Resumo
O artigo busca compreender as condicionantes para a criação da Associação Francesa de Sociologia (AFS) em 2002. Em um primeiro momento faz-se uma reconstituição histórica das agremiações sociológicas francesas anteriores à AFS. Em seguida, analisa-se o contexto que antecedeu a criação da AFS, observando o desprestígio da sociologia e sua fragilidade institucional a partir de um caso exemplar: a polêmica causada pela defesa de tese da astróloga Elizabeth Teissier. Por fim, analisam-se as diversas motivações dos envolvidos com a criação da AFS e algumas mudanças ocorridas ao longo dos seus vinte anos até tornar-se uma associação com forte presença de jovens pesquisadores.
Palavras-chave:
Sociologia dos intelectuais; História da sociologia; Sociologia Francesa.
Abstract
The article seeks to understand the social conditions for the creation of the French Sociological Association (AFS) in 2002. At first, a historical reconstitution of French sociological associations prior to the AFS is made. Then, the context that preceded the creation of the AFS is analyzed, observing the discredit of sociology and its institutional fragility based on an exemplary case: the controversy caused by the defense of the thesis of astrologer Elizabeth Teissier. Finally, we analyze the various motivations of those involved in the creation of AFS and some changes that occurred over its twenty years until it became an association with a strong presence of young researchers.
Keywords:
Sociology of intellectuals; History of sociology; French sociology.
Introdução
Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla que busca comparar a institucionalização da sociologia no contexto francês e brasileiro1
1
O projeto “Globalização das sociologias francesa e brasileira: agentes, instituições, temáticas”, aprovado no edital Capes/Cofecub-2019, é coordenado pelos professores Carlos Benedito Martins (UnB) e Fréderic Lebaron (ENS/Paris-Saclay). Devo agradecer especialmente a Lucas Pereira Page, Mélanie Sargeac e Lidiane Rodrigues, integrantes da equipe e que contribuíram muito com a leitura e comentários à primeira versão deste texto.
. Para refletir sobre a história da sociologia a partir de uma perspectiva transnacional, segundo Gisèle Sapiro, seria necessário observar quatro processos distintos, porém relacionados: a institucionalização acadêmica, a profissionalização, a autonomização de um campo científico e a ascensão do mercado editorial (Sapiro, 2018SAPIRO, G. (2018), “Entre o nacional e o internacional: O surgimento histórico da sociologia como campo”. Sociedade e Estado, 33: 349-372. Disponível em https://doi.org/10.1590/S0102-699220183302003.
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, p. 351).
Buscarei reconstruir aqui, no entanto, sobretudo para o caso francês, a profissionalização da sociologia a partir da história das associações. Nesse sentido, o caráter transnacional da pesquisa coletiva, ainda em andamento, está em segundo plano e o que será apresentado é um estudo do caso francês. Olhar para o momento de fundação e para a história da Associação Francesa de Sociologia (AFS) nos ajuda a compreender como a sociologia pode assumir formas específicas de vida institucional e profissional.
O artigo está subdividido em três movimentos. O primeiro trata de uma reconstrução histórica das duas principais associações que antecederam a AFS, o Instituto Frances de Sociologia (IFS) e a Sociedade Francesa de Sociologia (SFS). Num segundo momento, o contexto imediato da criação da Associação Francesa de Sociologia na virada dos anos 1990 aos 2000 será reconstruído a partir do mal-estar entre jornalismo e academia presente tanto nas análises de Pierre Bourdieu quanto no caso emblemático da astróloga Elizabeth Hanselmann-Teissier, que defendeu uma tese controversa em sociologia. O Affaire Teissier pode ser tomado como um exemplo da tensão e do desprestígio da disciplina percebidos pelos sociólogos e um catalisador para a fundação da AFS. A terceira seção do texto é dedicada a compreender as diferentes motivações internas ao campo sociológico francês e as dinâmicas que se estabelecem na AFS após sua fundação. Acompanharemos as composições de suas diretorias e as mudanças de alguns dos atributos daqueles que as integraram.
Instituto Francês de Sociologia e Sociedade Francesa de Sociologia: precursores da Associação Francesa de Sociologia
Em cada contexto nacional, sociólogos encontraram maneiras específicas para institucionalizar a sociologia. Segundo Sapiro, na França a sociologia se organizava entre escolas concorrentes e heterogêneas em seu recrutamento e em sua formação social, o que teria retardado a fundação de uma associação profissional (Sapiro, 2018SAPIRO, G. (2018), “Entre o nacional e o internacional: O surgimento histórico da sociologia como campo”. Sociedade e Estado, 33: 349-372. Disponível em https://doi.org/10.1590/S0102-699220183302003.
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, p. 353).
Conforme observa Heilbron (1983HEILBRON, J. (1983), “Note sur L’Institut Français de Sociologie”. Etudes Durkheimiennes, 9-14., p. 9), a sociologia francesa no entreguerras não apresentava nem os traços de um projeto, como foi na primeira série de L’Anée Sociologique, nem os traços de uma disciplina plenamente estabelecida, dotada de uma certa autonomia com relação às demais e ao campo intelectual. A sociologia era uma disciplina dominada e institucionalmente marcada por uma estagnação dos postos e do número de teses defendidas, apesar de ser intelectualmente prestigiosa e beneficiária de uma onipresença difusa. Ela era trabalhada em diversos cursos, mas sempre de forma tangencial. Estava em toda parte e, do ponto de vista institucional, em lugar algum.
A Primeira Guerra Mundial interrompeu a publicação da revista L’Anée Sociologique e atingiu seriamente muitos dos integrantes do grupo durkheimiano. Mesmo com o fim do conflito, eles não tinham condições materiais e humanas de reativar a revista. Foi por meio da oferta de uma subvenção para publicações feita pela Confederação das Sociedades Científicas que o grupo, em 1924, se reorganiza, cria o Instituto Francês de Sociologia e retoma as atividades da revista. Portanto, com a finalidade de captar subvenções e financiamentos complementares para voltar a publicar a revista L’Année Sociologique, o IFS foi fundado. Entre 1924 e 1962 - após o nascimento da sociologia universitária, mas antes da expansão da disciplina com o estabelecimento de uma licença autônoma em 1958 -, o Instituto Francês de Sociologia, formado basicamente por durkheimianos, foi a principal associação de sociólogos atuante na França. No entanto, como aponta Heilbron (2015HEILBRON, J. (2015), French sociology. Ithaca, New York, Cornell University Press., p. 96), sua composição era heterogênea (entre seus integrantes havia psicólogos, historiadores, linguistas, etnólogos, cientistas políticos), refletindo o prestígio, mas também a dependência da sociologia pelo reconhecimento das disciplinas vizinhas. Desse modo, o IFS não se tornou a organização de uma “comunidade” científica ou de um agrupamento profissional com porta-vozes que poderiam reivindicar os direitos da disciplina. Ao longo dos anos 1950, o IFS deixa de ser uma instituição universitária fechada, sem conseguir transformar-se em uma associação profissional (Heilbron, 1983HEILBRON, J. (1983), “Note sur L’Institut Français de Sociologie”. Etudes Durkheimiennes, 9-14., p. 13, tradução nossa).
Em nota não assinada publicada na Revue Française de Sociologie, a mais prestigiosa revista de sociologia da França, em 1963, a nova Sociedade Francesa de Sociologia apresenta-se da seguinte maneira:
Herdeiro de uma longa e brilhante tradição, o Instituto Francês de Sociologia quis expandir-se em uma Sociedade Francesa de Sociologia que se beneficia do apoio da Associação Internacional dos Sociólogos de Língua Francesa.
Essa Sociedade, fundada em julho passado, propõe-se a favorecer o progresso da sociologia desenvolvendo pesquisas, difundindo seus resultados, multiplicando as relações entre sociólogos e disciplinas vizinhas, examinando os problemas teóricos e práticos que se colocam ao progresso da sociologia, em particular a constituição de uma verdadeira “profissão” de sociólogo. Em outras palavras, ela será o correspondente francês na Associação Internacional de Sociologia e na Unesco. (“La Société française de Sociologie”, 1963LA SOCIéTé FRANçAISE DE SOCIOLOGIE. (1963), Revue Française de Sociologie, 4 (1): 63-64.).
Apesar de a nota indicar certa cordialidade entre a SFS e a Associação Internacional dos Sociólogos de Língua Francesa, fundada em 1958 na Bélgica por Henri Janne e encabeçada na França por Georges Gurvitch, alguns entrevistados2 2 Para este artigo, foram feitas entrevistas com sociólogos/as que participaram da fundação da AFS e/ou estiveram envolvidos em suas atividades. Agradeço a Alain Quemin, Bruno Péquignot, Cédric Lomba, Dominique Desjeux, Gisèle Sapiro, Louis Pinto, Philippe Cibois, Stéphane Dufoix, Fréderic Lebaron. A responsabilidade pelas afirmações no artigo, no entanto, é apenas minha. relataram que a coexistência das duas associações expressava a disputa entre Georges Gurvitch e Raymond Aron.
Como mostra Gisele Sapiro (2018SAPIRO, G. (2018), “Entre o nacional e o internacional: O surgimento histórico da sociologia como campo”. Sociedade e Estado, 33: 349-372. Disponível em https://doi.org/10.1590/S0102-699220183302003.
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, p. 353), as sociedades eruditas foram o modelo de agremiação intelectual mais difundido até a Segunda Guerra Mundial e, após o termino do conflito, caminharam para se tornarem associações. Tiveram como referência o modelo organizacional das associações internacionais incentivadas pela Unesco. As associações nacionais foram criadas mantendo certo isomorfismo institucional, prezando por um recrutamento mais amplo de associados e uma atuação que coadunava interesses acadêmicos (promoção de congressos, publicações de pesquisas etc.) com representação e regulamentação profissional (comitês de ética, representação profissional junto a governos etc.). A Associação Internacional dos Sociólogos de Língua Francesa foi organizada já no modelo da Unesco e da ISA, ou seja, agrupando os pesquisadores por redes temáticas, o que a fez crescer e estabilizar-se rapidamente.
Ainda que a SFS tenha tido, em sua origem, o projeto de ser uma organização profissional, conforme mostra Dufoix (2023)DUFOIX, S. (2023), “Une Association Professionnelle de Sociologie en France: 20 Bougies ou 150?”. Socio-Logos. Revue de L’Association Française de Sociologie, 19, artigo 19. Disponível em https://doi.org/10.4000/socio-logos.6275.
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, ou tenha experienciado momentos dinâmicos de debates sobre a formação de sociólogos e as maneiras de a sociologia contribuir para o desenvolvimento industrial, a partir da década de 1970, segundo Heilbron (2015HEILBRON, J. (2015), French sociology. Ithaca, New York, Cornell University Press., p. 178), ela já teria diminuído muito suas atividades. Alguns entrevistados lembram da SFS como uma organização elitista e dominada por normalianos. Não há muitos dados disponíveis sobre a SFS; no entanto, dentre seus treze presidentes (de 1962 até 2001), ao menos seis seriam egressos da École Normale Superieur e um da École des Hautes Études Commerciales de Paris. O recrutamento praticado por ela era baseado no “apadrinhamento”, ou seja, dois membros deveriam convidar e propor a filiação de um novo membro. Esse modelo não só a tornou um agrupamento restrito, como dificultou a renovação de seus integrantes. No fim dos anos 1990, ela era composta por poucas dezenas professores, em sua maioria se dirigindo para a aposentadoria.
É apenas no segundo semestre de 2001 que a Sociedade Francesa de Sociologia abre os debates para sua transformação em Associação Francesa de Sociologia, o que se formaliza em 2002.
Constrições jornalísticas e astrológicas na fundação da AFS: Affaire Teissier
A transformação do campo intelectual francês durante as décadas de 1980 e 1990, segundo Heilbron,
[…] esteve relacionada às mudanças políticas após 1968, à recessão econômica do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 e à subsequente ascensão do neoliberalismo. Com o crescimento contínuo de leitores, a mídia popular passou a desempenhar um papel cada vez mais ativo no debate intelectual. O jornal diário Libération (1973), o programa de televisão Apostrophes (1975-90) e semanários como o Nouvel Observateur e o L’Express continuamente selecionavam livros, retratavam e classificavam seus autores e comentavam suas interpretações. A diluição da distinção entre pesquisadores acadêmicos, jornalistas e personalidades da televisão tornou-se um grande problema com o aparecimento dos “novos filósofos” na segunda metade da década de 1970. (Heilbron, 2015HEILBRON, J. (2015), French sociology. Ithaca, New York, Cornell University Press., p. 159).
Desse modo, as análises de Pierre Bourdieu e seu grupo de pesquisadores sobre os especialistas da imprensa e da televisão podem ser tomadas como uma aplicação da teoria dos campos a um objeto específico, ou ainda como uma espécie de indicador do mal-estar causado por uma possível ameaça dos profissionais midiáticos à autonomia do campo sociológico francês. Segundo Bourdieu, tais “intelectuais-jornalistas” adentravam no campo da sociologia sem, por um lado, jogar o jogo propriamente acadêmico e, por outro, forçavam a academia a lidar com regras exógenas ao campo intelectual, tais como a difusão, a visibilidade e a audiência (Bourdieu, 1997BOURDIEU, P. (1997), Sobre a televisão: Seguido de A influência do jornalismo e Os jogos olímpicos. Rio de Janeiro, Zahar., p. 111). Foi em março de 1994 que a Actes de la Recherche en Sciences Sociales publicou em seu volume 101-102 o dossiê “l’emprise du journalisme”, e foi em 1996 que Bourdieu publicou seu livro Sobre a televisão.
O Affaire Teissier, ao mesmo tempo, exemplifica esse duplo vínculo de uma personalidade midiática, que tensiona as regras acadêmicas e expõe as fragilidades das associações de sociólogos então existentes em 2001.
Tendo trabalhado até a década de 1970 como modelo da Coco Chanel e atriz, Elizabeth Hanselmann-Teissier é uma astróloga muito conhecida na França por ter criado a primeira emissão televisiva cotidiana de horóscopo. Como ela mesma conta em diversas entrevistas, teria sido Federico Fellini a aconselhar-lhe estudar astrologia. Após tornar-se uma autoridade no assunto, com suas colunas na imprensa e aparições na televisão, passou a ser conselheira astral, dentre outras celebridades, do presidente francês em exercício François Mitterrand.
Sua estreia na televisão, em 1975, foi acompanhada de uma forte reação de L’Union Rationaliste3 3 Fundada em 1930, a União Racionalista é uma associação francesa que tem por objetivo divulgar ao grande público o espírito e os métodos científicos a partir de quatro eixos: promover abordagens racionais; reconstruir a relação entre ciência e sociedade; promover uma cultura humanista; e desenvolver a laicidade. Para mais detalhes, ver: Union Rationaliste, 2022. , que terminou por deslocar do horário nobre para depois do último jornal da noite a emissão na grade de programação. Em janeiro de 1976, ela publicou o livro Ne brulez pas la sorcière: réponse à 25 questions clés sur l’astrologie [Não queime a bruxa: resposta a 25 questões-chave sobre astrologia], cuja capa joga com o erotismo, e cujo prefácio, do filósofo socialista Raymond Abellio, com certo intelectualismo.
Em 7 de abril de 2001, essa celebridade midiática defendeu uma tese em sociologia na Universidade Paris-V, intitulada Situation épistémologique de l’astrologie à travers l’ambivalence fascination-rejet dans les sociétés postmodernes [Situação epistemológica da astrologia através da ambivalência fascinação-rejeição nas sociedades pós-modernas], orientada por Michel Maffesoli. A polêmica estava estabelecida desde a véspera do ritual de defesa, quando Jean Audouze, astrofísico e pesquisador do CNRS, diretor do Palais de la Découverte, solicitou ao reitor da Paris-V que suspendesse a defesa.
A Association Française pour l’Information Scientifique4 4 A Association Française pour l’Information Scientifique foi criada em 1968 com o objetivo de promover a ciência e de defender sua integridade contra aqueles que, com fins econômicos ou ideológicos, deformam seus resultados ou a utilizam para acobertar práticas charlatanescas (Afis, 2023). , presidida pelo astrofísico Jean-Claude Pecker, membro da Académie des Sciences e professor no Collège de France, publicou, também na véspera da defesa, um alerta: “faz anos que Elizabeth Teissier clama pela criação de uma cadeira em astrologia na Sorbonne e ela acredita que seu diploma servirá para reforçar essa causa” (Pecker apudMorin, 2001MORIN, H. (10 abr. 2001), “Elizabeth Teissier, docteur en sociologie, ascendant astrologie”. Le Monde, 1.).
Charlotte Rotman, jornalista do Liberation, descreveu os primeiros momentos do ritual de defesa da seguinte maneira:
Público inusual para uma defesa de tese: uma idade média avançada, senhoras cheias de joias, maquiagem e admiração por Elizabeth, flanqueadas por maridos sonolentos. Na frente da candidata, um júri de quatro universitários. Atrás, alguns cientistas vieram constatar a amplitude do desgaste. Sob a esfinge de Descartes, Elizabeth Teissier começa a leitura de sua introdução, vinte minutos de um fluxo contínuo, onde a sociologia cai com força. “Alegria heurística”, “base kantiana”, “holismo”, “doxa” se acotovelam. A partir daí, parece que a especialista em astros fez esforços para se desvencilhar de sua paixão e abordar a astrologia como um fato social qualquer. Seu trabalho trata, assim, do “mal-entendido” que a astrologia veicula, entre a “atração multiforme” e a rejeição já que “esta arte” foi “relegada à categoria de bárbara e pária”. A ex-modelo quis, portanto, “buscar as causas desse abismo”. Em seguida, ela termina sua intervenção no tempo previsto, com uma citação de Shakespeare. Na sala, o público aplaudiu entusiasmado. “Não estamos no teatro!” chama à ordem o presidente do júri, Serge Moscovici. (Rotman, 2001ROTMAN, C. (9 abr. 2001), “Elizabeth Teissier docteur des astres”. Libération. Disponível em https://www.liberation.fr/societe/2001/04/09/elizabeth-teissier-docteur-des-astres_360739/.
https://www.liberation.fr/societe/2001/0... , tradução nossa).
A descrição da comemoração após a aprovação da tese pelo júri também é reveladora das tensões envolvidas no caso:
Nos encontros de doutorandos, com salgadinhos ordinários e amendoins, Elizabeth Teissier renovou o gênero com petits fours, champagne e mordomo. Fala-se de astros, zodíacos, céu. Nenhum doutorando pode se vangloriar de seu título antes que sua obra tenha encontrado seu lugar na biblioteca, mas, sem dúvida avisada pelos planetas, Elizabeth Teissier tinha antecipado a obtenção de seu diploma e convidou, com convite em papel, seus amigos para festejarem seu “doutorado em sociologia novo em folha”. Ao partir, antes de entrar em seu carro com placa da Suíça, a especialista em horóscopos posa na corte da Sorbonne para uma fileira de fotógrafos. E, levantando seus óculos escuros Chanel, proclama com orgulho: “Tivemos que esperar 350 anos para o retorno da astrologia à Sorbonne. É lindo”. (Rotman, 2001ROTMAN, C. (9 abr. 2001), “Elizabeth Teissier docteur des astres”. Libération. Disponível em https://www.liberation.fr/societe/2001/04/09/elizabeth-teissier-docteur-des-astres_360739/.
https://www.liberation.fr/societe/2001/0... , tradução nossa)5 5 Optei por reproduzir o relato feito por uma jornalista e publicado em um jornal de grande circulação. Mas há outros relatos do evento, feitos por cientistas. Um exemplo é aquele feito por Jean-Paul Krivine, engenheiro da informação e então redator chefe da revista Science et Pseudo-sciences (Krivine, 2001a). .
Não por menos o caso gerou enorme movimentação dos sociólogos franceses. Tratava-se de uma celebridade midiática, com sua legitimidade construída por meio das carreiras de modelo, atriz e astróloga, portadora de um habitus completamente estranho ao acadêmico, que usava a aprovação de uma tese em sociologia para defender a cientificidade da leitura dos astros. Maffesoli, o orientador, também tinha vínculos fora do mundo universitário. Suas conexões com o mundo político garantiam-lhe postos de poder e reconhecimento na administração acadêmica, ao mesmo tempo que era acusado pelos seus pares sociólogos de praticar uma sociologia especulativa e midiática, traduzida em entrevistas para televisão e livros com tiragens em massa, ao invés de artigos em revistas científicas com revisão por pares6 6 Em 2003, Maffesoli foi nomeado ao Conselho de Administração do CNRS, causando forte reação. A AFS lançou nota de repúdio relembrando o caso Teissier. Em 2008 foi nomeado ao Instituto Universitário da Franca, também com reações do campo. Em 2009 Maffesoli se envolveu em outra querela quando, integrante da seção 19 do CNU, teve sua autopromoção garantida. Em 2015, Manuel Quinon e Arnaud Saint-Martin tiveram um artigo falso aprovado pela revista Sociétés, dirigida por Maffesoli. O objetivo dos sociólogos era provar a falta de cientificidade da revista (Floc’h, 2015). .
Muito se publicou, na imprensa e no meio acadêmico sobre o caso Teissier. Sociólogos de renome se posicionaram publicamente sobre o caso. Alan Touraine tentou matizar a situação, dizendo que, na leitura da tese, não encontrou a defesa da astrologia como sendo científica; ao mesmo tempo, lamentou “que ela seja tão limitada em suas análises, que são apenas memórias” (Touraine, 2001TOURAINE, A. (22 maio 2001), “De quoi Elizabeth Teissier est-elle coupable?”. Le Monde. Disponível em https://www.lemonde.fr/archives/article/2001/05/22/de-quoi-elizabeth-teissier-est-elle-coupable_4174733_1819218.html.
https://www.lemonde.fr/archives/article/...
). Bernard Lahire publicou um artigo provando que a tese é uma farsa (Lahire, 2002LAHIRE, B. (2002), “Comment devenir docteur en sociologie sans posséder le métier de sociologue?”. Revue Européenne des Sciences Sociales. European Journal of Social Sciences, Artigo XL (122). Disponível em https://doi.org/10.4000/ress.629.
https://doi.org/10.4000/ress.629...
). Yves Gingras e Lionel Vécrin, analisando o prêmio Ig-nobel, em tom jocoso reclamaram a ausência de Elizabeth Hanselmann-Teissier na premiação por conta de um suposto bias anglófono do júri (Gingras e Vécrin, 2002GINGRAS, Y. & VéCRIN, L. (2002), “Les prix Ig-Nobel”. Actes de la Recherche en Sciences Sociales, 141 (1), 66-71. Disponível em https://doi.org/10.3406/arss.2002.2820.
https://doi.org/10.3406/arss.2002.2820...
). Não cabe aqui recuperar todas as vozes que tomaram partido7
7
Já no período de revisão deste artigo, a revista Socio-Logos publicou um dossiê comemorativo dos vinte anos da AFS. Nele, o artigo da Patricia Vannier “Retour sur les quelques mois qui ont précédé la création de l’Association Française de Sociologie” recupera outros detalhes do caso Teissier (Vannier, 2023).
. Basta, para os propósitos deste artigo, reconhecer o escândalo acadêmico e midiático em que a sociologia foi lançada e perseguir a movimentação institucional posta em marcha para tentar minimizar os prejuízos simbólicos causados ao prestígio da disciplina.
Na ocasião, duas associações de sociólogos estavam atuantes: a já tratada nas páginas anteriores Sociedade Francesa de Sociologia e a Association des Sociologues Enseignants du Supérieur (Ases). Fundada em janeiro de 1989, pela iniciativa dos sociólogos do trabalho Catherine Paradeise8
8
Nascida em 1946, defendeu sua tese de doutorado sob orientação de Raymond Boudon em 1985.
e Pierre Tripier9
9
Nascido em 1934, defendeu sua tese de doutorado sob orientação de Alain Touraine em 1984.
, essa associação ainda hoje está atuante e tem como objetivo assegurar a defesa e a promoção da sociologia no ensino superior, bem como defender os direitos profissionais de seus membros (Ases, 1989ASES, A. (1989), “De sociologues enseignants du superieur”. Statuts de L’Ases. Ases. Disponível em http://www.sociologuesdusuperieur.org/article/statuts-de-lases.
http://www.sociologuesdusuperieur.org/ar...
). Nenhuma dessas duas associações de sociólogos, no entanto, era de fato representativa, no sentido de possuir filiados. Talvez por esse motivo a Ases parece não ter tido tanta autonomia e legitimidade de ação no Affaire Teissier e preferiu interpelar a Association Française pour Information Scientifique e contar com o apoio da União Racionalista.
Recuperando artigos e manifestações na imprensa em torno do Affaire Teissier, bem como entrevistas com alguns sociólogos que vivenciaram o caso, parece que no início de 2001 os sociólogos franceses não contavam com uma associação fortemente estruturada. Como foi visto, as primeiras reações contaram com apoio de astrofísicos e de instituições científicas mais abrangentes do que as formadas exclusivamente por sociólogos e que não tinham um número representativo de sociólogos como filiados.
Logo nos dias subsequentes à defesa de tese, a Ases encabeçou uma petição ao presidente da Universidade de Paris-V, solicitando o cancelamento da outorga do título de doutora em sociologia de Elizabeth Hanselmann-Teissier. Essa petição foi endossada por Jean-Paul Krivine, presidente da Association Française pour Information Scientifique, que, em 24 de abril de 2001, responde a um e-mail da Ases nos seguintes termos:
É verdade que a responsabilidade é mais do júri do que da astróloga.
Nós tomamos a decisão de fazer uma avaliação do texto da tese por pessoas competentes, sob a responsabilidade de Jean Audouze (diretor do Palais de la Découverte), Jean-Claude Pecker (de l’Institut), Jacques Bouveresse (filósofo e professor no Collège de France), Christian Baudelot. Outros se associaram. Nós iremos proceder a um trabalho sério e rigoroso que publicaremos. Os sociólogos têm em primeiro lugar suas avaliações a trazer, mas igualmente analisaram o texto os astrônomos, os historiadores, e os especialistas em pseudociência.
Para além dessa “tese”, há, bem entendido, as pretensões de Elizabeth Teissier de introduzir o ensino da astrologia na universidade. Esse é um outro aspecto da contestação. Muitos prêmios Nobel solicitados por Jean-Claude Pecker acabaram de endereçar uma carta a Jack Lang. Nós prestaremos conta também desses protestos.
Vocês podem transmitir essas informações para colegas que possam estar interessados. De nossa parte, pretendemos mencionar em nossa (modesta) revista o texto de sua petição. (Krivine, 2001bKRIVINE, J.-P. (2001b, Abril 25), “J’ai pris connaissance par l’intermédiaire de Dominique Desjeux de la pétition de l’Ases”. Disponível em https://cibois.pagesperso-orange.fr/contrib.htm#krivine.
https://cibois.pagesperso-orange.fr/cont... ; tradução nossa).
Essa citação é reveladora. Primeiro, Kivrine faz questão de colocar a responsabilidade do imbróglio sobre os ombros dos sociólogos membros da banca de defesa. Em seguida, diz que elegerá uma espécie de comitê para coordenar a reavaliação da tese. Nesse comitê inicial, havia apenas um sociólogo, Christian Baudelot, outros dois eram astrofísicos (Jean Audouze e Jean-Claude Pecker), e um filósofo, Jacques Bouveresse. A inépcia de uma banca de sociólogos estava submetendo a sociologia à avaliação heterônoma das ciências duras e da prestigiosa rival, a filosofia.
Mostra ainda que o Affaire Teissier mobilizou de tal maneira a comunidade científica, que teria sido endereçada uma carta de protesto ao ministro da Educação, Jack Lang, assinada por ganhadores do prêmio Nobel. Krivine ainda põe à disposição da Ases a revista da Afis, evidenciando, portanto, que os sociólogos não dispunham de uma publicação prestigiosa e representativa da profissão, que pudesse fazer frente ao desgaste simbólico. O resultado dos trabalhos de reavaliação da tese foi publicado numa espécie de dossiê no site da revista e datado de 6 de agosto de 2001 (Krivine, 2001aKRIVINE, J.-P. (2001a, Abril 9), “Soutenance de la these d’Elizabeth Teissier”. Afis Science: Association Française pour l’Information Scientifique. Disponível em https://www.afis.org/soutenance-de-la-these-d-elizabeth-teissier.
https://www.afis.org/soutenance-de-la-th...
). Participaram dele os sociólogos Bernard Lahire, Philippe Cibois e Dominique Desjeux; os astrofísicos Jean Audouze e Jean-Claude Pecker; o físico Henri Broch; o historiador das ciências Denis Savoie; o filósofo Jacques Bouveresse; e o redator da revista Science et Pseudo-sciences, Jean-Paul Krivine.
A Ases promoveu também um abaixo-assinado, com quase quatrocentas assinaturas, dirigido ao presidente da Paris-V, solicitando o cancelamento da defesa. Em função desse alto grau de mobilização, no dia 12 de maio de 2001, praticamente um mês após a defesa de tese de Elizabeth Hanselmann-Teissier, a Ases organizou um evento na Sorbonne, uma espécie de contradefesa de tese, com o tema “A tese de sociologia, questões epistemológicas e usos após o Affaire Teissier”. Nele algumas posições defendidas são interessantes para pensar os temas em debate no contexto em que a Association Française de Sociologie foi imaginada no segundo semestre de 2001 e fundada no início de 2002.
Segundo o relato de Hervé Morin, publicado no dia 15 de maio de 2001 no Le Monde, Maryse Tripier (Paris VII) afirmou que a disciplina já teria sofrido desgastes o suficiente, que seria preciso discutir normas acadêmicas e o que faz com “que nos reconheçamos uns aos outros como sociólogos”. Alain Quemin (Marne-la-Vallée), por sua vez, teria denunciado a composição das bancas de tese, frequentemente constituídas por amigos, bem como os poucos transparentes procedimentos para recrutamento de novos professores universitários, repletos de “pequenos compromissos e lassidão”, que, “como o adultério entre os burgueses do XIX, seriam aceitáveis desde que não se tornassem de conhecimento público”. O artigo de Morin termina com Philippe Cibois, secretário-geral da Ases, afirmando que o Affaire Teissier teria tido um lado positivo para a disciplina, pois permitira o debate para se definirem normas objetivas para a definição de um trabalho sociológico.
Esse caso de repercussão midiática obrigou os sociólogos a, de certa maneira, reconhecerem suas fragilidades institucionais. Claude Dubar (presidente da SFS), Daniel Filâtre (presidente da Ases) e Jean-Yves Trépos (presidente da seção Sociologie-Démographie do Conselho Nacional das Universidades-CNU) assinaram um comunicado com esse tom de reconhecimento e tentativa de pensar ações futuras. Esse comunicado foi reproduzido no número de outubro/dezembro de 2001 da Revista Francesa de Sociologia sob o título “Tirar os ensinamentos do Affaire Teissier”:
[…] A defesa de tese de Madame Hanselmann-Teissier e seu resultado, o diploma de doutora em sociologia, implicam uma “entrada da astrologia na universidade”? Evidentemente que não. É aqui que a midiatização, cujas causas serão, talvez, elucidadas por aqueles que, como historiadores, se debruçarem sobre esse “affaire”, desempenhou seu papel. Sem ela, não haveria “affaire”. Aquilo que o orientador da tese, M. Maffesoli, chamou de “deslizes” e que, da parte da Madame Teissier, consiste em reabilitar a astrologia como modo de conhecimento legítimo, não seria suficiente para fazer disso um “affaire”. A imprensa se aproveitou desses deslizes por diferentes razões, que não se podem reduzir rapidamente pela vontade de debochar da Universidade e da sociologia. Uma parte dos jornalistas presentes nunca tinha assistido a uma defesa de tese e pensaram legitimamente que se tratava de uma farsa. Uma outra parte estava perplexa de escutar fragmentos de defesa da astrologia. Uma última justamente se perguntava: o que significa o fato de conceder um doutorado a uma candidata que desenvolve uma tal defesa? (Dubar et al., 2001DUBAR, C.; FILâTRE, D. & Trépos, J.-Y. (2001), “Tirer les enseignements de l’affaire Teissier”. Revue Française de Sociologie, 42 (4): 749-751., p. 750; tradução nossa).
É revelador o incômodo causado pelo uso midiático do caso para detratar a sociologia. A falsa ameaça do retorno da Astrologia à Sorbonne, com forte apelo midiático, os obrigou a responderem e a se posicionarem sobre o óbvio. O Affaire deixava exposta a vulnerabilidade simbólica da sociologia. Quem está autorizado a dizer o que é sociologia, se os próprios sociólogos permitiram a outorga de grau de doutora em sociologia para uma candidata que apresentou uma tese com tantos problemas? A fragilidade da sociologia face ao avanço dos profissionais de mídia, já subentendida nas análises de Bourdieu, mostrava-se agora de forma mais direta, por meio de uma astróloga midiática que reivindicava o retorno da astrologia à Sorbonne. E como mostram Elias e Scotson (2000ELIAS, N. & SCOTSON, J. L. (2000), Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro, Zahar., p. 25), “para preservar o que julgavam ter alto valor, eles [os estabelecidos] cerravam fileiras contra os recém-chegados, com isso protegendo sua identidade grupal e afirmando sua superioridade”. Não por menos, os sociólogos viram-se obrigados a atacar os jornalistas, deslegitimando as observações e avaliações feitas por serem agentes exógenos ao campo sociológico e, portanto, supostamente incapazes de compreender o ritual de defesa de tese.
Os autores concluem seu comunicado indicando os caminhos que os sociólogos deveriam trilhar. Para fins deste artigo, vale destacar dois pontos do comunicado: a preocupação com a relação entre sociologia e mídia, como já foi visto, e o reconhecimento da necessidade de se criarem instâncias de debate sobre a deontologia da disciplina.
A sociologia, na França, está em uma encruzilhada. Ou bem aqueles que se reconhecem como sociólogos, formados pela pesquisa (ou melhor formando-se continuamente por ela), saberão dotar-se, graças a sua ação coletiva em suas associações, de uma postura profissional e sobretudo de um código deontológico (mesmo que sua execução coloque problemas espinhosos) que terminarão por marginalizar totalmente as práticas que se opõem a eles. Ou então a sociologia continuará esse conjunto fluido e indefinido no qual convivem o pior e o melhor. Talvez tenha chegado o momento de elaborar coletivamente (por exemplo, multiplicando as reuniões regionais) esse código de deontologia que permitirá melhor definir o que os sociólogos esperam de uma formação pela pesquisa, o que eles desejam reconhecer sobre o nome de “laboratório” e qual tipo de competências eles desejam ver sancionadas pelas teses de sociologia. Se fosse esse o caso, o “affaire Teissier” teria sido muito útil. (Dubar et al., 2001DUBAR, C.; FILâTRE, D. & Trépos, J.-Y. (2001), “Tirer les enseignements de l’affaire Teissier”. Revue Française de Sociologie, 42 (4): 749-751., p. 751; tradução nossa).
Nesse último parágrafo do comunicado assinado pelos presidentes de duas importantes associações de sociólogos (Ases e SFS) e por uma das mais importantes instâncias governamentais, que arbitra o ingresso e a progressão nas carreiras de docentes e pesquisadores em sociologia e demografia - seção 19 do Conselho Nacional Universitário (CNU) -, estão explícitas duas inquietações da Associação Francesa de Sociologia que seria fundada poucos meses depois: práticas profissionais autônomas de reconhecimento mútuo (congressos e publicações) e debate a respeito dos limites da própria disciplina.
No segundo semestre de 2001, Claude Dubar, o então presidente da SFS, teve uma demanda por subvenção recusada pelo CNRS. Certamente esse foi um dos fatores que levaram a SFS a iniciar os debates para modernizar sua forma de organização, ou seja, para adequar-se ao modelo da ISA.
Com o apoio da Association Internationale des Sociologues de Langue Française (AISLF) e da Association des Sociologues Enseignants du Supérieur (Ases), Dubar fez a convocação de uma reunião para o dia 26 de outubro, a fim de discutir uma “renovação da organização da profissão de sociólogo na França”. Dizia ele ainda na convocatória:
Ela terá como objetivo alimentar uma reflexão coletiva sobre o futuro das Associações existentes, sobre suas respectivas funções, sobre suas histórias passadas, bem como sobre a possibilidade de coordenação entre elas. […] Ela será muito útil para preparar uma Assembleia extraordinária da Sociedade Francesa que poderá ocorrer em dezembro de 2001. Ela poderá constituir um primeiro marco na elaboração de um código deontológico da profissão de sociólogo, proposto pela declaração em comum: “Tirar os ensinamentos do Affaire Teissier”. (Dubar apudCibois, 2001CIBOIS, P. (2001), Site personnel de Philippe Cibois. https://cibois.pagesperso-orange.fr/archivesafs.html.
https://cibois.pagesperso-orange.fr/arch... , tradução nossa).
Essa citação condensa muitos aspectos relevantes para a compreensão da fundação da AFS. Primeiro, fica evidente a necessidade de se renovar e profissionalizar a Sociedade Francesa de Sociologia, que tinha acabado de perder uma subvenção do CNRS; segundo, havia ao menos duas outras associações atuantes no campo da sociologia, e era preciso deixar clara a divisão de trabalho entre elas; terceiro, a intenção de se dar uma resposta institucional ao mal-estar causado pelo Affaire Teissier.
Se existiram, portanto, elementos mais históricos que levaram os sociólogos franceses a perceberem a necessidade de transformar a SFS, com poucos membros e poucas atividades no final dos anos 1990, em uma associação atuante, houve também fatores contextuais que, se não determinaram, ao menos catalisaram o processo de criação da AFS, que foi idealmente criada nessa reunião de dezembro de 2001, anunciada por Dubar e formalizada logo no início de 2002.
AFS pondo-se em marcha: motivações internas ao campo
O Affaire Teissier, que ocorreu no mesmo ano de 2001 em que se iniciaram os debates para a fundação da AFS, não deve ser considerado como a causa determinante para a criação da nova associação, mas como um caso que condensou temas e questões já tensionados no campo sociológico francês: a definição da especificidade da sociologia; o desprestígio da disciplina frente a outras disciplinas e às agências de fomento; os ataques sofridos na mídia etc.
O número de concursos para maître de conférences, posto efetivo inicial na carreira docente, caiu de 51 em 1998 para 42 em 1999, 38 em 2000 e 28 em 2001. Os sociólogos estabelecidos viam seus ex-orientandos não conseguirem adentrar na carreira universitária. Os jovens doutores, por sua vez, viam a concorrência por um posto efetivo cada ano mais acirrada e ou perdiam os vínculos institucionais ou os mantinham precariamente. Como mostra Espínola (2018)ESPíNOLA, A. F. (2018), “Déchiffrer les inegalités dans le recrutement par concours des enseignant.e.s-chercheur.e.s (MCF) en sociologie en France”. Socio-Logos. Revue de L’Association Française de Sociologie, 13, Artigo 13. Disponível em https://doi.org/10.4000/Socio-Logos.3196.
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, essa situação agravou-se nas primeiras décadas do século XXI10
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A redução de postos fixos e o aumento de “não titulares” no sistema de ensino superior francês não se limitam à sociologia, e dizem respeito a um processo mais amplo de precarização do ensino e da pesquisa na França. Para mais detalhes ver, entre outros, Collectif pour l’étude des conditions de travail dans la recherche et l’enseignement supérieur, 2011.
.
Efetivo de qualificados para concorrerem ao posto de maître de conférences e o número de concursos na seção 19 do CNU (
Causou também constrangimentos e reações dos sociólogos o fato de, em 1999, o primeiro-ministro Lionel Jospin e a ministra da justiça Élisabeth Guigou, ambos do partido socialista, darem declarações criticando as explicações sociológicas para os levantes da juventude nas periferias de Paris como se fossem “desculpas sociológicas” (Lahire, 2016LAHIRE, B. (2016), Pour la sociologie: Et pour en finir avec une prétendue “culture de l’excuse”. Paris, La Découverte.; Mauger, 2016MAUGER, G. (2016), “Incitation a la betise. Sur ‘L’excuse sociologique’”. Savoir/Agir, 35 (1): 133-144. Disponível em https://doi.org/10.3917/sava.035.0133.
https://doi.org/10.3917/sava.035.0133...
). O caráter científico da sociologia era constantemente questionado.
É nesse sentido que a polêmica em torno de Teissier pode ser lida como mais um momento de desprestígio da sociologia. Boa parte dos envolvidos na fundação da AFS estiveram engajados nas discussões sobre os desgastes que a defesa da astróloga causava à disciplina, já tendo vivido essas e outras situações. Parte significativa dos sociólogos citados nos documentos a respeito do caso Teissier estiveram envolvidos na nova associação.
Se considerarmos ainda aqueles que subscreveram a petição solicitando o cancelamento do título de doutorado de Elizabeth Teissier, percebemos que a presença de signatários é de 40% na primeira composição dos comitês executivos da AFS e se mantém entre 33% e 18% até 2015, ou seja, catorze anos após o escândalo11 11 A AFS conta com um “comité exécutif” que pode variar de 16 a 22 membros com mandatos de quatro anos. A cada dois anos, metade do “comité exécutif” é renovado por eleições nas assembleias que ocorrem durante os congressos da AFS. .
Integrantes de CE que assinaram a petição contra o título de doutorado de Elizabeth Teissier
A Associação Francesa de Sociologia se declara herdeira da Sociedade Francesa de Sociologia. No entanto, não se pode negar o seu parentesco também com a Ases. De certa maneira, a AFS seria também um desdobramento mais acadêmico daquela associação de caráter sindical que esteve à frente do Affaire Teissier. Não apenas pelas conexões entre os nomes que circulam entre as direções das duas associações, mas, sobretudo, o poder de mobilização da Ases foi fundamental para a criação da AFS.
Como já foi dito, diferentemente da antiga SFS, a AFS pretende-se uma associação aberta a todos sociólogos independentemente de seu status ou local de exercício profissional. Segundo o site da AFS, ela conta hoje com 1555 membros, organizados em cinquenta Redes Temáticas (RTs). Cada rede temática possui uma coordenação própria composta por dois ou três pesquisadores e por uma ou duas dezenas de membros.
Se, como vimos, essa organização corresponde a uma isomorfia organizacional promovida pela Unesco e ISA, por outro lado ela também foi vista como uma forma de se criarem possibilidades de inserções institucionais alternativas às “escolas” em torno de “grandes nomes”. Bourdieu (1930-2002), Boudon (1934-2013), Crozier (1922-2013), Touraine (1925), Balandier (1920-2016) organizavam a sociologia francesa até então, porém suas figuras não davam mais conta de absorver o grande número de jovens pesquisadores que não se reconheciam propriamente como seguidores de tal ou qual linha teórica. Alguns envolvidos na fundação da AFS consideravam as RTs uma maneira de criar diálogos entre pesquisadores e estudantes para além das divisões ao redor dos “grandes nomes”. De certa maneira, as correntes teóricas passavam a estar sob uma mesma associação, o que fortaleceria institucionalmente a sociologia.
Se a SFS era tida como uma associação elitista, a AFS se quis democrática. Mesmo sem uma análise quantitativa das filiações dos integrantes da AFS e sobretudo das RTs para confirmar essa suposta inclinação, pelo simples fato de ser uma associação com mais de 1500 filiados, já indica que não é ocupada majoritariamente por “normalianos”.
De todo modo, ao menos essa esperança de se criar uma associação não controlada por “normalianos” ou pelas “escolas teóricas” foi um elemento importante para o engajamento de alguns dos primeiros membros da AFS na sua fundação, o que fica visível quando se analisam os nomes dos primeiros comitês executivos e se constata a presença majoritária de não normalianos nos principais postos.
Mesmo com uma diversidade de trajetórias, o primeiro comité exécutif, atuante entre 2002 e 2004, foi o que congregou o maior número de pesquisadores estabilizados na carreira. No entanto, ao longo dos anos, a tendência foi recrutar nomes cada vez mais jovens.
Attaché temporaire d’enseignement et de recherche, Ater, como o nome diz, é um cargo temporário de ensino e pesquisa. Chargée de cours e chercheur contractuel, assim como o pós-doc, também não garantem estabilidade. É comum, no contexto francês, aplicar a esses status a categoria de “não titulares”, por não terem um posto fixo.
Podemos considerar os status de maître assistant e ingénieur de recherche como os postos com estabilidade, porém na base da carreira. Os de maître de conférences podem representar um profissional em início de carreira, mas também muitos pesquisadores de relevo se mantiveram nesse status. Já os postos de professeur, chargé de recherche au CNRS e directeur de recherche au CNRS são os de maior prestígio.
Nesses casos, se, em 2002, temos 50% dos integrantes do comité exécutif nos extratos de maior prestígio e 25% como maître de conférences, em 2021 eles passam a ser 14% e 41%, respectivamente; os “não titulares” eram 15% em 2002, passam para 37% em 2021.
Quando restringimos o olhar para os sete integrantes do Bureau du Comité exécutif, o rejuvenescimento da direção da AFS torna-se mais evidente.
Comparativo de status profissional dos integrantes do comité exécutif nas gestões 2002-2004 e 2021-2023
Nesses praticamente vinte anos de fundação, parece ter havido uma antecipação do engajamento de doutorandos e não titulares na gestão de uma entidade representativa, ao mesmo tempo que um esvaziamento de sociólogos no topo da carreira.
O acompanhamento do tempo de defesa de tese de doutorado confirma um movimento de rejuvenescimento dos membros do CE. Em 2002, 65% do CE tinha defendido sua tese fazia mais de quinze anos; em 2023, apenas 15%. Se em 2002 não havia integrantes do CE sem o doutorado defendido, em 2021 eles representavam 18% e, em 2023, 14%. Ao longo desses vinte anos de atuação, o comité exécutif da AFS deixou de ser composto majoritariamente por sociólogos estabilizados em seus postos para ser ocupado por jovens em início de carreira. Cinquenta e cinco por cento dos integrantes da gestão 2021-2023 e 33% para a gestão que se inicia em 2023 não defenderam seus doutorados ou o fizeram há menos de cinco anos.
Há quem afirme que criar um ambiente democrático, de troca intelectual e de inserção institucional para jovens pesquisadores sempre esteve nos objetivos da associação. Outros, porém, atribuem o fato de os jovens terem se engajado na AFS à ampliação da concorrência por melhores currículos e por uma vinculação institucional nos períodos de precariedade.
Conclusão
Em início dos anos 2000, a sociologia francesa estava em um momento de desprestígio midiático e acadêmico. Era atacada por sua inserção em debates públicos, como se isso fosse indicador de não cientificidade. A divisão da sociologia em torno de grandes nomes, forma estruturante do campo entre os anos 1960 e 1980, já não fazia mais tanto sentido nos anos 2000 e era avaliada pelas outras áreas acadêmicas, inclusive por órgãos como o CNRS, como expressão de uma fragilidade epistemológica e falta de esprit de corps. A soma desses desprestígios traria consequências ao financiamento da sociologia, como o já citado exemplo da recusa de subvenção em 2001 sofrida pela SFS e a redução de oferta de novos postos de maître de conférences12 12 Em seu discurso na abertura do congresso realizado em julho de 2023, em Lyon, o então presidente da AFS, Cédric Lombas, listou os recentes e recorrentes ataques de que a sociologia francesa tem sido alvo: redução de postos, sua má utilização para justificar violências de Estado, ao mesmo tempo que é acusada de imparcial e de “islamoesquerdismo”. Diagnóstico não muito distinto daquele dos anos 1990 e 2000. .
É nesse contexto que se cria a AFS. A maior abertura possibilitada por um recrutamento livre de apadrinhamento e sua organização em RTs, no modelo da ISA, fizeram com que se percebessem um rápido crescimento e a manutenção de um número de filiados significativamente maior do que as associações anteriores. Muitos entrevistados levantaram a preocupação com seus doutorandos e recém-doutores que, antes da AFS, não encontravam espaços para debaterem suas pesquisas fora de seus pequenos círculos de sociabilidade. A AFS pretendia, como de fato parece ter conseguido, criar as condições para que pesquisadores de um mesmo tema se reunissem independentemente de suas filiações teóricas e institucionais mais imediatas. Para usar expressões recorrentes nas entrevistas, a AFS procurava “arejar” e “abrir” a disciplina; mudar as bases do jogo pelo prestígio acadêmico; tensionar a força gravitacional dos “grandes nomes” para as RTs de uma associação, como dizem os entrevistados, “mais profissional”.
A democratização da AFS está expressa na abertura institucional conferida às diversas RTs e aos jovens pesquisadores que, sobretudo nos anos recentes, têm estado presentes no comité exécutif. Esses doutorandos e recém-doutores, por sua vez, veem na AFS uma dupla função: uma associação política para defender os interesses dos sociólogos, sobretudo os “não titulares”, e uma forma de inserção institucional e acadêmica que lhes permita ampliar seu capital social e incrementar seus currículos em um mercado de postos fixos extremamente competitivo.
Essa presença maciça de doutorandos e “não titulares”, por outro lado, criou outros constrangimentos com sociólogos “titulares”. Há relatos tanto de RTs que deliberadamente priorizam pesquisadores “não titulares”, quanto RTs que, ao avaliarem as submissões sob anonimato, deixam de fora pesquisadores “titulares”. Em ambos os casos, pesquisadores “titulares” passam a concorrer com “não titulares”, o que impulsiona os mais estáveis a deixarem de ver a AFS e seu congresso como instâncias de prestígio.
O tensionamento entre a democratização de acesso à AFS e o prestígio que ela confere aos jovens doutores parece estar sendo armado atualmente. Como ficará o prestígio da AFS se os grandes nomes da sociologia francesa não a prestigiarem? A AFS corre o risco de tornar-se uma associação desprestigiada pelos sociólogos prestigiados e disputada por aqueles em busca de prestígio?
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O projeto “Globalização das sociologias francesa e brasileira: agentes, instituições, temáticas”, aprovado no edital Capes/Cofecub-2019, é coordenado pelos professores Carlos Benedito Martins (UnB) e Fréderic Lebaron (ENS/Paris-Saclay). Devo agradecer especialmente a Lucas Pereira Page, Mélanie Sargeac e Lidiane Rodrigues, integrantes da equipe e que contribuíram muito com a leitura e comentários à primeira versão deste texto.
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Para este artigo, foram feitas entrevistas com sociólogos/as que participaram da fundação da AFS e/ou estiveram envolvidos em suas atividades. Agradeço a Alain Quemin, Bruno Péquignot, Cédric Lomba, Dominique Desjeux, Gisèle Sapiro, Louis Pinto, Philippe Cibois, Stéphane Dufoix, Fréderic Lebaron. A responsabilidade pelas afirmações no artigo, no entanto, é apenas minha.
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Fundada em 1930, a União Racionalista é uma associação francesa que tem por objetivo divulgar ao grande público o espírito e os métodos científicos a partir de quatro eixos: promover abordagens racionais; reconstruir a relação entre ciência e sociedade; promover uma cultura humanista; e desenvolver a laicidade. Para mais detalhes, ver: Union Rationaliste, 2022UNION RATIONALISTE. (2022), Home. Union Rationaliste, https://union-rationaliste.org/.
https://union-rationaliste.org/... . -
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A Association Française pour l’Information Scientifique foi criada em 1968 com o objetivo de promover a ciência e de defender sua integridade contra aqueles que, com fins econômicos ou ideológicos, deformam seus resultados ou a utilizam para acobertar práticas charlatanescas (Afis, 2023AFIS. (2023), “Qu’est-ce que l’Afis?”. Afis Science: Association Française pour L’Information Scientifique. https://www.afis.org/qu-est-ce-que-l-afis.
https://www.afis.org/qu-est-ce-que-l-afi... ). -
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Optei por reproduzir o relato feito por uma jornalista e publicado em um jornal de grande circulação. Mas há outros relatos do evento, feitos por cientistas. Um exemplo é aquele feito por Jean-Paul Krivine, engenheiro da informação e então redator chefe da revista Science et Pseudo-sciences (Krivine, 2001aKRIVINE, J.-P. (2001a, Abril 9), “Soutenance de la these d’Elizabeth Teissier”. Afis Science: Association Française pour l’Information Scientifique. Disponível em https://www.afis.org/soutenance-de-la-these-d-elizabeth-teissier.
https://www.afis.org/soutenance-de-la-th... ). -
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Em 2003, Maffesoli foi nomeado ao Conselho de Administração do CNRS, causando forte reação. A AFS lançou nota de repúdio relembrando o caso Teissier. Em 2008 foi nomeado ao Instituto Universitário da Franca, também com reações do campo. Em 2009 Maffesoli se envolveu em outra querela quando, integrante da seção 19 do CNU, teve sua autopromoção garantida. Em 2015, Manuel Quinon e Arnaud Saint-Martin tiveram um artigo falso aprovado pela revista Sociétés, dirigida por Maffesoli. O objetivo dos sociólogos era provar a falta de cientificidade da revista (Floc’h, 2015FLOC’H, B. (18 mar. 2015), “Victime d’un canular, Michel Maffesoli denonce un ‘reglement de comptes’ entre sociologues”. Le Monde.Fr. Disponível em https://www.lemonde.fr/societe/article/2015/03/18/victime-d-un-canular-michel-maffesoli-denonce-un-reglement-de-comptes-entre-sociologues_4595882_3224.html.
https://www.lemonde.fr/societe/article/2... ). -
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Já no período de revisão deste artigo, a revista Socio-Logos publicou um dossiê comemorativo dos vinte anos da AFS. Nele, o artigo da Patricia Vannier “Retour sur les quelques mois qui ont précédé la création de l’Association Française de Sociologie” recupera outros detalhes do caso Teissier (Vannier, 2023VANNIER, P. (2023), “Retour sur les quelques mois qui ont précédé la création de l’Association Française de Sociologie”. Socio-Logos. Revue de l’Association Française de Sociologie, artigo 19. Disponível em https://doi.org/10.4000/socio-logos.6320.
https://doi.org/10.4000/socio-logos.6320... ). -
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Nascida em 1946, defendeu sua tese de doutorado sob orientação de Raymond Boudon em 1985.
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Nascido em 1934, defendeu sua tese de doutorado sob orientação de Alain Touraine em 1984.
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A redução de postos fixos e o aumento de “não titulares” no sistema de ensino superior francês não se limitam à sociologia, e dizem respeito a um processo mais amplo de precarização do ensino e da pesquisa na França. Para mais detalhes ver, entre outros, Collectif pour l’étude des conditions de travail dans la recherche et l’enseignement supérieur, 2011COLLECTIF POUR L’ETUDE DES CONDITIONS DE TRAVAIL DANS LA RECHERCHE ET L’ENSEIGNEMENT SUPERIEUR (France) (org.). (2011), Recherche précarisée, recherche atomisée: Production et transmission des savoirs à l’heure de la précarisation. Paris, Raisons D’agir..
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A AFS conta com um “comité exécutif” que pode variar de 16 a 22 membros com mandatos de quatro anos. A cada dois anos, metade do “comité exécutif” é renovado por eleições nas assembleias que ocorrem durante os congressos da AFS.
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Em seu discurso na abertura do congresso realizado em julho de 2023, em Lyon, o então presidente da AFS, Cédric Lombas, listou os recentes e recorrentes ataques de que a sociologia francesa tem sido alvo: redução de postos, sua má utilização para justificar violências de Estado, ao mesmo tempo que é acusada de imparcial e de “islamoesquerdismo”. Diagnóstico não muito distinto daquele dos anos 1990 e 2000.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Jan 2024 -
Data do Fascículo
Sep-Dec 2023
Histórico
-
Recebido
24 Mar 2023 -
Aceito
07 Ago 2023