Acessibilidade / Reportar erro

Riscos psicossociais relacionados ao enfermeiro no hospital psiquiátrico e estratégias de gerenciamento

RESUMO

Objetivo:

Caracterizar a presença de riscos psicossociais relacionados ao trabalho do enfermeiro em um hospital psiquiátrico e as estratégias de gerenciamento desses riscos.

Métodos:

Pesquisa qualitativa, realizada no período de novembro de 2014 a janeiro de 2015, da qual participaram 25 enfermeiros de um hospital psiquiátrico, que responderam a entrevistas semiestruturadas. A análise dos dados foi realizada pelo método temático.

Resultados:

Os resultados mostraram problemas psicossociais relacionados ao trabalho dos enfermeiros psiquiátricos, como formação acadêmica insuficiente; falta de preparo e manutenção de equipamentos; pobre relacionamento com colegas; escassez de recursos humanos e falta de capacitação; e conflito entre exigências do lar, do trabalho e estratégias de gerenciamento dos riscos psicossociais, como recorrer à família, ao cinema, à música, à leitura etc.

Considerações finais:

Este estudo deve provocar a reflexão dos gestores e futuros enfermeiros quanto às condições de trabalho em hospital psiquiátrico e aos riscos psicossociais a que podem estar expostos.

Descritores:
Riscos Ocupacionais; Enfermeiros; Estratégias; Hospitais; Violência

ABSTRACT

Objective:

To characterize the presence of psychosocial risks related to the work of the nurse in a psychiatric hospital and the strategies for managing these risks.

Methods:

Qualitative, in which 25 nurses from a psychiatric hospital participated using semi-structured interviews from November 2014 to January 2015. Data analysis was performed using the thematic method.

Results:

The results showed psychosocial risks related to the work of psychiatric nurses, such as: insufficient academic training; lack of preparation and maintenance of equipment; poor relationship with colleagues; shortage of human resources and lack of capacity building; conflict between the demands of the home and work, as well as strategies for managing psychosocial risks such as family, cinema, music, reading, among others.

Final considerations:

This study should provoke the reflection of managers and future nurses regarding the working conditions in a psychiatric hospital and possible psychosocial risks to which they are exposed.

Descriptors:
Occupational Risks; Nurses; Strategies; Hospitals; Violence

RESUMEN

Objetivo:

Identificar la presencia de riesgos psicosociales relacionados al trabajo del enfermero en un hospital psiquiátrico y las estrategias de gestión de esos riesgos.

Métodos:

Estudio cualitativo, del cual participaron 25 enfermeros de un hospital psiquiátrico, en el que se utilizaron entrevistas semiestructuradas en el período de noviembre de 2014 a enero de 2015. Se realizó el análisis de datos mediante el método temático.

Resultados:

Los resultados mostraron la existencia de problemas psicosociales relacionados al trabajo de los enfermeros psiquiátricos, como: la insuficiente formación académica; la falta de preparación y mantenimiento de equipos; la escasa relación con los compañeros de trabajo; la escasez de recursos humanos y falta de capacitación; y el conflicto entre las exigencias del hogar y del trabajo, así como las estrategias de gestión de los riesgos psicosociales como recurrir a la familia, cine, música, lectura, entre otros.

Consideraciones finales:

Este estudio permite provocar la reflexión de los gestores y futuros enfermeros sobre las condiciones laborales en el hospital psiquiátrico y los posibles riesgos psicosociales a los que están expuestos.

Descriptores:
Riesgos Laborales; Enfermeros; Estrategias; Hospitales; Violencia

INTRODUÇÃO

Na área da saúde, a singularidade das organizações hospitalares tem sido marcada pela assistência a clientes em condições de saúde cada vez mais críticas e que necessitam de respostas individuais a sua real situação, em um ambiente que pode favorecer o adoecimento das diversas categorias profissionais que nelas trabalham(11 Camelo SHH. Professional competences of nurse to work in intensive care units: an integrative review. Rev Lat-Am Enfermagem [Internet]. 2012 [cited 2017 Apr 20];20(1):192-200. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692012000100025
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692012...
). O profissional de enfermagem possui características hierárquicas e conflituosas, buscando sua identidade científica na prestação de cuidados. Além das dificuldades advindas do próprio trabalho e do desgaste emocional resultante do convívio com pessoas doentes e suas famílias fragilizadas, o profissional ainda enfrenta situações de risco, salários baixos, falta de reconhecimento e estresse do ambiente de trabalho, em meio a diversas concepções e culturas(22 Foresto DR, Souza JLE. Síndrome de burnout: indicadores em enfermeiros da atenção primária. Rev Funec Cient Mult [Internet]. 2014 [cited 2017 Nov 10];3(5):110-21. Available from: https://doi.org/10.24980/rfcm.v3i5.1590
https://doi.org/10.24980/rfcm.v3i5.1590...
).

Entende-se que no ambiente hospitalar são diversos os riscos ocupacionais: biológicos, ergonômicos, químicos, físicos e psicossociais. Os riscos psicossociais, foco desta investigação, são relativos ao desenho, à organização e à gestão do trabalho e a seus contextos sociais e ambientais, que têm potencial de causar dano físico, social ou psicológico ao trabalhador(33 Agência Europeia para a Segurança no Trabalho. Facts nº 6. Bruxelas: Agencia Europeia para Segurança no Trabalho; 2005.).

A fim de evitar efeitos negativos dos riscos psicossociais na segurança e saúde dos trabalhadores, especialistas da Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho e do Observatório Europeu dos Riscos identificaram riscos psicossociais relacionados ao trabalho que podem afetar a saúde física e mental dos trabalhadores e que estariam distribuídos em cinco grandes categorias: 1) novas formas de contrato de trabalho e insegurança no trabalho; 2) envelhecimento da força de trabalho; 3) intensificação do trabalho; 4) alta carga emocional no trabalho; e 5) falta de equilíbrio entre a vida familiar e o trabalho(44 Milczarek M, Brun E, Houtman I, Goudswaard A, Evers M, Bovenkamp M, et al. Expert forecast on emerging psychosocial risks related to occupational safety and health. European agency for safety and health at work. Luxembourg: European Communities; 2007. Available from: https://osha.europa.eu/en/tools-and-publications/publications/reports/7807118
https://osha.europa.eu/en/tools-and-publ...
). Recentemente, também foram identificados riscos psicossociais emergentes no ambiente de trabalho do enfermeiro em unidades hospitalares psiquiátricas, dentre eles a violência no trabalho entre enfermeiros, que impacta a qualidade de vida destes profissionais(55 Zeng JY, An FR, Xiang YT, Qi YK, Ungvari GS, Newhouse R, et al. Frequency and risk factors of workplace violence on psychiatric nurses and its impact on their quality of life in China. Psychiatry Res [Internet]. 2013 [cited 2019 Mar 25];210(2):510-4. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.psychres.2013.06.013
http://dx.doi.org/10.1016/j.psychres.201...
).

No ambiente das unidades psiquiátricas, coexistem estressores naturais e elevados índices de absenteísmo profissional, que acarretam insatisfação aos trabalhadores. Estudos apontam que a satisfação e a qualidade de vida no trabalho estão atreladas a condições de trabalho favoráveis, tais como recursos humanos suficientes, que evitem sobrecarga, plano de carreira e capacitação(66 Ferreira CAA, Vasconcelos FCW, Goulart IB, Ituassu CT. [Quality of work life: a critical view of mental health workers]. Revista Eletrônica Fafit/FacicBrasil [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 20];6(2):13-30. Available from: http://www.fafit.com.br/revista/index.php/fafit/article/viewFile/134/75 Portuguese.
http://www.fafit.com.br/revista/index.ph...
).

Enfermeiros hospitalares desenvolvem múltiplas tarefas, com diferentes graus de exigências e responsabilidades, e, a depender do ambiente e da forma como o trabalho está planejado e organizado, esses profissionais podem estar expostos a riscos psicossociais. Em unidades hospitalares psiquiátricas, a característica do ambiente e o tipo de demanda podem expor mais frequentemente os enfermeiros a riscos que alteram significativamente a organização do trabalho. É o caso dos riscos psicossociais, que resultam em consequências negativas para a saúde do profissional e para a qualidade do cuidado prestado aos pacientes.

Frente ao exposto, este estudo apresenta os seguintes questionamentos: quais os riscos psicossociais presentes no trabalho dos enfermeiros que atuam em unidades de internação psiquiátricas? E a organização e/ou os trabalhadores têm mobilizado estratégias para gerenciar os riscos presentes?

Nas últimas décadas, têm ocorrido significativas mudanças nos ambientes de trabalho, com avanços tecnológicos importantes associados ao processo de globalização. Tais modificações apresentaram repercussões visíveis na organização do trabalho, em especial no âmbito das instituições psiquiátricas, trazendo novos desafios para a saúde e a segurança ocupacional. Assim, se torna indiscutível a preocupação com essa temática, uma vez que os riscos psicossociais devem ser considerados, com a finalidade de proteger a saúde dos trabalhadores(77 Portuné R. Psychosocial risks in the workplace: an increasing challenge for German and international health protection. Arh Hig Rada Toksikol [Internet]. 2012 [cited 2019 Mar 25];63(2):123-31. Available from: http://dx.doi.org/10.2478/10004-1254-63-2012-2212
http://dx.doi.org/10.2478/10004-1254-63-...
).

Identificar os riscos psicossociais na prática de enfermeiros psiquiátricos proporciona a esses profissionais reflexões sobre as características de seu trabalho, mostrando-lhes possibilidades de gerenciar riscos inerentes a sua atuação. Além disso, a identificação desses riscos torna-se relevante para auxiliar no estabelecimento de um consenso sobre a complexidade do ambiente psicossocial.

OBJETIVO

Caracterizar, a partir da percepção dos enfermeiros, os riscos psicossociais do trabalho em um hospital psiquiátrico e as estratégias de gerenciamento desses riscos.

MÉTODOS

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP) sob o protocolo CAAE: 33723714.5.0000.5393, e os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Tipo de estudo

Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa desenvolvida com entrevistas semiestruturadas.

Cenário e participantes do estudo

O cenário do estudo foi um hospital psiquiátrico público de ensino de médio porte, do interior paulista, referência no Sistema Único de Saúde (SUS) em promover internações psiquiátricas e assistência integral aos portadores de transtornos mentais.

Participaram da pesquisa enfermeiros assistenciais do hospital que exerciam suas atividades há mais de seis meses do início da coleta de dados. Esse tempo de trabalho permite que o profissional tenha experiências para identificar os riscos psicossociais presentes no trabalho.

Coleta e organização dos dados

Para coletar os dados, foram realizadas entrevistas semiestruturadas gravadas em áudio e posteriormente transcritas, com roteiros testados em enfermeiros psiquiátricos que não fizeram parte da coleta. O roteiro continha duas partes: a primeira com questões referentes a dados dos participantes, tais como idade, sexo, ano de conclusão da graduação e tempo de atuação na instituição; a segunda com questões abertas relacionadas ao seu perfil para atuar no hospital, condições do ambiente, funções na organização, carga e esquema de trabalho, além das estratégias desenvolvidas para gerenciar riscos ocupacionais. Diante disso, 25 enfermeiros assistentes participaram da investigação.

Análise dos dados

Os dados foram analisados e organizados em categorias temáticas(88 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12th ed. São Paulo: Hucitec; 2012.) seguindo três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos. Para a identificação das unidades temáticas relacionadas aos riscos psicossociais foram considerados os discursos dos entrevistados à luz do referencial teórico utilizado(44 Milczarek M, Brun E, Houtman I, Goudswaard A, Evers M, Bovenkamp M, et al. Expert forecast on emerging psychosocial risks related to occupational safety and health. European agency for safety and health at work. Luxembourg: European Communities; 2007. Available from: https://osha.europa.eu/en/tools-and-publications/publications/reports/7807118
https://osha.europa.eu/en/tools-and-publ...
).

Agrupou-se os dados em duas categorias: “Riscos psicossociais relacionados ao trabalho dos enfermeiros psiquiátricos” e “Estratégias de gerenciamento dos riscos psicossociais”.

RESULTADOS

Caracterização dos participantes

Os dados revelaram predominância do sexo feminino (22-88%), deixando explícita a hegemonia da mulher na enfermagem, corroborando com outros estudos em que a presença feminina é de maior predominância(99 Machado SA, Oselame GB, Neves EB. [Profile evaluation and quality of life of nursing scholars]. Rev Aten Saúde [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 20];14(47):55-60. Available from: http://dx.doi.org/10.13037/rbcs.vol14n47.3417 Portuguese.
http://dx.doi.org/10.13037/rbcs.vol14n47...
). Os entrevistados apresentavam idade variando entre 27 e 57 anos.

Os dados mostraram que há profissionais na área de saúde mental desde o início de suas profissões, apesar dos pesquisadores concordarem que experiências e vivências do enfermeiro podem contribuir para o processo de planejamento, tomada de decisão e cuidado em saúde mental(1010 Ministério da Educação (BR). Pós-Graduação Lato Sensu: Saiba Mais [Internet]. Brasília: MEC; 2013 [cited 2017 Apr 20]. Available from: http://portal.mec.gov.br/pos-graduacao
http://portal.mec.gov.br/pos-graduacao...
). Quanto à capacitação dos profissionais, 24 enfermeiros (96%) realizaram cursos de pós-graduação, sendo que 10 (40%) na área de saúde mental/ psiquiatria; além disso, 10 relataram terem concluído pelo menos dois cursos de pós-graduação na modalidade Lato Sensu.

A carga horária de trabalho dos enfermeiros foi de 30 horas semanais, sendo seis horas diárias, porém 12 (48%) realizavam plantões remunerados no próprio hospital; destaca-se ainda que cinco (20%) enfermeiros trabalhavam nas áreas de assistência e docência em outros locais. Um trabalhador exercia função de enfermeiro em dois vínculos de 30 horas semanais no próprio hospital.

Categoria 1: Riscos psicossociais relacionados ao trabalho dos enfermeiros psiquiátricos

Formação acadêmica e preparo em serviço: formação acadêmica insuficiente

Para os participantes, a formação acadêmica insuficiente na área de saúde mental, especialmente em relação aos estágios práticos, configura um risco psicossocial do trabalho.

O estágio foi muito pouco, eu só fiz 5 dias, o que me dá condições de trabalhar nisso é o tempo mesmo, o convívio, o dia a dia, muito pouco, acho que como em todas as outras graduações, psiquiatria passa bem pouquinho, a gente aprende pouco sobre a doença mental. (E9)

Ambiente e equipamento de trabalho: falta de reparos e manutenção dos equipamentos

O discurso revelou que a estrutura física da unidade apresenta falta de confiabilidade e equipamentos precários sem manutenção adequada, sendo considerado risco psicossocial para o trabalhador.

[…] a parte física é muito precária […] padecemos de uma infraestrutura desqualificada, com necessidade de reformas constantes, de materiais em desuso, com risco para o profissional e para o paciente, por outro lado, a gente tem um sistema de manutenção que ao invés de facilitar dificulta o trabalho, e na realidade é muito complicado em relação a estrutura […] (E21)

Relacionamento interpessoal: pobre relacionamento com colegas e supervisores

O relacionamento interpessoal foi percebido como um risco psicossocial, quando desenvolve-se de forma conturbada, desgastante.

[…] relacionamento interpessoal com colegas e hierarquia considero desgastante, acho que o enfermeiro além de ter os pacientes, essa preocupação tem a questão da própria gerencia da enfermagem… pois você passa a ouvir os problemas de todo mundo, de ter que aprender a dividir com eles as responsabilidades, porém é um processo desgastante para o enfermeiro. (E15)

Carga de trabalho: sobrecarga, esquema de longas horas de trabalho

Os relatos mostraram que os enfermeiros executam grande número de atividades no seu cotidiano, dupla função e carga horária extra de trabalho. O ajuste para cumprir todas as tarefas nem sempre é adequado, levando à sobrecarga de trabalho e consequentemente representando um risco para o profissional.

[…] as tarefas do enfermeiro são muitas, a gente tem que planejar a assistência de enfermagem e participar de reuniões de família, e de todas outras atividades com pacientes, então a dificuldade é você se organizar para dar conta de toda a tarefa que tem no serviço. (E25)

[…] além das 30 horas semanais para conseguir uma cobertura financeira adequada preciso fazer plantões extras […] (E3)

Recursos humanos em enfermagem: escassez, má distribuição dos funcionários, falta de capacitação dos profissionais

Os depoimentos referiram número insuficiente de enfermeiros e a falta de capacitação como elementos dificultadores do processo de trabalho, configurando risco psicossocial.

[…] acho um pouco complicado em termos de contenção, às vezes falta número adequado para conter o paciente. (E9)

[…] além de faltar em número, falta principalmente em qualificação, apesar também de existirem alguns cursos, algumas capacitações, mas eu acho que ainda não é efetivo, e não corresponde a necessidade da realidade do trabalho. (E3)

Interface trabalho e família: conflitos entre as exigências do lar e trabalho, pouco tempo dispensado à família

Cumprir as exigências do trabalho e do lar é risco psicossocial presente no cotidiano dos enfermeiros participantes dessa pesquisa.

[…] eu tenho dificuldade, por causa do acúmulo de funções de conciliar com minha família, é difícil conciliar. (E6)

[…] hoje em dia com a quantidade de plantão que eu faço, acho que prejudica a convivência com meu esposo; no final de semana tento me relacionar com minha família. Não estou satisfeita com o tempo que dispenso com minha família. (E7)

Violência: medo e agressões físicas e emocionais

A violência, risco psicossocial emergente, foi identificada nas falas dos participantes do estudo.

[…] os pacientes que eu trabalho é sempre crítico, a qualquer momento eu posso ser agredida, você passa o paciente está gritando, jogando as coisas […] uma agressividade verbal, física, emocionalmente é muito tenso […] você fica muito mal. (E10)

[…] o desgastante aqui é o problema com os delinquentes, o enfermeiro é alvo, temos que colocar limite no paciente, isso gera estresse, eu tenho medo de encontrar esses pacientes na rua. (E15)

Categoria 2: Estratégias de gerenciamento dos riscos psicossociais

Os resultados mostraram que a instituição não oferece aos profissionais atividades que melhorariam o ambiente psicossocial de trabalho.

[…] eu acho que instituição não fornece recursos, pelo contrário, o ambiente, a forma de serviço parece que propicia conflitos mesmo, dentro da sua equipe, com outras equipes, com seu supervisor. (E2)

[…] a instituição não faz nada sobre, poderia ser feito um trabalho, como suporte psicológico, mesmo que anual, individualmente. (E6)

Entretanto, estratégias individuais são desenvolvidas pelos profissionais para amenizar situações de risco, tais como horas de lazer com a família, ouvir música e leitura.

[…] busco algumas formas de lazer, ouvir música, vou ao shopping, reuniões com amigos e familiares, viajo às vezes. (E5)

[…] eu gosto muito de leitura, principalmente de leitura religiosa, livros voltados para psicologia do comportamento humano. (E16)

DISCUSSÃO

As atuais tendências na promoção da saúde e segurança no trabalho incluem não somente os riscos físicos, químicos e biológicos, mas também os diversos fatores psicossociais inerentes às instituições e a maneira como influem no bem-estar físico e mental do trabalhador.

A investigação dos dados revelou que a formação acadêmica dos enfermeiros na área de saúde mental e a carga horária dos estágios representam riscos para estes profissionais, pois eles precisam de aprendizagem teórico-prática para agir com segurança. Assim, embora os estágios tenham sido citados como formas de aprendizagem na formação acadêmica, foram insuficientes e com reduzida carga horária, trazendo poucos subsídios e conhecimentos sobre a prática laboral.

Nesse aspecto, os cursos de graduação em enfermagem devem constantemente revisar seus conteúdos e a carga horária das disciplinas para preparar um profissional apto a responder com eficiência as demandas dos pacientes. Em relação à área de psiquiatria, estudo mostra que essa carga horária representa menos de 5% de todos os conteúdos do curso de enfermagem(1111 Rodrigues J, Santos SMA, Spriccigo JS. Teaching nursing care in mental health in undergraduate nursing. Acta Paul Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 Apr 20];25(6):844-51. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002012000600004
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002012...
). Ou seja, embora a enfermagem psiquiátrica seja uma especialidade, a carga horária oferecida é insuficiente para a formação dos enfermeiros que trabalharem nessa área.

Assim, como a formação profissional interfere em riscos aos profissionais, sabe-se que os hospitais concentram inúmeros agentes e/ou fatores de risco à saúde do trabalhador, alguns deles ocultos ou desconhecidos(1212 Sulzbacher E, Fontana RT. [Conceptions of nursing staff about the exposure to physical and chemical risks in hospital environment]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [cited 2017 Apr 20];66(1):25-30. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672013000100004 Portuguese.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672013...
). A estrutura física pode dificultar ou facilitar o cuidado prestado pelo enfermeiro e, assim, interferir de forma efetiva na prática de serviços em saúde mental(1313 Silva LMS, Fernandes MC, Mendes EP, Evangelista NC, Torres RAM. [Interdisciplinary work in the family health strategy: focus on care and management]. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2012 [cited 2017 Apr 20];20(esp 2):784-8. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/6024/4329 Portuguese.
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.p...
). Diante dessa premissa, observa-se certo descontentamento em relação à estrutura física, considerada por alguns profissionais um dos maiores problemas da instituição, podendo ser, portanto, um risco psicossocial.

No entanto, os riscos psicossociais do ambiente e dos equipamentos de trabalho, como a estrutura física precária e antiga, a falta de espaço apropriado e equipamentos em más condições de uso, devem ser repensados pela gestão do serviço. A preocupação com a estrutura física não tem origem somente na necessidade de conforto pessoal para execução das atividades cotidianas, mas principalmente no desejo de melhor atender os usuários e executar a contento as atividades programadas(1414 Guimarães JMX, Jorge MSB, Assis MMA. [(Dis)satisfaction with mental healthcare work: a study in psychosocial care centers]. Ciênc Saúde Colet [Internet]. 2011 [cited 2017 Apr 20];16(4):2145-54. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000400014 Portuguese.
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011...
).

Outro aspecto levantado foi em relação ao relacionamento interpessoal. Ao analisar os discursos dos participantes, é possível identificar que o relacionamento interpessoal é um risco psicossocial conturbado e desgastante, corroborando com a literatura que também o considera um risco psicossocial inerente ao contexto do trabalho.

O relacionamento interpessoal benéfico entre colegas de trabalho permite a eficiência na atuação dos profissionais, sendo quesito indispensável para a qualidade da enfermagem. Um bom relacionamento interpessoal entre todos os membros da equipe é extremamente relevante para que a atenção ofertada aos pacientes seja a melhor possível e para que o desenvolvimento das atividades profissionais torne-se mais agradável e satisfatório aos trabalhadores(1515 Lima Neto AV, Fernandes FL, Barbosa IML, Carvalho GRP, Nunes VMA. [Interpersonal relations between staff of an emergency hospital: a qualitative study under the look of nurses]. Enfermagem Revista [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 20];18(1):75-87. Available from: http://periodicos.pucminas.br/index.php/enfermagemrevista/article/view/9371 Portuguese.
http://periodicos.pucminas.br/index.php/...
).

Diante disso, o relacionamento interpessoal hierárquico também pode interferir na organização do trabalho do enfermeiro. Profissionais que ocupam posições hierarquicamente superiores podem estabelecer diversos tipos de relações e gerar situações desgastantes. As relações de subordinação podem ser transformadas pela prática comunicativa, pois a arguição dos valores implícitos nos atos da fala permite discriminar e manter as diferenças técnicas de trabalhos executados por sujeitos sociais iguais(1616 Kurcgant P. Gerenciamento em enfermagem. 2nd ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.). O bom relacionamento no ambiente de trabalho precisa ser garantido para que se reduza ao máximo a insatisfação no contexto laboral(1717 Oliveira EB, Silva AV, Perez Jr EF, Costa HF, Nascimento LP, Souza LAM. [Psychosocial risk factors in neonatal intensive care unit: impact to nurse's health]. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2013 [cited 2017 Apr 20];21(4):490-5. Available from: http://www.facenf.uerj.br/v21n4/v21n4a12.pdf Portuguese.
http://www.facenf.uerj.br/v21n4/v21n4a12...
).

Assim como as relações, outro fator importante é a sobrecarga de trabalho na assistência. Sabe-se que as cargas de trabalho se subdividem em físicas, químicas, biológicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas. A sobrecarga de trabalho por fatores psíquicos como os riscos psicossociais é causada por situações de tensão prolongada, enquanto a subcarga pelo uso limitado do conhecimento e habilidades do trabalhador em desenvolver seu trabalho. Como exemplos de cargas psíquicas, há a monotonia, a repetitividade, o trabalho parcelado ou em ritmo acelerado, a interferência de outros trabalhos, a atenção permanente, a exigência na supervisão, a falta de autonomia, dentre outros(1818 Kirchhof ALC, Lacerda MR, Sarquis LMM, Magnago TSB, Gomes IM. [Understanding workload in occupational health research on nursing]. Colombia Med [Internet]. 2011 [cited 2017 Apr 20];42(Supl 1):113-9. Available from: http://www.bioline.org.br/pdf?rc11047 Portuguese.
http://www.bioline.org.br/pdf?rc11047...
).

Características na organização do trabalho do ambiente hospitalar compõem fontes de pressão para os profissionais, e o prolongamento das jornadas de trabalho desgasta física e psicologicamente o trabalhador, resultando em estresse, sofrimento mental e aparecimento de transtornos como ansiedade, depressão e somatização(1717 Oliveira EB, Silva AV, Perez Jr EF, Costa HF, Nascimento LP, Souza LAM. [Psychosocial risk factors in neonatal intensive care unit: impact to nurse's health]. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2013 [cited 2017 Apr 20];21(4):490-5. Available from: http://www.facenf.uerj.br/v21n4/v21n4a12.pdf Portuguese.
http://www.facenf.uerj.br/v21n4/v21n4a12...
).

Outro elemento destacado pelos participantes que contribui para a percepção de sobrecarga de trabalho é o acúmulo de funções. Esse risco psicossocial aparece quando os enfermeiros executam funções que poderiam ser desempenhadas por outros profissionais, ou seja, não privativas a eles.

Vale ressaltar que a presença de riscos, como a sobrecarga, ritmo acelerado e esquemas inadequados de trabalho, trazem consequências aos trabalhadores que se sentem cansados, esgotados, e por vezes, consideram-se estressados principalmente pela complexidade do trabalho em um hospital psiquiátrico.

Outro ponto que acarreta a sobrecarga de trabalho é o déficit de recursos humanos na enfermagem. Evidências de um estudo mostraram que o baixo quantitativo de pessoal afeta a qualidade do serviço, gerando riscos à segurança do paciente e à saúde ocupacional, sendo necessário subsidiar o dimensionamento dos recursos humanos para a assistência ao paciente com maior qualidade e segurança(1919 Casarolli ACG, Eberhardt TD, Nicola AL, Fernandes LM. [Complexity level of assistance and nursing sizing in a emergency unit of a public hospital]. Rev Enferm UFSM [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 20];5(2):278-85. Available from: http://dx.doi.org/10.5902/2179769216811 Portuguese.
http://dx.doi.org/10.5902/2179769216811...
).

Quando se discutem aspectos que envolvem o gerenciamento de recursos humanos em saúde e especificamente em enfermagem, é imprescindível destacar o dimensionamento de pessoal, as condições de trabalho e outros aspectos que interferem na produção de cuidados(2020 Casafus KCU, Dell'Acqua MCQ, Bocchi SCM. [Between success and frustration about nursing care systematization]. Esc Anna Nery [Internet]. 2013 [cited 2017 Apr 20];17(2):313-21. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452013000200016 Portuguese.
http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452013...
). Em relação aos aspectos de qualificação dos profissionais, além do número insuficiente, o cenário da pesquisa mostrou a falta de capacitação da equipe para atuar junto aos pacientes, identificando outro risco psicossocial.

O enfermeiro é o responsável por gerenciar a unidade e sua equipe de trabalho. Nesse sentido, deve estabelecer prioridades a fim de suprir deficiência tanto na sua qualificação quanto da sua equipe. O estímulo à participação em eventos científicos específicos e estratégias de educação permanente contribuem para reduzir os riscos psicossociais.

Outro aspecto mencionado foi em relação à interface trabalho e família, com a presença de conflitos entre as exigências do lar e trabalho e o pouco tempo dispensado à família. O equilíbrio entre o trabalho e as responsabilidades familiares constitui grande desafio. Essa realidade afeta particularmente as mulheres, pois estão na base da situação de desvantagem do mercado de trabalho. Assim, o equilíbrio entre trabalho e família é fundamental para a igualdade de gênero no mercado de trabalho(2121 OIT: Organização Internacional do Trabalho. Equilíbrio entre trabalho e família [Internet]. Brasília: OIT; 2011 [cited 2017 Apr 20]. Available from: https://www.ilo.org/brasilia/temas/g%C3%AAnero-e-ra%C3%A7a/WCMS_302653/lang--pt/index.htm
https://www.ilo.org/brasilia/temas/g%C3%...
).

Contudo, cumprir as exigências do trabalho e do lar é risco psicossocial presente no cotidiano dos enfermeiros. É possível observar que um dos fatores que interfere na relação trabalho/família são as longas horas de permanência no trabalho e o acúmulo de funções, os quais dificultam o profissional de dispensar um maior tempo de dedicação a sua família.

Observa-se que os trabalhadores apresentam uma percepção sobre o tempo de dedicação à família prejudicial às relações nos seus lares. Assim, a o equilíbrio familiar pode ser influenciado por fatores de riscos psicossociais vivenciados no cotidiano do trabalho, e estratégias de preservação do bem-estar pessoal podem favorecer essas relações. Conflitos nas relações entre o trabalho e a vida familiar geram tensões e as obrigam a optar entre o emprego ou os cuidados em família(2121 OIT: Organização Internacional do Trabalho. Equilíbrio entre trabalho e família [Internet]. Brasília: OIT; 2011 [cited 2017 Apr 20]. Available from: https://www.ilo.org/brasilia/temas/g%C3%AAnero-e-ra%C3%A7a/WCMS_302653/lang--pt/index.htm
https://www.ilo.org/brasilia/temas/g%C3%...
).

Já em relação às empresas, os inconvenientes são o custo econômico do absenteísmo, atrasos ao trabalho, as perdas ligadas a uma diminuição da motivação da produtividade e do rendimento entre os funcionários, a resistência à mobilidade e às promoções, a rotatividade elevada de pessoal e a dificuldade em manter pessoal competente, entre outros(2222 McCarthy A, Darcy C, Grady G. Work-life balance policy and practice: understanding line manager attitudes and behaviors. Human Res Manage Rev [Internet]. 2010 [cited 2019 Mar 25];20(2):158-67. Available from: https://doi.org/10.1016/j.hrmr.2009.12.001
https://doi.org/10.1016/j.hrmr.2009.12.0...
).

Por conseguinte, os participantes revelaram que a violência é um risco psicossocial relacionado às condições de trabalho; os enfermeiros enfrentam situações de violência diariamente com os pacientes no hospital frente a tentativas de agressões físicas e emocionais. Nesta investigação, foi identificado, por meio das falas dos participantes, a violência por parte dos pacientes direcionada aos trabalhadores por descompensação do quadro psíquico.

Pacientes agitados e/ou agressivos costumam apresentar baixa capacidade de insight com relação a sua morbidade e juízo crítico da realidade prejudicado. Portanto, esses pacientes podem ter dificuldades em perceber seu estado e, consequentemente, não reconhecer a necessidade de ajuda externa. Dependendo do grau de agitação, esses pacientes representam risco para a integridade física dos profissionais e de outros pacientes(2323 Mantonvani C, Migon MN, Alheira FV, Del-Ben CM. Managing agitated or aggressive patients. Rev Bras Psiquiatr [Internet]. 2010 [cited 2019 Mar 25];32(Suppl.2):s96-103. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462010000600006
http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462010...
).

Entre os profissionais da saúde, os enfermeiros estão frequentemente expostos a situações de violência em seu local de trabalho, trazendo consequências negativas a seu desempenho(2424 Scherer ZAP, Scherer EA, Rossi PT, Vedana KGG, Cavalin LA. [Expressions of violence in the university environment: the view of nursing students]. Rev Eletr Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 20];17(1):69-77. Available from: http://dx.doi.org/10.5216/ree.v17i1.22983 Portuguese.
http://dx.doi.org/10.5216/ree.v17i1.2298...
). Ainda em relação aos discursos, foi observado que, além de agressões físicas, os enfermeiros relataram ameaças verbais ofensivas aos próprios profissionais e aos seus familiares.

Em consequência destas agressões tanto físicas como verbais, foi relatada a presença de medo no trabalhador em relação ao tipo de paciente atendido. O medo do agressor ocorre não somente no local de trabalho, se estendendo para quando o trabalhador retorna ao lar, especialmente porque as ameaças são direcionadas a seus familiares. Neste sentido, são várias as formas de riscos psicossociais que os profissionais de enfermagem enfrentam em seu dia a dia, sendo imprescindível que gestores e instituições hospitalares reflitam sobre os riscos apresentados aos funcionários, para que assim possam oferecer subsídios necessários para manutenção de sua saúde e qualidade do serviço prestado.

Frente aos riscos psicossociais identificados, estratégias organizacionais e/ou individuais devem ser desenvolvidas a fim de minimizar ou controlar seus efeitos desgastantes. À medida que a organização do trabalho amplia sua importância na relação trabalho/saúde, requerem-se novas estratégias para modificação de condições de trabalho. O trabalho positivo e um sistema de avaliação de riscos podem ser utilizados pelos gestores nos diversos locais de trabalho para o oferecimento de um ambiente adequado aos funcionários, levando maior produtividade e eficiência no serviço prestado.

Em relação às estratégias organizacionais, os resultados mostraram que a instituição não oferece aos profissionais atividades que sejam meios para a melhoria do ambiente psicossocial de trabalho. As estratégias organizacionais devem amenizar riscos inerentes ao trabalho, contribuindo para que o profissional tome decisões acertadas. Essas estratégias, apesar de não terem sido observadas, foram reconhecidas pelos enfermeiros como aspectos que poderiam facilitar e/ou minimizar os efeitos desgastantes dos riscos psicossociais.

Em situações de sofrimento provocadas pelo ambiente e condições de trabalho, é comum que o trabalhador implemente estratégias defensivas, com a finalidade de gerenciar e prevenir essas situações. No âmbito das relações saúde versus trabalho, os profissionais buscam o controle sobre as condições e ambiente de trabalho para torná-los mais saudáveis, utilizando estratégias individuais para aliviar as consequências de riscos ocupacionais. Em relação a isso, pode-se observar a implementação de estratégias individuais promovidas pelo próprio trabalhador.

Estar com familiares, filhos e entes queridos parece melhorar a capacidade de enfrentamento dos problemas encontrados no trabalho. Os indivíduos respondem a fatores de riscos no ambiente de trabalho de maneira diferente, espontânea e não programada, e direcionam seus esforços em adaptar-se àquela realidade, permeados em muitos casos, em experiências laborais e pessoais anteriores. Atividades de lazer, como ir ao shopping, ouvir música, caminhadas, corridas, musculação, e outras, foram apontadas como recursos utilizados pelos enfermeiros como forma de entretenimento que auxiliam na suavização das aflições e angústias do trabalho.

O lazer traz muitos benefícios à qualidade de vida, dentre eles podemos citar o combate ao estresse, promovendo equilíbrio no meio interno do corpo, colaborando com a manutenção da saúde(2525 Teixeira Jr MAB, Sferra LFB, Bottcher LB. A importância do lazer para a qualidade de vida do trabalhador. Rev Conexão Eletr [Internet]. 2012 [cited 2019 Mar 25];9:581-95. Available from: http://www.aems.edu.br/conexao/edicaoanterior/Sumario/2012/
http://www.aems.edu.br/conexao/edicaoant...
). Já é conhecido que as atividades físicas proporcionam alívio das tensões por descarga de adrenalina e liberação de neurotransmissores, como a endorfina, que são responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar, atuando na prevenção e combate de situações difíceis(2626 Ferreira RC, Varga CRR, Silva RF. [Working in multiprofessional teams:the perspectives of family health residents]. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2009 [cited 2017 Apr 20];14(Supl. 1):1421-8. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000800015 Portuguese.
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009...
). Além disso, a prática de atividades físicas vem sendo amplamente citada como amenizadora de tensões por diversos trabalhadores.

Desse modo, acredita-se que, em um ambiente psicossocial adequado, o trabalho pode ser benéfico para a saúde mental dos trabalhadores, proporcionando-lhes melhor qualidade de vida e conferindo-lhes um sentido amplo de inclusão social, identidade e status, bem como oportunidades de desenvolvimento na carreira e maior confiança. Entretanto, um ambiente de trabalho negativo em termos psicossociais pode ter consequências adversas significativas para a saúde dos trabalhadores.

Nessa perspectiva, recomendações como implementação de uma gestão com foco nas pessoas valorizando a equipe de enfermagem por meio de diálogo, reconhecimento, programas de capacitação em serviço com enfoque no desenvolvimento pessoal e profissional, planos de cargos e salários e inclusão do trabalhador no processo de tomada de decisões devem contribuir para a redução de riscos no ambiente e para maior satisfação no trabalho(2727 Melo MB, Barbosa MA, Souza PR. Job satisfaction of nursing staff: integrative review. Rev Lat Am Enfermagem [Internet]. 2011 [cited 2017 Apr 20];19(4):1047-55. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692011000400026
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692011...
).

Limitações do estudo

Esta pesquisa possui uma limitação na categoria profissional participante e no tipo de instituição selecionada, uma vez que o estudo abordou apenas enfermeiros e uma única instituição de natureza pública. Destarte, não foram contemplados outros profissionais da equipe de enfermagem que poderiam também levantar aspectos dos riscos ocupacionais e outras instituições de naturezas jurídicas diversas. Nesse sentido, recomenda-se ampliar o estudo para pesquisas futuras e para outras categorias profissionais para obter um olhar ampliado da realidade.

Contribuições para a área da enfermagem, saúde ou política pública

Este estudo deve preencher lacunas na produção de conhecimento da área abordada e os resultados podem fornecer subsídios para gestores conhecerem detalhadamente as condições de trabalho e os riscos psicossociais aos quais estão expostos os enfermeiros psiquiátricos, na perspectiva de adotar providências e implementar estratégias preventivas e/ou conservativas no ambiente do trabalho, visando a promoção e proteção da saúde do trabalhador.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática do enfermeiro com o paciente portador de transtorno mental reúne complexa trama de situações relacionadas à assistência direta ao paciente e a fatores relacionados ao trabalho, que, dependendo da forma como está organizado, expõem o profissional a riscos psicossociais que podem levar ao seu sofrimento psíquico.

Os riscos psicossociais identificados no trabalho do enfermeiro do hospital psiquiátrico investigado estão distribuídos nas seguintes categorias: formação profissional, ambiente e equipamento de trabalho, relacionamento interpessoal, carga e esquema de trabalho, recursos humanos, interface trabalho-família e violência.

A fim de gerenciar os riscos psicossociais no local de trabalho, ações preventivas ou intervenções direcionadas devem ser implementadas no ambiente laboral, podendo ser complementadas por ações dirigidas aos trabalhadores individualmente. As ações também podem incluir medidas estruturais como implementação de políticas para gestão dos riscos ocupacionais. É preciso conscientizar o enfermeiro quanto a sua vulnerabilidade em relação aos riscos psicossociais provenientes da sua atuação.

Nessa perspectiva, algumas estratégias de enfrentamento adotadas pelos enfermeiros individualmente foram identificadas, tais como: recorrer à presença da família, ao cinema, à música, à leitura, a exercícios físicos e busca por terapias, religião, viagens e passeios; porém há que se destacar que os enfermeiros não identificaram estratégias da organização para gerir estes riscos.

Por conseguinte, faz-se necessário que medidas preventivas sejam adotadas na profissão promovendo a segurança no ambiente de trabalho, e os processos avaliativos nas organizações devem ser reforçados com o intuito de conhecer a situação dos diversos serviços, proporcionando discussão de ações para a melhoria da formação e prática dos enfermeiros em Psiquiatria.

REFERENCES

  • 1
    Camelo SHH. Professional competences of nurse to work in intensive care units: an integrative review. Rev Lat-Am Enfermagem [Internet]. 2012 [cited 2017 Apr 20];20(1):192-200. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692012000100025
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692012000100025
  • 2
    Foresto DR, Souza JLE. Síndrome de burnout: indicadores em enfermeiros da atenção primária. Rev Funec Cient Mult [Internet]. 2014 [cited 2017 Nov 10];3(5):110-21. Available from: https://doi.org/10.24980/rfcm.v3i5.1590
    » https://doi.org/10.24980/rfcm.v3i5.1590
  • 3
    Agência Europeia para a Segurança no Trabalho. Facts nº 6. Bruxelas: Agencia Europeia para Segurança no Trabalho; 2005.
  • 4
    Milczarek M, Brun E, Houtman I, Goudswaard A, Evers M, Bovenkamp M, et al. Expert forecast on emerging psychosocial risks related to occupational safety and health. European agency for safety and health at work. Luxembourg: European Communities; 2007. Available from: https://osha.europa.eu/en/tools-and-publications/publications/reports/7807118
    » https://osha.europa.eu/en/tools-and-publications/publications/reports/7807118
  • 5
    Zeng JY, An FR, Xiang YT, Qi YK, Ungvari GS, Newhouse R, et al. Frequency and risk factors of workplace violence on psychiatric nurses and its impact on their quality of life in China. Psychiatry Res [Internet]. 2013 [cited 2019 Mar 25];210(2):510-4. Available from: http://dx.doi.org/10.1016/j.psychres.2013.06.013
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.psychres.2013.06.013
  • 6
    Ferreira CAA, Vasconcelos FCW, Goulart IB, Ituassu CT. [Quality of work life: a critical view of mental health workers]. Revista Eletrônica Fafit/FacicBrasil [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 20];6(2):13-30. Available from: http://www.fafit.com.br/revista/index.php/fafit/article/viewFile/134/75 Portuguese.
    » http://www.fafit.com.br/revista/index.php/fafit/article/viewFile/134/75
  • 7
    Portuné R. Psychosocial risks in the workplace: an increasing challenge for German and international health protection. Arh Hig Rada Toksikol [Internet]. 2012 [cited 2019 Mar 25];63(2):123-31. Available from: http://dx.doi.org/10.2478/10004-1254-63-2012-2212
    » http://dx.doi.org/10.2478/10004-1254-63-2012-2212
  • 8
    Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12th ed. São Paulo: Hucitec; 2012.
  • 9
    Machado SA, Oselame GB, Neves EB. [Profile evaluation and quality of life of nursing scholars]. Rev Aten Saúde [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 20];14(47):55-60. Available from: http://dx.doi.org/10.13037/rbcs.vol14n47.3417 Portuguese.
    » http://dx.doi.org/10.13037/rbcs.vol14n47.3417
  • 10
    Ministério da Educação (BR). Pós-Graduação Lato Sensu: Saiba Mais [Internet]. Brasília: MEC; 2013 [cited 2017 Apr 20]. Available from: http://portal.mec.gov.br/pos-graduacao
    » http://portal.mec.gov.br/pos-graduacao
  • 11
    Rodrigues J, Santos SMA, Spriccigo JS. Teaching nursing care in mental health in undergraduate nursing. Acta Paul Enferm [Internet]. 2012 [cited 2017 Apr 20];25(6):844-51. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002012000600004
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0103-21002012000600004
  • 12
    Sulzbacher E, Fontana RT. [Conceptions of nursing staff about the exposure to physical and chemical risks in hospital environment]. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 [cited 2017 Apr 20];66(1):25-30. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672013000100004 Portuguese.
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0034-71672013000100004
  • 13
    Silva LMS, Fernandes MC, Mendes EP, Evangelista NC, Torres RAM. [Interdisciplinary work in the family health strategy: focus on care and management]. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2012 [cited 2017 Apr 20];20(esp 2):784-8. Available from: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/6024/4329 Portuguese.
    » http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/article/view/6024/4329
  • 14
    Guimarães JMX, Jorge MSB, Assis MMA. [(Dis)satisfaction with mental healthcare work: a study in psychosocial care centers]. Ciênc Saúde Colet [Internet]. 2011 [cited 2017 Apr 20];16(4):2145-54. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000400014 Portuguese.
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232011000400014
  • 15
    Lima Neto AV, Fernandes FL, Barbosa IML, Carvalho GRP, Nunes VMA. [Interpersonal relations between staff of an emergency hospital: a qualitative study under the look of nurses]. Enfermagem Revista [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 20];18(1):75-87. Available from: http://periodicos.pucminas.br/index.php/enfermagemrevista/article/view/9371 Portuguese.
    » http://periodicos.pucminas.br/index.php/enfermagemrevista/article/view/9371
  • 16
    Kurcgant P. Gerenciamento em enfermagem. 2nd ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.
  • 17
    Oliveira EB, Silva AV, Perez Jr EF, Costa HF, Nascimento LP, Souza LAM. [Psychosocial risk factors in neonatal intensive care unit: impact to nurse's health]. Rev Enferm UERJ [Internet]. 2013 [cited 2017 Apr 20];21(4):490-5. Available from: http://www.facenf.uerj.br/v21n4/v21n4a12.pdf Portuguese.
    » http://www.facenf.uerj.br/v21n4/v21n4a12.pdf
  • 18
    Kirchhof ALC, Lacerda MR, Sarquis LMM, Magnago TSB, Gomes IM. [Understanding workload in occupational health research on nursing]. Colombia Med [Internet]. 2011 [cited 2017 Apr 20];42(Supl 1):113-9. Available from: http://www.bioline.org.br/pdf?rc11047 Portuguese.
    » http://www.bioline.org.br/pdf?rc11047
  • 19
    Casarolli ACG, Eberhardt TD, Nicola AL, Fernandes LM. [Complexity level of assistance and nursing sizing in a emergency unit of a public hospital]. Rev Enferm UFSM [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 20];5(2):278-85. Available from: http://dx.doi.org/10.5902/2179769216811 Portuguese.
    » http://dx.doi.org/10.5902/2179769216811
  • 20
    Casafus KCU, Dell'Acqua MCQ, Bocchi SCM. [Between success and frustration about nursing care systematization]. Esc Anna Nery [Internet]. 2013 [cited 2017 Apr 20];17(2):313-21. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452013000200016 Portuguese.
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1414-8145201300020001
  • 21
    OIT: Organização Internacional do Trabalho. Equilíbrio entre trabalho e família [Internet]. Brasília: OIT; 2011 [cited 2017 Apr 20]. Available from: https://www.ilo.org/brasilia/temas/g%C3%AAnero-e-ra%C3%A7a/WCMS_302653/lang--pt/index.htm
    » https://www.ilo.org/brasilia/temas/g%C3%AAnero-e-ra%C3%A7a/WCMS_302653/lang--pt/index.htm
  • 22
    McCarthy A, Darcy C, Grady G. Work-life balance policy and practice: understanding line manager attitudes and behaviors. Human Res Manage Rev [Internet]. 2010 [cited 2019 Mar 25];20(2):158-67. Available from: https://doi.org/10.1016/j.hrmr.2009.12.001
    » https://doi.org/10.1016/j.hrmr.2009.12.001
  • 23
    Mantonvani C, Migon MN, Alheira FV, Del-Ben CM. Managing agitated or aggressive patients. Rev Bras Psiquiatr [Internet]. 2010 [cited 2019 Mar 25];32(Suppl.2):s96-103. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462010000600006
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44462010000600006
  • 24
    Scherer ZAP, Scherer EA, Rossi PT, Vedana KGG, Cavalin LA. [Expressions of violence in the university environment: the view of nursing students]. Rev Eletr Enferm [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 20];17(1):69-77. Available from: http://dx.doi.org/10.5216/ree.v17i1.22983 Portuguese.
    » http://dx.doi.org/10.5216/ree.v17i1.22983
  • 25
    Teixeira Jr MAB, Sferra LFB, Bottcher LB. A importância do lazer para a qualidade de vida do trabalhador. Rev Conexão Eletr [Internet]. 2012 [cited 2019 Mar 25];9:581-95. Available from: http://www.aems.edu.br/conexao/edicaoanterior/Sumario/2012/
    » http://www.aems.edu.br/conexao/edicaoanterior/Sumario/2012/
  • 26
    Ferreira RC, Varga CRR, Silva RF. [Working in multiprofessional teams:the perspectives of family health residents]. Ciênc Saúde Coletiva [Internet]. 2009 [cited 2017 Apr 20];14(Supl. 1):1421-8. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000800015 Portuguese.
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000800015
  • 27
    Melo MB, Barbosa MA, Souza PR. Job satisfaction of nursing staff: integrative review. Rev Lat Am Enfermagem [Internet]. 2011 [cited 2017 Apr 20];19(4):1047-55. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692011000400026
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692011000400026

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Ago 2019
  • Data do Fascículo
    Jul-Aug 2019

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2017
  • Aceito
    20 Fev 2019
Associação Brasileira de Enfermagem SGA Norte Quadra 603 Conj. "B" - Av. L2 Norte 70830-102 Brasília, DF, Brasil, Tel.: (55 61) 3226-0653, Fax: (55 61) 3225-4473 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: reben@abennacional.org.br