Resumo:
O artigo trata do fenômeno da cura segundo a apropriação fenomenológica do livro X feita por Martin Heidegger no curso friburgense intitulado Augustinus und der Neuplatonismus (SS1921). Pretendemos apresentar o fenômeno da tentação e a historicidade do si: segundo a apropriação genuína do ser da vida de Agostinho, a “tentatio” (Versuchung) se torna expressão da mobilidade da existência histórico-atuativa, que jamais pode ser compreendida como “quietude”. É a vida mesma que, assumida em sua totalidade, representa uma “tentação”, uma provação - entendida em sentido ontológico-existencial - na medida em que indica o “como” (Wie) da atuação da facticidade. Na procura deste “como” originário surge a interrogação fundamental do que vem a ser a vida para si mesma: quaestio mihi factus sum (fiz de mim mesmo uma questão). Descortinamos na perda de si do “eu sou” o processo da temporalização como deformitas, como o defluxus na distração, como a queda no “inautêntico”. Com base nesta apropriação contemporânea do ser da vida de Agostinho chegaremos ao âmago do fenômeno da cura, compreendendo o curare como caráter fundamental da vida fática e reconhecendo na procura de Deus a constituição da facticidade e da cura de si que nesta procura se expressa.
Palavras-chave:
Cura; Vida; Fenomenologia; Cristianismo das origens; Facticidade