Satisfação de idosos octogenários com os serviços de Atenção Primária à Saúde

Resumo

Objetivo:

Analisar a satisfação de idosos octogenários com os serviços de Atenção Primária à Saúde.

Método:

Estudo descritivo, com abordagem quantitativa, realizado com 30 idosos usuários da Estratégia Saúde da Família, selecionados por amostra não probabilística. Os dados foram coletados em domicílio, através dos seguintes questionários: Mini-exame do estado mental, questionário sociodemográfico, condições de saúde e acesso aos serviços e questionário de Satisfação com os Cuidados Primários de Saúde. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva.

Resultados:

A análise da satisfação evidenciou que os idosos octogenários estão satisfeitos quanto à atenção ($\acute{X}=\mathrm{6,0};\pm \mathrm{1,5}$) e ao interesse que os agentes comunitários dispendem a eles ($\acute{X}=\mathrm{5,9};\pm \mathrm{1,6}$) e a disponibilidade do Enfermeiro para lhes tratar ($\acute{X}=\mathrm{5,9};\pm \mathrm{1,1}$). Os aspectos relacionados ao tempo de espera pelo atendimento dos Enfermeiros ($\acute{X}=\mathrm{4,6};\pm \mathrm{1,6}$) e Médicos ($\acute{X}=\mathrm{4,9};\pm \mathrm{1,6}$), instalações para deficientes ($\acute{X}=\mathrm{4,6};\pm \mathrm{1,4}$) e percepção de que a unidade está próxima de uma unidade de saúde perfeita ($\acute{X}=\mathrm{4,6};\pm \mathrm{1,8}$).

Conclusão:

os achados evidenciaram boa avaliação dos serviços e refletem a importância de se considerar a perspectiva dos usuários octogenários no planejamento das ações em saúde, já que a avaliação da qualidade desses serviços é capaz de instituir mudanças e direcionar as ações de forma a fazer sentido às realidades de vida dos usuários com maiores chances de efetividade, em especial direcionadas a população idosa octogenária.

Palavras-chave:
Idoso de 80 anos ou mais; Satisfação do Paciente; Estratégia Saúde da Família; Atenção Primária à Saúde

Abstract

Objective:

To evaluate the satisfaction of octogenarians with Primary Health Care services.

Method:

a descriptive study, with a quantitative approach, was carried out with 30 older users of the Family Health Strategy, selected by a non-probabilistic sample. Data were collected at home, using the following questionnaires: the mini-mental state exam, a questionnaire on sociodemographic factors, health conditions and access to services, and a questionnaire on satisfaction with Primary Health Care. Data were analyzed using descriptive statistics.

Results:

The satisfaction analysis showed that the elderly octogenarians are satisfied in terms of care ($\acute{X}=\mathrm{6,0};\pm \mathrm{1,5}$) and the interest that community agents demonstrate in them ($\acute{X}=\mathrm{5,9};\pm \mathrm{1,6}$) and the availability of nurses for their treatment ($\acute{X}=\mathrm{5,9};\pm \mathrm{1,1}$). Aspects related to the waiting time for nurses ($\acute{X}=\mathrm{4,6};\pm \mathrm{1,6}$) and doctors ($\acute{X}=\mathrm{4,9};\pm \mathrm{1,6}$), facilities for the disabled ($\acute{X}=\mathrm{4,6};\pm \mathrm{1,4}$) and the perception that the unit is close to a perfect health unit ($\acute{X}=\mathrm{4,6};\pm \mathrm{1,8}$).

Conclusion:

The services were positively evaluated, reflecting the importance of considering the perspective of octogenarian users in the planning of healthcare actions, since the evaluation of the quality of these services can lead to changes and guide actions in a way that is coherent with the lives of users, increasing their effectiveness, especially regarding actions aimed at the octogenarian population.

Keywords:
Aged 80 and over; Patient Satisfaction; Family Health Strategy; Primary Health Care

INTRODUÇÃO

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial¹. Dados do censo de 2010 mostram que esse processo ocorre no Brasil de maneira bastante acelerada², sendo os idosos octogenários (faixa etária igual ou acima de 80 anos) o grupo etário que mais cresce, representando cerca de 14,4% do total de idosos, sendo 1,5% de toda população brasileira¹.

Uma questão importante relacionada a esse cenário é que o aumento da longevidade está acompanhado por níveis mais elevados de doenças que podem ocasionar incapacidade e dependência impactando na capacidade funcional desses idosos, ou seja, aspectos físicos e mentais, bem como independência na realização de atividades básicas e instrumentais diárias. Tal comprometimento pode indicar complicações como incapacidade física, fragilidade, institucionalização e morte precoce³.

Esse cenário apresenta desafios para o cuidado no que tange a segurança e a qualidade da assistência, pois idosos octogenários podem ser acometidos por múltiplas doenças e apresentam intenso uso dos serviços de saúde. Assim, a prestação de cuidados de saúde a essa população deve ocorrer no momento certo, no local apropriado, apresentando-se como crucial para a manutenção das condições de saúde dessas pessoas⁴.

Neste contexto, os serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) deve ser o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde⁵, em especial os idosos octogenários devido a maior proximidade de acesso e maior vínculo criado com os profissionais desses serviços⁶. Sobretudo, um acompanhamento regular e efetivo nos serviços de APS pode evitar complicações nessa população, para que consigam viver, mesmo com os problemas de saúde, com qualidade de vida^5,7-9.

Nesta perspectiva, a avaliação dos serviços de saúde apresenta-se como essencial iniciativa para diagnosticar e instituir ações que aproximem as expectativas da população frente a reordenação do modelo assistencial. Com isso, deve ser capaz de subsidiar as tomadas de decisões para promover a eficácia dos programas e a obtenção da eficiência na utilização dos recursos¹⁰.

A temática avaliação em saúde tem recebido crescente interesse de gestores e pesquisadores. Avaliar em saúde compreende um processo participativo no qual o usuário é provedor de informações importantes, essenciais para completar e equilibrar a qualidade dos serviços.

A maioria dos estudos sobre avaliação dos serviços consideram apenas a percepção sobre os cuidados ofertados ao usuários, sendo incipientes aqueles que abordem a organização de ações de forma mais abrangente, relacionadas ao trabalho realizados pelas equipes^6,10,11. Assim, existem diversos instrumentos¹¹ utilizados na mensuração da satisfação dos serviços de APS como o Primary Care Assessment Tool (PCATool), o instrumento de avaliação externa do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da atenção básica e o questionário de Satisfação com os Cuidados Primários de Saúde, utilizado neste estudo.

Neste sentido, mediante o envelhecimento populacional e a crescente proporção de idosos octogenários e sua demanda diferenciada, torna-se crucial incluir esse grupo etário nos processos avaliativos quanto à satisfação frente aos cuidados de saúde prestados. Ademais, a avaliação dos serviços de APS por esses usuários torna-se relevante também devido ser o ponto da Rede de Atenção à Saúde (RAS) mais próximo dessa população⁶.

Assim, emerge o desafio ao se conceber a avaliação dos serviços, pela participação de idosos longevos. Mesmo frente as limitações que esses idosos possam apresentar, em especial aquelas relacionadas ao processo de envelhecimento, urge a necessidade de desenvolvimento de pesquisas que incluam a percepção dessa população quanto à qualificação dos serviços de saúde. Incluir a perspectiva do usuário idoso longevo na avaliação dos serviços de APS apresenta-se como indicador de qualidade, permite adequar ações que sejam resolutivas das necessidades de saúde desse grupo etário^7,11. Diante disso, emerge o seguinte questionamento: Como os idosos octogenários avaliam a satisfação com os cuidados primários?

O presente estudo teve como objetivo analisar a satisfação de idosos octogenários com serviços de Atenção Primária à Saúde.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, com delineamento transversal do tipo inquérito domiciliar. Esta pesquisa integra um projeto maior intitulado “Conhecimento sobre HIV/Aids e satisfação com o serviço de saúde de idosos usuários da Estratégia Saúde da Família”, realizado na zona urbana de um município do estado de Minas Gerais, Brasil, no ano de 2017.

O local de estudo é um município polo da Macrorregião de Saúde do Triângulo Sul, estado de Minas Gerais, Brasil, com população estimada em 333.783 habitantes em 2020, apresentando especificidade frente a proporção de idosos octogenários, ao se considerar que o estado de Minas Gerais apresenta 14,3% e o município deste estudo acompanha esse processo, com proporção de 14,2%¹².

A seleção dos participantes para o presente estudo partiu de banco de dados do projeto maior composto de 238 idosos¹³. A partir desse banco, foi selecionada uma amostragem intencional, não probabilística, por convite aos idosos que se enquadram nos seguintes critérios de inclusão: idosos octogenários (80 anos de idade ou mais) cadastrados em um serviço de APS do tipo Estratégia Saúde da Família (ESF), há pelo menos seis meses e, tendo realizado, no mínimo, um atendimento na unidade de saúde cadastrado e que não apresentaram declínio cognitivo. Foram identificados 30 idosos que satisfizeram os critérios de inclusão.

Em sequência, ocorreram as visitas domiciliares a esses idosos octogenários, sendo realizadas entrevistas diretas, por uma equipe previamente treinada entre janeiro e abril de 2017, composta por quatro alunos integrantes do grupo de pesquisa. As visitas com as entrevistas apresentaram duração média de 60 minutos entre maio e dezembro de 2017, na presença dos familiares e/ou cuidadores caso o idoso assim desejasse, auxiliando os participantes em caso de dúvidas.

Inicialmente os idosos foram avaliados quanto ao indicativo de declínio cognitivo por meio do Mini Exame do Estado Mental (MEEM), que realiza o rastreio da presença de declínio cognitivo, sendo considerada como ponto de corte, a escolaridade do idoso, a saber: 13 pontos para analfabetos, 18 pontos para escolaridade de 1 a 11 anos e 26 pontos para escolaridade superior a 11 anos¹⁴.

Ainda, utilizou-se questionário elaborado pelos próprios pesquisadores (testado em estudo piloto) sobre as variáveis sociodemográficas (idade, sexo, estado conjugal, raça/cor autodeclarada, religião, escolaridade, aposentadoria, ocupação profissional, renda individual, renda familiar, número de filhos, quantidade de pessoas que moram na residência do participante e arranjo familiar), condições de saúde (consumo de álcool e tabaco, prática de atividade física, tipo de atividade física e morbidades autorreferidas) e acesso aos serviços (serviços de saúde que utiliza, convênio médico, frequência de visita do Agente Comunitário de Saúde (ACS) e frequência de utilização da unidade de saúde no último ano anterior a entrevista).

Para a avaliação da satisfação dos idosos octogenários foi aplicado o Questionário de Satisfação com os Cuidados Primários de Saúde adaptado e validado no Brasil¹⁵. Composto por 33 itens divididos em cinco dimensões (Instalações da unidade; Recepção na unidade pelo Agente Comunitário de Saúde; Atendimento do Enfermeiro; Atendimento Médico; Percepções e necessidades gerais). As respostas aos itens estão organizadas em escala do tipo Likert de concordância com 7 pontos, a saber: 1-discordo totalmente; 2-discordo bastante; 3-discordo pouco; 4-nem concordo, nem discordo; 5-concordo um pouco; 6-concordo bastante e 7-concordo totalmente.

Foi empreendida a análise descritiva das variáveis. Os valores da escala Likert foram considerados de forma numérica (destaca-se a inexistência de questões reversas sendo a gradação Likert correspondente ao maior valor para o melhor cenário).

Com relação aos aspectos éticos, foi respeitada a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sendo esta pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em 2017, sob o parecer nº 2.041.624. Foram apresentados os objetivos da pesquisa e esclarecimento de dúvidas. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo participante, deu-se início à entrevista.

RESULTADOS

Participaram do estudo 30 idosos octogenários visitados, apresentando média de idade de 83,7 anos, idade mínima de 80 anos e máxima de 91 anos de idade. Nenhum idoso participante apresentou indicativo de declínio cognitivo.

Sobre o perfil sociodemográfico desses idosos, 56,7% eram do sexo feminino, maioria viúvos (53,3%), cor da pele branca (43,3%), de religião católica (66,6%), com escolaridade entre um a quatro anos completos (53,5%), aposentados e sem ocupação profissional (93,3%), com rendimento individual de um salário mínimo (73,3%) e rendimento familiar de um a três salários mínimos (60,0%), sendo o arranjo familiar composto por novas formas de arranjos (56,6%), compreendendo os idosos que residiam apenas com seus netos e idosos que moram com outras pessoas sem parentesco familiar.

Em relação as condições de saúde dos idosos, a maioria não fazia uso de tabaco nem consumo de álcool (70,0% para ambos) e não eram praticantes de atividades físicas (66,7%). Entre os idosos praticantes de atividade física (33,3%), os mesmos preferiam praticar caminhada (56,3%), hidroginástica (18,8%) e ginástica orientada (12,5%).

Quanto ao acesso aos serviços de saúde, quase a totalidade dos entrevistados informaram utilizar o serviço público de saúde (93,3%) e não possuir convênio particular de saúde (56,7%). Mais da metade, recebeu no mínimo uma visita ao mês do ACS (53,3%) e frequentou o serviço de saúde ao qual está cadastrado pelo menos uma vez ao mês (53,3%) (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição de aspectos clínicos e acesso aos serviços de saúde de idosos octogenários cadastrados na Saúde da Família (N=30). Uberaba, MG, 2017.

Aspectos clínicos e acesso aos serviços de saúde	n (%)
Fumante
Sim	1 (3,3)
Não	21 (70,0)
Ex-fumante	8 (26,7)
Consumo de álcool
Sim	6 (20,0)
Não	21 (70,0)
Ex-Etilista	3 (10,0)
Atividade Física
Sim	10 (33,3)
Não	20 (66,7)
Tipo de atividade física*
Caminhada	9 (56,3)
Hidroginástica	3 (18,8)
Ginástica orientada (serviço de saúde)	2 (12,5)
Outros	2 (12,5)
Morbidades *
Diabetes Melitus tipo II	14 (14,9)
Hipertensão Arterial Sistêmica	24 (25,5)
Osteoporose	12 (12,8)
Varizes	15 (16,0)
Problemas cardíacos	12 (12,8)
Obesidade	1 (1,1)
Doença de Parkinson	2 (2,1)
Doença de Alzheimer	1 (1,1)
Incontinência urinária	6 (6,4)
Incontinência fecal	3 (3,2)
Constipação intestinal	4 (4,3)
Tipo de serviço de saúde que utiliza
Público	21 (70,0)
Privado	2 (6,7)
Ambos	7 (23,2)
Possui convênio médico
Sim	13 (43,3)
Não	17 (56,7)
Frequência de visita do Agente Comunitário de Saúde
Menos de uma vez ao mês	16 (53,3)
Uma vez ao mês	14 (46,7)
Frequência de utilização dos serviços de saúde (ESF)
Mais de uma vez ao mês	14 (46,7)
Uma vez ao mês	16 (53,3)

• *Cada participante poderia escolher mais de uma alternativa.

Quanto à análise dos itens que compõem o instrumento de avaliação da Satisfação com os Cuidados Primários pela comparação do valor médio das avaliações de satisfação apresentados na tabela 2, os itens melhores avaliados foram: Os Agentes Comunitários são atenciosos (Média=6,0; ±1,5); Os Agentes Comunitários interessam-se pelos seus problemas e pela sua resolução (Média=5,9; ±1,6); Os Agentes Comunitários de Saúde explicam claramente o que o sr(a) deve fazer (Média=5,9; ±1,6). Além de normalmente o Enfermeiro está disponível para lhe tratar (Média=5,9; ±1,1), os Enfermeiros são competentes nos tratamentos que lhe fazem (Média=5,9; ±1,4) e os Enfermeiros são atenciosos (Média=5,9; ±1,3).

Tabela 2
Escores de satisfação com os Cuidados Primários em Saúde de idosos octogenários segundo grupos de satisfação (N=30). Uberaba, MG, 2017.

Itens e domínios do instrumento de Satisfação com os Cuidados Primários em Saúde	Média (+dp)	Mediana (IC95%)
Instalações da unidade
As instalações têm boa aparência	5,3 (1,5)	6,0 (4,8; 5,9)
As instalações têm uma temperatura agradável	5,2 (1,6)	5,0 (4,6; 5,8)
As instalações são confortáveis	5,5 (1,5)	6,0 (4,9; 6,1)
As instalações apresentam-se limpas	5,5 (1,3)	6,0 (5,0; 6,0)
Os banheiros apresentam boas condições de higiene	5,5 (1,3)	6,0 (5,0; 6,0)
Os consultórios para atendimento têm espaço suficiente	5,5 (1,2)	6,0 (5,0; 5,9)
A clínica tem instalações adequadas para deficientes	4,9 (1,4)	5,0 (4,4; 5,5)
Os serviços encontram-se bem sinalizados	5,4 (1,3)	6,0 (4,9; 5,9)
O horário de funcionamento é adequado as suas necessidades	5,3 (1,8)	6,0 (4,6; 6,0)
Nesta clínica há informação sobre cuidados de saúde	5,6 (1,5)	6,0 (5,1; 6,2)
Recepção na unidade pelo Agente Comunitário de Saúde (ACS)
Os ACS’s são atenciosos	6,0 (1,5)	7,0 (5,4; 6,6)
Os ACS’s interessam-se pelos seus problemas e pela sua resolução	5,9 (1,6)	7,0 (5,3; 6,5)
Os ACS’s explicam claramente o que o sr(a) deve fazer	5,8 (1,6)	6,0 (5,2; 6,4)
Normalmente se espera pouco pelo atendimento	5,2 (1,5)	5,0 (4,6; 5,7)
Atendimento do Enfermeiro
Os Enfermeiros são atenciosos	5,8 (1,3)	6,0 (5,4; 6,3)
Os Enfermeiros são interessam-se pelos seus problemas e pela sua resolução	5,7 (1,2)	6,0 (5,2; 6,2)
Os Enfermeiros fazem tudo o que podem para resolver o seu problema	5,7 (1,3)	6,0 (5,2; 6,2)
Os Enfermeiros explicam claramente o tratamento que terá de fazer	5,6 (1,7)	6,0 (4,9; 6,2)
Os Enfermeiros são competentes nos tratamentos que lhe fazem	5,8 (1,4)	6,0 (5,3; 6,3)
Normalmente o Enfermeiro está disponível para lhe tratar	5,9 (1,1)	6,0 (5,4; 6,2)
Os Enfermeiros respeitam o horário de atendimento	5,7 (1,3)	6,0 (5,2; 6,2)
Normalmente se espera pouco pelo atendimento	4,6 (1,6)	5,0 (4,0; 5,2)
Atendimento Médico
Os Médicos são atenciosos	5,6 (1,5)	6,0 (5,0; 6,1)
Os Médicos interessam-se pelos seus problemas e pela sua resolução	5,6 (1,5)	6,0 (5,0; 6,2)
Os Médicos explicam claramente o tratamento que terá de fazer	5,6 (1,3)	6,0 (5,1; 6,1)
Os Médicos fazem tudo o que podem para resolver o seu problema	5,6 (1,4)	6,0 (5,0; 6,1)
Os Médicos são competentes nos tratamentos que lhe fazem	5,6 (1,7)	6,0 (4,9; 6,2)
Os Médicos respeitam o horário de atendimento	5,2 (1,7)	6,0 (4,5; 5,8)
Normalmente se espera pouco pelo atendimento	4,9 (1,6)	5,0 (4,3; 5,5)
No geral
De modo geral o sr(a) se sente satisfeito com os serviços desta Unidade de Saúde (US)	5,2 (1,5)	5,5 (4,7; 5,8)
Esta US corresponde a suas necessidades	5,3 (1,7)	6,0 (4,7; 5,9)
Esta US corresponde a suas expectativas	5,1 (1,6)	5,5 (4,5; 5,7)
Esta US está muito próxima de uma Unidade de Saúde perfeita	4,9 (1,8)	5,5 (4,2; 5,5)

• Dp: Desvio padrão; IC95% - Intervalo de confiança de 95%.

Já os itens com menores escores foram: normalmente se espera pouco pelo atendimento - Enfermagem (Média=4,6; ±1,6); normalmente se espera pouco pelo atendimento - Médico (Média=4,9; ±1,6); a clínica tem instalações adequadas para pessoas com deficiência (Média=4,9; ±1,4) e essa unidade de saúde está muito próxima de uma unidade de saúde perfeita (Média=4,9; ±1,8).

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo são coerentes a outras pesquisas com idosos octogenários quanto ao perfil sociodemográfico: que identificou maior frequência de mulheres, idade entre 80 e 84 anos, viúvas, com baixa escolaridade, com rendimento individual inferior a um salário mínimo, aposentados e grande número de morbidades^2,16,17.

A predominância de mulheres idosas octogenárias corrobora o fato dos homens apresentarem maiores taxas de mortalidade e as mulheres sobrevida¹⁶. Quanto a escolaridade, os baixos índices podem estar relacionados a aspectos culturais. Além do acesso às escolas tal situação pode ser um fator cultural e geracional, qual decorre de um não-estímulo para esses indivíduos frequentarem o ambiente escolar, como também as atividades de trabalho estarem relacionadas a baixa escolaridade, o que acaba por repercutir nas condições financeiras^17,18.

Ainda, os serviços do SUS são relevantes para a população estudada, pois 93,3% deles informaram utilizá-los. Por ser um grupo de idosos octogenários e apresentar particularidades relacionadas ao processo de envelhecimento, reconhecer a importância desse sistema de saúde, como uma política de proteção social, torna-se crucial para o seu contínuo fortalecimento. Os resultados confirmam o consumo constante que os idosos octogenários apresentam aos serviços de saúde quando todos os entrevistados utilizaram os serviços da ESF pelo menos uma vez ao mês^4,6,11,19.

Apesar das multimorbidades, um terço do grupo entrevistado são praticantes regulares de atividade física. A caminhada foi a atividade mais frequente, coincidindo com os achados do perfil de envelhecimento saudável de idosos brasileiros octogenários².

Todavia, os idosos octogenários avaliam como favorável a satisfação com os serviços primários (todas as Md≥5), estando satisfeitos. As informações obtidas demonstram que a satisfação é maior para com o trabalho da equipe de Enfermagem e ACS. A literatura aponta que tal situação pode estar relacionada a atenção que esses profissionais depreendem aos idosos longevos, escutando seus problemas e orientando-os com clareza sobre como conduzir as ações no serviço de saúde^6,8,11,19.

Esse fato, em muito, pode estar relacionado à própria especificidade do processo de trabalho na ESF. Que coloca esses trabalhadores, equipe de enfermagem e ACS, em constante contato com a população e na linha de frente dos atendimentos²⁰. São esses trabalhadores que usualmente realizam triagem da demanda assistencial, acolhimento, e que mais se utilizam das visitas domiciliares como objeto de trabalho. Por isso a importância de se entender a satisfação expressa pelos idosos octogenários por esses trabalhadores^21,22.

A satisfação com os serviços pode transcorrer das relações interpessoais entre profissionais e pacientes, das próprias representações sociais dos usuários com o processo saúde-doença, para além dos aspectos vinculados à infraestrutura dos serviços. Ao tentar conhecer a satisfação de idosos com a ESF do município de Fortaleza (CE), verificou-se que grande parte dos participantes (82,1%) estavam satisfeitos com aspectos relacionados à atenção desprendida desses profissionais, com bom atendimento e vínculo aos profissionais da unidade².

Estudo que avaliou o grau de satisfação de idosos com ACS identificou que maior satisfação a esses profissionais esteve relacionada ao domínio da confiança²³, o que corrobora os achados deste estudo relacionados a maior satisfação dos octogenários a esse profissional, relacionada à atenção empreendida na prática desse profissional.

É fundamental que a prática profissional dos sujeitos inseridos na APS seja humanizada, acolhedora de forma que crie vínculos^4,9,17. Um bom relacionamento entre usuários e profissionais de saúde está associada a chances de gerar maior satisfação com o serviços, incluindo o atendimento dos profissionais que atuam na recepção das unidades, agilidade nas filas e tempo de espera pelas consultas e boas relações com os profissionais²⁴. As interações entre profissional e paciente podem contribuir para um estreitamento afetivo de longa duração, que pode ser um facilitador com relação a uma percepção de efetividade da ESF por parte dos usuários.

O ponto de maior insatisfação revelado pelo grupo de idosos octogenários foi a espera pelo atendimento, representado pelo tempo de chegada na unidade até o encontro ao profissional de saúde agendado (Enfermagem Md=4,6 Q25-Q75=4-6; Médicos Md=4,9 Q25-Q75= 4-6). A demora nos atendimentos, seja para um atendimento de demanda espontânea ou uma consulta previamente agendada, tem sido identificada como um fator de constrangimento junto a outras equipes de atenção primária, como denotado em João Pessoa (Paraíba)²⁵.

É preconizado pela política nacional de atenção básica que o processo de trabalhos das equipes da ESF seja realizado de acordo com as necessidades de saúde da população, pautado no acolhimento humanizado, escuta ativa e responsabilidade da assistência resolutiva à demanda espontânea e o primeiro atendimento às urgências. Assim, espera-se que para além das atividades previamente programadas pelos serviços, a APS consiga atender a demanda espontânea dos seus usuários de forma a garantir seu papel como ordenadora das ações e serviços integrantes da RAS²⁶. Evidências^26-28 apontam que o agendamento demorado de consultas e a insatisfação do acolhimento da demanda espontânea pelos serviços de APS são aspectos de fragilidade e insatisfação com o serviço, podendo levar a procura a outros pontos RAS.

Outro ponto frágil, relaciona-se às instalações da unidade e sua adequação para deficientes. Em Recife (Pernambuco) essa realidade foi similar quando idosos dessa localidade apresentaram menor satisfação com as condições físicas e de infraestrutura com as unidades. Sendo a pouca acessibilidade, limitações nas condições de conforto e higiene os aspectos mais críticos apontados pelo grupo de idosos recifenses²⁹.

Ao avaliar as expectativas e experiências de idosos usuários de serviços de APS da província de KwaZulu-Natal, na África do Sul, foi identificado como aspectos de insatisfação para esses serviços a demora do tempo de espera no agendamento de consultas, um modelo de assistência baseado em doenças, ausência de criação de vínculos com os profissionais de saúde e necessidade de criação de um acesso prioritário a esse grupo³⁰.

Uma das contribuições do presente estudo apresenta-se para os profissionais de saúde, em especial os inseridos no contexto de trabalho da APS, que devem levar em consideração a perspectiva dos usuários no planejamento de suas ações. A avaliação da qualidade dos serviços em saúde, na perspectiva dos usuários, é capaz de instituir mudanças e superação do modelo biomédico hegemônico, além de direcionar as ações para que façam sentido às realidades singulares de vida dos usuários idosos longevos.

Estudo empreendido com idosos usuários dos serviços de APS de João Pessoa (Paraíba) identificou como aspectos de insatisfação dos idosos junto aos serviços de APS relacionados, a rapidez e concretização de marcação de consultas, falta de conforto das instalações da unidade, compromisso da equipe de saúde em resolver seus problemas e o conhecimento da equipe sobre os problemas de saúde e suas necessidades, achados estes que corroboram aos deste estudo³¹.

Embora os serviços de APS devam considerar as ações de saúde à população idosa de uma forma integral, percebe-se uma maior concentração de atividades relacionadas às doenças crônicas não transmissíveis. Ao avaliar o desempenho da atenção integral ao idoso em serviços de APS em regiões de saúde do centro-oeste paulista identificou-se um predomínio de ações pautadas no modelo biomédico hegemônico e as ações de promoção e prevenção à saúde são implementadas de forma escassa e ineficientes. Quando tais ações são realizadas estão direcionadas ao controle da hipertensão arterial sistêmica e o diabetes melittus¹¹.

Neste contexto, percebe-se uma desconexão entre o preconizado como oferta de serviços à população idosa prevista pela Política Nacional da pessoa idosa e as ações implementadas na prática, já que se espera que a oferta de serviços a esse grupo esteja voltada para além do processo de instalações de patologias, mas o desenvolvimento de envelhecimento saudável com qualidade de vida^2,5,9,11.

Outra contribuição relaciona-se a orientações para a gestão local em saúde do município cenário de estudo, para que cada vez mais qualifique as estratégias de organização dos serviços afim de gerarem respostas mais propositivas dos serviços de saúde para a população longeva²⁹. Ainda, as próprias equipes de saúde da ESF, mediante os achados deste estudo, podem fortalecer a reorientação do seu processo de trabalho, a fim de melhor acolher e resolver as demandas do grupo etário de idosos longevos.

São escassos os estudos com octogenários - haja vista as dificuldades em acessar essa população pelo próprio processo de envelhecimento. O que faz com que os achados tenham relevância para contribuir na compreensão do fenômeno estudado.

Ainda, mesmo que os resultados das análises empreendidas sejam descritivos, sem o estabelecimento de relações causais, eles contribuem aos estudos futuros, em especial para apoiar cálculo amostral em estudos de base populacional junto a idosos octogenários. Há de se destacar também o fato da amostragem não probabilística e ao possível viés de memória.

Para o futuro, espera-se que novas pesquisas possam reconhecer se existe um padrão comum entre satisfação junto aos serviços da APS pelos idosos longevos em estudos de base populacional, além de se estabelecer relações entre os aspectos sociodemográficos e clínicos com a satisfação dos serviços. E ainda, analisar quais as ações têm sido desenvolvidas pelas equipes de saúde, as iniciativas ofertadas para os idosos longevos, de forma a afetarem a percepção deles quanto a satisfação aos serviços.

CONCLUSÃO

De forma geral, os idosos octogenários avaliaram os serviços de cuidados primários com quem tiveram contato, sendo os aspectos de insatisfação relacionados à demora no atendimento e à infraestrutura da unidade. Os aspectos de satisfação relacionaram-se ao fato de que a equipe de Agentes Comunitários de Saúde serem atenciosos, explicarem o que deve ser feito, interessarem-se pelos seus problemas e estarem disponíveis.

Com isso, os resultados contribuem de maneira propositiva para a gestão e qualificação dos serviços de saúde, assim como apoiam o processo de trabalho, reafirmando a importância dos idosos octogenários participarem da avaliação de serviços de saúde.

REFERENCES

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• Financiamento da pesquisa:

  Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Editado por

Editado por:

Ana Carolina Lima Cavaletti

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  20 Jul 2020
• Data do Fascículo
  2020

Histórico

• Recebido
  07 Out 2019
• Aceito
  11 Maio 2020