Resumo
O artigo busca deslocar a centralidade dispensada à ideia de “controle” no debate sobre manejos participativos do fogo. Para isso, aborda três modos de existência do fenômeno na savana brasileira - queimada, fogo que abre e fogo fora de tempo -, visando explorar as disparidades perceptivas entre os fogos desejados e indesejados junto a quilombolas e gestores ambientais na região do Jalapão (TO). Este problema é discutido à luz do conceito de normatividade, formulado pelo epistemólogo George Canguilhem e em diálogo com a antropologia das técnicas. O objetivo é contribuir para uma agenda de pesquisa na qual a distinção entre “fogo bom” e “fogo ruim” seja tematizada em contextos etnográficos específicos e não a partir de critérios normativos dados de antemão. Finalizo argumentando que as atuais políticas de manejo do fogo não incidem apenas no registro jurídico de autorização de queima, mas sobretudo na modulação de processos técnicos e processos vitais.
Palavras-chave:
manejo do fogo; técnicas; normatividades vitais; quilombolas; unidades de conservação; cerrado