Resumos
O presente trabalho avalia a atividade antiviral de extratos e frações de Musa acuminata Colla, Musaceae, coletada em duas regiões do Estado do Rio de Janeiro (Petrópolis e Santo Antônio de Pádua). As inflorescências de M. acuminata apresentaram excelente atividade para os dois vírus avaliados: herpesvírus simples humano tipo 1 e herpesvírus simples humano tipo 2, ambos resistentes ao Aciclovir. Os resultados indicam que os extratos de M. acuminata testados podem constituir alvo potencial para uso em terapias antivirais.
Musa acuminata; Musaceae; atividade antiviral
This study evaluates the antiviral activity of extracts and fractions of Musa acuminata Colla collected in two regions of Rio de Janeiro State (Petrópolis and Santo Antônio de Pádua). The inflorescences of M. acuminata showed excellent activity for the two virus evaluated: simple human herpesvirus type 1 and simple human herpesvirus type 2, both resistant to Acyclovir. The results indicate that the tested extracts of M. acuminata can be potential target for use in antiviral therapy.
Musa acuminata; antiviral activity
ARTIGO
Atividade antiviral de Musa acuminata Colla, Musaceae
Antiviral activity of Musa acuminata Colla, Musaceae
Fernanda Otaviano MartinsI; Catharina Eccard FingoloII, III, * * E-mail: fingoloce@nppn.ufrj.br, Tel. + 55-21-2562-6791. ; Ricardo Machado KusterII, III; Maria Auxiliadora Coelho KaplanII, III; Maria Teresa Villela RomanosI
IDepartamento de Virologia, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Centro de Ciências da Saúde, Bloco I, ss, sala 064, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Cidade Universitária, 21941-590 Rio de Janeiro-RJ, Brasil
IIPrograma de Biotecnologia Vegetal, Pós Graduação em Biotecnologia Vegetal, Centro de Ciências da Saúde, Bloco K 2º andar, sala 032, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Cidade Universitária, 21941-590 Rio de Janeiro-RJ, Brasil
IIINúcleo de Pesquisas de Produtos Naturais, Centro de Ciências da Saúde, Bloco H, 1º andar, sala 016, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Cidade Universitária, 21941-590 Rio de Janeiro-RJ, Brasil
RESUMO
O presente trabalho avalia a atividade antiviral de extratos e frações de Musa acuminata Colla, Musaceae, coletada em duas regiões do Estado do Rio de Janeiro (Petrópolis e Santo Antônio de Pádua). As inflorescências de M. acuminata apresentaram excelente atividade para os dois vírus avaliados: herpesvírus simples humano tipo 1 e herpesvírus simples humano tipo 2, ambos resistentes ao Aciclovir. Os resultados indicam que os extratos de M. acuminata testados podem constituir alvo potencial para uso em terapias antivirais.
Unitermos:Musa acuminata, Musaceae, atividade antiviral.
ABSTRACT
This study evaluates the antiviral activity of extracts and fractions of Musa acuminata Colla collected in two regions of Rio de Janeiro State (Petrópolis and Santo Antônio de Pádua). The inflorescences of M. acuminata showed excellent activity for the two virus evaluated: simple human herpesvirus type 1 and simple human herpesvirus type 2, both resistant to Acyclovir. The results indicate that the tested extracts of M. acuminata can be potential target for use in antiviral therapy.
Keywords:Musa acuminata, antiviral activity.
INTRODUÇÃO
A espécie Musa acuminata Colla, conhecida popularmente como banana ouro, pertence à família Musaceae e é considerada a menor das bananas. A banana (Musa sp.) é uma das frutas mais consumidas no mundo, sendo cultivada na maioria dos países tropicais. No Brasil, a banana destaca-se entre os principais produtos agrícolas, ocupando o segundo lugar dentre as frutas na preferência dos consumidores (Bernardi et al., 2004).
De acordo com a literatura vigente, algumas espécies de Musa caracterizam-se pela presença de substâncias com potencial farmacológico bastante interessante, tais como: antioxidante (Kanazawa & Sakakibara, 2000; Someya et al., 2002), antiúlcera (Ghosal & Saini, 1984; Costa & Brito, 1997; Lewis et al., 1999), bactericida (Sharma et al., 1989), fungicida (Talero & Vejarano, 1973; Sharma et al., 1989; Hirai et al., 1994; Quinines et al., 2000; Kamo et al., 2001; Luque-Ortega et al., 2004), inseticida (Pascual-Villalobos & Rodriguez, 2006).
Este trabalho visa mostrar a atividade antiviral de Musa acuminata, nunca antes descrita na literatura.
MATERIAL E MÉTODOS
Material vegetal
O material vegetal foi coletado no município de Petrópolis-RJ em novembro e dezembro de 2006 e em Santo Antônio de Pádua-RJ em novembro de 2006, identificado pelo Prof. Dr. João Marcelo de Alvarenga Braga, Jardim Botânico-RJ e depositado no Herbário da Faculdade de Formação de Professores por Ricardo de Moura Loyola, Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), São Gonçalo, Rio de Janeiro, Brasil.
As inflorescências de Musa acuminata, ainda frescas, foram reduzidas a pequenos fragmentos utilizando faca e, em seguida, submetidas ao processo de extração exaustiva por maceração estática com etanol, o solvente tendo sido trocado vinte vezes, de 48 em 48 h. O material foi concentrado sob pressão reduzida em rotaevaporador, mantendo a temperatura do banho perto de 40 ºC. Após secagem, o resíduo vegetal foi submetido à partição líquido-líquido em seqüência com solventes de diferentes polaridades: hexano, diclorometano, acetato de etila e n-butanol. As frações obtidas foram concentradas sob pressão reduzida, pesadas e então usadas nos testes de atividade antiviral.
Os extratos e as frações foram pesados separadamente e, posteriormente, solubilizados em 1% de DMSO e adicionados de água destilada para uma concentração estoque de 400 μg/mL, filtrados em membrana Millipore (0,22 mm), divididos em pequenos volumes e estocados a temperatura de -20 º C até o momento de utilização.
Células e vírus
Para a realização desse estudo foi utilizada a cultura de células Vero (fibroblasto de rim de macaco Cercopitheccus aethiops), mantida em MEM (Meio Mínimo Essencial) suplementado com 10% de soro fetal bovino. As amostras de vírus Herpes simplex tipos 1 e 2 resistentes ao Aciclovir (HSV-1-ACVr e HSV-2-ACVr), pertencem à coleção do LEDAC (Laboratório Experimental de Drogas Antivirais e Citotóxicas), sob a responsabilidade da Professora Dra. Maria Teresa Villela Romanos.
Testes de citotoxidade
A citotoxidade foi determinada baseando-se na observação da alteração morfológica e na viabilidade celular.
Observação da alteração morfológica celular
Os extratos e frações foram submetidos a diluições seriadas, na razão 2, utilizando-se meio de cultura sem soro como diluente e colocados em contato com as monocamadas de células confluentes em microplacas de 96 poços e posteriormente incubadas a 37 ºC em ambiente com 5% de CO2 durante 48 h e examinada ao microscópio óptico invertido. O efeito citotóxico foi detectado pelo aparecimento de células morfologicamente alteradas (Rodriguez et al., 1990). A maior concentração da substância em que não houve alteração na morfologia celular foi denominada de concentração máxima não tóxica (CMNT) e utilizada para os estudos antivirais.
Verificação da viabilidade celular
Os extratos e frações nas mesmas diluições e condições já descritas foram colocados sobre as monocamadas de células confluentes. O efeito na viabilidade celular foi determinado através da técnica descrita por Neyndorff e colaboradores (1990), com pequenas modificações. A técnica consistiu na incorporação do corante vermelho neutro pelas células vivas e posterior quantificação por leitura em espectrofotômetro, em comprimento de onda de 492 nm. A percentagem de células viáveis foi obtida pela fórmula:
sendo calculada a toxidade para 50% das culturas de células (CC50) onde:
-DOdr, Densidade ótica da droga;
-DOcontr, Densidade ótica controle de células
-DOvn, Densidade ótica Vermelho neutro
Avaliação da atividade antiviral
Suspensão viral em várias diluições foi inoculada em cultura de células na presença dos extratos na CMNT e na ausência dos extratos (controle de vírus), apenas com o meio de cultura sem soro. Ambas as culturas (teste e controle) foram incubadas a 37 ºC por 48 h em ambiente com 5% de CO2.
A atividade antiviral foi avaliada pela observação da redução do título viral na presença (teste) e na ausência (controle) dos extratos e frações, determinados por TCID50/ml (Reed & Muench, 1938), sendo calculada a percentagem de inibição (PI), de acordo com a fórmula proposta por Nishimura e colaboradores (1977).
onde T corresponde a unidades infecciosas na cultura de células tratadas com os extratos e frações, e C, unidades infecciosas na cultura de células não tratadas (controle).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Avaliação da atividade antiviral
Os extratos etanólico (EEPT), hexânico (EHPT), diclorometânico (EDPT), em acetato de etila (EAPT) e butanólico (EBPT) provenientes das inflorescências coletadas na região de Petrópolis foram testados in vitro para atividade contra o herpesvírus simples humano tipo 1 resistente ao Aciclovir (HSV-1-ACVr) e contra o herpesvírus simples humano tipo 2 resistente ao Aciclovir (HSV-2-ACVr) através da avaliação do índice de inibição viral (IIV) e da respectiva percentagem de inibição (PI).
Da mesma forma foi feita a avaliação com os extratos da planta proveniente da região de Santo Antônio de Pádua (de EEPD a FAPD), sendo que FAPD é a fração aquosa resultante da partição, não testada na amostra de Petrópolis.
Apesar de todos os extratos terem apresentado a CC50 (concentração citotóxica para 50% das culturas de células) superior a 200 μg/mL, foram empregadas nas experiências as amostras em concentrações nas quais não foram observadas alterações na morfologia celular (CMNT).
As CMNT variaram de 25 a 200 μg/mL. Dos onze extratos avaliados, cinco foram capazes de inibir em mais de 80% a replicação da amostra do herpesvírus simples humano tipos 1 (HSV-1-ACVr). A amostra de herpesvírus simples humano tipo 2 (HSV-2-ACVr) foi inibida por dois extratos em concentrações não citotóxicas.
CONCLUSÃO
Os estudos com M. acuminata indicam grande potencial inibitório na replicação dos hespesvírus resistente ao Aciclovir. O extrato butanólico das inflorescências de Musa acuminata, coletadas em Petrópolis, foi o único extrato que apresentou inibição para as duas amostras testadas de vírus mostrando inibição superior a 80%, sem apresentar toxidade para as células, na maior concentração empregada (200 μg/mL). Diante desses resultados, estudos posteriores serão realizados para determinar a(s) substância(s) bioativa(s) presente(s) nesses extratos e em qual(is) etapa(s) da síntese viral esses extratos atuam.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
22 Jan 2010 -
Data do Fascículo
Set 2009