Resumo:
O presente artigo recupera algumas das reflexões realizadas por diferentes autoras e discursos feministas sobre a relação materialidade-maternidade, na história da filosofia, mais precisamente, a partir do empreendimento colonial-moderno. Nesse sentido, o texto vale-se da obra de Saidiya Hartman, Perder a mãe, como um fio metafórico sobre a destruição de laços com a terra, de parentesco, de memória, para concluir pela perda irrecuperável de toda e qualquer mãe - também nos termos da psicanálise lacaniana -, a fim de contemplar a recuperação da mãe como um mater-nar1 2 Utilizo o neologismo “mater-nar”, inspirado na tese de Alice Gabriel (2022), de modo a pontuar, junto à autora, a relação existente na história da filosofia entre o feminino e a matéria. Trata-se, no caso presente, de uma desconfiança em relação ao gênero da materialidade, ao passo que o conceito procura operacionalizar os traços, rastros de inscrições ausentes, de algo que talvez pudesse ter sido do âmbito do material, mas não o é. Trata-se, portanto, de mater-nar a opacidade. a opacidade, por meio da produção escrita de mulheres. Na primeira parte do texto, apresenta-se a metáfora materna no debate filosófico; na segunda parte do texto, as referências à colonialidade da figura materna, em função da investigação sobre o trabalho das mulheres negras escravizadas, na constituição das sociedades modernas, via feminismos negros e decoloniais, e, logo em seguida, também através do debate da psicanálise lacaniana sobre a inscrição da letra no corpo de suas filhas; para, finalmente, na quarta parte, fechar o texto com algumas considerações sobre como imaginar o que seria um trabalho de escrita realizado com base na recuperação de um corpo forcluído pela colonialidade.
Palavras-chave:
Colonialidade; Maternidade; Opacidade; Feminismo; Escrita.