam antes dele e que, nesse sentido, Bergson não é nem pré-crítico, nem pós-kantiano. Em suma, defendemos que Bergson desloca as análises críticas e rompe com Kant do interior de sua filosofia, que ele divide em duas tendências - uma que ele rejeita, como antiga, outra da qual ele se apropria.

Palavras-Chave:
Bergson; Metafísica; Kant; Crítica; Duração; Intuição

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