Resumo
O artigo parte do pressuposto de que as famílias dos conquistadores e dos primeiros povoadores do Rio de Janeiro quinhentista, nos séculos seguintes, formaram um grupo social capaz de elaborar os seus mecanismos de reprodução social no tempo: no caso, trata-se da nobreza principal da terra. Os eixos desses mecanismos não foram tanto o controle da terra e da mão de obra - através, por exemplo, do sistema de vínculos (morgadios e capelas) ou por meio do mercado -, mas mediante os valores do Antigo Regime católico. Entre tais valores temos: o de prestígio social (fidalguia de pergaminhos e a costumeira dada pela conquista) e de dádivas (troca pessoal desigual). Entre os resultados desse processo temos a fabricação de uma sociedade hierarquizada e pautada na ideia de superioridade social como sinônimo de viver do trabalho alheio. Nesse contexto a prática dádiva surge como movimento fundamental, pois era capaz, ao mesmo tempo, de reafirmar superioridade social e da promoção social, a exemplo da alforria. A Nobreza principal da terra, no Rio de Janeiro, sucumbiu no século XVIII; porém, a sociedade e o seu ideário sobreviveram, inclusive entre os grupos ditos subalternos. Estas hipóteses foram construídas a partir da empiria do Rio de Janeiro dos séculos XVII e XVIII, mas procuram contribuir para o entendimento da América lusa baseada no Antigo Regime luso e na escravidão mercantil.
América Lusa; Plantation escravista; Monarquia lusa; Nobreza da Terra