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O desenvolvimento de competências ético-políticas segundo egressos de um Curso ee Graduação em Enfermagem

Resumos

Esta pesquisa teve como objetivo identificar competências ético-políticas possibilitadas pelo processo formativo compatíveis com o perfil do enfermeiro previsto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Enfermagem. É um estudo de caso com unidades incorporadas representadas por 32 egressos de uma instituição de ensino particular confessional e inseridos no mercado de trabalho. O conteúdo das entrevistas foi analisado com base na técnica da Análise Temática resultando nas categorias: “Competências ético-políticas no processo formativo” e “Competências ético-políticas como produto do processo formativo”. Na perspectiva do egresso, estas categorias reforçam o papel social do profissional enfermeiro e o preparo do estudante para a reflexão, a compreensão e a participação na transformação da sociedade.

Educação em enfermagem; Competência profissional; Aprendizagem; Currículo; Ética em enfermagem


This research aimed to identify political-ethical skills developed in a training process compatible with the expected profile set by the National Curriculum Guidelines for the Undergraduate Nursing Degree. A case study was conducted with units represented by 32 former students from a particular religious teaching institution who already were in the job market. The content of the interviews was analyzed using the thematic analysis technique, which resulted in the following categories: "Political-ethical skills in the formative process" and "Political-ethical skills as a product of the educational process." From the former students’ perspective, these categories reinforced the social role of the nurse and the need for students to be reflective, understanding and participative in the transformation of society.

Education, nursing; Professional competence; Learning; Curriculum; Ethics, nursing;


Esta investigación tuvo como objetivo identificar las competencias ético-políticas desarrolladas en la formación del enfermero, compatibles con el perfil previsto en las Directrices Curriculares Nacionales para los cursos de pregrado en Enfermería. Es un estudio de caso, con unidades incorporadas representadas por 32 egresados de una Institución de Enseñanza particular confesional e incorporados al mercado laboral. El contenido de las entrevistas fue analizado bajo la técnica de Análisis Temático, resultando en las Categorías: “Competencias ético-políticas en el proceso de formación” y “Competencias ético-políticas como producto del proceso de formación”. Desde la perspectiva del egresado, estas categorías refuerzan el papel social del profesional enfermero y la preparación del estudiante para reflexionar, comprender y participar en la transformación de la sociedad.

Educación en enfermería; Competencia profesional; Aprendizaje; Curriculum; Ética en enfermería


Introdução

Em consonância com as proposições das Diretrizes Curriculares Nacionais DCN(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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), a formação do enfermeiro preconiza como perfil do egresso um "profissional qualificado para o exercício da Enfermagem, com base no rigor científico e intelectual, pautado em princípios éticos, capacitado a atuar com senso de responsabilidade social, compromisso com a cidadania e como promotor da saúde integral do ser humano." Assim, as escolas formadoras têm como missão alinhar seus projetos político- pedagógicos ao perfil proposto e concretizar a prática educativa nesta direção.

A atividade humana, em qualquer grupo social, tem sempre um caráter político, uma vez que viver em sociedade integra interesses e intencionalidades pessoais e coletivas. Por outro lado, os princípios e valores éticos devem nortear as ações e decisões dos profissionais de enfermagem, assegurando a promoção, a proteção, a recuperação e a reabilitação da saúde das pessoas. Na condução das atividades diárias, tais valores oferecem uma estrutura que serve de suporte à autonomia do enfermeiro(22. Freitas GF, Oguisso T. Ocorrências éticas com profissionais de enfermagem: um estudo quantitativo. Rev Esc Enferm USP. 2008;42(1):34-40.).

A despeito da interrelação que se configura no âmbito das competências técnico-científicas, sócio-educativas e ético-políticas exercidas no cotidiano do enfermeiro, o desenvolvimento de competências ético-políticas constitui um desafio para a formação. Ao protagonizar a construção da integralidade da assistência à saúde, preconizada como um dos princípios norteadores do Sistema Único de Saúde (SUS), torna-se imperativo que os enfermeiros apropriem-se de conhecimentos, habilidades e atitudes, transportando-os para a “entrega” de uma prática competente. Neste contexto,

ser competente é reordenar a relação trabalho-educação centrada na práxis, potencializando as ações em saúde com o reconhecimento das subjetividades e das questões éticas"(33. Silva KL, Sena RR. Integralidade do cuidado na saúde: indicações a partir da formação do enfermeiro Rev Esc Enferm USP. 2008;42(1):48-56.).

A compreensão do significado de "competência" que fundamenta este estudo integra:

A tomada de iniciativa e de responsabilidade do indivíduo; a inteligência prática de algumas situações, que se apóia sobre os conhecimentos adquiridos e os transforma e a faculdade de mobilizar redes de atores em torno das mesmas situações e corresponsabilidade e partilha do que esta em jogo em cada situação(44. Zarafian F. Objetivo competência: por uma nova lógica. São Paulo: Atlas; 2001. ).

Esta perspectiva multidimensional situa as competências entre a qualificação e a atuação profissional. Para melhor compreensão do termo "competências ético-políticas" vale ressaltar que a raiz etimológica da palavra ética vem do grego "ethos", entendida como "modo de ser" ou "caráter" que expressa o sentido de norma, daquilo que deve ser. Já a palavra política, também proveniente do grego "pólis", quer dizer "cidade", ou tudo o que se relaciona à cidadania, todas as preocupações, discussões e decisões que envolvem a pólis(55. Rios TA. Ética e competência. 15ª ed. São Paulo: Cortez; 2005. ).

No exercício da enfermagem, as competências ético-políticas são conceituadas como a capacidade de construir coletivamente processos de trabalho; decidir eticamente valorizando a solidariedade; ouvir e compartilhar decisões e gerenciar conflitos identificando seus determinantes.(a a - Kurcgant P. A profissão - Enfermagem. O profissional - Enfermeiro [Palestra ministrada no Curso de Enfermagem do Centro Universitário Adventista de São Paulo]. São Paulo; 2006. )

Relativamente às competências ético-políticas para o exercício profissional do enfermeiro, as DCN atribuem à instituição formadora a responsabilidade de dotar o estudante de conhecimentos e habilidades para que esteja

capacitado a atuar, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano"(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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).

No detalhamento para a organização da estrutura curricular, as DCN sugerem aspectos que direcionam a metodologia que deve ser adotada no processo de ensino e aprendizagem, considerando que, para contemplar o perfil do egresso capaz de atuar em contextos diversos e promover as transformações sociais necessárias, a aprendizagem deve ser orientada pelo princípio metodológico da ação-reflexão-ação, utilizando como estratégia didática a resolução de situações-problema(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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).

Em conformidade com as DCN, a estrutura curricular dos cursos de enfermagem deve assegurar, entre outros aspectos, a articulação entre ensino, pesquisa e extensão/assistência; a definição de estratégias pedagógicas que articulem o saber, o saber fazer e o saber conviver e, sobretudo, a valorização das dimensões éticas e humanísticas, desenvolvendo atitudes e valores orientados para a cidadania e a solidariedade(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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).

Autores que abordam esta temática propõem configurar a integralidade da atenção à saúde como eixo norteador das mudanças que devem ser implementadas na formação dos profissionais de saúde, considerando que:

se o Estado define como atribuição do SUS o ordenamento da formação para a área da saúde, o mesmo deve interferir na orientação da formação de maneira coerente com as diretrizes constitucionais da saúde(66. Cecin RB, Feuerwerker LCM. Mudança na graduação das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Cad Saúde Pública. 2004;20(5):1400-10.).

Embora a integralidade da atenção à saúde, enquanto principio do SUS, seja uma exigência que deve nortear o perfil dos profissionais de saúde, os autores reconhecem a dificuldade dos programas de ensino em promover o desenvolvimento de competências ético-políticas durante a graduação, com foco na integralidade, na equidade e na qualidade. Atribuem esta dificuldade à inconsistência em inserir os conteúdos atitudinais no planejamento do ensino e, principalmente, à fragilidade da avaliação dessas competências no desempenho discente. Consideram importante abrir novos espaços para promover reflexões que ampliem o compromisso docente de trabalhar transversalmente esses conteúdos(66. Cecin RB, Feuerwerker LCM. Mudança na graduação das profissões de saúde sob o eixo da integralidade. Cad Saúde Pública. 2004;20(5):1400-10.

7. Nosow V, Püschel VAA. The teaching of attitudinal content in higher education of nursing. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2009 [cited 2012 Nov 23];43(n.spe 2):1232-7. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v43nspe2/en_a15v43s2.pdf
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-88. Cecilio LCO. Apontamentos teórico-conceituais sobre processos avaliativos considerando as múltiplas dimensões da gestão do cuidado em saúde. Interface Comun Saúde Educ. 2011;15(37):589-99.).

O Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE) revisou recentemente o código internacional de ética para enfermeiras, reafirmando que "a necessidade de enfermagem é universal" e que o respeito aos direitos humanos inclui os direitos culturais; à vida e à livre escolha; à dignidade e a ser tratado com respeito. Normatizou as condutas éticas da enfermeira em quatro "elementos" principais, relacionados "às pessoas, ao exercício da profissão, à profissão e aos companheiros de trabalho". Para cada um deles, orientou as ações relativas a enfermeiros assistenciais e gestores; educadores, pesquisadores e organizações nacionais de Enfermagem.

Aos Educadores orientou:

Incluir, no currículo de formação profissional, referências a direitos humanos, equidade, justiça e solidariedade, como a base para o acesso aos cuidados; Introduzir conceitos relativos a valores profissionais; Sensibilizar os estudantes sobre a importância da ação social e Promover a saúde pessoal exemplificando sua relação com outros valores(99. Conselho Internacional de Enfermeiras(os). Código de Ética do CIE para Enfermeiras(os) revisado em 2012 [Internet]. Genebra; 2012 [citado 2012 dez. 26]. Disponível em: http://www.icn.ch/images/stories/documents/about/icncode_brazilian_portuguese.pdf
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).

A instituição educativa, como espaço ideológico, é um cenário onde são evidenciadas contradições oriundas do confronto entre o ideal e o real, a teoria e a prática e principalmente entre o que é ensinado e o que é efetivamente aprendido. O egresso, como sujeito que vivenciou o processo de formação e enfrenta a realidade do mercado de trabalho, pode explicitar com propriedade aspectos que devem ser considerados relevantes no planejamento e concretização das atividades curriculares no contexto das DCN para os cursos de Enfermagem(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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).

O objetivo do estudo foi identificar as competências ético-políticas possibilitadas pelo processo formativo vivenciado por egressos de um curso de graduação em Enfermagem.

Método

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa operacionalizada como estudo de caso, com unidades incorporadas, representadas por 32 egressos graduados em 2003 de uma instituição de ensino privado de caráter confessional, inseridos no mercado de trabalho em contextos diversos e em todos os níveis de atenção a saúde.

Os dados foram coletados no primeiro semestre de 2006 após aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (protocolo nº 487/2005) respeitando em sua operacionalização as normas éticas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa. As entrevistas semiestruturadas foram realizadas mediante um roteiro que buscou identificar a percepção dos egressos quanto aos aspectos do processo de formação que influenciaram como facilitadores ou dificultadores no início do exercício profissional.

Os discursos dos egressos foram submetidos à técnica de Análise Temática(1010. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 11ª ed. São Paulo: Hucitec; 2008.), que possibilitou a composição de duas categorias: "Competências ético-políticas no processo formativo" e "Competências ético-políticas como produto do processo formativo". As unidades de significado (US) que compõem as respectivas categorias foram analisadas com base no referencial de competência no que se refere à formação ética e política do enfermeiro.

Resultados

Na caracterização sócio-demográfica dos 32 entrevistados foram identificados nove egressos do sexo masculino, prevalecendo a faixa etária de 27 a 31 anos, e 23 do sexo feminino, com predomínio da faixa etária de 23 a 30 anos; 18 eram técnicos ou auxiliares de enfermagem antes da graduação, 26 estavam cursando pós-graduação "lato sensu" e apenas um havia ingressado em um programa de mestrado; 26 tinham trabalhado em instituições hospitalares públicas e privadas de média e alta complexidade; 15 em serviços da Atenção Básica; 14 encontravam- se no Ensino Técnico e apenas dois no Ensino Superior, sendo que 25 tiveram experiência em mais de um local de trabalho.

As categorias com as respectivas US abstraídas dos discursos dos egressos, destacadas em função dos objetivos, são apresentadas a seguir:

Categoria 1 - Competências ético-políticas no processo formativo

Para que as DCN se concretizem na formação do enfermeiro, as competências ético-políticas devem permear a proposta de ensino e nortear as ações desenvolvidas durante todo processo educativo(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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). Os discursos que fazem referência a conteúdos e estratégias pedagógicas, percebidas pelos egressos ao se reportarem ao ensino vivenciado na graduação, que possibilitaram ou dificultaram o desenvolvimento de competências ético-politicas são apresentados a seguir

US - A importância do ensino de valores

Embora seja reconhecida a dificuldade em avaliar a incorporação de valores no desdobramento do processo educativo, percebe-se nos depoimentos dos egressos que eles atribuem à instituição de ensino as suas conquistas nessa direção.

A faculdade me ensinou muito a ser persistente, a ter responsabilidade, uma coisa que eu gostei muito na época... (E18).

A faculdade me deu também respaldo ético-moral e isto fez com que eu adentrasse no mercado de trabalho com uma outra visão... Com a missão de levar o conforto às pessoas. Este sem dúvida é o grande diferencial que ela oferece aos seus egressos (E15).

Por ser um curso integrado a uma instituição de ensino de caráter confessional, tem embutida em sua missão o compromisso de promover a formação integral do educando, desenvolvendo de forma harmônica suas capacidades físicas, mentais e espirituais e habilitando-o para "servir" de forma abnegada. Ao reconhecer a importância desses valores, outro egresso afirma sua intenção de os reproduzir em sua prática profissional ao realizar o processo seletivo de novos enfermeiros.

Eu acho importantíssimo os valores da Universidade... Como enfermeiro de educação continuada, hoje a gente tenta filtrar o perfil relacionado aos valores que tivemos na Universidade (E9).

Ao trabalhar intencionalmente a incorporação de valores humanísticos durante a graduação, a escola cumpre seu dever social. Entretanto, percebe-se a partir do conteúdo dos discursos dos egressos, de uma maneira geral, que não receberam durante a graduação o substrato necessário para consolidar a futura atuação profissional com uma dimensão política de transformações e conquistas voltadas à integralidade da atenção à saúde em toda sua abrangência.

US - O ensino do raciocínio crítico

O calendário escolar reservava semanalmente um espaço para os encontros de caráter cultural, com todos os estudantes do curso, objetivando discutir temas relevantes e atuais e, ao mesmo tempo, promover a socialização e a integração entre as turmas. Na perspectiva dos estudantes, esse horário embora importante, era subutilizado.

Já que tem esse espaço da disciplina de cultura geral, deveria se colocar temas de cultura geral mesmo... temas mais interessantes, para pessoas que tem um nível universitário, que tem capacidade de pensar, de desenvolver raciocínio crítico, considerando que a gente passa no país por momentos de crises políticas. Deveria ter umas aulas de filosofia, para a gente aprender a desenvolver mais o raciocínio crítico da nossa profissão mesmo, com professores qualificados (E19).

Ao reconhecer a importância da abordagem cultural e sugerir temáticas mais atualizadas e contextualizadas, o egresso demonstra ter se apropriado da dimensão complexa da formação em saúde. Argumenta quanto à necessidade de ter, no desdobramento do ensino de graduação, uma aproximação maior desta temática para embasar o desenvolvimento de competência ético-políticas. Outro aspecto que emerge neste discurso é a qualificação do docente para favorecer o desenvolvimento do raciocínio crítico do estudante relativo ao exercício profissional.

US - O ensino pelo exemplo

Nas falas de alguns egressos percebe-se o reconhecimento e o apreço pelo professor que, no exercício de sua missão, promove o senso de responsabilidade e a valorização da Enfermagem como profissão.

Postura, bons professores, bons espelhos, a noção do que realmente é a Enfermagem, eu acho que isso foi o que mais me trouxe contribuição mesmo (E19).

A despeito da estrutura curricular adotada pela escola, o docente deixa marca indelével no estudante ao transmitir valores que despertam admiração e respeito, levado-o a depositar confiança e manifestar desejo de seguir os mesmos rumos na vida profissional. No entanto, as questões que se impõem para reflexão dizem respeito ao significado de que rumo ou modelo está sendo proposto pelo docente? O que realmente está sendo ensinado para ampliar a visão sistêmica no cenário sócio-político, ou seja, o que é realmente determinante ou apenas circunstancial nas condições de vida e de saúde das pessoas?

US - O ensino de leis

Os aspectos legais que envolvem o exercício da Enfermagem estão presentes em todas as ações desenvolvidas pelo enfermeiro em qualquer de seus processos de trabalho. O egresso, ao se deparar com a realidade cotidiana, faz referência à necessidade de serem abordados durante a graduação temas relacionados às leis que regem a profissão, sobre os direitos e deveres do enfermeiro e a delimitação das ações que lhe são precípuas.

Precisava enfocar mais alguma coisa ligada à profissão, sobre o conhecimento de leis governamentais, institucionais... Às vezes o enfermeiro não sabe quais os direitos da equipe profissional dele. Ele não sabe nem mesmo os direitos dele. Então, fica um pouco a desejar nisso. Você vai aprender com muita cabeçada, porque você não viu... ninguém te falou daquilo e, se você quer saber, você tem que correr atrás. Isso deveria ser um compromisso da faculdade (E6).

Os egressos dessa turma vivenciaram uma estrutura curricular anterior às DCN, que propiciava ao estudante uma inserção precoce nos cenários de prática, com ênfase nos cuidados integrais ao cliente, voltados principalmente à assistência hospitalar. Nesse currículo ainda não havia sido introduzido o estágio curricular supervisionado, tal como determinado pelas DCN(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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), e o desenvolvimento de habilidades gerenciais ficava a mercê das oportunidades, que as vezes eram limitadas pela atuação não reflexiva dos enfermeiros que recebiam os alunos ou do docente que os acompanhava.

Categoria 2 - Competências ético-políticas como produto do processo formativo

Ao se reportarem às exigências da prática profissional, como enfermeiros recém- graduados, os egressos atribuem ao processo formativo algumas das dificuldades vivenciadas. A despeito da intencionalidade da instituição formadora de desenvolver em seus educandos o compromisso de promover a melhoria da qualidade de vida e saúde dos indivíduos, o desenvolvimento de competências ético-políticas, como percebido pelos egressos, é representado nos discursos que compõem as seguintes US.

US - A ética e o relacionamento multiprofissional

Os egressos reconhecem o imbricamento das dimensões técnica, ética e política da competência(55. Rios TA. Ética e competência. 15ª ed. São Paulo: Cortez; 2005. ). Destacam, entretanto, dificuldades relacionadas ao desempenho na prática dos aspectos “relacionais” do exercício profissional.

A maior dificuldade é a parte burocrática de algumas questões que são assim básicas e certas em quase todas as instituições. É a parte ética, como lidar com um profissional da tua equipe, a parte relacional mesmo... Um pouco nós tivemos, é claro, mas a maioria em teoria... (E2).

As falas relativas a esta US trazem uma contribuição importante para reorientar a seleção dos conteúdos programáticos visando à formação de competências ético-políticas no campo relacional, principalmente no que se refere ao exercício da liderança, considerado pelo egresso como prioritário no processo formativo do enfermeiro.

US - A realidade profissional como base do ensino

A representação dos egressos quanto a este aspecto da formação foi significativa e retrata a importância da integração entre escola e serviços de saúde.

Só no último ano da faculdade a gente teve uma visão mais administrativa, mais assistencial e mais burocrática de como funcionaria o “sistema”, e aí a gente acabou se confundindo um pouco... (E31).

Deveria melhorar o preparo do aluno graduando de Enfermagem para o mercado. Enfocando o que é o mercado. Preparar para a realidade, tanto na iniciativa privada, "top" de linha, como no serviço público (E9).

Há um apelo claro e incisivo destes e de outros egressos entrevistados para que o ensino propicie ao estudante vivenciar durante a graduação a realidade do mercado de trabalho em diferentes contextos. Presume-se que ao propiciar este encontro com a realidade em diferentes cenários, a instituição de ensino garante ao estudante condições favoráveis para uma visão voltada à integralidade e à equidade da assistência à saúde.

US - Compromisso com a aprendizagem permanente

Embora tenha sido mencionado por apenas um dos entrevistados, este aspecto é significativo e merece ser mencionado, pois demonstra o compromisso dos egressos do curso com a aprendizagem permanente. Revela a competência ética do profissional de saúde que, além de ampliar seu espaço ocupacional, agrega valor ao serviço em que se insere e garante melhor assistência/cuidado ao cliente. O depoimento a seguir testifica quanto ao compromisso social dos egressos em continuar os estudos após a graduação.

Os egressos da faculdade estão sempre em busca de crescimento, de pós-graduação (E25).

US - A postura profissional resultante do processo de ensino

Os discursos apresentados pelos egressos quanto à postura profissional do enfermeiro trazem forte apelo à “reflexão” no que se refere a formação de competências ético-políticas que deveriam ser desenvolvidas durante toda a graduação, pois influenciarão no desempenho profissional do enfermeiro.

Uma coisa que eu nunca vou esquecer que os professores passaram para nós na faculdade é em relação a nossa postura, o nosso jeito de falar, o nosso comportamento. Eu percebo quando eu estou atuando o quanto tudo isso envolve, o quanto é importante! Porque, as pessoas chegam para mim e dizem: "Nossa! Você tem um jeito diferente" (E27).

A questão da postura, eu acho que o curso firmou muito isso, e a gente vê esse diferencial no mercado de trabalho. As instituições gostam dos profissionais formados na Faculdade, dão preferência... pela postura que eles apresentam dentro das unidades, e até quanto a questão da vestimenta (E25).

Ao avaliar o enfoque dado pelos docentes durante o curso, relativo à postura profissional do enfermeiro, evidencia-se nos discursos dos egressos a importância de se trabalhar intencionalmente aspectos nem sempre considerados nos programas de ensino, mas que tonalizam e diferenciam a formação concretizada.

US - O ser enfermeiro

Os ex-alunos sugerem mudanças na distribuição dos conteúdos, com o foco em todas as dimensões do cuidar, visando maior coerência e aplicabilidade no exercício profissional do enfermeiro.

A noção do que realmente é a Enfermagem, eu acho que isso foi o que mais me trouxe contribuição mesmo, a noção do que é a Enfermagem, do conceito de Enfermagem... É a parte do cuidar mesmo... Formar o profissional ligado diretamente ao cuidar, ao processo do cuidar, envolvendo todas as fases, desde a parte assistencial até a parte mais burocrática, em que a gente tem essa noção de definição de papéis, do "ser enfermeiro" (E19).

Discussão

Os discursos evidenciaram a percepção dos egressos relativa ao desenvolvimento das competências ético-políticas durante o processo e como resultado da formação acadêmica no curso de graduação. Na primeira categoria, "Competências ético-políticas no processo formativo", em conformidade com as DCN(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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), as US reforçam que a formação do profissional enfermeiro deve ser norteada para o desenvolvimento de competências técnico-científicas, possibilitando o desempenho ético-político, ativo e transformador em contextos e cenários diversos(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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). Em uma concepção freireana, a formação ética é algo imprescindível e planejar um programa de ensino sem considerar os aspectos relacionados à ética é uma transgressão que reduz a experiência educativa a um mero treinamento técnico(1111. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2006.).

O Curso de Graduação em Enfermagem, cenário deste estudo, considera que a proposição de valores no currículo escolar deve influenciar um viver coerente com os princípios básicos da ética cristã, que valoriza o ser humano como membro de uma comunidade, com responsabilidades e direitos para com o meio ambiente, a vida e a família(1212. Confederação das Uniões Brasileiras da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Pedagogia adventista. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira; 2004.). Ao interiorizar esses valores durante a graduação, os egressos do curso reconheceram, em seus discursos o compromisso de exercer suas ações como seus multiplicadores. Ressaltaram ainda que a competência ético-moral deve estar presente durante o processo formativo e permear todas as ações pedagógicas, pois entendem que, em um contexto mais amplo, é a base de sustentação de uma formação pautada nas necessidades de saúde da população e no comprometimento com as transformações sociais(1313. Faustino RLH, Egry EY. A formação da enfermeira na perspectiva da educação: reflexões e desafios para o futuro. Rev Esc Enferm USP. 2002;36(4):332-7. ).

A percepção do papel do professor de servir como referência para o aluno é considerada um dos componentes mais significativos na formação ético-politica do enfermeiro, pois envolve um saber que não requer aulas convencionais, nem está descrito em nenhum projeto político-pedagógico ou plano de disciplina, mas permeia todo o processo educativo no chamado "currículo oculto" ou "informal", que é baseado em experiências concretas dos sujeitos que protagonizam o processo educativo fazendo da escola um espaço vivo, dinâmico e complexo(1414. Giroux H. Teoria crítica e resistência em educação. Petrópolis: Vozes; 1986. ). As relações sociais desenvolvidas entre professores e alunos constituem uma das fontes do currículo oculto que tem como base problemas reais que acontecem no ambiente escolar, na prática pedagógica que afetam os alunos e a sociedade em geral(1515. Lemos CLS. Explicitando o currículo oculto da clínica integrada. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. 2004;4(2):105-12.).

A atuação do docente, em qualquer nível de formação, requer comprometimento com o aluno, com a instituição e com a sociedade. Para cumprir esse compromisso, além da competência técnico-científica e do rigor didático-pedagógico, o docente necessita de envolvimento e dedicação, visando à formação de cidadãos críticos e profissionais competentes(1616. Frias MAE, Takahashi RT. Avaliação do processo ensino-aprendizagem: seu significado para o aluno do ensino médio de enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2002;36(2):156-63).

Existe uma dimensão política presente no processo formativo que não pode ser desconsiderada, pois a educação é gnosiológica, é diretiva, por isso política, é artística e moral, serve-se de meios, de técnicas, envolvem frustrações, medos, desejos. Daí sua politicidade, qualidade que tem a prática educativa de não ser neutra(1111. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2006.).

Embora a intencionalidade da Instituição formadora tenha se concretizado quanto ao desenvolvimento de valores humanísticos, como anunciado nos discursos dos egressos, o contexto sócio-político atual exige do processo formativo avanços que possibilitem o desenvolvimento de competências ético-políticas que tragam como resultado o engajamento efetivo dos enfermeiros em refletir, propor e exigir melhores condições de trabalho e a garantia do respeito aos direitos do paciente e do trabalhador.

A educação pautada nos conceitos de "antropo-ética" compreende uma cadeia dos termos individuo/sociedade/espécie, da qual emergem a consciência e o espírito humano que vai além da moral, para uma ética propriamente humana. A antropo-ética é consciência individual além da individualidade e esperança na completude da humanidade(1717. Morin E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 5ª ed. São Paulo: Cortez; 2002. ). Nesta direção é referendado que: A capacitação de mulheres e de homens em torno de saberes instrumentais jamais pode prescindir de sua formação ética(1111. Freire P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 33ª ed. São Paulo: Paz e Terra; 2006.).

A necessidade de ensinar a condição humana é defendida como um dos pilares da educação do futuro. A pertinência de uma reflexão que evidencia a multidimensionalidade e a complexidade da natureza humana está integrada ao conceito de homem biofísico e também psico-sócio-cultural, pois desenvolvemo-nos além do mundo físico e vivo e é neste 'além' que tem lugar a plenitude da humanidade(1717. Morin E. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 5ª ed. São Paulo: Cortez; 2002. ). Conscientes da complexidade da natureza humana, os egressos sugerem uma revisão dos processos educativos e de construção do projeto político-pedagógico do curso, visando a uma formação contextualizada com a realidade na qual o estudante irá ingressar.

Os discursos dos egressos representados nas US da segunda categoria - Competências ético-políticas como produto do processo formativo - reforçam a importância de uma formação voltada às questões ético-políticas para o pleno exercício da Enfermagem. O profissional de saúde deve estar atualizado sobre o processo de mudança que permeia a sociedade e com ele comprometer-se de forma consciente e responsável, buscando o momento e a forma de intervir nos fatos e na realidade concreta(1818. Santos SA, Araujo EA. A competência e os aspectos ético-políticos no curso de enfermagem: a partir do olhar de docentes enfermeiros. ConScientiae Saúde [Internet]. 2008 [citado 2011 dez. 21];7(1):93-100. Disponível em: http://www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/conscientiae_saude/csaude_v7n1/cnsaudev7n1%203l45.pdf
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).

Para fazer frente à defasagem que existe entre o que se aprende na Universidade e o que se apresenta na realidade concreta, as DCN propõem o estágio curricular supervisionado, com uma carga horária correspondente a 20% do total do curso, que deve ser desenvolvido em cenários diversos e de forma a propiciar a interação com os enfermeiros dos campos de prática(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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).

O desenvolvimento de competências fundamentadas nos valores ético-políticos para a formação do enfermeiro deve ser subsídio para que ele possa atuar em esferas assistenciais, gerenciais e educacionais, colaborando na construção das políticas de saúde e este deve ser um processo contínuo que não deve terminar ao concluir a graduação(1818. Santos SA, Araujo EA. A competência e os aspectos ético-políticos no curso de enfermagem: a partir do olhar de docentes enfermeiros. ConScientiae Saúde [Internet]. 2008 [citado 2011 dez. 21];7(1):93-100. Disponível em: http://www.uninove.br/PDFs/Publicacoes/conscientiae_saude/csaude_v7n1/cnsaudev7n1%203l45.pdf
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). As DCN conferem às Instituições de Ensino autonomia quanto à formatação da estrutura curricular e ao propósito de imprimir a missão do curso ao perfil do egresso que desejam formar(11. Brasil. Ministério da Educação; Conselho Nacional de Educação, Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES n. 3, de 7 de novembro de 2001. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem [Internet]. Brasília; 2001 [citado 2012 nov. 23]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES03.pdf
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). Alguns egressos reconheceram o propósito institucional expresso na missão do curso, de educar no contexto dos valores bíblico-cristãos para o viver pleno e a excelência no servir(1919. Centro Universitário Adventista de São Paulo. Projeto Pedagógico do Curso de Graduação em Enfermagem. São Paulo; UNASP; 2001.). Reforçaram, no entanto, a necessidade de refletir de forma mais pragmática sobre na missão política do processo ensino/aprendizagem, pois "a escola cumpre a sua missão política não quando se elabora no seu interior um discurso sobre a política, mas quando através de sua prática educativa, puder preparar o cidadão para a vida da 'polis', para a compreensão da totalidade social onde ele está inserido"(2020. Rodrigues N. Por uma nova escola: o transitório e o permanente na educação. São Paulo: Cortez; 1985. ).

A formação voltada a conteúdos específicos, imprescindíveis para o exercício profissional, é uma preocupação que perpassa as discussões de autores que defendem uma reforma universitária que, para ser efetiva, deve levar em consideração os aspectos sociais e políticos da formação, ser pautada na busca do sucesso pessoal e ter como meta a transformação social(2121. Buarque C. Uma nova universidade. Ens Superior. 2005;7(78):28-9.).

Durante a graduação, é importante oportunizar ao aluno a vivência entre os agentes de diferentes processos de trabalho, pois, embora a formação em Enfermagem privilegie a dimensão técnico-administrativa, sua prática exige uma compreensão política, econômica, ética e social do processo gerencial em saúde. Para o desenvolvimento destas competências, as estratégias de ensino devem favorecer o reconhecimento das necessidades derivadas das formas de organização da sociedade e das condições de vida dos usuários(2222. Moraes MJB. O ensino de Enfermagem em saúde coletiva: redescobrindo caminhos para novas práticas [dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2003.).

Tais competências são essenciais no cuidado humano em todas as suas dimensões e em qualquer um dos processos de trabalho do enfermeiro nos diversos contextos(2323. André AM, Ciampone MHT. Competências para a gestão de Unidades Básicas de Saúde: percepção do gestor. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(n.esp):835-40.). Assim, para seu desenvolvimento, faz-se imprescindível a implementação de um programa de ensino inserido no contexto atual de saúde e que contemple uma formação:

(...) "mais aberta e dialógica e ao mesmo tempo crítica; mais flexível e ao mesmo tempo mais rigorosa; solidamente alicerçada em conhecimentos e principalmente, fundamentada na ética, voltada para o desenvolvimento do raciocínio, da autonomia, da criatividade, da comunicação e da capacidade de identificar problemas e buscar alternativas para superá-los"(2424. Pinhel I, Kurcgant P. Reflexões sobre competência docente no ensino de enfermagem. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(4):711-6. ).

Para promover uma formação com esta abrangência faz-se necessária a reflexão crítica e o resgate das dimensões pedagógicas que determinem estratégias de ensino e aprendizagem fundamentadas na integralidade da atenção à saúde e na equidade como horizonte ético a ser buscado em cada atividade educativa.

Conclusão

Este estudo identificou aspectos a serem considerados no processo educativo relativos ao desenvolvimento de competências ético-políticas do enfermeiro, como: postura, valores, senso de missão, importância da ética no relacionamento multiprofissional, compromisso com a aprendizagem permanente e raciocínio crítico. Foi possível correlacionar o ensino de competências ético-políticas na graduação em Enfermagem com as propostas das DCN e identificar o papel dos educadores em possibilitar ou dificultar o desenvolvimento destas competências.

Assim, evidencia-se que o ensino na área da saúde cumpre sua missão quando, na prática educativa, prepara o estudante para refletir, compreender e participar da transformação da sociedade na qual se insere. E ainda, que o curso de Enfermagem representado pelos egressos neste estudo tem buscado contribuir nesta direção à medida em que avança na compreensão e implementação das DCN. Considera-se ainda que o curso necessita propiciar aos estudantes vivências da realidade que os instiguem a refletir sobre o contexto ético-político da assistência à saúde onde se insere a atuação consciente do profissional enfermeiro.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Out 2013

Histórico

  • Recebido
    26 Dez 2011
  • Aceito
    07 Jun 2013
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