Acessibilidade / Reportar erro

De volta à Argélia. A encruzilhada etnossociológica de Bourdieu1 1 . Discuti uma versão anterior do presente artigo com Frédéric Vandenberghe, a quem agradeço as valiosas sugestões. Também gostaria de agradecer a três coletivos nos quais pude debater as ideias sociológicas de Bourdieu ao longo dos últimos dois anos. O primeiro deles foi a animada turma da disciplina “Sociologia e Saúde: o pensamento de Pierre Bourdieu”, que tive a chance de ministrar no Programa de Pós-graduação em Alimentos, Nutrição e Saúde da Unifesp graças à iniciativa do meu amigo Juarez Furtado. Transitando da Baixada Santista para Barão Geraldo, agradeço também ao Grupo de Estudos em Bourdieu (Gebu), reunido no Departamento de Sociologia da Unicamp, o convite a participar de alguns de seus eventos e atividades. Menciono explicitamente, entre os bourdiólogos de Barão, Laura Luedy, Juliana Miraldi, Matheus Silveira, Michel Nicolau e Renato Ortiz. Deixando São Paulo e aterrissando na Bahia, mando um aceno gratíssimo às minhas amigas e amigos do núcleo de Estudos em Corporeidades, Sociabilidades e Ambientes (Ecsas) do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da UFBA. O fato de que, ali, o eixo Tarde-Deleuze-Latour seja bem mais influente do que o eixo Durkheim-Bachelard-Bourdieu não apenas não me impediu de receber do Ecsas uma acolhida calorosa, mas também tornou meu contato com a sociologia sotero(cosmo)politana mais fecundo e minha vida em Salvador mais divertida. Por último, mas nem um pouco menos importante, dedico o artigo, com gratidão amorosa, a Cynthia Hamlin.

Back to Algeria: Bourdieu’s ethnosociological crossroads

Resumo

Os anos de aprendizado “etnossociológico” de Pierre Bourdieu na sociedade argelina têm sido objeto de um interesse acadêmico renovado. Inspirado por questões oriundas dessa literatura recente, o presente artigo explora, primeiramente, como as experiências de Bourdieu em uma Argélia atravessada pela guerra influenciaram os princípios teóricos e metodológicos de sua sociologia madura. Em segundo lugar, o texto mostra que os escritos bourdieusianos de juventude sobre as turbulências históricas por ele presenciadas naquela sociedade exibem temas e perspectivas que destoam das imagens mais comuns do seu trabalho: o assentimento prático à dominação característico da “violência simbólica” dá lugar à resistência aberta, a “cumplicidade ontológica” entre disposições subjetivas e circunstâncias objetivas dá lugar ao seu descompasso histórico, enquanto a suspeição de princípio diante das representações dos agentes leigos dá lugar a uma alta confiança analítica em longos testemunhos pessoais. Conectando as investigações sociológicas de Bourdieu ao seu uso da fotografia, a terceira seção examina as múltiplas funções que a prática de tirar fotos desempenhou em suas excursões etnográficas a comunidades argelinas. Por fim, o ensaio apresenta a conexão entre motivos da teoria da modernização e das teorias do (neo)colonialismo como uma das primeiras sínteses operadas por Bourdieu em sua carreira intelectual.

Pierre Bourdieu; Argélia; Fotografia; Etnografia; Colonialismo

Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, 05508-010, São Paulo - SP, Brasil - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: temposoc@edu.usp.br