Pretendendo encarnar a figura universal desse modelo, o intelectual francês se impôs, desde o final do século XIX, como uma refer ência conceitual e moral. Partindo do momento em que o substantivo "intelectual" integra à língua francesa, por ocasião do caso Dreyfus, esse artigo tenta restituir a genealogia desse conceito, mostrando a sua intrínseca relação com a história e a ideologia em vigor. Como se verá, a noção do intelectual, de origem essencialmente francesa, tem um caráter polimorfo. O conceito muda de acepção segundo a evolução mesma da sociedade francesa e da História, assim como diferentes épocas forjam modelos distintos de representação do intelectual. Diretamente relacionada à idéia de uma missão - a defesa da verdade e da justiça -, os intelectuais franceses, até o final dos anos 1970, enfrentam os dilemas inerentes à ambigüidade mesma da sua função: crítica e utópica. As inflexões históricas e epistemológicas dessas últimas três décadas, incidindo sobre as maneiras de agir e de pensar, rompem, definitivamente, com a representação do intelectual enquanto "maître à penser" e "profeta político". Abandonando a política e o espaço público, o intelectual, re-convertido à sua nova função de "especialista", se confina nas institucionais de produção de conhecimento.
História; História Cultural; Caso Dreyfus