Resumo
Este artigo discute o desejo sempre presente, entre os Karitiana (Rondônia), de ter animais domesticados ou familiarizados em suas aldeias. A partir da etnografia de seus animais de criação, dialoga com hipóteses formuladas para investigar o gosto dos povos indígenas pela companhia de seres não humanos, e defende que os povos indígenas procuram especialmente a beleza, representada pela diversidade de animais e pelas artes envolvidas na sua familiarização e na realização de um bem viver doméstico, que se traduzem em uma estética da convivialidade (Joanna OveringOVERING, Joanna; PASSES, Alan (eds.). 2000. The anthropology of love and anger: the aesthetics of conviviality in native South America. London: Routledge .). Esta dimensão estética da relação com animais parece ter sido esquecida diante de trabalhos que abordam a familiarização e/ou a domesticação de animais como técnicas ou tecnologias e não como artes. Novas perspectivas para a análise da relação entre humanos e não humanos podem ser abertas com o tratamento das "artes da domesticação", evitando-se oposição apriorística entre técnica e arte.
Palavras-chave:
relações humano-animal; domesticidade; familiarização; arte; estética