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Internacionalização como desafio ao impacto da globalização: contribuições da enfermagem

Hoje a internacionalização deve ser assumida não mais como meio, mas como fim. Diz respeito a se movimentar e relacionar-se na sociedade globalizada, sem fronteiras e centrada no conhecimento. Além de estratégia prioritária das agendas governamentais, trata-se de um compromisso a ser assumido pelas universidades e também pelos profissionais, em geral, como desafio ao impacto da globalização.

A globalização tem seu foco no fluxo mundial de ideias, recursos, pessoas, economias, conhecimento, bens, serviços e tecnologias, enquanto a internacionalização enfatiza o relacionamento entre as nações, povos, culturas e valores, a partir da mobilidade dos seres humanos.

Assim, a internacionalização da educação superior é uma das formas para se responder ao impacto da globalização(101 Knight J. Internationalization remodeled: definition, approaches, and rationales. J Stud Int Educ. 2004;8(1):5-32-202 Silva RC, Viana MCA. As implicações de ser um doutorando em Enfermagem no contexto da internacionalização do conhecimento. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2013;17(2):207-7). Tal processo pode estar relacionado à educação e à cooperação internacional, à educação transnacional, à educação através das fronteiras, à educação sem fronteiras e outros. Qualquer que seja a terminologia usada, a internacionalização, articulada ao processo de globalização, requer novas competências de cunho internacional, as quais geram uma série de demandas para as instituições de educação superior, as profissões e os pesquisadores(303 Morosini MC. Internacionalização na produção de conhecimento em IES brasileiras: cooperação internacional tradicional e cooperação internacional horizontal. Educ Rev 2011;27(2):93-112-404 Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Conferência Mundial sobre Ensino Superior: as novas dinâmicas do Ensino Superior e Pesquisas para a Mudança e o Desenvolvimento Social; 2009 jul. 5-9; Paris [Internet]. Paris; 2009 [citado 2014 jul. 27]. Disponível em: http://www.Unesco.org/education/WCHE2009/comunicado_es.pdf
http://www.Unesco.org/education/WCHE2009...
).

A Declaração Mundial sobre Educação Superior no Século XXI concebe a internacionalização da educação superior como uma tecnologia capaz de oferecer oportunidades diferenciadas para reduzir as disparidades regionais. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) visualiza nesse fenômeno uma possibilidade de promover justiça e equidade social, baseadas na solidariedade, no respeito mútuo, na promoção de valores humanísticos e no diálogo intercultural.

Por ser um fenômeno irreversível e de abrangência global, a internacionalização tem gerado importante impacto na forma de conceber os cuidados em saúde, assim como na forma de educar e investigar em Enfermagem. Logo, é importante que a Enfermagem esteja preparada para fornecer cuidados culturalmente competentes, que considerem as singularidades dos indivíduos, famílias e comunidades, em um contexto no qual os idiomas, culturas, valores e necessidades podem ser diferentes. A exigência de linguagens comuns, o respeito às diferenças e a valoração de habilidades sociais como técnicas essenciais ao cuidado requerem profissionais com visão ampliada e contextualizada, isto é, profissionais capazes de ir além de seu espaço geográfico(505 Lagunas LF. Internationalization: new challenges for the development of science in nursing and health care [editorial]. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(5):1013).

Participar de um programa de mobilidade acadêmica internacional revela ganhos de diversas ordens: associados à produção científica, sobretudo em relação ao avanço do conhecimento no que se refere aos métodos de pesquisa e referenciais teóricos; à formação profissional, pelo debate de ideias e contato com perspectivas teóricas e metodológicas de domínio dos centros de excelência, e ainda ganhos culturais simbólicos. No plano institucional, contribui para estreitar relações com instituições de reconhecido mérito acadêmico, as quais favorecem o avanço e a consolidação do conhecimento científico, tecnológico e de inovação na área de interesse(202 Silva RC, Viana MCA. As implicações de ser um doutorando em Enfermagem no contexto da internacionalização do conhecimento. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2013;17(2):207-7).

No que se refere à Enfermagem brasileira, um impulso adicional para a busca da internacionalização deve ser creditado ao processo de avaliação dos programas de pós-graduação e, mais recentemente, aos programas de graduação, que passaram a atribuir um peso importante a esse movimento de mobilidade acadêmica.

Na Enfermagem, a internacionalização tem propiciado um fluxo profícuo de saberes e fazeres entre os países, favorecendo o compartilhamento de ideias e práticas, de modo a ampliar os horizontes da ciência da Enfermagem e da saúde. Já resultou na materialização de vários programas de cooperação internacional, tais como: a criação do Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN), constituído por representantes de 132 países, a Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem (CIPE), a proposição de sistemas de ensino à distância, a criação da Rede de Enfermagem da América Latina (REAL), a participação de enfermeiros em conselhos editorias e comitês científicos das revistas internacionais, a International Nursing PhD Collaboration - programa colaborativo de Doutorado em Enfermagem em parceria com universidades de diversos países. Esse último programa destaca- se por desenvolver uma rede de pesquisadores, docentes e estudantes que trabalham em colaborações sustentáveis e de longa duração, compartilhando metodologias efetivas e inovadoras para estudos de Enfermagem, cuidado e promoção da saúde em uma perspectiva internacional(202 Silva RC, Viana MCA. As implicações de ser um doutorando em Enfermagem no contexto da internacionalização do conhecimento. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2013;17(2):207-7

03 Morosini MC. Internacionalização na produção de conhecimento em IES brasileiras: cooperação internacional tradicional e cooperação internacional horizontal. Educ Rev 2011;27(2):93-112

04 Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Conferência Mundial sobre Ensino Superior: as novas dinâmicas do Ensino Superior e Pesquisas para a Mudança e o Desenvolvimento Social; 2009 jul. 5-9; Paris [Internet]. Paris; 2009 [citado 2014 jul. 27]. Disponível em: http://www.Unesco.org/education/WCHE2009/comunicado_es.pdf
http://www.Unesco.org/education/WCHE2009...

05 Lagunas LF. Internationalization: new challenges for the development of science in nursing and health care [editorial]. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(5):1013
-606 Muñoz Gonzalez LA. Academic internationalization [editorial]. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(6):1293).

Apesar de sua inserção incipiente no movimento de internacionalização, a Enfermagem vem conquistando espaços importantes em âmbito nacional e internacional, por meio de intercâmbios acadêmicos, conselhos, redes de pesquisa e publicações internacionais conjuntas, além da Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem, dentre outros. Reconhece-se que vários desafios ainda precisam ser superados, principalmente os relacionados ao domínio de uma segunda língua, os quais têm dificultado a inserção mais proativa nos países de destino dos candidatos, mas, sobretudo, na criação de redes de pesquisa e na produção e publicação de conhecimentos conjuntos.

Dentre as estratégias para superar os desafios da internacionalização, podem ser destacadas as seguintes: aprendizagem obrigatória de uma língua estrangeira desde o ensino básico; inclusão do estudo de línguas estrangeiras no programa de graduação em Enfermagem; incremento da comunicação pessoa-pessoa e trocas significativas com enfermeiros de outros países por meio das redes sociais; valorização da participação de estudantes de todos os níveis em projetos de pesquisa e extensão, bem como incentivo à prática do consumo da literatura científica internacional; adoção de políticas que dinamizem as oportunidades de intercâmbio internacional por órgãos, representantes e instituições; maior investimento na infraestrutura e profissionalização do trabalho realizado pelos editores, avaliadores e autores de periódicos científicos, incluindo sua capacitação e valorização, em um processo de retroalimentação permanente; flexibilização dos currículos de Enfermagem para facilitar o processo de validação de disciplinas; incentivo às metodologias interativas e investigativas, apoiadas por novas tecnologias, a fim de superar os métodos de ensino centrados no professor, sobretudo em disciplinas em que participam estudantes internacionais; ampliação do processo de ensino e pesquisa em rede, por meio de atividades previamente planejadas entre os diferentes atores envolvidos; fomento de acordos bilaterais para ampliar e fortalecer projetos conjuntos de pesquisa entre grupos, isto é, a produção coletiva e a troca de conhecimento para o desenvolvimento econômico-social.

Por mais que o processo de internacionalização da educação superior e da cooperação internacional tenha sido estimulado mundialmente para responder às necessidades do mercado global, os benefícios pessoais e profissionais são inquestionáveis. A internacionalização busca, em suma, valorizar a diversidade, conhecer as características de traços de identidade, enfrentar cenários diversos e complexos, elevar o capital cultural e social, agregar valor à formação profissional, aumentar a autonomia e a resiliência, bem como contribuir para o crescimento profissional e cultural de todos os envolvidos diretamente ou indiretamente no processo.

References

  • 01
    Knight J. Internationalization remodeled: definition, approaches, and rationales. J Stud Int Educ. 2004;8(1):5-32
  • 02
    Silva RC, Viana MCA. As implicações de ser um doutorando em Enfermagem no contexto da internacionalização do conhecimento. Esc Anna Nery Rev Enferm. 2013;17(2):207-7
  • 03
    Morosini MC. Internacionalização na produção de conhecimento em IES brasileiras: cooperação internacional tradicional e cooperação internacional horizontal. Educ Rev 2011;27(2):93-112
  • 04
    Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. Conferência Mundial sobre Ensino Superior: as novas dinâmicas do Ensino Superior e Pesquisas para a Mudança e o Desenvolvimento Social; 2009 jul. 5-9; Paris [Internet]. Paris; 2009 [citado 2014 jul. 27]. Disponível em: http://www.Unesco.org/education/WCHE2009/comunicado_es.pdf
    » http://www.Unesco.org/education/WCHE2009/comunicado_es.pdf
  • 05
    Lagunas LF. Internationalization: new challenges for the development of science in nursing and health care [editorial]. Rev Esc Enferm USP. 2013;47(5):1013
  • 06
    Muñoz Gonzalez LA. Academic internationalization [editorial]. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(6):1293

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Out 2014
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