Resumo
Em 2015, a epidemia do vírus Zika (ZIVK) foi decretada no Brasil. Mais de 4.000 crianças foram contaminadas e desenvolveram o que se convencionou de Síndrome Congênita do Vírus Zika. Incurável e apenas paliada com remédios, para a síndrome, a “estimulação precoce” foi apresentada como a única possibilidade terapêutica. Em 2020, chega ao país uma pandemia, o Covid-19, desorganizando severamente a vida e o cuidado dessas crianças e de suas famílias na região do Recife/PE. Neste artigo, serão descritos três tempos perpassados por essas duas emergências sanitárias. No início da epidemia do Zika (2016), as terapias de reabilitação estavam sendo organizadas, conhecidas e demandadas pelas famílias. Em 2019, com o vírus arrefecido, as vagas de terapia começaram a escassear e as famílias estavam mais criteriosas e críticas a seu respeito. No terceiro tempo (2020), as clínicas são fechadas em nome do isolamento social e a reabilitação apresenta novos dilemas para essas famílias. As rotinas de reabilitação têm permitido uma ampliação da esfera pública e dos espaços de interlocução e de interpelação do Estado e suas políticas voltadas para a infância e a epidemia do ZIVK. O retraimento dessas rotinas tem consequências muito mais amplas para a criança, sua família e comunidade de modo geral.
Palavras-chave:
Estimulação precoce; Zika Vírus; Antropologia da saúde; Recife.