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Reflexões sobre o processo de trabalho participar politicamente do enfermeiro

RESUMO

Objetivos:

refletir sobre a abrangência do processo de trabalho participar politicamente no cenário profissional da Enfermagem como possibilidade para a ampliação de sua atuação.

Métodos:

trata-se de um estudo reflexivo, amparado na elaboração discursiva sobre o processo de trabalho participar politicamente, estruturado por meio de conceitos, perspectivas teóricas e práticas pautadas nas experiências descritas em referências.

Resultados:

os estudos sobre esse processo demonstram que requer do enfermeiro sensibilidade para compreender a complexidade da realidade da sua prática social.

Considerações Finais:

o enfermeiro no seu agir profissional deve mobilizar os recursos políticos, colocando o seu conhecimento, as suas habilidades e as suas atitudes à disposição das suas práticas, objetivando poder e melhoria das condições para o trabalho da Enfermagem.

Descritores:
Enfermagem; Educação; Poder; Políticas; Participação dos Interessados

ABSTRACT

Objectives:

To reflect on the scope of the working process in nurse participation political activities as a possibility for expanding its performance.

Methods:

this is a reflective study, supported by the discursive elaboration on the nursing participation political activities and work process, structured through concepts, theoretical perspectives and practices based on the experiences described in references.

Results:

studies on this process demonstrate that nurses need sensitivity to understand the complexity of their social practice.

Final Considerations:

in their professional actions, nurses must mobilize political resources, making their knowledge, skills and attitudes available to their practices, aiming at power and improvement of conditions for the work of Nursing.

Descriptors:
Nursing; Education; Power; Policy; Stakeholder Participation

RESUMEN

Objetivos:

reflexionar sobre el alcance de la participación política del proceso de trabajo en el escenario profesional de la Enfermería como una posibilidad para la expansión de su actuación.

Métodos:

se trata de un estudio reflexivo, basado en la elaboración discursiva de la participación política del proceso de trabajo, estructurado mediante conceptos, perspectivas teóricas y prácticas fundamentadas en las experiencias descritas en las referencias.

Resultados:

los estudios sobre este proceso muestran que es necesario que el enfermero tenga sensibilidad para vislumbrar la complejidad de la realidad de su práctica social.

Consideraciones finales:

el enfermero en su acción profesional debe movilizar los recursos políticos, poniendo sus conocimientos, habilidades y actitudes a disposición de sus prácticas, apuntando hacia el poder y hacia el florecimiento de las condiciones del trabajo de la Enfermería.

Descriptores:
Enfermería; Educación; Poder; Políticas; Participación de los Interesados

INTRODUÇÃO

As mudanças presentes e futuras no setor saúde requerem profissionais competentes na organização e no planejamento, bem como qualificados para participar e tomar decisões que fortaleçam a gestão. Reconhecidamente, a formação do enfermeiro prepara-o para isso, sendo que essa expectativa reflete no que é exigido no mercado de trabalho.

Destacam-se, atualmente, as recomendações das organizações nacionais e internacionais da saúde e da Enfermagem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a International Council of Nurses (ICN), para o empoderamento e a inserção do enfermeiro na elaboração e no fortalecimento das políticas públicas(11 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Diretriz estratégica para a enfermagem na Região das Américas. Washington, D. C: OPAS; 2019.). A OMS e a ICN propõem a ampliação do trabalho assistencial e gerencial, incentivando a produção de práticas inovadoras em Enfermagem. Nessa direção, apontam para o fortalecimento da educação profissional, preparando para esses desafios, além de novos que possam surgir, com o ensino baseado nas melhores evidências e projetos pedagógicos motivadores para inovação de práticas cuidativas(11 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Diretriz estratégica para a enfermagem na Região das Américas. Washington, D. C: OPAS; 2019.-22 Ministério da Educação (BR). Resolução CNE/CES nº. 3, de 7/11/2001. Institui Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Diário Oficial da União, 09 nov 2001; Seção 1.).

Salienta-se que é a categoria com maior contingente dos profissionais da área da saúde, atuando direta ou indiretamente no Sistema Único de Saúde (SUS). Conta com aproximadamente 59,3%, sendo enfermeiros, técnicos e auxiliares de Enfermagem, os quais ocupam espaços de assistência, de gerência e da gestão do sistema(33 Machado MH (Coord.). Perfil da enfermagem no Brasil: relatório final: Brasil / coordenado por Maria Helena Machado. Rio de Janeiro: NERHUS - DAPS - ENSP/Fiocruz; 2017.), que, devidamente mobilizados, podem estabelecer novas parcerias para garantir cada vez mais serviços de saúde à população.

Recomendações nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Enfermagem (DCNENF), já em 2001, orientavam para o ensino diferenciado do enfermeiro, principalmente nas competências básicas para a atenção à saúde, que são: tomada de decisão, comunicação, liderança, educação permanente e gerenciamento(22 Ministério da Educação (BR). Resolução CNE/CES nº. 3, de 7/11/2001. Institui Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Diário Oficial da União, 09 nov 2001; Seção 1.). Devem estar presentes e nortear os projetos pedagógicos, sendo fundamentais na formação dos profissionais, por permitirem influenciar, conduzir e liderar políticas que possam gerar processos de mudança, com implicações para a pesquisa, a educação e a prática profissional(44 Waddell A, Adams JM, Fawcett J. Exploring nurse leaders’ policy participation within the context of a nursing conceptual framework. Policy Polit Nurs Pract. 2017;18(4):195-205. doi: 10.1177/1527154418762578
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).

Nesse contexto, o ensino do enfermeiro não pode se descolar das transformações que ocorrem nos serviços de saúde, evoluindo para ofertar novas práticas profissionais alicerçadas nos processos de trabalho em Enfermagem: assistir, administrar, ensinar, pesquisar e participar politicamente(55 Sanna MC. Work processes in Nursing. Rev Bras Enferm. 2007;60(2):221-4. doi: 10.1590/S0034-71672007000200018
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). Este último processo se reveste de grande importância por ser o articulador dos demais, negociando condições que permitam aos profissionais desenvolverem suas atividades com qualidade e resultados mensuráveis.

OBJETIVOS

Refletir sobre a abrangência do processo de trabalho participar politicamente no cenário profissional da Enfermagem como possibilidade para a ampliação da sua atuação.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo reflexivo amparado na elaboração discursiva sobre o processo de trabalho participar politicamente, estruturado por meio de conceitos, perspectivas teóricas e práticas, pautado nas experiências descritas em referências.

O processo de trabalho participar politicamente na Enfermagem

Os processos de trabalho em Enfermagem são inter-relacionados e têm elementos que os caracterizam. O assistir procura promover, manter e recuperar a saúde das pessoas e de grupos sociais, por meio da sistematização e dos procedimentos profissionais. O administrar, por meio do uso de ferramentas como o planejamento, a tomada de decisão, entre outras, coordena as atividades da assistência, do ensino e da pesquisa, sendo que os dois últimos estão voltados para a qualificação da categoria, pela produção do conhecimento e pela formação dos recursos humanos(22 Ministério da Educação (BR). Resolução CNE/CES nº. 3, de 7/11/2001. Institui Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em enfermagem. Diário Oficial da União, 09 nov 2001; Seção 1.,55 Sanna MC. Work processes in Nursing. Rev Bras Enferm. 2007;60(2):221-4. doi: 10.1590/S0034-71672007000200018
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). Todos mobilizam e requerem competências para liderar, negociar e decidir sobre o agir do enfermeiro, sendo consideradas essenciais para o posicionamento político.

O processo de participar politicamente tem a característica de encadear os demais, negociando condições que permitam aos profissionais desenvolverem afazeres com qualidade e resultados mensuráveis. Assim, o enfermeiro que atua politicamente pode trazer para si e para o seu grupo de trabalho maior reconhecimento social e aumento da visibilidade da Enfermagem, alcançando espaços de poder(55 Sanna MC. Work processes in Nursing. Rev Bras Enferm. 2007;60(2):221-4. doi: 10.1590/S0034-71672007000200018
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). Além do envolvimento partidário nas entidades representativas da Enfermagem, é nos serviços que se deve expandir a presença nos lugares de decisão, oportunizando e ampliando as práticas da categoria, sejam as já conhecidas ou as novas e inovadoras.

Dessa forma, o participar politicamente possibilita ao enfermeiro posicionar-se em diferentes cenários profissionais, dentro e fora da sua estrutura de trabalho, notadamente nas organizações civis e nas representativas de classe, visibilizando as potencialidades e ampliando a sua atuação. Deve atentar para que os valores e preceitos da Enfermagem estejam presentes e sejam as diretrizes na condução das negociações que se façam necessárias nessas conquistas, sejam elas para a categoria ou população(11 Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Diretriz estratégica para a enfermagem na Região das Américas. Washington, D. C: OPAS; 2019.,55 Sanna MC. Work processes in Nursing. Rev Bras Enferm. 2007;60(2):221-4. doi: 10.1590/S0034-71672007000200018
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).

O processo de trabalho assistir é o fundamento da Enfermagem, o que dá a essência e a visibilidade à profissão, requerendo dos demais a sustentabilidade teórica baseada em evidências para poder se desenvolver. O administrar é quem se apropria dos conhecimentos da Ciência da Administração e mobiliza os recursos políticos que os individuos têm para gerenciar técnica e politicamente os seus espaços de trabalho(55 Sanna MC. Work processes in Nursing. Rev Bras Enferm. 2007;60(2):221-4. doi: 10.1590/S0034-71672007000200018
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).

Participar politicamente perpassa por conceitos entrelaçados, imbricados e significativos, tais como: participação, poder e política. A participação vem do latim particeps, “aquele que faz parte, que reparte algo”, que significa a capacidade de influenciar outros e/ou a presença em etapas no processo decisório em uma organização. O poder também é oriundo do latim clássico posse, ser capaz, ter autoridade, exprimindo força, persuasão, controle, e é a “faculdade ou o direito de determinar algo” a outrem ou, ainda, a “capacidade de mobilizar forças” para obter resultados de forma deliberada. A política, originária do grego politiká, derivação de polis, significa o que é público, sendo que a forma de atuação de grupos sociais em relação a determinados temas de interesse comum pode ser compreendida como um conjunto de regras ou normas de uma determinada organização para alcançar seus objetivos(66 Bobbio N. Dicionário de Política. 13ª ed. Volume 2. Brasília: Editora UnB; 2007.).

Em comum, participação, poder e política estão presentes nos espaços sociais e profissionais, públicos ou privados, lugares que se constroem pelos interesses coletivos, individuais ou de grupos, com disputas ou negociações para ocupá-los, influenciando e conquistando os envolvidos, com vistas ao compartilhamento e à obtenção dos melhores resultados(77 Abreu JCA, Oliveira VCS, Kraemer CFB. Uma análise de construtos teóricos sobre e participação e gestão social. I Encontro Nacional de ensino e pesquisa do Campo de Públicas; 2015.).

Contribuir e compartilhar resultados, outro significado presente e comum, são apreendidos no decorrer da vida social e profissional. Nogueira(88 Nogueira MA. Um Estado para a sociedade civil: temas éticos e políticos da gestão democrática. São Paulo (SP): Cortez; 2011. 268 p 3 ed) destaca que a participação tem três dimensões: a assistencial com o objetivo de auxílio mútuo, que trata dos interesses de grupos sociais ou classes profissionais; a política, que busca ampliar o poder e a representação coletiva compartilhando decisões; e a gerencial, que, articulando com a política, visa a resolução de problemas. A dimensão política proporciona o diálogo para melhores negociações, destacando os envolvidos e pluralizando os espaços decisórios, enquanto a gerencial legitima o envolvimento do grupo, tornando públicas as decisões e valorizando conquistas para o coletivo.

A compreensão de estar em espaços e momentos decisórios no mundo do trabalho que estão em permanente tensão são campos de disputas às vezes de difícil manejo, com significados, motivos e interesses comuns e diferentes, por permitir ao indivíduo ser um sujeito social, com intencionalidade de influenciar, liderar e transformar as condições para o exercício da sua prática(77 Abreu JCA, Oliveira VCS, Kraemer CFB. Uma análise de construtos teóricos sobre e participação e gestão social. I Encontro Nacional de ensino e pesquisa do Campo de Públicas; 2015.). Para tal, deve reconhecer e compreender as situações no contexto real, por serem complexas de significados, bem como, ao refletir sobre a amplitude da situação, planejar as ações a partir do conhecimento e dos valores profissionais(99 Meira MDD, Kurcgant P. Nursing education: training evaluation by graduates, employers and teachers. Rev Bras Enferm. 2016;69(1):10-5. doi: 10.1590/0034-7167.2016690102i
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).

O ensino do processo de trabalho participar politicamente

Ter pensamento crítico e reflexivo é um dos objetivos do processo de trabalho ensinar. A formação dos profissionais da Enfermagem precisa estar atenta para que, no procedimento de ensino e aprendizagem, o docente utilize conhecimentos e métodos que o signifiquem, possibilitando a compreensão da amplitude do trabalho da categoria(55 Sanna MC. Work processes in Nursing. Rev Bras Enferm. 2007;60(2):221-4. doi: 10.1590/S0034-71672007000200018
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). A educação crítica e reflexiva requer experiências intencionais pedagógicas que sejam significativas, mobilizadoras, com ações comunicacionais, sociais e políticas que desenvolverão as habilidades e atitudes necessárias para o futuro compromisso profissional de participar politicamente.

Assim, cabe ao docente elaborar e desenvolver práticas pedagógicas inovadoras, criando e gerenciando convivências formativas, transformadoras, envolventes, que mobilizem alunos e colegas a assumirem a corresponsabilidade na formação. Dessa maneira, reconhecem e possibilitam um agir como sujeitos sociais e participativos politicamente que, ao negociar e mediar conflitos, compreendem a sua ação política profissional junto às organizações da educação, da saúde e as de representação da categoria(55 Sanna MC. Work processes in Nursing. Rev Bras Enferm. 2007;60(2):221-4. doi: 10.1590/S0034-71672007000200018
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,99 Meira MDD, Kurcgant P. Nursing education: training evaluation by graduates, employers and teachers. Rev Bras Enferm. 2016;69(1):10-5. doi: 10.1590/0034-7167.2016690102i
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), podendo ser um modelo aos estudantes.

O enfermeiro docente deve compreender que a construção do conhecimento é o que fundamenta o campo de saber(1010 Carper BA. Fundamental patterns of knowing in nursing. Adv. Nurs. Sci. 1978;1(1):13-23.). Tem padrões, formas e estrutura, os quais servem como horizonte referencial e exemplificam modos característicos de pensar sobre os fenômenos. Tais padrões levam à reflexão crítica para apreender o significado e os tipos de conhecimento considerados mais importantes para a profissão. Os padrões são: empírico, a ciência e a arte da Enfermagem; estético, o componente pessoal do conhecimento e o ético como componente moral(1010 Carper BA. Fundamental patterns of knowing in nursing. Adv. Nurs. Sci. 1978;1(1):13-23.).

White, teorista de Enfermagem, incluiu um quinto padrão: o sócio–político. A autora propõe conceituar a compreensão em dois níveis: o sócio-político das pessoas, que guarda relação com a identidade cultural onde estão inseridas, como, por exemplo, a linguagem que se utiliza nas relações de saúde e trabalho; e o sócio-político com a profissão, que trata da aquisição de conhecimento do enfermeiro para o domínio crítico das estruturas econômicas, sociais e políticas que influem na saúde das pessoas e comunidades(1111 White J. Patterns of knowing: review, critique, and update. Adv. Nurs. Sci. 1995;17(4):73-86.). Fruto desse envolvimento, decorre a reflexão crítica do enfermeiro sobre a realidade social, política, econômica e cultural das pessoas e, consequentemente, há maior visibilidade e cuidado da parte delas nas questões de vida, saúde e doença da população(1212 da Nóbrega MML, de Barros ALBL. Clinical models for nursing practice. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2001 [2019 Aug 12];54(1):74-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v54n1/v54n1a09.pdf.
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).

Tomando o padrão sócio-político de White com a profissão e trazendo ao cenário atual, há dois aspectos a considerar na dimensão política: aquela que se refere às estruturas de relações de poder que afetam os resultados do cotidiano em saúde, e outra no planejamento e decisões nessa área. Ambas exigem postura crítica, pois saúde não é um campo neutro, requerendo saberes que o enfermeiro precisa desenvolver e se apropriar para conquistar a valorização digna do seu agir(1212 da Nóbrega MML, de Barros ALBL. Clinical models for nursing practice. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2001 [2019 Aug 12];54(1):74-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v54n1/v54n1a09.pdf.
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).

Isso posto, o padrão sócio-político é uma dimensão da construção do conhecimento, que implica competências necessárias para formação de enfermeiros. Seria o modelo, como representação da realidade dessa competência no ser e conviver, construído em partes de teorias que existem no mundo abstrato, mas que se utiliza de palavras para se expressar, como, por exemplo, as ações num processo evolutivo e dinâmico, de interação de múltiplos fatores envolvidos na formação e na atuação em Enfermagem(1212 da Nóbrega MML, de Barros ALBL. Clinical models for nursing practice. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2001 [2019 Aug 12];54(1):74-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v54n1/v54n1a09.pdf.
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).

A construção do conhecimento para o processo participar politicamente vai, portanto, muito além do domínio de conteúdo, de técnica e de estratégia de intervenção em Enfermagem, aspectos valorizados na atuação profissional e que requerem habilidades e atitudes, capacitando o profissional e tornando-o competente em articular o ser, o conhecer, o fazer e o conviver(99 Meira MDD, Kurcgant P. Nursing education: training evaluation by graduates, employers and teachers. Rev Bras Enferm. 2016;69(1):10-5. doi: 10.1590/0034-7167.2016690102i
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,1212 da Nóbrega MML, de Barros ALBL. Clinical models for nursing practice. Rev. bras. enferm. [Internet]. 2001 [2019 Aug 12];54(1):74-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v54n1/v54n1a09.pdf.
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). Permite inferir sobre a importância do padrão sociocultural estar presente nos projetos pedagógicos, por ser o orientador aos docentes na elaboração das suas atividades na docência.

Disso se abstrai o desafio ao docente: construir práticas pedagógicas que correspondam ao padrão sócio-político, que influenciarão no processo de trabalho participar politicamente. Inicialmente, o docente deve reconhecer os conhecimentos, as habilidades e as atitudes desse padrão, bem como introduzir em um processo formativo crítico, reflexivo, em que o futuro profissional adquira competências para um agir transformador.

No entanto, requer também atenção para inserir o padrão sócio-político nas práticas educativas relacionadas a todos os processos de trabalho do enfermeiro. Tratam-se de atividades formativas colaborativas que envolvem o reconhecimento da realidade da situação, o planejamento de intervenções, o exercício de tomada de decisão e negociação, os recursos que contribuem no entendimento das relações de poder na área da saúde(99 Meira MDD, Kurcgant P. Nursing education: training evaluation by graduates, employers and teachers. Rev Bras Enferm. 2016;69(1):10-5. doi: 10.1590/0034-7167.2016690102i
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).

Destaca-se que na estrutura do SUS, pela sua abrangência, há outras possibilidades de aprendizagem política. Salienta-se que participação e controle social, conselhos ou conferências de saúde são espaços de negociação, mediação dos conflitos e decisão com caráter mais coletivo. Além disso, consta o participar de comissões que têm por objetivo elaborar propostas de ações que estejam mais próximas dos usuários, num exercício de planejamento, negociação e tomada de decisão que façam intervenção na realidade social com os atores envolvidos.

Ao reconhecer que os espaços decisórios acadêmicos também possibilitam esses exercícios, um cenário democrático pode ser um facilitador para práticas pedagógicas políticas, bem como docentes engajados que vislumbram novas oportunidades para o seu mister(1313 Mckeown M, Dix J, Jones F, Carter B, Malihi-Shoja L, Mallen E, et al. Service user involvement in practitioner education: Movement politics and transformative change. Nurse Education Today. 2014;34(8):1175-8.).

Esses espaços também permitem ao aluno vivenciar a comunicação, competência imprescindível para operar o processo participar politicamente. Ao propor práticas formativas políticas, o docente deve atentar para estar presente: o ouvir, o expressar-se, o relacionar-se, o emitir opinião e o decidir são etapas necessárias para a formação da participação.

Depreende-se então que, na formação do enfermeiro, a articulação dos saberes do poder, da política e da participação favorecerá a construção dos conhecimentos necessários para o padrão sociocultural, desvelando ações que fortaleçam a educação em Enfermagem para a participação política.

Entende-se que a formação com foco também nesse padrão proporcionará sujeitos reflexivos e colaborativos que consigam, além de compreender a complexidade e necessidade de transformação do trabalho em saúde, ampliar as ações profissionais, com possibilidades de ganhos a todos os envolvidos.

Ao entender que a participação política faz parte do processo de trabalho da Enfermagem, é importante inserir também nas práticas pedagógicas características que fortalecem esse processo. Uma delas é saber como influenciar o outro e como utilizar os recursos da comunicação para ser efetivo nessa ação.

Limitações

A proposta do estudo não é esgotar conceitos e oportunidades do processo de trabalho participar politicamente, mas suscitar reflexões acerca do tema nos cenários profissionais, especialmente no ensino em Enfermagem no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os cenários e as possibilidades profissionais são dinâmicos e em constante transformações, os quais requerem dos enfermeiros a participação e o posicionamento político. Essa visão sobre como deve participar politicamente pode favorecer e colaborar para que seja protagonista nos serviços de saúde e nas entidades de classe, contribuindo continuamente para a melhoria das condições de vida à população, com o desenvolvimento de um trabalho seguro e de qualidade.

Ao atuar politicamente, o profissional deve possibilitar que outros ocupem os espaços públicos e privados decisórios, pois preparar novas lideranças para novos tempos faz parte do ser político. Devido à presença dos enfermeiros em diferentes cenários e níveis hierárquicos nas instituições de saúde, tais profissionais demonstram a potencialidade que a categoria tem para garantir a ampliação do seu agir.

Portanto, é imprescindível que os docentes se envolvam, não perdendo de vista o agir profissional e as expansões requeridas pelas transformações sociais, que devem estar presentes nos projetos pedagógicos e no cotidiano do seu exercício da docência.

Ensinar o processo de trabalho participar politicamente é um desafio, porque exige a construção de práticas pedagógicas significativas, críticas e reflexivas em que os cenários formativos não são os habituais do âmbito educacional. Para tanto, o docente deve ser um sujeito social, com preparação acurada para uma formação política, colaborando nas possibilidades de propostas para a categoria profissional, bem como para a sociedade.

Além disso, também é importante ter a sensibilidade de reconhecer interesses e potencialidades da profissão para o trabalho interdisciplinar, visto ser uma demanda do SUS e da formação em Enfermagem. A atuação junto à equipe multidisciplinar em saúde deve ser permeada por decisões em prol dos envolvidos, garantindo o espaço profissional de cada categoria e dando visibilidade e reconhecimento a todos.

Assim, é importante para o fortalecimento da Enfermagem valorizar, reconhecer e respeitar os profissionais que participam politicamente. Além disso, também é necessário abrir, expandir e ensinar o caminho para novos enfermeiros atuarem nesses espaços conquistados.

REFERENCES

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Editado por

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho
EDITOR ASSOCIADO: Fátima Helena Espírito Santo

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    25 Ago 2019
  • Aceito
    15 Jun 2020
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