DIRETRIZES EM FOCO
Disfunção erétil: tratamento com drogas inibidoras da fosfodiesterase tipo 5
Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia
Participantes: Carmita N. Abdo, Eduardo B. Bertero, Geraldo E. Faria, Luiz O. Torres, Sidney Glina
Descrição do método de coleta de evidência: Feita revisão bibliográfica no Pubmed com o MESH: "impotence" [MeSH] and ("sildenafil" [substance name] or "vardenafil" [substance name] or "tadalafil" [substance name]) and "prognosis" [MeSH]. Foi também revisado o Journal of Sexual Medicine, publicação não indexada.
Graus de recomendação e força de evidência:
A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.
B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.
C: Relatos de casos (estudos não controlados).
D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais.
Introdução
Disfunção erétil (DE) é a incapacidade recorrente e persistente em ter e/ou manter uma ereção peniana para uma relação sexual satisfatória1(B). É uma entidade clínica de grande prevalência e o tratamento oral é considerado o de primeira linha. Os inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (iF5) constituem hoje a terapia oral mais utilizada2(D) e atuam promovendo o relaxamento da célula muscular do tecido cavernoso, condição necessária para obtenção da ereção.
Farmacocinética
Os iF5 devem ser utilizados sob demanda e na presença de desejo e estímulo sexual. No Brasil, a sildenafila existe nas dosagens de 25, 50 e 100 mg; a vardenafila nas dosagens de 5, 10 e 20 mg e a tadalafila na dose de 20 mg. Os respectivos dados farmacocinéticos encontram-se na Tabela 1* 3(A)4-6(B)7(D). A sildenafila atinge concentrações plasmáticas máximas (Tmax) em até uma hora e tem uma meia-vida (T1/2) de três a cinco horas4(B). Clinicamente, isto se reflete em início de ação da atividade erétil a partir de 12 minutos, podendo ter efeito por até 12 horas5(B). A vardenafila tem Tmax próxima de 40 minutos e meia-vida em torno de quatro horas7(D). Clinicamente, isto também se reflete em início de ação da atividade erétil a partir de 15 minutos, podendo ter efeito por até 12 horas6(B). A tadalafila tem Tmax de duas horas (30 minutos a 4 horas) e uma meia-vida de, aproximadamente, 17,5 horas, podendo ter efeito por até 24 a 36 horas após a administração do medicamento3(A).
*A Tabela 1 está disponível na diretriz, versão completa, acessível em www.projetodiretrizes.org.br.
Eficácia
Sildenafila
Estudos clínicos mostraram eficácia estatisticamente superior ao placebo, dose-dependente, em homens com DE em população não selecionada e nas seguintes subpopulações: de causa psicológica8(A); com diabetes tipo I e II8(A); pós-lesão medular8(A); com doenças cardiovasculares8(A); após prostatectomia radical8(A); com depressão leve não tratada8(A); com mal de Parkinson9(B); pós-transplante renal10(B); pós-braquiterapia e radioterapia11(B); com insuficiência renal em vigência de diálise12(A).
Vardenafila
Estudos clínicos mostraram eficácia estatisticamente superior ao placebo, dose-dependente, em homens com DE em população não selecionada13(B) e nas seguintes subpopulações: de causa psicológica14(A); com dislipidemia14(A); em uso de anti-hipertensivos14(A); pós-prostatectomia radical15(A); com diabete mellitus tipo 1 e 216(A).
Tadalafila
Estudos clínicos mostraram eficácia estatisticamente superior ao placebo, dose-dependente, em homens com DE em população não selecionada17(A) e nas seguintes subpopulações: de causa psicológica; com diabetes mellitus18(A); pós-prostatectomia radical. Até o presente momento, não existem evidências de maior eficácia de um desses medicamentos sobre outro.
Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais costumam ser transitórios e de leve intensidade. Os mais freqüentes são: cefaléia, rubor facial, epigastralgia e congestão nasal17,19,20(A)21(B)22( D). Dor lombar e mialgia são mais freqüentes com o uso da tadalafila19(A). Todos os três medicamentos são seguros do ponto de vista cardiovascular, não apresentando efeitos negativos sobre a função cardíaca, nem piorando o quadro clínico de pacientes com insuficiência coronariana estável23(A)24-27 (B). Outrossim, as alterações no eletrocardiograma não foram consideradas significantes28(B). O uso de iF5 não aumentou a incidência de acidentes vasculares29(D). Também não causam alteração significativa da pressão arterial sistólica e diastólica, nem na freqüência cardíaca30(D). Na insuficiência cardíaca congestiva, sildenafila, além de bem tolerada, aumentou a capacidade destes pacientes aos exercícios31,32(B). A tadalafila apresenta alta seletividade para a fosfodiesterase tipo 11, existente nos testículos e na hipófise33(D). No entanto, o uso diário da tadalafila não mostrou alteração significativa na concentração, morfologia ou motilidade dos espermatozóides. Também não houve alteração dos níveis plasmáticos de testosterona, LH e FSH34(A).
Interação medicamentosa
Os iF5 são metabolizados primariamente pela via do citocromo CYP3A4. Desta maneira, outras drogas metabolizadas por esta via, como cetonoconazol, inibidores da protease (ritonavir, saquinavir), que são inibidores deste citocromo, retardam a metabolização desses medicamentos, aumentando seus níveis plasmáticos. Já a rifampicina, que é um indutor seletivo do CYP3A4, pode reduzir os níveis dos iF535(D). O uso da iF5 concomitante com os alfabloqueadores pode produzir um efeito hipotensor sem, no entanto, contra-indicar sistematicamente a sua prescrição36(B). A administração de iF5 em pacientes em uso de um ou mais anti-hipertensivos não traz alterações significantes dos níveis pressóricos37(B). As únicas contra-indicações absolutas do iF5 são sensibilidade a eles e uso concomitante com nitratos1(B).
O texto completo da diretriz "Disfunção erétil: tratamento com drogas inibidoras da fosfodiesterase tipo 5" está disponível em www.projetodiretrizes.org.br.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
18 Jan 2008 -
Data do Fascículo
Abr 2007