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Os sistemas e signos de militantes políticos na/da enfermagem brasileira

RESUMO

Objetivos:

analisar os sistemas e signos na constituição de enfermeiras militantes.

Métodos:

pesquisa histórica baseada no método de história oral, com abordagem qualitativa, realizada com 11 enfermeiras que militaram/militam por questões profissionais desde 1980. Os dados coletados das entrevistas semiestruturadas foram organizados no software NVivo 10 e analisados através da hermenêutica dialética.

Resultados:

sistemas e signos são sistemas que permitem utilizar sentidos, símbolos ou significação para objetivar e subjetivar o sujeito. Os sentidos revelados foram categorizados e se dividiram entre: impróprio, religioso, heroico, comunista e implicados com o social.

Conclusões:

os signos da militância são convergentes com o que está posto na literatura nacional e internacional. A diferença encontrada foi no sentido heroico e implicado com o social, o militante quase nunca é associado a aspectos positivos, pois um indivíduo que se constrói ser político se empodera enquanto ser social tornando conhecimento poder, gerando uma quebra nos modelos tradicionais.

Descritores:
Enfermagem; Política; Liderança; História da Enfermagem; Sistemas

ABSTRACT

Objectives:

to analyze the systems and signs in the constitution of militant nurses.

Methods:

a historical and qualitative research based on oral history carried out with 11 nurses who had been working in the professional field since 1980. Data collected from semi-structured interviews were organized into NVivo software 10, being analyzed through dialectical hermeneutics.

Results:

systems and signs are systems that allow us to use senses, symbols or meaning to objectify and subjectivate the subject. The revealed senses were categorized and divided into improper, religious, heroic, communist, and socially involved.

Conclusions:

militancy signs are convergent with what is put in national and international literature. The difference found was in the heroic sense and implicated with the social. Militant is almost never associated with positive aspects. An individual who builds himself as a political being empowers himself as a social being, making knowledge of power, generating a break in traditional models.

Descriptors:
Nursing; Politics; Leadership; History of Nursing; Systems

RESUMEN

Objetivos:

analizar los sistemas y signos en la constitución de enfermeras militantes.

Métodos:

investigación histórica, basada en el método de historia oral con abordaje cualitativo, realizada con 11 enfermeras que militarizaron/militan por cuestiones profesionales desde 1980. Los datos recolectados de las entrevistas semiestructuradas fueron organizados en el software NVivo 10 y analizados a través de la hermenéutica dialéctica.

Resultados:

los sistemas y signos son sistemas que permiten utilizar sentidos, símbolos o significación para objetivar y subjetivar al sujeto los sentidos revelados fueron categorizados y se dividieron entre: inapropiado, religioso, heroico, comunista e implicados con lo social.

Conclusiones:

los signos de la militancia son convergentes con lo que está puesto en la literatura nacional e internacional, la diferencia encontrada fue en el sentido heroico e implicado con lo social, el militante casi nunca se asocia a aspectos positivos, pues un individuo que se construye ser político se empodera mientras sea social haciendo conocimiento de poder, generando una ruptura en los modelos tradicionales.

Descriptores:
Enfermería; Política; Liderazgo; Historia de la Enfermería; Sistemas

INTRODUÇÃO

A militância é uma forma de participação política engajada e crítica, na qual são desenvolvidas ações voltadas para a conscientização política da população, buscando desenvolver novos valores que possibilitem às pessoas se organizarem e lutarem para a construção de uma sociedade justa e digna(11 Baltazar B. Encontros e desencontros da militância na vida cotidiana. Psicol Teor Pesqui. 2004;20:183-90. doi: 10.1590/S0102-37722004000200011
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).

No campo da saúde, a militância pode ser expressa na aposta do encontro entre trabalhadores, gestores e usuários como espaço para a produção da vida, da invenção de si e do mundo. No momento em que estes atores estão em relação, emergem multiplicidades de agenciamentos que podem apontar para a produção de algo que vá para além daquilo que é denominado produção de saúde(22 Oliveira GN, Pena RC, Amorim SC, Carvalho SR, Azevedo BMS, Martins ALB. Novos possíveis para a militância no campo da Saúde Interface: a afirmação de desvios nos encontros entre trabalhadores, gestores e usuários do SUS. Interface: Comun Saúde Educ. 2009;13(Supl.1):523-9. doi: 10.1590 / S1414-32832009000500005
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).

Na área da enfermagem, a militância política é compreendida como essencial para trilhar o caminho da mudança, com uma visão integral comprometida, ética, política e socialmente com o ser humano e a sociedade brasileira. Devem ser evitadas a acomodação e a exagerada aceitação sem questionamento, o que faz da profissão, muitas vezes, uma prática repetitiva e sem criatividade(33 Geovanini T, Moreira A, Dornelles S, Machado WCA. História da Enfermagem: versões e interpretações. 3rd ed. Rio de Janeiro: Revintes; 2010).

Contudo, identificamos que a formação em enfermagem permanece predominantemente fundamentada no modelo clínico, guiada por uma concepção de saúde/doença médico centrada, com foco na cura, biologicista, altamente especializada, fragmentada, repercutindo, assim, as fragilidades na dimensão política da formação(44 Collière MF. Promover a Vida das práticas das mulheres de virtude aos cuidados de Enfermagem. Coimbra (PT): Lindel; 1999.).

A enfermagem é uma área de saber que apresenta vários determinantes históricos e sociais que a colocam em uma trincheira de exclusão social, subjugação, invisibilidade, falta de identidade dos profissionais que a representa, formação tecnicista, de base proletária, tendo como grande eixo determinista o gênero, que perpassa pela construção social da mulher.

Neste contexto, este estudo busca utilizar signos, sentidos e símbolos ou significações para objetivar e subjetivar os sujeitos segundo uma concepção foucautiana. Tais aspectos podem corroborar para o entendimento sobre o fenômeno pesquisado. Por isso, surge o questionamento: como os sistemas e signos possibilitam o desvelamento do ser/saber militante na enfermagem?

Em outras palavras, este estudo objetiva entender como enfermeiras formadas por modelos predominantemente hegemônicos rompem com modos de dominação e como os símbolos e os signos podem nos ajudar a entender esse processo, guiados por uma concepção foucaultiana e pela hermenêutica dialética.

O signo pode ser entendido como o que se apresenta aos sentidos ou ao intelecto, designa qualquer coisa a esse intelecto e vai depender de uma complexidade de fatores do último para que seja concretamente decifrado, em especial, as paixões da alma, as disposições e as formas assumidas pelas coisas no intelecto(55 Boulnois O. Être et représentation. Paris: Presses Universitaires de France; 1999.).

Por exemplo, Foucault não trata o discurso como documento, mas como signo de alguma coisa, como elemento que deveria ser transparente, mas cuja opacidade importuna é preciso atravessar frequentemente para reencontrar, enfim, aí onde se mantém a parte, a profundidade do essencial(66 Foucault M. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. Lisboa: Portugal; 1969.).

De certo modo, todo signo tem sua codificação marcada por dois aspectos. Um primeiro, de apaziguar as consciências, geralmente quando o símbolo é direcionado para aquilo que faz parte do conhecido; e um segundo aspecto, de direcionar atitudes humanas com relação ao signo, provocando a ruptura e ou manutenção das relações de poder.

Os discursos são feitos de signos, mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse mais que os tornam irredutíveis à língua e à fala. É esse “mais” que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever, pois este “mais” certamente estará permeado de jogos de verdade e poder(77 Foucault M. A Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense; 1986.).

É necessário distinguir também as relações de poder das relações de comunicação, que transmitem uma informação através de uma língua, de um sistema de signos ou de qualquer outro meio simbólico. Sem dúvida, comunicar é sempre certa forma de agir sobre o outro ou nos outros. Porém, a produção e a circulação de elementos significantes podem perfeitamente ter por objetivos ou por consequências efeitos de poder(88 Foucault M. As Palavras e as Coisas: uma Arqueologia das Ciências Humanas. São Paulo: Martins Fontes; 2000.).

Por fim, cabe mencionar que este estudo é produto de uma tese de doutoramento que se baseou no referencial teórico de Michel Foucault, filosofo que buscou entender o sujeito em todas as suas dimensões.

OBJETIVOS

Analisar os sistemas e os signos na/da militância política na/da enfermagem.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Bahia/Escola de Enfermagem, sob protocolo CAEE n. 28775614.2.0000.5531, datado de 27 de maio de 2014. O processo de pesquisa obedeceu aos preceitos éticos preconizados em resolução sobre ética em pesquisa.

Tipo de estudo

Trata-se de um estudo de caráter qualitativo, baseado no método de História Oral, que se caracteriza como uma abordagem sistemática por meio de coleta, organização e avaliação crítica de dados que têm relação com ocorrências do passado. Alguns passos são considerados essenciais à produção de um trabalho histórico: 1) definição, justificativa e delimitação do tema; 2) objetivos da pesquisa; 3) quadro teórico e hipóteses; 4) coleta de dados fontes; 5) crítica e validação dos dados; e 6) análise e interpretação dos dados(99 Padilha ICS, Boresnstein MS. O método de pesquisa histórica na Enfermagem. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2005 [cited 2018 Mar 10] 14(4):575-84. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v14n4/a15v14n4.pdf
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). Ainda na direção da escolha metodológica deste estudo, o método de história oral é um meio de estabelecer relações de maior qualidade e profundidade entre o pesquisador e os participantes do estudo. Nesta pesquisa, visamos revelar as narrações como ferramentas de vê-las em si, que se configuram no tipo biográfico(1010 Meihy JCSB, Holanda F. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo (SP): Contexto; 2007.).

Procedimentos metodológicos

Neste estudo, foram utilizadas as técnicas de entrevista semiestruturada e a da bola de neve, por meios das quais se objetivou identificar e ter como participantes do estudo tanto enfermeiras que foram presidentes da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) e do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (SEEB) como as que não exerceram cargos de Presidentes da ABEn ou Sindicato, mas que tiveram ou têm uma militância reconhecida socialmente.

Sob o ponto de vista operacional, a coleta de dados se pautou em dois momentos:

  • Primeiro, para indicação das “sementes”, com base em um único critério de inclusão: o exercício de mandato presidencial na ABEn – Secção Bahia e ou no SEEB, a partir da década de 80;

  • No segundo momento, para a indicação das filhas (os) das “sementes”, deviam, mediante alguns critérios preestabelecidos: ser enfermeira; militar por questões políticas específicas da profissão, bem como pela valorização, visibilidade, respeito e reconhecimento profissional, por período de, no mínimo um ano, de forma sistemática, regular e reconhecida socialmente, devendo abranger o período a partir da década de 80 do século XX; assumir e participar de movimentos e mobilizações sociais e públicos na enfermagem.

Como critério de exclusão, estabeleceu-se o limite de cinco tentativas de contato para agendamento das entrevistas. Após este período, a militante era excluída da amostra, o que ocorreu com duas pessoas. Nos demais, a coleta de dados foi suspensa no momento em que houve saturação das respostas.

O recorte temporal escolhido se deu por conta de que foi a partir da década de 80, onde ocorreu a efervescência dos movimentos sociais, sendo que estes movimentos geram mais liberdade de expressão. Com isso, acredita-se que esta fase acabou por colaborar com a expressão da militância política. A escolha do recorte espacial se deu por conta dos registros sobre o movimento político das enfermeiras baianas no cenário nacional e internacional.

Cenário do estudo

O estado da Bahia, localizado na Região Nordeste do Brasil, possui área territorial de 564.733,081 km2, representando o quinto em extensão. A população estimada em 2015 corresponde a 15.203.934 habitantes(1111 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-(IBGE). Censo Demográfico 2009 [Internet]. Rio de Janeiro (RJ): 2014 [cited 2018 Mar 10]. Available from: https://sidra.ibge.gov.br/home/ipca15/brasil
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).

Em consulta ao Conselho Regional de Enfermagem, seção Bahia, constatou-se a existência de 17 mil auxiliares de enfermagem, cerca de 60 mil (60.220) técnicos de enfermagem e aproximadamente 27 mil (27.447) enfermeiras, totalizando mais de 104 mil profissionais (104.667) na área(1111 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-(IBGE). Censo Demográfico 2009 [Internet]. Rio de Janeiro (RJ): 2014 [cited 2018 Mar 10]. Available from: https://sidra.ibge.gov.br/home/ipca15/brasil
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).

Coleta e organização dos dados

Após contato telefônico e agendamento prévio, as entrevistas ocorreram individualmente em ambiente privativo, conduzidas por profissional treinado e habilitado, tendo duração aproximada de 2 horas e 55 minutos. Os dados foram coletados no período de julho a dezembro de 2015.

Utilizou-se um roteiro de entrevista dividido em quatro blocos: questões sociodemográficas; militância política na enfermagem, correlacionando-a aos movimentos sociais do período pesquisado; processo de eleição dos representantes formais da enfermagem; e história de vida do sujeito militante. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas na íntegra.

Houve a colaboração de 10 enfermeiras e 01 enfermeiro, contudo por questões de gênero, adotamos o termo no feminino. Para a identificação das falas, optou-se por adotar o nome rosa dos ventos, com a licença poética da música de Chico Buarque de Holanda, seguido do número arábico respectivo à ordem de realização das entrevistas.

Análise dos dados

Para analisar os dados, utilizou-se o método da Hermenêutica Dialética baseado na Sociologia Compreensiva, que contém dois aspectos fulcrais: a teoria da experiência e a teoria da reconstrução. Buscaram-se, com base na experiência do vivido das militantes políticas da enfermagem na construção do fenômeno, suas práticas de liberdade na direção de outras modalidades de objetivação, contrapondo a lógica de sujeição e subalternidade existente na profissão(1212 Conselho Regional de Enfermagem - Seção Bahia (BR). Consulta ao conselho com relação ao quantitativo de profissionais: 2014 [Internet]. Salvador (BA): 2014 [cited 2018 mar 10]. Available from: http://ba.corens.portalcofen.gov.br/conselhoregional
http://ba.corens.portalcofen.gov.br/cons...
).

Em uma direção operacional, ao analisar os dados e as entrevistas, houve atenção às seguintes etapas: Nível das determinações fundamentais: que corresponde à fase exploratória da investigação; Ordenação dos dados: que compreende a sistematização de todos aqueles coletados; Classificação dos dados: em que é preciso compreender que estes não existem por si só, mas são construídos pelo exercício de questioná-los, com base nos fundamentos teóricos; Análise final: momento em que se estabelece a articulação entre os dados coletados e os referenciais teórico-filosóficos da pesquisa(1313 Silva TOS, Nascimento MAA, Alencar BRA. Hermenêutica Dialética: uma experiência enquanto método de análise na pesquisa sobre acesso do usuário à assistência farmacêutica. Rev. Bras Promoção Saúde [Internet]. 2012 [cited 2018 Mar 10] 25(2):243-50. Available from: http://periodicos.unifor.br/RBPS/article/view/2236
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).

Na etapa de ordenação dos dados, recorreu-se ao software NVivo 10 for Windows, a fim de organizar trechos das falas por núcleos de sentidos. Este programa é amplamente utilizado em pesquisas em saúde de abordagem qualitativa, inclusive em outras áreas, como a antropologia, e em diversos países, a exemplo da Austrália e do Reino Unido.

Após esta etapa, confrontando com o referencial teórico-filosófico da tese e com as possibilidades apontadas no software NVivo, elaborou-se o seguinte quadro de análise e foi construída a categoria e suas respectivas subcategorias de análise: sentido impróprio; sentido religioso; sentido heroico; sentido comunista; e implicado com o social.

No estudo em questão, por meio da pré-análise dos dados, adotou-se como uma das técnicas de compreensão do sujeito a técnica de sistemas de signos, que permite a utilização de signos, de sentidos, de símbolos ou de significação. Representam-se no estudo, através da categoria os aspectos constitutivos de militantes na enfermagem, os sistemas e os signos.

RESULTADOS

Os sistemas e os signos na constituição de sujeitos militantes são sistemas que permitem utilizar signos, sentidos, símbolos ou significação para objetivar e subjetivar o sujeito. Tais aspectos podem corroborar para o entendimento sobre o fenômeno pesquisado.

Os sentidos e os signos estão correlacionados ao militante político sendo eles em destaque: o impróprio, religioso, heroico, comunista e implicado com o social, como está destacado nos Quadros 1, 2, 3, 4 e 5.

Quadro 1
Aspectos constitutivos de militantes na Enfermagem: os sistemas e os signos
Quadro 2
Aspectos constitutivos de militantes na Enfermagem: os sistemas e signos
Quadro 3
Aspectos constitutivos de militantes na Enfermagem: os sistemas e signos
Quadro 4
Aspectos constitutivos de militantes na Enfermagem: os sistemas e os signos
Quadro 5
Aspectos constitutivos de militantes na Enfermagem: os sistemas e signos

DISCUSSÃO

Michel Foucault, inicialmente, coloca que os modos de subjetivação dos sentidos sustentam a objetivação das coisas. Neste conjunto de resultados, destacamos tais processos. Ao compreender a história da enfermagem, a sua profissionalização e, por fim, os aspectos políticos, econômicos e sociais que servem de contexto para tal fenômeno, atrelado aos achados dos signos do militante na profissão como impróprio, comunista e ou com sentido religioso, encontra-se uma matriz explicativa para a fragilidade da militância na enfermagem no plano internacional e nacional.

Em uma perspectiva conceitual, o signo é o que se apresenta aos sentidos ou ao intelecto, designa qualquer coisa a esse intelecto e vai depender de uma complexidade de fatores do último para que seja concretamente decifrado, em especial, as paixões da alma, as disposições e formas assumidas pelas coisas no intelecto(1414 Boulnois O. Être et représentation. Paris: Presses Universitaires de France; 1999.).

Passaremos, portanto, à discussão do signo/sentido impróprio e comunista, por entender que estas representações simbólicas estão articuladas ao sistema de disciplinarização dos corpos e da profissão.

De modo geral, o estereótipo do militante está muito influenciado como um lugar masculino, impróprio, rebelde e perturbador. Através destes fetiches políticos são conseguidas a alienação política e a delegação política, passando a existir uma pessoa fictícia, um corpo místico encarnado denominado mandatário(1515 Bourdieu P. A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos. Porto Alegre: Zouk; 2008.).

O fetichismo não é prioritariamente um fenômeno de consciência, mas um conjunto de manifestações de objetividade social, ou mais precisamente, de objetivação de petrificação de certas práticas sociais, objetos sociais. Tal atividade codificadora assegura o aprendizado e a aquisição de aptidões ou de tipos de comportamento cristalizados no que lhes serve de suporte material, ou seja, relações sociais acima da cabeça dos indivíduos, que produzem e reproduzem objetos sociais consistentes(1616 Franco T. Alienação do trabalho: despertencimento social e desenraizamento em relação à natureza. Caderno CRH. 2011;24:171-91. doi: 10.1590/S0103-49792011000400012
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).

Os sentidos revelados do militante político implicam a fragilidade da militância na enfermagem. As enfermeiras, em maior contingente buscam um reconhecimento social apartado da imagem da rebeldia e de ser reconhecida como imprópria a categoria profissional.

Os atributos e os adjetivos que são apresentados nos discursos da subcategoria do sentido impróprio correlacionam o papel da militante como uma ruptura do papel social da mulher, ligado ao masculino, destinado a mulheres com orientação sexual homoafetiva, quando não para a adúltera. Estas são figuras que estão fora da sanção normalizadora da sociedade ocidental que funciona como mecanismo penal, possui leis próprias, sendo utilizada a título de punição. Ela torna penalizáveis as situações mais tênues da conduta e dar uma função punitiva dos elementos aparentemente indiferentes do aparelho disciplinar: levando ao extremo, que tudo possa servir para punir a mínima coisa; que cada indivíduo se encontre preso em uma universalidade punível-punidora(1717 Foucault M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, RJ: Vozes; 1987.).

Quanto aos dados, os discursos são bastante convergentes nessa subcategoria. Eles expressam a questão de gênero como preponderante na fragilidade da militância política na enfermagem. Porém, a entrevistada, Rosa dos Ventos 6, reforça que ninguém educa ninguém para ser militante, bem como o medo que tinha de ser punida por ser quem era, atrelada ao estereótipo do movimento hippie.

Outro sentido correlacionado à figura do militante foi a do comunista, atrelado ao sistema de disciplinarização dos corpos, estando expressos nos discursos de Rosa dos Ventos (5, 6 e 8). Em um primeiro momento, as enfermeiras estereótipo “comunista” eram impróprias para atuarem na Associação e indicadas para atuarem junto ao Sindicato.

Para o entendimento desta percepção, é destacado que, principalmente nas décadas de 1930, 1960 e 1970, o comunista era visto como um criminoso, reconhecido pela sua atuação política e ideológica. Tornou-se alvo preferencial da repressão e fez com que o número de presos aumentasse substancialmente. Essa “prisão em massa” criou, assim, novos estereótipos de transgressões da lei. Aliada também à estratégia de isolamento do réu político(1818 Pedroso RC. Sob o olhar do poder: notas sobre o DEOPS e o aprisionamento de presos políticos no Brasil. Seminários, Crime, Criminalidade e Repressão no Brasil República [Internet] 2013 [cited 2018 Mar 10];2. Available from: http://www.usp.br/proin/revistaseminarios3.pdf
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).

As relações de poder propriamente ditas se exercem por um aspecto extremamente importante, através da produção e da troca de signos. Não são dissociáveis das atividades finalizadas, seja daquelas que permitem exercer este poder (como as técnicas de adestramento, os procedimentos de dominação, as maneiras de obter obediência), seja daquelas que recorrem para se desdobrarem, as relações de poder (assim na divisão do trabalho e na hierarquia das tarefas)(1919 Lima D, Porto F. Véu, cruz e asa: elementos de composição da imagem da Enfermeira [Internet]. 2014 [cited 2016 Mar 10]. Rio de Janeiro. Available from: http://www.lacenf.com.br/wp
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).

Tal atividade codificadora assegura o aprendizado e a aquisição de aptidões ou de tipos de comportamento. Desenvolve-se através de todo um conjunto de comunicações reguladas (lições, questões e respostas, ordens, exortações, signos codificados de obediência, marcas diferenciais do “valor” de cada um e dos níveis de saber) e através de toda uma série de procedimentos de poder (enclausuramento, vigilância, recompensa e punição, hierarquia piramidal)(2020 Souza NRA esquerda militante: entre o engajamento pastoral e os revides locais. Rev Sociol Polit. 1999;12:131-46. doi: 10.1590/S0104-44781999000100008
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).

Outra subcategoria que emergiu foi a do sentido religioso, atrelado à limitação da militância política, e também relacionado, na análise foucaultiana, às práticas de disciplinarização dos sujeitos. Destacam-se os enunciados discursivos de (Rosa dos Ventos 10), que demonstram a dificuldade de lidar com o valor econômico do trabalho da enfermeira e as influências religiosas na militância e formação de enfermeiras.

Apesar de uma das manifestações da moderna militância ter ocorrido por motivação religiosa, no movimento protestante, afirmamos que os sentidos religiosos expressos nos discursos indicam muito mais para fragilidade dessa virtude do que do fortalecimento da dimensão política na enfermagem(1818 Pedroso RC. Sob o olhar do poder: notas sobre o DEOPS e o aprisionamento de presos políticos no Brasil. Seminários, Crime, Criminalidade e Repressão no Brasil República [Internet] 2013 [cited 2018 Mar 10];2. Available from: http://www.usp.br/proin/revistaseminarios3.pdf
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).

Associamos o discurso centrado no estereótipo da enfermeira anjo com o conceito sobre a banalidade do mal, representado no abismo entre a gravidade dos atos e a superficialidade das motivações dos atos nazistas, sustentados por um processo de normalização da maldade, como está destacado no enunciado discursivo de Rosa dos Ventos 2(2121 Arendt H. A condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária; 2013.).

Neste sentido, autores reforçam que, na enfermagem, são encontrados inúmeros exemplos de estereótipos que retratam o que se espera de uma enfermeira, isto é, que seja bondosa, dedicada, carinhosa, abnegada, obediente e servil. Isso nos reporta as características da própria história da profissão e seu cunho religioso. Esses atributos nada mais são, ou eram, do que aqueles almejados pelos pais, maridos, patrões ou qualquer outra pessoa que convive ou convivesse com a mulher(2222 Pudal B. Los enfoques teóricos y metodológicos de la militância. Rev Sociol [Internet]. 2011 [cited 2019 Jan 9];(25):17-35. Available from: https://core.ac.uk/download/pdf/132236106.pdf
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).

Nesta direção, o véu, a cruz e a asa são elementos da composição da imagem da enfermeira que remete à figura de anjo. Esta significação pode ser interpretada de forma articulada à imagem da enfermeira como um possível símbolo de valores, que a conduz ao senso comum de uma prática abnegada, de submissão, de doação e de servir(2323 Foucault M. Ditos e Escritos, Vol. II: arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária; 2000.).

O fato de a enfermeira ser identificada/se identificar socialmente como anjo está impregnado na intencionalidade de garantir a submissão e a subalternidade na história da profissão, a disciplinarização dos corpos, bem como manter o processo de exploração do seu trabalho e garantir a lucratividade dos serviços de saúde(2424 Almeida DB. Constituição de enfermeiras militantes: um estudo histórico e foucaultiano [Tese] [Internet]. Salvador: Universidade Federal da Bahia; 2017 [cited 2020 May 14]. 246 s. Available from: https://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/30638
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).

Por fim, são expressos em duas subcategorias, outros dois sentidos da militância, de um lado, o heroico e do outro, ao ser implicado como o social. O sentido primeiro guarda uma dupla face, por um lado o estímulo à militância e por outro parco reconhecimento dos seus limites. Nesta direção, a militância apresenta entre suas configurações a do herói, marcada por influências do militante sindical e comunista(2525 Minayo MCS. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em Saúde. São Paulo: Hucitec; 2006.).

O sentido “heroico” é posto na literatura como um desdobramento do militante sindical e militante comunista, de um modo de delegação da base para representação a fim de que os últimos executem ações em defesa da profissão. Contudo, existem outras denominações da figura do militante político: uma configuração datada de 1975, o militante pago; e a configuração, de origem francesa, datada de 1995, militante distanciado.

Por fim, o último sentido revelado foi a do ser implicado com o social, Rosas dos Ventos (5, 6 e 11), aqui identificado como um ponto convergente de todo estudo e que reverbera na assertiva de que a militância é constituída, produzida e reproduzida na vida das pessoas, nos espaços sociais e coletivos.

Limitações do estudo

As limitações encontradas no estudo foram relacionadas à extensão das entrevistas. Muitas ultrapassaram mais de quatro horas, com material analítico sobre a enfermagem. A profissão de enfermeira e a vida pessoal das militantes da enfermagem brasileira demandaram por software de análise de dados em pesquisa qualitativa.

Contribuição para a área da enfermagem, saúde ou política pública

A fragilidade na valorização da profissão de enfermeira se deve a vários motivos, como os estereótipos negativos que ainda se fazem presente na prática do enfermeiro e a pouca visibilidade de senso político nas práticas e saberes, que implica, muitas vezes, no desconhecimento e generalização do processo de trabalho da enfermeira. É importante entender que a construção da militância da enfermeira está ligada à sua individualidade, mas também ao contexto de trabalho, às experiências e à interação dele com outros profissionais.

Por outro lado, é importante destacar que a produção de conhecimento no campo político da profissão pode implicar politicidade do cuidar em enfermagem e saúde, bem como na qualidade deste e na satisfação e qualidade de vida no trabalho pelas enfermeiras. Em decorrência disso, este estudo traz contribuições importantes para esta profissão, visto que compreende a militância através da visão desta por enfermeiras que estão no serviço e que vivenciam os estereótipos e os impactos desse na atividade laboral.

CONCLUSÕES

Torna-se fato as convergências dos achados com o colocado no plano teórico, o sentido impróprio quando relacionamos aos estudos de gênero como construção social, o sentido religioso quando identificamos a gênese da enfermagem e o comunista, com o momento político do país à época.

Já com relação aos achados divergentes neste estudo, tomando como base o estado da arte sobre a temática, que foram o sentido heroico e implicado com o social, podemos destacar que a coexistência destes se situa no campo da militância profissional, sendo restrita às enfermeiras que compreendem o sentido da defesa e representação da profissão no plano coletivo.

Portanto, fica explicito que a formação política para militância está deslocada da formação em enfermagem, produzida e compreendida externamente aos espaços formativos tradicionais e, muitas vezes, invisibilizada através de recursos de disciplinarização e assujeitamento que se sustenta em sistemas e signos da militância profissional.

Em conclusão, os signos da militância são convergentes com o que está posto na literatura nacional e internacional. Contudo, a diferença encontrada na análise hermenêutica e dialética foi o sentido heroico e implicado com o social, o militante quase nunca é associado a aspectos positivos e por isso é pouco estimulado nos sujeitos esse perfil.

Um indivíduo que se constrói ser político se empodera enquanto ser social, tornando conhecimento poder, o que gera uma quebra nos modelos tradicionais. Atribui-se a isso o pouco estimulo para a construção do militante.

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Editado por

EDITOR CHEFE: Dulce Aparecida Barbosa
EDITOR ASSOCIADO: Antonio José de Almeida Filho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jul 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    11 Fev 2019
  • Aceito
    14 Set 2019
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