Acessibilidade / Reportar erro

PROPOSTA DE UM NOVO CONCEITO PARA TURISMO SUSTENTÁVEL, À LUZ DOS SABERES DE CIDADANIA GLOBAL E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

PROPOSAL FOR A NEW CONCEPT FOR SUSTAINABLE TOURISM, IN THE LIGHT OF GLOBAL CITIZENSHIP AND SUSTAINTABLE DEVELOPMENT KNOWLEDGE

PROPUESTA DE UN NUEVO CONCEPTO DE TURISMO SOSTENIBLE, A LA LUZ DE LOS CONOCIMIENTOS SOBRE CIUDADANÍA GLOBAL Y DESARROLLO SOSTENIBLE

Resumo:

A correlação entre saberes científicos oportuniza novas leituras e interpretações sobre conceitos historicamente construídos. O turismo, enquanto disciplina e fenômeno, requer debates interdisciplinares para progredir no seu conhecimento científico. Logo, o presente artigo teve como objetivo propor um conceito plural para turismo sustentável, a partir da intersecção entre os saberes de cidadania global e desenvolvimento sustentável. Enquanto métodos e técnicas de pesquisa, realizou-se uma revisão sistemática de literatura nos bancos de dados da Web of Sience e do Scopus e uma revisão integrativa, a partir das teorias de cidadania global (Biccum, 2020), modelos de desenvolvimento sustentável (Munck & Borim-de-Souza, 2013) e turismo cidadão (Gastal & Moesch, 2007). As descobertas demostraram os raros elos na literatura científica entre cidadania global e turismo sustentável. Sendo que os existentes se concentram em pesquisas desenvolvidas no hemisfério norte, que, sobretudo, investigam as viagens educacionais no ensino superior e suas consequências no desenvolvimento do senso de cidadania global e de sustentabilidade. Com a associação desses estudos e das teorias supracitadas, propôs-se um conceito biocêntrico para turismo sustentável. Incentiva-se que novos estudos adotem a interdisciplinaridade para corroborar com a progressão do conhecimento científico do fenômeno turístico.

Palavras-chave:
Cidadania Global; Desenvolvimento Sustentável; Interdisciplinaridade; Turismo Sustentável

Abstract:

The correlation between scientific knowledge provides new readings and interpretations of historically constructed concepts. Tourism, as a discipline and phenomenon, requires interdisciplinary debates in order to advance its scientific knowledge. Therefore, the aim of this article is to propose a plural concept for sustainable tourism, based on the intersection between the knowledge of global citizenship and sustainable development. As research methods and techniques, a systematic literature review was carried out in the Web of Science and Scopus databases, as well as an integrative review, based on theories of global citizenship (Biccum, 2020), sustainable development models (Munck & Borim-de-Souza, 2013) and citizen tourism (Gastal & Moesch, 2007). The findings demonstrated the rare links in the scientific literature between global citizenship and sustainable tourism. Those that do exist focus on research carried out in the northern hemisphere, which mainly investigates educational travel in higher education and its consequences for the development of a sense of global citizenship and sustainability. By combining these studies and the theories mentioned above, a biocentric concept for sustainable tourism has been proposed. It is encouraged that further studies adopt interdisciplinarity to corroborate the progression of scientific knowledge of the tourism phenomenon.

Key-words:
Global Citizenship; Sustainable Development; Interdisciplinarity; Sustainable Tourism

Resumen:

La correlación entre los conocimientos científicos proporciona nuevas lecturas e interpretaciones de conceptos históricamente construidos. El turismo, como disciplina y fenómeno, requiere debates interdisciplinares para avanzar en su conocimiento científico. Por ello, el objetivo de este artículo es proponer un concepto plural de turismo sostenible, basado en la intersección entre el conocimiento de la ciudadanía global y el desarrollo sostenible. Como métodos y técnicas de investigación, se realizó una revisión bibliográfica sistemática en las bases de datos Web of Science y Scopus, así como una revisión integradora basada en las teorías de la ciudadanía global (Biccum, 2020), los modelos de desarrollo sostenible (Munck & Borim-de-Souza, 2013) y el turismo ciudadano (Gastal & Moesch, 2007). Los resultados demuestran los escasos vínculos existentes en la literatura científica entre ciudadanía global y turismo sostenible. Los que existen se concentran en investigaciones realizadas en el hemisferio norte, que investigan principalmente los viajes educativos en la enseñanza superior y sus consecuencias para el desarrollo de un sentido de ciudadanía global y sostenibilidad. Combinando estos estudios y las teorías antes mencionadas, se ha propuesto un concepto biocéntrico del turismo sostenible. Se anima a que los nuevos estudios adopten la interdisciplinariedad para corroborar la progresión del conocimiento científico del fenómeno turístico.

Palabras Clave:
Ciudadanía Global; Desarrollo Sostenible; Interdisciplinariedad; Turismo Sostenible

INTRODUÇÃO

O conceito sistêmico de desenvolvimento sustentável é fruto de debates nas diferentes instituições sociais, públicas e privadas. De sua epistemologia à aplicabilidade, envolvem plurissignificações e (re)interpretações. Por isso, não existe um único modelo de aplicação universal (Gomes Júnior, 2012Gomes Júnior, F. S. (2012). Desenvolvimento sustentável: conceitos, modelos e propostas para mensurações. Revista Ambientale, 1, 85-98. ). Seu uso ajusta-se as circunstâncias do local, a partir das diretrizes do global. Na ciência, adapta-se ao contexto das áreas do conhecimento, também com diferentes leituras e perspectivas.

Na teoria do turismo, constatam-se profusas pesquisas que relacionam a atividade com o desenvolvimento sustentável. Inclusive, derivando para um conceito apropriado à área: turismo sustentável. Todavia, existem lacunas e limitações em relações interdisciplinares, no que diz respeito ao debate e à relação conceitual. Como é o caso da sinergia entre os conceitos de turismo e cidadania. E, mais especificadamente, do turismo sustentável com a cidadania global.

Mendonça e Luigi (2023Mendonça, P. R., & Luigi, R. (2023). A contribuição da geografia para a educação cidadã: uma análise territorial. Boletim de Conjuntura (BOCA), 12(38). https://doi.org/10.5281/zenodo.7683386
https://doi.org/10.5281/zenodo.7683386...
) dizem que o conceito moderno de cidadania traz a tríade dos direitos (civis, políticos e sociais) e transpõe discussões e (re)investigações. Logo, se faz necessário argumentar, debater e questionar como um turista pode exercer a cidadania, fora da cidade em que pertence civil, política e socialmente. Almeja-se, dessa forma, contribuir para a construção de um corpo teórico reflexivo e orientar futuras investigações empíricas.

Grandes centros urbanos são amplos em diversidade cultural, ambiental e econômica. Devido a suas largas extensões territoriais, o próprio morador não conhece todos os lugares que tem direito. Recentemente, devido ao fechamento de fronteiras, a diminuição da oferta de transportes e a capacidade reduzida em estabelecimentos turísticos, impostas pela crise sanitária da covid-19, tornou-se tendência o staycation, que é uma modalidade do turismo que propõem a munícipes usufruir da oferta turística de sua própria cidade (Rosu, 2020Rossu, A. (2020). Making sense of distance: Mobility in staycation as a case of proximity tourism. [Master´s Thesis]. Department of Service Management and Services Studies, Sweden Faculty of Social Sciences, Lund University.; Darabant & Diaconescu, 2020Darabant, M., & Diaconescu, V. (2020). Tourist in my town: how attractive is the city for its inhabitants? Cactus Tourism Journal, 2(2), 6-13. ; Oana et al., 2021Oana, P., Andreea, B., Nicoleta, C., & Florin, A. V. (2021). Domestic tourism in Brasov: the effect of manifesting the interest of being a tourist your own city. In: Anais XXIIth International Conference “Risk in Contemporary Economy”, 136-146. https://doi.org/10.35219/rce20670532109
https://doi.org/10.35219/rce20670532109...
).

O staycation direciona para um consumo turístico mais consciente, encaminha para a redução de emissão de gases de efeito estufa, implica diretamente para o desenvolvimento regional e promove o turismo sustentável (Rosu, 2020Rossu, A. (2020). Making sense of distance: Mobility in staycation as a case of proximity tourism. [Master´s Thesis]. Department of Service Management and Services Studies, Sweden Faculty of Social Sciences, Lund University.). Nesse sentido, o morador que “faz turismo” na sua própria cidade descobre, dentro do limite político administrativo em que vive, novas culturas, etnias, oportunidades de lazer e entretenimento. Sua percepção e representação da cidade difere daquela contidamente vivida, o que o torna um turista cidadão (Gastal & Moesch, 2007Gastal, S., & Moesch, M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. Aleph.).

Desse modo, o turismo cidadão é conceituado como as práticas turísticas dentro do seu próprio local de vivências, onde o habitante experencia e se relaciona com os fixos e fluxos da cidade, diferentemente do que faz em suas atividades cotidianas (Gastal & Moesch, 2007Gastal, S., & Moesch, M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. Aleph.). A relação dos conceitos é explicada pelas autoras: “A cidadania, se associada ao turismo, encaminharia outras possibilidades de construção do sujeito histórico, aquele em condições de se expressar e de se apropriar das suas circunstâncias espaciais e temporais, seja como sujeito histórico urbano, seja como sujeito planetário” (Gastal & Moesch, 2007Gastal, S., & Moesch, M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. Aleph., p. 56).

Como consequência, o turista cidadão disporia de condutas conscientes com o meio ambiental, econômico e social. Um censo de sustentabilidade. No entanto, esse turista cidadão que, teoricamente, conduz práticas sustentáveis em sua cidade, seria capaz, também, de ampliar suas atitudes além dos limites fronteiriços, se tornando um cidadão global? Cidadão global seria um modelo de pessoa, com atribuições de conhecimentos, valores, atitudes e aptidões que, por meio de suas ações e comportamentos, projetaria socialmente a cidadania global (Biccum, 2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
). A cidadania global é algo construído socialmente, através dos sentidos, vivências e experiências individuais e coletivas (Costa & Ianni, 2018Costa, M. I. S., & Ianni, A. M. Z. (2018). Individualização, cidadania e inclusão na sociedade contemporânea: uma análise teórica. Editora UFABC. https://doi.org/10.7476/9788568576953
https://doi.org/10.7476/9788568576953...
; Biccum, 2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
).

Diante dessas considerações, delineou-se o seguinte problema de pesquisa: quais são as relações propostas no conhecimento científico entre cidadania global e turismo sustentável? Como objetivo traçou-se: propor um conceito plural para turismo sustentável, a partir da intersecção entre os saberes de cidadania global e desenvolvimento sustentável.

O artigo está organizado estruturalmente em revisão de literatura, metodologia, resultados, discussões e considerações finais. Primeiramente, na revisão de literatura, desenvolve-se uma síntese da evolução conceitual de cidadania, levanta-se o debate a respeito da essência de cidadania global, apresentam-se breve histórico, conceitos e características de desenvolvimento sustentável e concepções sobre turismo sustentável. Em seguida, na metodologia, explicam-se as etapas da revisão sistemática, em relação aos artigos elegidos para interseccionar os saberes de cidadania global, desenvolvimento sustentável e turismo. E apresentam-se as teorias de análise da revisão integrativa, as quais contribuíram para sugerir um conceito plural para turismo sustentável. Posteriormente, os resultados apresentam os artigos elegidos para fundamentar as relações entre cidadania global e turismo sustentável. Por conseguinte, as discussões são divididas em dois subcapítulos: a) as lacunas no conhecimento entre cidadania global e turismo e b) por um conceito plural de turismo sustentável. Por fim, empoem-se as considerações finais.

REVISÃO DE LITERATURA

Tanto se ouve falar em “exercer o seu papel de cidadão” ou “a cidadania é para todos”. E qual seria esse “papel de cidadão”? Todas as pessoas possuem os mesmos direitos e deveres? Embora, ambas as questões não tenham uma resposta concreta, a subjetividade para compreendê-las, interpretá-las e analisá-las pode levar ao caminho de como a cidadania é entendida no século XXI.

A leitura científica sobre cidadania faz com que reflexões e inquietações apareçam, sobretudo, em um mundo com tantas desigualdades socioeconômicas. Assim, uns têm privilégios sobrepostos a outros, como exposto no estudo de Silva e Ferreira (2020Silva, R. N., & Ferreira, M. A. (2020). Enhancing citizenship through nursing care in Brazil: Patients' struggle against austerity policies. Nursing Inquiry, 27(2), e12337. https://doi.org/10.1111/nin.12337
https://doi.org/10.1111/nin.12337...
). Segundo os autores, os subcitizens (subcidadãos) têm os mesmos direitos institucionais que os super-citizens (supercidadãos), entretanto, efetivamente, esses últimos com maiores relações de prestígio (Silva & Ferreira, 2020Silva, R. N., & Ferreira, M. A. (2020). Enhancing citizenship through nursing care in Brazil: Patients' struggle against austerity policies. Nursing Inquiry, 27(2), e12337. https://doi.org/10.1111/nin.12337
https://doi.org/10.1111/nin.12337...
). Esse contraste pode ser visto, também, no turismo, uma vez que o lugar do outrem pode ser “consumido” por aquele que tem vantagem financeira; o que é inconcebível de forma contrária.

Atualmente, os debates acadêmicos sobre cidadania estão mais acalorados, em razão de que, em até certo momento da história, não se discutia os direitos sociais. Estes, geraram (e geram) muitos embates teóricos, que fortalecem a produção do conhecimento.

Uma síntese da evolução conceitual de cidadania

A perspectiva da ideia e do conceito de cidadania evoluiu historicamente, conforme o desenvolvimento da sociedade: a) Grécia e Roma Antiga; b) Idade Média; c) o nascimento do Estado Moderno; d) Iluminismo e a Revolução Francesa; e) do Code Napoléon ao estado liberal (Cademartori & Cademartori, 2007Cademartori, D., & Cademartori, S. (2007). Mutações da cidadania: da comunidade ao estado liberal. Sequência: estudos jurídicos e políticos, 28(55), 65-94.).

Na Grécia Antiga, eram considerados cidadãos os indivíduos do sexo masculino, maiores de 18 anos, livres e que fossem ativos na participação e organização da comunidade. O status de cidadão era exclusivo pelo critério jus saguinis (direito de sangue). Ou seja, restrito àqueles que tinham ascendentes, eram nascidos, ora pertencentes à civilização grega (Cademartori & Cademartori, 2007Cademartori, D., & Cademartori, S. (2007). Mutações da cidadania: da comunidade ao estado liberal. Sequência: estudos jurídicos e políticos, 28(55), 65-94.).

Já na Roma Antiga, a cidadania era “mais aberta e permeável”. O reconhecimento de cidadão era dado a indivíduos pertencentes a uma determinada família do Estado Romano. Entretanto, as mulheres e os jovens, igualmente à Grécia Antiga, eram excluídos da vida pública (Cademartori & Cademartori, 2007Cademartori, D., & Cademartori, S. (2007). Mutações da cidadania: da comunidade ao estado liberal. Sequência: estudos jurídicos e políticos, 28(55), 65-94.).

Na Idade Média, a concepção de cidadania se modificou, na medida em que Roma se transformou em um Império. O cidadão era visto como o sujeito que se submetia à autoridade soberana. Até então, a cidadania privava-se às classes privilegiadas. Assim, “gradativamente o cidadão se transforma em súdito” (Cademartori & Cademartori, 2007Cademartori, D., & Cademartori, S. (2007). Mutações da cidadania: da comunidade ao estado liberal. Sequência: estudos jurídicos e políticos, 28(55), 65-94., p. 72). No Estado Moderno, há diversas discussões acerca do conceito de cidadão. Uma teoria que explica a transformação da noção de cidadania está na concepção de Estado de Jean Bodin. É nessa época que se consolida a ideia de cidadão enquanto sujeito de direito (Cademartori & Cademartori, 2007Cademartori, D., & Cademartori, S. (2007). Mutações da cidadania: da comunidade ao estado liberal. Sequência: estudos jurídicos e políticos, 28(55), 65-94.).

O Iluminismo resgatou o significado de cidadania clássica. Em 1795, não ser estrangeiro e pagar impostos para o Estado era uma maneira do indivíduo ser considerado cidadão. Em 1799, a Constituição acrescenta que a cidadania é dada pelo nascimento ou pela residência no território pelo período de dez anos (Cademartori & Cademartori, 2007Cademartori, D., & Cademartori, S. (2007). Mutações da cidadania: da comunidade ao estado liberal. Sequência: estudos jurídicos e políticos, 28(55), 65-94.). Os direitos civis surgem no século XVIII, no campo econômico, concomitante ao direito de trabalhar, de acordo com a sua formação ou tecnicidade. Esses direitos civis eram pertencentes a todos os membros masculinos de uma comunidade (Marshall, 1967Marshall, T. H. (1967). Cidadania, classe social e status (M. P. Gadelha Trad.) Zahar.; Marshall, 1992Marshall, T. H. (1992). Citizenship and social class. In: T. H. Marshall, & T. Bottomore (Eds.), Citizenship and Social Class. Pluto. http://academtext.narod.ru/MarshallCitizenship.pdf
http://academtext.narod.ru/MarshallCitiz...
).

No século XIX, os antigos direitos, já pertencentes a uma parcela da população, foram concedidos a novos setores, por consequência do Estatuto da Liberdade, mas o direito político ainda continuava como privilégio de uma classe econômica limitada. Apenas no século XX (1918), que se sentenciou a emancipação das mulheres nos direitos políticos (Marshall, 1967Marshall, T. H. (1967). Cidadania, classe social e status (M. P. Gadelha Trad.) Zahar.; Marshall, 1992Marshall, T. H. (1992). Citizenship and social class. In: T. H. Marshall, & T. Bottomore (Eds.), Citizenship and Social Class. Pluto. http://academtext.narod.ru/MarshallCitizenship.pdf
http://academtext.narod.ru/MarshallCitiz...
).

A visão de cidadania atual divide-se em três: o direito civil, o direito político e o direito social. O componente civil é aquele composto pelos direitos necessários à liberdade. O político é a participação dos indivíduos no exercício da política, como membro ou eleitor de um órgão. E o social é o direito de ter uma vida digna, viver de acordo com os padrões de civilização de uma sociedade (Marshall, 1967Marshall, T. H. (1967). Cidadania, classe social e status (M. P. Gadelha Trad.) Zahar.; Marshall, 1992Marshall, T. H. (1992). Citizenship and social class. In: T. H. Marshall, & T. Bottomore (Eds.), Citizenship and Social Class. Pluto. http://academtext.narod.ru/MarshallCitizenship.pdf
http://academtext.narod.ru/MarshallCitiz...
).

No Brasil, a proteção dessa tríade de direitos aconteceu somente com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (1988). Brasília. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/co...
(CF), a qual foi denominada de Constituição Cidadã e se tornou como símbolo da cidadania (Nascimento e Morais, 2007Nascimento, V. R. do, & Morais, J. L. B. de (2007). A cidadania e a Constituição: uma necessária relação simbólica. Revista de Informação Legislativa, 44(175) 163-174. https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/141295
https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/i...
). O Art. 1º, inciso II, da CF diz que a cidadania é um princípio fundamental no Estado Democrático de Direito. E o Art. 5º expressa que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade [...]” (CF, 1988Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (1988). Brasília. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/co...
). Ou seja, a lei suprema subjetiva a entender que todos os cidadãos são igualitários nos direitos e deveres civis, políticos e sociais.

Com o fenômeno da globalização e o avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação, a concepção de cidadania adquiriu novas interpretações, uma vez que “cidadania não é um conceito estanque, mas um conceito histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço” (Cademartori & Cademartori, 2007Cademartori, D., & Cademartori, S. (2007). Mutações da cidadania: da comunidade ao estado liberal. Sequência: estudos jurídicos e políticos, 28(55), 65-94., p. 92). Assim, rompe-se com o paradigma de que é algo facultado ao indivíduo unicamente em uma comunidade política em específico, de modo que transpõe os limites fronteiriços dos Estados-nações (Nascimento & Morais, 2007Nascimento, V. R. do, & Morais, J. L. B. de (2007). A cidadania e a Constituição: uma necessária relação simbólica. Revista de Informação Legislativa, 44(175) 163-174. https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/141295
https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/i...
). No presente é um sentimento comunitário de participação, uma condição projetada de dentro para fora, seja no campo político, social, econômico, jurídico, ecológico ou midiático (Guerrero, Pérez & Arfelis, 2019Guerrero, A. B., Perez, V. G., & Arfelis, M. B. (2019). Ethical reconstruction of citizenship: A proposal between the intimate self and the public sphere. Journal of Moral Education, 48(4), 483-498. https://doi.org/10.1080/03057240.2018.1563880
https://doi.org/10.1080/03057240.2018.15...
).

Enfim, a cidadania é exercida individualmente, com o propósito de colher frutos coletivamente. O cidadão do século XXI precisa assumir um papel ativo, seja na sua comunidade, cidade, estado, país ou planeta. Querer transcender fronteiras, conhecer outras culturas seria algo inato ou construído socialmente? A cidadania pode ser exercida fora dos limites geográficos em que um indivíduo vive?

Cidadania global: a espécie humana é uma só?

Diferente de outros períodos da história, o início do século XXI trouxe novos ângulos para as discussões sobre cidadania. Uma nova visão, a qual está ligada ao corpo do pensamento político cosmopolita. Isto é, surge um novo tipo de cidadão, que não mais se limita pelas fronteiras de seu país, e possui um senso de pertencimento transnacional, global (Pinheiro, 2020Pinheiro, C. (2020). Cosmopolitismo: cidadania além dos Estados. Ethic@, 19(2), 153-172. http://dx.doi.org/10.5007/1677-2954.2020v19n2p153
http://dx.doi.org/10.5007/1677-2954.2020...
). Isso leva, atores da sociedade e instituições, a diversas tentativas de codificar as suas plurissignificações na literatura, ou estudar na prática sua variação de uso (Heater, 1996Heater, D. (1996). World citizenship and government: cosmopolitan ideas in the history of Western political thought. Macmillan Press.; Lyons et al., 2012Lyons, K., Hanley, J., Wearing, S., & Neil, J. (2012). Gap year volunteer tourism: myths of global citizenship? Annals of Tourism Research, 39(1), 361-378. http://dx.doi.org/10.1016/j.annals.2011.04.016 .
http://dx.doi.org/10.1016/j.annals.2011....
; Biccum, 2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
).

Oriundo do processo de globalização, a cidadania global molda-se para aprofundar uma eventual integração internacional, sendo o conceito estudado por pesquisadores desde o final do século XX (Poziomyck & Guilherme, 2022Poziomyck, A., & Guilherme, A. A. (2022). Educação para cidadania global: críticas e desafios. Revista Contexto & Educação, 37(118). https://doi.org/10.21527/2179-1309.2022.118.12576
https://doi.org/10.21527/2179-1309.2022....
). Biccum (2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
) diz que o conceito se exprime de uma forma no meio político e de outra, na academia. Na política, é caracterizada pelas lutas por direitos humanos, justiça social e inclusão; nas instituições de ensino, como tentativa de reformular os currículos pedagógicos e o desenho educacional. A autora acredita que sua heterogeneidade conceitual é vantajosa para quem a utiliza empiricamente. Defende o ponto que, por mais lógica que seja teoricamente, está ligada a questões de natureza humana, subjetividade política e arranjos políticos apropriados (Biccum, 2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
).

Afirma, ainda, que as pesquisas sobre cidadania global podem ser divididas em: teórica normativa e empírica fenomenológica. A primeira refere-se às relações epistemológicas desenvolvidas com a teoria política cosmopolita, liberal e republicana; também com as vinculações empregadas com outros conhecimentos (como é o propósito da presente pesquisa). A segunda atribui-se pela observação dos comportamentos dos indivíduos ou pela análise das atuações de organizações transnacionais (Biccum, 2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
).

No que diz respeito às organizações transnacionais, exemplifica-se com os denominados Blocos Econômicos. Na perspectiva de Irgang e Irgang (2018Irgang, D. M., & Irgang, R. A. M. (2018). A construção de um conceito de cidadania global, a partir da análise das diferentes interpretações do conceito de cidadania, em diferentes culturas e sua implicação no desenvolvimento social do cidadão. In: A. P. B. Zeifert, M. A. D. Wermuth, J. G. Nielsson, E. F. Schonardie, P. B. Moura, & D. V. Hermel. Anais do I Congresso de Biopolítica e Direitos Humanos. Unijuí. https://publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/conabipodihu/issue/view/202
https://publicacoeseventos.unijui.edu.br...
), a finalidade de países se associarem para a criação de um mercado regional em comum faz com que as pessoas ampliem seu poder de circulação. Não se limita mais ao território ou comunidade de seu país. Isso traz um sentimento de pertencimento. Esse vínculo entre Estados, mesmo que indiretamente, passou a criar um novo conceito e novas perspectivas para a cidadania global (Irgang & Irgang, 2018Irgang, D. M., & Irgang, R. A. M. (2018). A construção de um conceito de cidadania global, a partir da análise das diferentes interpretações do conceito de cidadania, em diferentes culturas e sua implicação no desenvolvimento social do cidadão. In: A. P. B. Zeifert, M. A. D. Wermuth, J. G. Nielsson, E. F. Schonardie, P. B. Moura, & D. V. Hermel. Anais do I Congresso de Biopolítica e Direitos Humanos. Unijuí. https://publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/conabipodihu/issue/view/202
https://publicacoeseventos.unijui.edu.br...
).

Como exemplo, a cidadania europeia. O elo de 27 países, denominados Estados-Membros, projeta incrementar a participação, proteger os direitos e promover uma identidade europeia para os cidadãos. Além do mais, presume-se para a melhoria na participação e interesse dos milhares de cidadãos, na construção democrática e decisões das instituições europeias (Jornal Oficial da União Europeia, 2012Jornal Oficial da União Europeia (2012, 26 de outubro). Tratado sobre o funcionamento da União Europeia (versão consolidada). https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:12012E/TXT&from=pt
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/...
).

É factual ou utópico que existe uma única espécie humana? Que mesmo com diferenças físicas e socioculturais, compartilha-se de uma mesma sociedade universal. À luz da ideia de cidadania global, pode se percorrer todos os “cantos do mundo” com empatia e respeito às diversidades e às diferenças? Costa e Ianni (2018Costa, M. I. S., & Ianni, A. M. Z. (2018). Individualização, cidadania e inclusão na sociedade contemporânea: uma análise teórica. Editora UFABC. https://doi.org/10.7476/9788568576953
https://doi.org/10.7476/9788568576953...
, p. 48) dizem que: “cidadania é uma noção construída socialmente e ganha sentido nas experiências sociais e individuais”.

Assim, um indivíduo concebe-se cidadão por fazer parte de uma comunidade/coletividade, pela qual se representa e é representado. Consequentemente, este senso de pertencimento transporia os limites sociais e geográficos de cidadania? Biccum (2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
) diz que diferentes campos e visões precisam debater uns com os outros o conceito de cidadania global, para criação de focos investigativos que levantem questões fundamentais sobre como a espécie humana pode melhor viver (Biccum, 2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
). É possível sentir-se cidadão, ao mesmo tempo em que se é um turista?

Desenvolvimento sustentável: história, conceitos e turismo

A cada dia que passa maior é o número de pessoas interessadas em explorar novos lugares, seja no seu bairro/comunidade ou do “outro lado do mundo”. Experenciar novas paisagens, culinárias, etnias, culturas, enfim, aquilo que é incomum e diferente do local em que se habita, é algo que traz diversos significados, psicológicos e emocionais. O turismo é “[...] coberto de subjetividade, que possibilita afastamentos concretos e simbólicos do cotidiano, implicando, portanto, novas práticas e novos comportamentos diante da busca do prazer” (Gastal & Moesch, 2007Gastal, S., & Moesch, M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. Aleph., p. 11).

Coincidentemente (ou não) o “boom” turístico - 1950 a 1973 (Rejowaki, 2002Rejowski, M. (2002). Turismo no percurso do tempo. Aleph.) - iniciou menos de duas décadas antes do primeiro evento registrado sobre desenvolvimento sustentável: a Conferência sobre a Biosfera, em Paris, organizado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 1968 (Unesco, 1968Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura [UNESCO] (1968). 1968: International year for human rights. Unesco. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000078234
https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf...
).

Todavia, a literatura considera que o marco para a discussão política sobre desenvolvimento sustentável (nascido a partir do conceito de ecodesenvolvimento) foi na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1972, em Estocolmo, Suécia. Conhecida como Conferência de Estocolmo foi coordenada pela Organização das Nações Unidas (ONU) (Lago, 2006Lago, A. A. C. (2006). Estocolmo, Rio, Joanesburgo: o Brasil e as três conferências ambientais das Nações Unidas. FUNAG, Instituto Rio Branco.). No decorrer da história ocorreram novas reuniões entre Estados-membros da ONU (Figura 1), no intuito de diagnosticar e prognosticar novas ações e práticas para o desenvolvimento sustentável global.

Figura 1
Cronologia dos principais eventos de desenvolvimento sustentável

Os séculos XX e XXI são marcados por debates acerca do conceito e das ações para o desenvolvimento sustentável, em diferentes níveis políticos, administrativos e no conhecimento científico. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1991Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento [CMED] (1991). Nosso futuro comum (2nd ed.) Editora Fundação Getúlio Vargas. , p. 46), definiu como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”, uma vez que, “satisfazer as necessidades e as aspirações humanas é o principal objetivo do desenvolvimento”.

Diversos autores entendem esse conceito como antropocêntrico (Baker, 2006Baker, S. (2006). Sustainable Development. Routledge.; Pereira, 2012Pereira, R. R. (2012). Desenvolvimento sustentável: paradigmas, conceitos, dimensões e estratégias. Revista do TCU, 12.; Boff, 2015Boff, L. (2015). Sustentabilidade: o que é, o que não é (2a ed.). Vozes. ; Andrade, 2021Andrade, A. P. M. (2021). Sustentabilidade e desenvolvimento: obstáculos e caminhos para efetivação do consumo sustentável. Revista Meritum, 16(1), 116-137. https://doi.org/10.46560/meritum.v16i1.7876
https://doi.org/10.46560/meritum.v16i1.7...
). Ou seja, o antropocentrismo considera o homem enquanto centro do universo e desconsidera outra comunidade de vida (Boff, 2015Darabant, M., & Diaconescu, V. (2020). Tourist in my town: how attractive is the city for its inhabitants? Cactus Tourism Journal, 2(2), 6-13. ). Isso significa que a definição da CMMAD não considera a diversidade biológica e as milhares de espécies existentes no planeta, que é o que defende e valoriza o biocentrismo (Oliveira, 2014Oliveira, S. P. (2014). Biocentrismo e ecopedagogia: a educação como ferramenta para cidadania planetária. Revista Direito e Desenvolvimento, 5(10), 271-286.). Logo, pode-se fazer uma conexão com o trabalho de Munck e Borim-de-Souza (2013Munck, L., & Borim-de-Souza, R. (2013). Compreensão do desenvolvimento sustentável em contextos organizacionais a partir do estabelecimento de tipos de ideais. Revista Organizações & Sociedade, 20(67), 651-674.), que consideram três modelos de desenvolvimento sustentável: o arcaico, o de transição e o atualizante.

No modelo arcaico, os indivíduos e as organizações estão preocupados em atender a suas necessidades imediatas, ou seja, defendem seus interesses e desvencilham-se de punições. No modelo de transição “o desenvolvimento sustentável remedia os erros e não se interessa por futuras calamidades sociais e ambientais”; isto é, faz para o presente, deixando em segundo plano as gerações futuras. E, no modelo atualizante, existe o pensamento crítico e holístico, com caráter multidisciplinar: “[...] investiga os erros do passado, resolve as patologias contemporâneas e evita catástrofes futuras. Individualmente, existe uma preocupação sobre a continuidade sistêmica” (Munck & Borim-de-Souza, 2013Munck, L., & Borim-de-Souza, R. (2013). Compreensão do desenvolvimento sustentável em contextos organizacionais a partir do estabelecimento de tipos de ideais. Revista Organizações & Sociedade, 20(67), 651-674., p. 670).

Os autores entendem que aquele indivíduo que possui a consciência do consumo acentuado dos seres humanos, importa-se com o que será deixado de legado para gerações futuras. Do mesmo modo, inquieta-se com as ameaças de desaparecimento de espécies, as quais equilibram os ecossistemas.

Nesse sentido, entende-se que os deslocamentos turísticos e a permanência em locais, independente da modalidade turística, trazem prejuízos das mais diversas ordens para comunidades autóctones (Ferretti, 2002Ferretti, E. R (2002). Turismo e meio ambiente: uma abordagem integrada. Roca.; Blessmann & Pereira, 2017). Ora, o desenvolvimento sustentável do turismo visa a satisfazer os interesses dos turistas e as necessidades socioeconômicas de regiões receptoras. Mantendo a integridade da natureza para usufruto de gerações futuras (Ministério do Turismo, 2007Ministério do Turismo (2007). Roteiros do Brasil: Programa de Regionalização do Turismo. Turismo e sustentabilidade. Ministério do Turismo.).

Enfim, ter uma visão biocêntrica - no sentido de pensar que a natureza equilibra os ecossistemas, leva à harmonia e à evolução sustentável (Foladori, 2005Foladori, G. (2005). Uma tipologia del pelsamiento ambientalista. In: G. Foladore, & N. Pierri (Orgs.). Sustentabilidad? Desacuerdos sobre el desarollo suetentable. Universidade Autônoma de Zacatecas. ) - com ressignificados para o desenvolvimento e com o senso de cidadania global, contribui para que se construa um conceito mais íntegro sobre turismo sustentável.

Turismo sustentável: uma “atividade-fim”

Historicamente, a concepção de turismo sustentável caminha ao lado dos saberes sobre desenvolvimento sustentável. As preocupações com os impactos gerados pelo turismo começaram a ser assimiladas a partir da década de 1970, por consequência dos alertas de ambientalistas. E, é nas conclusões do Relatório de Brundtland, que se têm os primeiros fundamentos acerca do desenvolvimento sustentável do planeta e, consequentemente, do turismo (Ruschmann, 2000Ruschmann, D. (2000). A experiência do turismo ecológico no Brasil: um novo nicho de mercado ou um esforço para atingir a sustentabilidade. Turismo Visão e Ação, 2(5), 81-90. ).

Todavia, destaca-se que há diferenças conceituais entre desenvolvimento sustentável do turismo e turismo sustentável. O primeiro é a “atividade-meio”, o processo para se chegar à sustentabilidade por meio do turismo. O segundo é a “atividade-fim”, o propósito a se alcançar, onde o turismo se manteria por si próprio (Butler, 1999Butler, R. W. (1999). Sustainable tourism: A state-of-the-art review. Tourism Geographies, 1(1), 7-25. http://dx.doi.org/10.1080/14616689908721291
http://dx.doi.org/10.1080/14616689908721...
; Hanai, 2012Hanai, F. Y. (2012). Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade do turismo: conceitos, reflexões e perspectivas. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 8(1), 198-231.).

Conforme Ruschmann (2000Ruschmann, D. (2000). A experiência do turismo ecológico no Brasil: um novo nicho de mercado ou um esforço para atingir a sustentabilidade. Turismo Visão e Ação, 2(5), 81-90. , p. 82), “o conceito de desenvolvimento sustentável e aquele do turismo sustentável estão intimamente ligados à proteção do meio ambiente”. O meio ambiente é entendido como os diversos ecossistemas, fatores bióticos e abióticos e todas as suas interrelações, somadas às questões socioeconômicas e culturais (Ruschmann, 2000Ruschmann, D. (2000). A experiência do turismo ecológico no Brasil: um novo nicho de mercado ou um esforço para atingir a sustentabilidade. Turismo Visão e Ação, 2(5), 81-90. ).

Enfatiza-se que não existe uma definição de turismo sustentável totalmente aceita e universalmente aplicada, sendo que o sucesso da transformação do termo reside no fato de ser indefinível e, consequentemente, seu uso é aplicado conforme o objetivo das partes interessadas (Butler, 1999Butler, R. W. (1999). Sustainable tourism: A state-of-the-art review. Tourism Geographies, 1(1), 7-25. http://dx.doi.org/10.1080/14616689908721291
http://dx.doi.org/10.1080/14616689908721...
).

O uso corrente do termo turismo sustentável em estudos e por instituições faz com que se tenham múltiplas leituras e interpretações. Os enfoques científicos que projetam o turismo sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável, proporcionam profundas contribuições para refletir e debater o caminhar da atividade turística (Hanai, 2012Hanai, F. Y. (2012). Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade do turismo: conceitos, reflexões e perspectivas. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 8(1), 198-231.). Logo, o Quadro 1 apresenta conceitos de turismo sustentável que contribuem com a produção de conhecimento.

Quadro 1
Conceitos de turismo sustentável

Turismo sustentável não é um conceito estático, tampouco um tipo de turismo, pois “em realidade, todas as formas de turismo deveriam ser sustentáveis e esse deveria, em tese, ser o compromisso central em planejamento. A sustentabilidade do turismo é consequência, portanto, da responsabilidade de todos os segmentos envolvidos nele” (Hanai, 2012Hanai, F. Y. (2012). Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade do turismo: conceitos, reflexões e perspectivas. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 8(1), 198-231., p. 212). Portanto, nas práxis, deve orientar e conscientizar emissores e receptores do turismo para o uso consciente e responsável do meio ambiente. E, na formação intelectual, deve contribuir para o aprofundamento dos saberes científicos - que é o que se pretende com a presente pesquisa.

METODOLOGIA

A primeira etapa para a construção do presente artigo ocorreu no curso da disciplina de “Comunidade e Cidadania”, relativa ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário, da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Paraná. De março a julho de 2023, leituras, interpretações e debates da literatura clássica e contemporânea, geraram reflexões a respeito dos significados de cidadania, o que determinou a escolha do tema.

Dada as anotações e reflexões, necessárias e pertinentes, a segunda etapa consistiu na elaboração de uma pesquisa bibliográfica, por meio de uma revisão sistemática da literatura, com o intuito de apresentar e debater: (a) a situação atual de publicações de um tema, (b) a qualidade dessas publicações, (c) as lacunas existentes, e (d) a indicação para futuras pesquisas (Toronto, 2020Toronto, C. E. (2020). Overview of the intregrative review. In: C. E. Toronto, & R. Remington (Eds.) A step-by-step guide to conducting na integrative review (pp. 1-8). Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-030-37504-1
https://doi.org/10.1007/978-3-030-37504-...
; Finelli, Soares & Antunes, 2022Finelli, L. A. C., Soares, W. D., & Antunes, C. C. (2022). O que é uma revisão de literatura? A estrutura metodológica de revisões. In: L. A. C. Finelli, & W. D. Soares (orgs.), Revisão bibliográfica: o uso da metodologia para a produção de textos (v. 2, 60-74) Científica Digital. ). Desse modo, seguiu-se o cronograma: (i) seleção do tema e formulação do problema de pesquisa; (ii) definição de critérios de elegibilidade; (iii) pesquisa em bancos de dados previamente selecionados; (iv) categorização dos estudos selecionados; (v) síntese e análise dos dados; (vi) disseminação das descobertas (Toronto, 2020Toronto, C. E. (2020). Overview of the intregrative review. In: C. E. Toronto, & R. Remington (Eds.) A step-by-step guide to conducting na integrative review (pp. 1-8). Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-030-37504-1
https://doi.org/10.1007/978-3-030-37504-...
).

Para a seleção do tema e formulação do problema de pesquisa, combinaram-se as palavras-chave “cidadania global” e “turismo sustentável” e elaborou-se o seguinte problema: quais são as relações propostas no conhecimento científico entre cidadania global e turismo sustentável? Seguidamente, a definição de critérios de elegibilidade (Quadro 2) delimitou: 1) base de dados, 2) descritores e boleanos, 3) tipo de documento e 4) temporalidade. Adaptado de Emmendoefer et al. (2022Emmendoerf, L., Lacerda, L. L. L., Otowicz, M. H., & Biz, A. A. (2022). Turismo e gestão do conhecimento: uma revisão integrativa de literatura. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 20(3), 757-778. https://doi.org/10.25145/j.pasos.2022.20.052 .
https://doi.org/10.25145/j.pasos.2022.20...
). As demais etapas são apresentadas nos resultados e nas discussões.

Quadro 2
Critérios de elegibilidade

Com a percepção das lacunas na relação cidadania global e desenvolvimento sustentável do turismo, no que se refere a publicações científicas, a terceira etapa procurou “integrar a definição de conceitos; revisar teorias ou metodologias; dialogar com autores distintos" (Finelli, Soares & Antunes, 2022Finelli, L. A. C., Soares, W. D., & Antunes, C. C. (2022). O que é uma revisão de literatura? A estrutura metodológica de revisões. In: L. A. C. Finelli, & W. D. Soares (orgs.), Revisão bibliográfica: o uso da metodologia para a produção de textos (v. 2, 60-74) Científica Digital. , p. 70), característica comum de uma revisão integrativa da literatura. Para isso, relacionaram-se as teorias (Quadro 3) de: 1) cidadania global (Biccum, 2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
), 2) modelos de desenvolvimento sustentável (Munck & Borim-de Souza, 2013Munck, L., & Borim-de-Souza, R. (2013). Compreensão do desenvolvimento sustentável em contextos organizacionais a partir do estabelecimento de tipos de ideais. Revista Organizações & Sociedade, 20(67), 651-674.) e 3) turismo cidadão (Gastal & Moesch, 2007Gastal, S., & Moesch, M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. Aleph.). A partir dessa associação, desenvolveu-se um novo conceito para turismo sustentável.

Quadro 3
Teorias de análise

A definição dos critérios tem o objetivo de estabelecer relações entre turismo sustentável e cidadania global. Para desenvolver um conceito plural para turismo sustentável, utilizou-se a relação entre teorias, conforme apresentado no Quadro 3. Todo o percurso metodológico ocorreu entre julho e setembro de 2023. A Figura 2 apresenta as etapas seguidas.

Figura 2
Processo de construção e disseminação do conhecimento

Não houve um critério de subdivisão das pesquisas encontradas, entre teóricas ou empíricas. O intuito foi reunir todas as pesquisas que, de fato, relacionassem os termos cidadania global e turismo sustentável. Seja em qualquer capítulo do artigo. O critério de exclusão dos artigos levantados envolveu, predominantemente, aqueles que não consideravam discussões acerca de uma das temáticas.

RESULTADOS

No Portal Periódico Capes foi feita a pesquisa nos bancos de dados previamente selecionados. A busca aconteceu no Web of Science e no Scopus. Previamente, encontraram-se 19 resultados, sendo que 14 não atendiam os critérios, em conformidade com o problema de pesquisa. Desse modo, prosseguiu-se com a leitura integral dos cinco artigos para a categorização dos estudos selecionados (Quadro 4).

Quadro 4
Artigos eleitos para análise

Enfatiza-se que a finalidade desse levantamento foi entender a relação constante na literatura recente entre cidadania global e turismo sustentável. Ao considerar apenas cinco artigos, reflete-se a escassez de pesquisas científicas que relacionem as terminologias. Portanto, reconheceu-se a necessidade de um debate hermético, porém ilimitado para novas e futuras investigações.

A partir dos artigos elegidos, realizou-se a síntese e análise dos dados. O constructo apresenta as características de cada artigo. Primeiramente é realizado um apanhado geral, seguido de uma apresentação, por meio de quadros, das características de cada artigo: título, palavras-chave, objetivos, metodologia e principais resultados (os que ligavam a cidadania global e turismo sustentável). Continuadamente, uma sinopse geral. Ao final, a epítome, relacionando as descobertas.

DISCUSSÕES

As lacunas no conhecimento entre cidadania global e turismo sustentável

O artigo “Uma metodologia referencial para a educação em desenvolvimento do turismo sustentável” externou resultados de um programa educacional que objetivou “promover o aprendizado para o desenvolvimento do turismo sustentável e a melhoria do comportamento de cidadania global em um cenário internacional”. Sua implementação foi em 2013 (Hatipoglu et al., 2014Hatipoglu, B., Ertuna, B., & Sasidharan, V. (2014). A referential methodology for education on sustainable tourism development. Sustainability, 6(8), 5029-5048. https://doi.org/10.3390/su6085029
https://doi.org/10.3390/su6085029...
, p. 5033, tradução nossa). Desenvolvido e executado por três docentes, é um programa fomentado conjuntamente pelo Departamento de Administração de Turismo, da Universidade de Bogazici, na Turquia e a Escola de Hotelaria e Gestão de Turismo, da Universidade Estadual de San Diego, nos EUA.

A metodologia de aprendizagem se deu por dois componentes: 1) o ambiente em sala de aula e 2) o estudo de campo conduzido pelo corpo docente. Na prática, os pesquisadores utilizaram a Escala de Cidadania Global desenvolvida por Morais e Ogden (2011Morais, D., & Ogden, A. C. (2011) Initial development and validation of the global citizenship scale. Journal of Studies in International Education, 15(5), 445-466. https://doi.org/10.1177/1028315310375308
https://doi.org/10.1177/1028315310375308...
). A sistematização divide a cidadania global em três dimensões: responsabilidade social, competência global e engajamento físico global, em nove subdimensões (Morais & Ogden, 2011Morais, D., & Ogden, A. C. (2011) Initial development and validation of the global citizenship scale. Journal of Studies in International Education, 15(5), 445-466. https://doi.org/10.1177/1028315310375308
https://doi.org/10.1177/1028315310375308...
). A finalidade foi perceber se a escala mudaria as concepções sobre cidadania global dos alunos participantes da pesquisa, pré e pós-teste. Participaram 28 alunos, sendo 15 americanos e 13 turcos, com conhecimentos variados sobre desenvolvimento sustentável do turismo. O Quadro 5 resume as principais características do artigo.

Quadro 5
Síntese do artigo “Uma metodologia referencial para a educação em desenvolvimento do turismo sustentável”

Em suma, a pesquisa faz-se entender que a prática é tão, ou até mais, valiosa que a teoria, para se ter uma visão mais ampla sobre cidadania global. O aprendizado fora de sala de aula permite que os alunos conheçam a verdadeira realidade e compreendam a heterogeneidade do mundo vivido. Por isso, o aprendizado clássico não é suficiente para o ensino da sustentabilidade. Há necessidade de modelos multidisciplinares e multidimensionais para um ensino mais profundo.

O ensaio “Rumo a viagens educacionais sustentáveis” (tradução nossa) é uma pesquisa bibliográfica que estabelece uma definição de viagem educacional sustentável. A partir da sintetização teórica e empírica da literatura sobre viagens educacionais e das perspectivas do turismo sustentável, oferece uma visão de certas estratégias logísticas, curriculares e de avaliação para aprimorar as práxis de sustentabilidade em programas de viagens educacionais. Recomenda o desenvolvimento de uma agenda de pesquisa, para enriquecer abordagens práticas e teóricas em viagens educacionais sustentáveis (Long et al., 2014Long, J., Vogelaar, A., & Hale, B. W. (2014). Toward sustainable educational travel. Journal of Sustainable Tourism , 22(3), 421-439. https://doi.org/10.1080/09669582.2013.819877
https://doi.org/10.1080/09669582.2013.81...
).

Os programas de viagens educacionais mencionados são os de estudos no exterior, no Brasil, popularmente conhecidos como programas de intercâmbio. Logo, esse tipo de deslocamento contribui para que os participantes/alunos entendam os vínculos entre cidadania global e práticas sustentáveis (Long et al., 2014Long, J., Vogelaar, A., & Hale, B. W. (2014). Toward sustainable educational travel. Journal of Sustainable Tourism , 22(3), 421-439. https://doi.org/10.1080/09669582.2013.819877
https://doi.org/10.1080/09669582.2013.81...
). Ademais, o Quadro 6 apresenta as pontualidades desse ensaio.

Quadro 6
Síntese do artigo “Rumo a viagens educacionais sustentáveis”

Resumindo, a grande procura por morar no exterior, por um lado, faz com que o turismo de estudos seja um campo proeminente e economicamente viável para países que permitem o intercâmbio. Por outro, há impactos ambientais e sociais, diretos e indiretos, com o aumento populacional de determinada cidade, região ou país. Assim, as instituições que promovem esse tipo de viagem têm a oportunidade de (re)definir suas estratégias. No tocante à educação de seus alunos para viagens educacionais bem-sucedidas, com sustentabilidade e cidadania global. Logo, praticar viagens educacionais sustentáveis contribui para o crescimento pessoal, desenvolvimento intelectual, aprendizagem intercultural e a promoção da cidadania global.

No trabalho “Cidadania global, viagens educacionais e turismo sustentável: evidências da Austrália e Nova Zelândia” (tradução nossa) foi aplicado um instrumento de pesquisa com estudantes de dez universidades dos Estados Unidos. Os alunos participaram de um programa de viagem educacional, em que uma parcela ficaria quatro semanas na Austrália e outra, o mesmo período, na Nova Zelândia. No primeiro dia (pré-teste) e no último (pós-teste) da viagem foram utilizadas três escalas, desenvolvidas por Stern et al. (1999Stern, P. C., Dietz, T., Abel, T., Guagnano, G. A., & Kalof, L. (1999). A value-balief-norm theory of support for social movements: the case of environmentalism. Research in Human Ecology, 6(2), 81-97.): 1. Comportamento do consumidor, 2. cidadania ambiental e 3. apoio político ou aceitação. Ora, foi medido o senso de cidadania global - pré e pós-teste. As particularidades dessa pesquisa são apresentadas no Quadro 7.

Quadro 7
Síntese do artigo “Cidadania global, viagens educacionais e turismo sustentável: evidências da Austrália e Nova Zelândia”

Sintetizando os experimentos utilizados, notou-se que uma viagem de estudos gera resultados de aprendizado na relação entre o aumento da conscientização ambiental, social e econômica, e formação de uma cidadania global, além de promover o ambientalismo, o engajamento cívico e a justiça social (Winn, 2006Winn, J. G. (2006). Techno-information literacy and global citizenship. International Journal of Technology, Knowledge and Society, 2(3), 123-128. https://doi.org/10.18848/1832-3669/CGP/v02i03/55597
https://doi.org/10.18848/1832-3669/CGP/v...
; Tarrant et al., 2014Tarrant, M. A., Lyons, K., Stoner, L., Kyle, G. T., Wearing, S., & Poudyal, N. (2014). Global citizenry, educational travel and sustainable tourism: evidence Australia and New Zealand. Journal of Sustainable Tourism , 22(3), 403-420. http://dx.doi.org/10.1080/09669582.2013.815763 .
http://dx.doi.org/10.1080/09669582.2013....
). Estar em outro país, estado, região ou município, supostamente, pode desenvolver uma consciência diferente daquela “monocultura da vida doméstica” (Dixey, 2012Dixey, R. (2012). Delivering creative education for health promoters in Africa: towards critical mass by ‘going global ande saying local’. Scientific Research, 3, 749-754. http://dx.doi.org/10.4236/ce.2012.326112
http://dx.doi.org/10.4236/ce.2012.326112...
, p. 751). Pois, teoricamente, a um avanço na reprodução de um espírito voltado a sustentabilidade e a cidadania global.

O artigo “Sabedoria para viajar longe: tornar as viagens educativas sustentáveis”, (tradução nossa) fez uma revisão bibliográfica, a partir do confronto entre as benesses e as ameaças de viagens educacionais. Guiou-se por exemplos de estudos que relacionam programas de intercâmbio com o desenvolvimento sustentável.

Por um lado, Hale (2019) resume alguns estudos (Lutterman-Aguilar & Gingerich; 2002; Paige et al., 2009Paige, R. M., Fry, G. W., Stallman, E. M., Josic, J., & Jon, J. (2009). Study abroad for global engagement: the long-term impact of Mobility experiences. Intercultural Education, 20(1), 29-44. https://doi.org/10.1080/14675980903370847
https://doi.org/10.1080/1467598090337084...
; Tarrant, 2009Tarrant, M. A. (2009). A conceptual framework for exploring the role of studies abroad in narturing global citizenship. Journal of Studies in International Education , 14(5), 433-451. https://doi.org/10.1177/1028315309348737 .
https://doi.org/10.1177/1028315309348737...
; Raxisen, 2013Rexisen, R. J. (2013). The impact of study abroad on the development of pro-environmental attitudes. The International Journal of Sustainability Education, 9(1), 7-19. https://doi.org/10.18848/2325-1212/CGP/v09i01/55295
https://doi.org/10.18848/2325-1212/CGP/v...
; Bell et al., 2016Bell, H. L., Gibson, H. J., Tarrant, M. A., Perry III, L. G., & Stoner, L. (2016). Transformational learning through study abroad: US students’ reflections on learning about sustainability in the South Pacific. Leisure Studies, 35(4). https://doi.org/10.1080/02614367.2014.962585
https://doi.org/10.1080/02614367.2014.96...
; Stoner et al., 2014Stoner, K. R., Tarrant, M. A., Perry, L., Stoner, L., Wearing, S., & Lyons, K. (2014). Global citizenship as a learning outcome of educational travel. Journal of Teaching in Travel & Tourism, 14, n. 2, 129-163. https://doi.org/10.1080/15313220.2014.907956
https://doi.org/10.1080/15313220.2014.90...
) que apresentam os benefícios das viagens educacionais para os participantes, por exemplo, a educação e aprendizagem experiencial e as competências interculturais. Por outro, difunde pesquisas de como o turismo educacional resulta em efeitos contrários ao conceito sistêmico de desenvolvimento sustentável, como na emissão de carbono (Brouwer, Brander & Van Beukering, 2008Brouwer, R., Brander, L., & Van Beukering, P. (2008). ‘A convenient truth’: air travel passengers’ willingness to pay to offset their CO2 emissions. Climatic Change, 90, 299-312. http://doi.org/10.1007/s10584-008-9414-0
http://doi.org/10.1007/s10584-008-9414-0...
; Gössling et al., 2007Gössling, S., Broderick, J., Upham, P., Ceron, J., Dubois, G., Peeters, P., & Strasdas, W. (2007). Voluntary carbon offsetting schemes for aviation: efficiency, credibility and sustainable tourism. Journal of Sustainable Tourism , 15(3), 223-248. https://doi.org/10.2167/jost758.0
https://doi.org/10.2167/jost758.0...
), na exploração da cultura local (Long et al., 2014Long, J., Vogelaar, A., & Hale, B. W. (2014). Toward sustainable educational travel. Journal of Sustainable Tourism , 22(3), 421-439. https://doi.org/10.1080/09669582.2013.819877
https://doi.org/10.1080/09669582.2013.81...
), no elitismo e mentalidades coloniais (Jorgenson, 2010Jorgenson, S. (2010). De-centering and re-visioning global citizenship education abroad programs. International Journal of Development Education and Global Learning, 3(1), 23-38.) e na exploração de áreas sensíveis e sem adequação para o turismo (Hale, 2018).

Decorrente dessa dialética, e a partir de experiências próprias, são apresentados vários exemplos de como viagens educacionais podem ser sustentáveis, juntamente com recomendações para reduzir os impactos negativos nas comunidades anfitriãs. O Quadro 8, resume os principais pontos desse artigo.

Quadro 8
Síntese do artigo “Sabedoria para viajar longe: tornar as viagens educativas sustentáveis

As agências que ofertam, ou as universidades que incentivam os seus alunos para esse turismo educativo devem desenvolver a consciência dos participantes/alunos, bem como sensibilizar sua capacidade de agir para efetuar mudanças positivas no destino, sendo que, desse modo, atingem o objetivo de criar cidadãos globais (Tarrant, 2009Tarrant, M. A. (2009). A conceptual framework for exploring the role of studies abroad in narturing global citizenship. Journal of Studies in International Education , 14(5), 433-451. https://doi.org/10.1177/1028315309348737 .
https://doi.org/10.1177/1028315309348737...
; Hale, 2019). Enfim, resume-se, que: “as viagens educativas são necessárias no mundo de hoje. Experimentar outras culturas, estilos de vida e ambiente ajuda a criar cidadãos globais que serão membros importantes da sociedade de amanhã” (Hale, 2019, s.p, tradução nossa).

O artigo “Um marco pedagógico para o desenvolvimento do cidadão crítico do turismo” (tradução nossa) propôs a aplicação do Critical Incident Questionnaire (CIQ) (Questionário de Incidente Crítico) de Brookfield (1987), para três turmas de graduação em turismo dos Estados Unidos, durante setembro e dezembro de 2016. O CIQ é uma ferramenta pedagógica avaliativa, composta por cinco elementos, em que os alunos são encorajados a refletir sobre suas experiências no aprendizado, a partir do: 1) momento mais engajado, do 2) momento mais distanciado, da 3) ação mais afirmativa, da 4) ação mais intrigante e 5) o que mais te surpreendeu? Dessa instrumentalização, foram analisados os seguintes pontos: os tópicos críticos, o diálogo crítico, a reflexão crítica, o posicionamento crítico e a práxis crítica (Boluk et al., 2019Boluk, K. A., Cavaliere, C. T., & Duffy, L. N. (2019). A pedagogical framework for the development of the critical tourism citizen. Journal of Sustainable Tourism, 27(7), 865-881. https://doi.org/10.1080/09669582.2019.1615928
https://doi.org/10.1080/09669582.2019.16...
).

Em relação ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 4: educação de qualidade), os autores entendem que os ODS, na sua íntegra, não despertam a criticidade. Cabe aos docentes do ensino superior incorporar processos críticos em sala de aula, para formar cidadãos globais e que enfrentem os desafios complexos da sustentabilidade (Boluk et al., 2019Boluk, K. A., Cavaliere, C. T., & Duffy, L. N. (2019). A pedagogical framework for the development of the critical tourism citizen. Journal of Sustainable Tourism, 27(7), 865-881. https://doi.org/10.1080/09669582.2019.1615928
https://doi.org/10.1080/09669582.2019.16...
). O Quadro 9 resume este artigo.

Quadro 9
Síntese do artigo “Um marco pedagógico para o desenvolvimento do cidadão crítico do turismo”

Os autores incitam os docentes do ensino superior em turismo a promover a criticidade dos seus alunos, para torná-los cidadãos críticos do turismo. Para isso, usaram a literatura de cidadania global e cidadania crítica para engajar o pensamento analítico e reflexivo na academia. Concluíram que existe uma ausência do pensamento crítico na relação entre cidadania global, sustentabilidade e responsabilidade.

Com base nas sínteses apresentadas dos artigos elegidos para essa revisão sistemática de literatura, a disseminação das descobertas visa a evidenciar as lacunas deixadas pelo conhecimento científico na relação entre cidadania global e turismo sustentável. Ressalta-se que esses apontamentos se fundamentam nas experiências profissionais na educação superior dos autores deste estudo, em conjunto com os saberes adquiridos por meio do conhecimento científico.

A cidadania global não é algo inato do ser humano, mas uma interpretação do mundo, uma construção social e coletiva. Por isso, para enxergar como o turismo sustentável funciona na prática, deve-se iniciar pela educação (Boluk et al., 2019Boluk, K. A., Cavaliere, C. T., & Duffy, L. N. (2019). A pedagogical framework for the development of the critical tourism citizen. Journal of Sustainable Tourism, 27(7), 865-881. https://doi.org/10.1080/09669582.2019.1615928
https://doi.org/10.1080/09669582.2019.16...
). As instituições de ensino superior necessitam atuar ativamente na conscientização e transformação dos alunos (Hatipoglu et al., 2014Hatipoglu, B., Ertuna, B., & Sasidharan, V. (2014). A referential methodology for education on sustainable tourism development. Sustainability, 6(8), 5029-5048. https://doi.org/10.3390/su6085029
https://doi.org/10.3390/su6085029...
). Submetê-los a programas de viagens educacionais torna-se uma forma de orientá-los sobre os vínculos entre cidadania global e práticas sustentáveis, uma vez que tais experiências contribuem para acrescentar o senso de compreensão intercultural, justiça social, autoconsciência e alfabetização ambiental (Long et al., 2014Long, J., Vogelaar, A., & Hale, B. W. (2014). Toward sustainable educational travel. Journal of Sustainable Tourism , 22(3), 421-439. https://doi.org/10.1080/09669582.2013.819877
https://doi.org/10.1080/09669582.2013.81...
).

Desse modo, foi perceptível nos cinco estudos analisados que a educação é o pilar para uma construção contínua das conexões teóricas e práticas entre cidadania global e turismo sustentável. Entretanto, atualmente, há necessidade que a natureza de ensino seja multidisciplinar, interdisciplinar e multidimensional, para que uma abordagem mais crítica e profunda seja realizada, já que dadas metodologias clássicas de aprendizado não se adequam à contemporaneidade (Hatipoglu et al., 2014Hatipoglu, B., Ertuna, B., & Sasidharan, V. (2014). A referential methodology for education on sustainable tourism development. Sustainability, 6(8), 5029-5048. https://doi.org/10.3390/su6085029
https://doi.org/10.3390/su6085029...
; Boluk et al., 2019Boluk, K. A., Cavaliere, C. T., & Duffy, L. N. (2019). A pedagogical framework for the development of the critical tourism citizen. Journal of Sustainable Tourism, 27(7), 865-881. https://doi.org/10.1080/09669582.2019.1615928
https://doi.org/10.1080/09669582.2019.16...
).

Diante disso, a correlação cidadania global/turismo sustentável, no intuito de produção de conhecimento científico, precisa ser articulada de forma mais completa, ao passo que há um vácuo na literatura no que se refere a sua aplicação prática e a debates no tocante às ações antropológicas. Além de que, por um lado, a inexistência de estudos teóricos em português e de pesquisas empíricas no Brasil, dificulta para uma análise de como essas terminologias podem ser trabalhadas localmente. Por outro, é uma possibilidade para que inéditas pesquisas científicas sejam desenvolvidas.

Por um conceito plural de turismo sustentável

Proposta por órgãos governamentais e discutidos na literatura, o turismo sustentável, enquanto conceito, era entendido, sobretudo, no final do século XX e início do XXI, como uma modalidade do turismo cuja finalidade é cumprir um papel dual e simultâneo. Ou seja, satisfazer as necessidades de turistas e da população local, ora mantendo a integridade cultural, da natureza e a diversidade biológica para gerações futuras (Ministério do Turismo, 2007Ministério do Turismo (2007). Roteiros do Brasil: Programa de Regionalização do Turismo. Turismo e sustentabilidade. Ministério do Turismo.).

No presente, o turismo sustentável é entendido como uma concepção orientativa para turistas e viajantes, e não um segmento específico de mercado (Ministério do Turismo, 2023Ministério do Turismo (2023). Mapa Brasileiro do Turismo Responsável. https://paineis.turismo.gov.br/sense/app/6c7ee682-c424-4b78-b98a-5bf04e66309f/sheet/5589e238-576d-417c-a1a4-be6ec0087667/state/analysis
https://paineis.turismo.gov.br/sense/app...
). Esta “orientação turística” pode estar presente em qualquer prática turística (ecoturismo, turismo de aventura, turismo social, turismo cultural, turismo de estudos, turismo de negócios, etc.), direcionando o turista/visitante a explorar destinos de forma consciente responsável e inteligente.

Até certo ponto, esse conceito pode ser considerado antropocêntrico, por pensar na centralidade do ser humano com as práticas turísticas. Portanto, tendo em vista desenvolver um conceito plural para o turismo sustentável, embasam-se e relacionam-se a teoria de cidadania global de Biccum (2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
), de modelos de desenvolvimento sustentável de Munck e Borim-de-Souza (2013Munck, L., & Borim-de-Souza, R. (2013). Compreensão do desenvolvimento sustentável em contextos organizacionais a partir do estabelecimento de tipos de ideais. Revista Organizações & Sociedade, 20(67), 651-674.) e a concepção de turista cidadão de Gastal e Moesch (2007Gastal, S., & Moesch, M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. Aleph.).

A cidadania global é assimilada de diferentes formas entre atores políticos e acadêmicos. No caso do conhecimento científico, parte de uma abordagem interpretativa, capaz de fornecer sentidos de avaliar como e por que o seu uso é relevante. Estudiosos de diferentes campos e com distintas visões precisam debater e investigar de como este conceito levanta questões fundamentais de como a sociedade deve viver (Biccum, 2020Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies. Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190...
). São várias suas interpretações, conquanto Biccum (2020, s.p, tradução nossa) diz que “o elemento ativo, coletivo e público é consistente em todo processo”.

A partir dos três modelos de desenvolvimento sustentável, de Munck e Borim-de-Souza (2013Munck, L., & Borim-de-Souza, R. (2013). Compreensão do desenvolvimento sustentável em contextos organizacionais a partir do estabelecimento de tipos de ideais. Revista Organizações & Sociedade, 20(67), 651-674.) - apresentados na revisão de literatura - defende-se o modelo atualizante como o tipo ideal de pensar a sustentabilidade. Visto que tem a compreensão dos erros cometidos por gerações antepassadas, possui ciência das ações negativas do presente e contribui para a harmonia ambiental, econômica e social para as gerações futuras.

O turismo cidadão (Gastal & Moesch, 2007Gastal, S., & Moesch, M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania. Aleph.) ou staycation (Rosu, 2020; Darabant & Diaconescu, 2020Darabant, M., & Diaconescu, V. (2020). Tourist in my town: how attractive is the city for its inhabitants? Cactus Tourism Journal, 2(2), 6-13. ; Oana et al., 2021Oana, P., Andreea, B., Nicoleta, C., & Florin, A. V. (2021). Domestic tourism in Brasov: the effect of manifesting the interest of being a tourist your own city. In: Anais XXIIth International Conference “Risk in Contemporary Economy”, 136-146. https://doi.org/10.35219/rce20670532109
https://doi.org/10.35219/rce20670532109...
), enquanto modalidades do turismo, realçam a importância da cidade para o habitante e rompem com dois paradigmas. Primeiro, ao modelo existencial da sociedade industrial, baseado no trabalho-moradia-lazer-viagem, apresentado e criticado por Krippendorf (2000Krippendorf, J. (2000). Sociologia do turismo. Aleph.). Tal modelo indica que o turismo somente pode ser realizado fora do seu território de vivência. Segundo, da dicotomia turista e cidadão, uma vez que o habitante concebe o lugar, também, como lugar de outrem. Enfim, os saberes e os comportamentos de um turista cidadão agregam para um meio ambiente sustentável e para o senso de cidadania global.

Considerando o conhecimento científico discutido neste artigo e as concepções apresentadas neste subcapítulo, propõem-se um conceito para turismo sustentável: Turismo sustentável é uma característica comportamental de sujeitos e organizações para o desenvolvimento responsável, equilibrado e harmônico da atividade turística. A sua aplicabilidade garante a equidade socioeconômica de comunidades receptoras, fortalece e harmoniza as relações interculturais e minimiza os impactos à diversidade biológica. Praticantes, agentes e organizações, particularmente, corrigem as omissões do passado, responsabilizam-se sobre as atitudes do presente e conscientizam-se sobre os propósitos do futuro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto literal, cidadão global é algo utópico. A divisão territorial das nações e a configuração geopolítica do mundo não permitem que um cidadão seja “do mundo”. Há barreiras, alfândegas, controle de imigração, etc. Portanto, cidadania global é uma terminologia filosófica, abstrata, que provêm do sentimento do ser humano. Da consciência sobre um mundo diversificado de opiniões, leis, regras, religiões, credos, orientações sexuais, raças, etnias, culturas, etc. A cidadania global é uma inclinação que prega ideologias de respeito e que desconstrói a lógica de um ser dominante, em que são consideradas diversas interseccionalidades.

Em um deslocamento turístico, desde o realizado no próprio município, até uma viagem de milhares de quilômetros - com longas estadias e em destinos de turismo de massa - existem benesses e malefícios, quer seja de ordem social, econômica ou ambiental. Por isso, o senso de cidadania global desenvolve nas pessoas um raciocínio inclinado para executar ações, diretas ou indiretas, como a diminuição de injustiças, o que caminha, paralelamente, com os princípios do desenvolvimento sustentável.

Na área da educação é que se constroem e que se disseminam orientações acerca de cidadania global e turismo sustentável. Sendo assim, conforme Boluk et al. (2019Boluk, K. A., Cavaliere, C. T., & Duffy, L. N. (2019). A pedagogical framework for the development of the critical tourism citizen. Journal of Sustainable Tourism, 27(7), 865-881. https://doi.org/10.1080/09669582.2019.1615928
https://doi.org/10.1080/09669582.2019.16...
), é essencial integrar a educação crítica em pesquisas sobre o turismo sustentável, visto que desperta o senso crítico-analítico dos alunos, tanto quanto consumidores ou futuros profissionais. E, ainda, contribui nos processos de tomada de decisão para promover a sustentabilidade. Acrescenta-se à educação crítica, englobar estudos multidisciplinares e interdisciplinares, posto que é uma maneira de entender as plurissignificações de sustentabilidade e cidadania global por diferentes ópticas.

Quanto à solução para o problema de pesquisa que questiona: quais são as relações propostas no conhecimento científico entre cidadania global e turismo sustentável, evidenciou-se que a interação entre conceitos e práticas é, preponderantemente, na área da educação, com processos educativos, da formação de cidadãos críticos em sala de aula à preparação para programas de viagens educacionais. Acredita-se que os vínculos socioeducacionais contribuem para uma acepção ampla acerca das relações socioambientais e socioeconômicas. E, quanto mais a cidadania global for adotada como uma identidade, maior será a concepção de turistas e destinos turísticos, no que diz respeito à sustentabilidade (Özekici, 2022Özekici, Y. R. (2022). Role of global citizenship on tourists’ intention to prefer destinations with green smart technology-based management system. Rosa dos Ventos - Turismo e Hospitalidade, 14(3), 747-779. http://dx.doi.org/10.18226/21789061.v14i3p779
http://dx.doi.org/10.18226/21789061.v14i...
).

Os estudos analisados são teóricos ou aplicados com participantes. Isso significa que há necessidade de mais pesquisas para dimensionar a eficácia de estruturas práticas e teóricas (Long et al., 2014Long, J., Vogelaar, A., & Hale, B. W. (2014). Toward sustainable educational travel. Journal of Sustainable Tourism , 22(3), 421-439. https://doi.org/10.1080/09669582.2013.819877
https://doi.org/10.1080/09669582.2013.81...
). Também se faz necessário debater os esforços dos programas e empresas para promover a sustentabilidade e os ideais de cidadania global. Com a escassez de pesquisas que relacionem cidadania global e turismo sustentável, desponta-se um rico campo científico para explorar.

Com o propósito de produção de conhecimento, o tempo presente deste artigo foi unir e compartilhar experiências científicas, as quais correlacionam cidadania global e turismo sustentável. Por consequência, espera-se, para um tempo futuro, que novas pesquisas sejam realizadas, com a finalidade de criar um corpo teórico consistente e contributivo para estudos em turismo e cidadania, dado que há diferentes e diversas lacunas a serem preenchidas dentro dessa relação.

REFERÊNCIAS

  • Andrade, A. P. M. (2021). Sustentabilidade e desenvolvimento: obstáculos e caminhos para efetivação do consumo sustentável. Revista Meritum, 16(1), 116-137. https://doi.org/10.46560/meritum.v16i1.7876
    » https://doi.org/10.46560/meritum.v16i1.7876
  • Baker, S. (2006). Sustainable Development Routledge.
  • Bell, H. L., Gibson, H. J., Tarrant, M. A., Perry III, L. G., & Stoner, L. (2016). Transformational learning through study abroad: US students’ reflections on learning about sustainability in the South Pacific. Leisure Studies, 35(4). https://doi.org/10.1080/02614367.2014.962585
    » https://doi.org/10.1080/02614367.2014.962585
  • Beni, M. C. (2003). Como certificar o turismo sustentável? Turismo em Análise, 14(2), 5-16.
  • Biccum, A. R. (2020). Global citizenship. Oxford Research Encyclopedia of International Studies Oxford Univesity Press. https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
    » https://doi.org/10.1093/acrefore/9780190846626.013.556
  • Blessmann, L., & Pereira, G. (2016). Benefícios e prejuízos socioambientais do turismo em Arambaré/RS: uma visão do morador. Revista Eletrônica de Administração e Turismo, 10(5), 1209-1228.
  • Boff, L. (2015). Sustentabilidade: o que é, o que não é (2a ed.). Vozes.
  • Boluk, K. A., Cavaliere, C. T., & Duffy, L. N. (2019). A pedagogical framework for the development of the critical tourism citizen. Journal of Sustainable Tourism, 27(7), 865-881. https://doi.org/10.1080/09669582.2019.1615928
    » https://doi.org/10.1080/09669582.2019.1615928
  • Brouwer, R., Brander, L., & Van Beukering, P. (2008). ‘A convenient truth’: air travel passengers’ willingness to pay to offset their CO2 emissions. Climatic Change, 90, 299-312. http://doi.org/10.1007/s10584-008-9414-0
    » http://doi.org/10.1007/s10584-008-9414-0
  • Butler, R. W. (1999). Sustainable tourism: A state-of-the-art review. Tourism Geographies, 1(1), 7-25. http://dx.doi.org/10.1080/14616689908721291
    » http://dx.doi.org/10.1080/14616689908721291
  • Cademartori, D., & Cademartori, S. (2007). Mutações da cidadania: da comunidade ao estado liberal. Sequência: estudos jurídicos e políticos, 28(55), 65-94.
  • Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento [CMED] (1991). Nosso futuro comum (2nd ed.) Editora Fundação Getúlio Vargas.
  • Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (1988). Brasília. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
    » https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
  • Costa, M. I. S., & Ianni, A. M. Z. (2018). Individualização, cidadania e inclusão na sociedade contemporânea: uma análise teórica Editora UFABC. https://doi.org/10.7476/9788568576953
    » https://doi.org/10.7476/9788568576953
  • Darabant, M., & Diaconescu, V. (2020). Tourist in my town: how attractive is the city for its inhabitants? Cactus Tourism Journal, 2(2), 6-13.
  • Dixey, R. (2012). Delivering creative education for health promoters in Africa: towards critical mass by ‘going global ande saying local’. Scientific Research, 3, 749-754. http://dx.doi.org/10.4236/ce.2012.326112
    » http://dx.doi.org/10.4236/ce.2012.326112
  • Emmendoerf, L., Lacerda, L. L. L., Otowicz, M. H., & Biz, A. A. (2022). Turismo e gestão do conhecimento: uma revisão integrativa de literatura. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 20(3), 757-778. https://doi.org/10.25145/j.pasos.2022.20.052 .
    » https://doi.org/10.25145/j.pasos.2022.20.052
  • Ferretti, E. R (2002). Turismo e meio ambiente: uma abordagem integrada Roca.
  • Finelli, L. A. C., Soares, W. D., & Antunes, C. C. (2022). O que é uma revisão de literatura? A estrutura metodológica de revisões. In: L. A. C. Finelli, & W. D. Soares (orgs.), Revisão bibliográfica: o uso da metodologia para a produção de textos (v. 2, 60-74) Científica Digital.
  • Foladori, G. (2005). Uma tipologia del pelsamiento ambientalista. In: G. Foladore, & N. Pierri (Orgs.). Sustentabilidad? Desacuerdos sobre el desarollo suetentable Universidade Autônoma de Zacatecas.
  • Gastal, S., & Moesch, M. (2007). Turismo, políticas públicas e cidadania Aleph.
  • Germann Molz, J. (2015). Making a difference together: discourses of transformation in family voluntourism. Journal of Sustainable Tourism , 24(3), 805-823. http://dx.doi.org/10.1080/09669582.2015.1088862
    » http://dx.doi.org/10.1080/09669582.2015.1088862
  • Gomes Júnior, F. S. (2012). Desenvolvimento sustentável: conceitos, modelos e propostas para mensurações. Revista Ambientale, 1, 85-98.
  • Gössling, S., Broderick, J., Upham, P., Ceron, J., Dubois, G., Peeters, P., & Strasdas, W. (2007). Voluntary carbon offsetting schemes for aviation: efficiency, credibility and sustainable tourism. Journal of Sustainable Tourism , 15(3), 223-248. https://doi.org/10.2167/jost758.0
    » https://doi.org/10.2167/jost758.0
  • Guerrero, A. B., Perez, V. G., & Arfelis, M. B. (2019). Ethical reconstruction of citizenship: A proposal between the intimate self and the public sphere. Journal of Moral Education, 48(4), 483-498. https://doi.org/10.1080/03057240.2018.1563880
    » https://doi.org/10.1080/03057240.2018.1563880
  • Hale, B. W. (2018). Mapping potential environmental impacts from tourists using data from social media: a case study in the Westfjords of Iceland. Eviron Manage, 62(3), 446-457. https://doi.org/10.1007/s00267-018-1056-z
    » https://doi.org/10.1007/s00267-018-1056-z
  • Hanai, F. Y. (2012). Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade do turismo: conceitos, reflexões e perspectivas. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, 8(1), 198-231.
  • Hatipoglu, B., Ertuna, B., & Sasidharan, V. (2014). A referential methodology for education on sustainable tourism development. Sustainability, 6(8), 5029-5048. https://doi.org/10.3390/su6085029
    » https://doi.org/10.3390/su6085029
  • Heater, D. (1996). World citizenship and government: cosmopolitan ideas in the history of Western political thought Macmillan Press.
  • Irgang, D. M., & Irgang, R. A. M. (2018). A construção de um conceito de cidadania global, a partir da análise das diferentes interpretações do conceito de cidadania, em diferentes culturas e sua implicação no desenvolvimento social do cidadão. In: A. P. B. Zeifert, M. A. D. Wermuth, J. G. Nielsson, E. F. Schonardie, P. B. Moura, & D. V. Hermel. Anais do I Congresso de Biopolítica e Direitos Humanos Unijuí. https://publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/conabipodihu/issue/view/202
    » https://publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/conabipodihu/issue/view/202
  • Jorgenson, S. (2010). De-centering and re-visioning global citizenship education abroad programs. International Journal of Development Education and Global Learning, 3(1), 23-38.
  • Jornal Oficial da União Europeia (2012, 26 de outubro). Tratado sobre o funcionamento da União Europeia (versão consolidada) https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:12012E/TXT&from=pt
    » https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:12012E/TXT&from=pt
  • Körössy, N. (2008). Do “turismo predatório” ao “turismo sustentável”: uma revisão sobre a origem e a consolidação do discurso de sustentabilidade na atividade turística. Caderno Virtual de Turismo, 8(2), 56-68.
  • Krippendorf, J. (2000). Sociologia do turismo Aleph.
  • Lago, A. A. C. (2006). Estocolmo, Rio, Joanesburgo: o Brasil e as três conferências ambientais das Nações Unidas FUNAG, Instituto Rio Branco.
  • Long, J., Vogelaar, A., & Hale, B. W. (2014). Toward sustainable educational travel. Journal of Sustainable Tourism , 22(3), 421-439. https://doi.org/10.1080/09669582.2013.819877
    » https://doi.org/10.1080/09669582.2013.819877
  • Lutterman-Aguilar, A., & Gingerich, O. (2022). Experiential pedagogy for study abroad: educating for global citizenship. Frontiers: The Intedisciplinary Journal of Study Abroad, 8(1), 41-82. https://doi.org/10.36366/frontiers.v8i1.94
    » https://doi.org/10.36366/frontiers.v8i1.94
  • Lyons, K., Hanley, J., Wearing, S., & Neil, J. (2012). Gap year volunteer tourism: myths of global citizenship? Annals of Tourism Research, 39(1), 361-378. http://dx.doi.org/10.1016/j.annals.2011.04.016 .
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.annals.2011.04.016
  • Marshall, T. H. (1967). Cidadania, classe social e status (M. P. Gadelha Trad.) Zahar.
  • Marshall, T. H. (1992). Citizenship and social class. In: T. H. Marshall, & T. Bottomore (Eds.), Citizenship and Social Class Pluto. http://academtext.narod.ru/MarshallCitizenship.pdf
    » http://academtext.narod.ru/MarshallCitizenship.pdf
  • Mendonça, P. R., & Luigi, R. (2023). A contribuição da geografia para a educação cidadã: uma análise territorial. Boletim de Conjuntura (BOCA), 12(38). https://doi.org/10.5281/zenodo.7683386
    » https://doi.org/10.5281/zenodo.7683386
  • Ministério do Turismo (2007). Roteiros do Brasil: Programa de Regionalização do Turismo. Turismo e sustentabilidade Ministério do Turismo.
  • Ministério do Turismo (2023). Mapa Brasileiro do Turismo Responsável https://paineis.turismo.gov.br/sense/app/6c7ee682-c424-4b78-b98a-5bf04e66309f/sheet/5589e238-576d-417c-a1a4-be6ec0087667/state/analysis
    » https://paineis.turismo.gov.br/sense/app/6c7ee682-c424-4b78-b98a-5bf04e66309f/sheet/5589e238-576d-417c-a1a4-be6ec0087667/state/analysis
  • Morais, D., & Ogden, A. C. (2011) Initial development and validation of the global citizenship scale. Journal of Studies in International Education, 15(5), 445-466. https://doi.org/10.1177/1028315310375308
    » https://doi.org/10.1177/1028315310375308
  • Munck, L., & Borim-de-Souza, R. (2013). Compreensão do desenvolvimento sustentável em contextos organizacionais a partir do estabelecimento de tipos de ideais. Revista Organizações & Sociedade, 20(67), 651-674.
  • Nascimento, V. R. do, & Morais, J. L. B. de (2007). A cidadania e a Constituição: uma necessária relação simbólica. Revista de Informação Legislativa, 44(175) 163-174. https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/141295
    » https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/141295
  • Oana, P., Andreea, B., Nicoleta, C., & Florin, A. V. (2021). Domestic tourism in Brasov: the effect of manifesting the interest of being a tourist your own city. In: Anais XXIIth International Conference “Risk in Contemporary Economy”, 136-146. https://doi.org/10.35219/rce20670532109
    » https://doi.org/10.35219/rce20670532109
  • Oliveira, S. P. (2014). Biocentrismo e ecopedagogia: a educação como ferramenta para cidadania planetária. Revista Direito e Desenvolvimento, 5(10), 271-286.
  • Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura [UNESCO] (1968). 1968: International year for human rights Unesco. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000078234
    » https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000078234
  • Organização Mundial do Turismo. (2003). Guia de desenvolvimento do turismo sustentável Brookman.
  • Özekici, Y. R. (2022). Role of global citizenship on tourists’ intention to prefer destinations with green smart technology-based management system. Rosa dos Ventos - Turismo e Hospitalidade, 14(3), 747-779. http://dx.doi.org/10.18226/21789061.v14i3p779
    » http://dx.doi.org/10.18226/21789061.v14i3p779
  • Paige, R. M., Fry, G. W., Stallman, E. M., Josic, J., & Jon, J. (2009). Study abroad for global engagement: the long-term impact of Mobility experiences. Intercultural Education, 20(1), 29-44. https://doi.org/10.1080/14675980903370847
    » https://doi.org/10.1080/14675980903370847
  • Pereira, R. R. (2012). Desenvolvimento sustentável: paradigmas, conceitos, dimensões e estratégias. Revista do TCU, 12.
  • Pinheiro, C. (2020). Cosmopolitismo: cidadania além dos Estados. Ethic@, 19(2), 153-172. http://dx.doi.org/10.5007/1677-2954.2020v19n2p153
    » http://dx.doi.org/10.5007/1677-2954.2020v19n2p153
  • Poziomyck, A., & Guilherme, A. A. (2022). Educação para cidadania global: críticas e desafios. Revista Contexto & Educação, 37(118). https://doi.org/10.21527/2179-1309.2022.118.12576
    » https://doi.org/10.21527/2179-1309.2022.118.12576
  • Rejowski, M. (2002). Turismo no percurso do tempo Aleph.
  • Rexisen, R. J. (2013). The impact of study abroad on the development of pro-environmental attitudes. The International Journal of Sustainability Education, 9(1), 7-19. https://doi.org/10.18848/2325-1212/CGP/v09i01/55295
    » https://doi.org/10.18848/2325-1212/CGP/v09i01/55295
  • Rossu, A. (2020). Making sense of distance: Mobility in staycation as a case of proximity tourism [Master´s Thesis]. Department of Service Management and Services Studies, Sweden Faculty of Social Sciences, Lund University.
  • Ruschmann, D. (2000). A experiência do turismo ecológico no Brasil: um novo nicho de mercado ou um esforço para atingir a sustentabilidade. Turismo Visão e Ação, 2(5), 81-90.
  • Silva, R. N., & Ferreira, M. A. (2020). Enhancing citizenship through nursing care in Brazil: Patients' struggle against austerity policies. Nursing Inquiry, 27(2), e12337. https://doi.org/10.1111/nin.12337
    » https://doi.org/10.1111/nin.12337
  • Stern, P. C., Dietz, T., Abel, T., Guagnano, G. A., & Kalof, L. (1999). A value-balief-norm theory of support for social movements: the case of environmentalism. Research in Human Ecology, 6(2), 81-97.
  • Stoner, K. R., Tarrant, M. A., Perry, L., Stoner, L., Wearing, S., & Lyons, K. (2014). Global citizenship as a learning outcome of educational travel. Journal of Teaching in Travel & Tourism, 14, n. 2, 129-163. https://doi.org/10.1080/15313220.2014.907956
    » https://doi.org/10.1080/15313220.2014.907956
  • Swarbrooke, J. (2000). Turismo sustentável: conceitos e impacto ambiental Aleph.
  • Tarrant, M. A. (2009). A conceptual framework for exploring the role of studies abroad in narturing global citizenship. Journal of Studies in International Education , 14(5), 433-451. https://doi.org/10.1177/1028315309348737 .
    » https://doi.org/10.1177/1028315309348737
  • Tarrant, M. A., Lyons, K., Stoner, L., Kyle, G. T., Wearing, S., & Poudyal, N. (2014). Global citizenry, educational travel and sustainable tourism: evidence Australia and New Zealand. Journal of Sustainable Tourism , 22(3), 403-420. http://dx.doi.org/10.1080/09669582.2013.815763 .
    » http://dx.doi.org/10.1080/09669582.2013.815763
  • Toronto, C. E. (2020). Overview of the intregrative review. In: C. E. Toronto, & R. Remington (Eds.) A step-by-step guide to conducting na integrative review (pp. 1-8). Springer. https://doi.org/10.1007/978-3-030-37504-1
    » https://doi.org/10.1007/978-3-030-37504-1
  • Winn, J. G. (2006). Techno-information literacy and global citizenship. International Journal of Technology, Knowledge and Society, 2(3), 123-128. https://doi.org/10.18848/1832-3669/CGP/v02i03/55597
    » https://doi.org/10.18848/1832-3669/CGP/v02i03/55597
Editora de seção: Fabiana Roeder.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    Jan-Dec 2024

Histórico

  • Recebido
    23 Dez 2023
  • Aceito
    23 Abr 2024
Universidade do Vale do Itajaí Quinta Avenida, 1100, bloco 7, CEP: 88337-300, Balneário Camboriú, SC - Brasil, Tel.: (47)3261-1315 - Balneário Camboriú - SC - Brazil
E-mail: revistaturismo@univali.br