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Condições de vida e trabalho de profissionais de um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

Resumos

A assistência prestada pelo serviço de atendimento móvel de urgência (Samu) pode resultar em alterações na saúde dos trabalhadores. Este é um estudo epidemiológico transversal e teve como objetivo avaliar os aspectos sociodemográficos, saúde, estilo de vida e condições de trabalho entre os profissionais do Samu, em Campinas, SP, Brasil. Foi utilizado questionário com dados sociodemográficos, estilo de vida, saúde e trabalho. A amostra foi composta por 197 trabalhadores - enfermeiros, médicos, técnicos e auxiliares de enfermagem, motoristas e pessoal administrativo. Houve prevalência do sexo masculino (61,4%), idade média de 39,1 anos (dp=8,3), casados (63,5%), com filhos (76,7%), da categoria de motoristas (30,5%), seguido pelos médicos (18,3%) e auxiliares de enfermagem (16,8%), 42,1% tinham outro emprego, 48% realizavam hora extra e 25,3% trabalhavam mais de 70 horas semanais. A maioria praticava atividade física (56,5%) e de lazer (96,5%). Novas facetas da vida desses trabalhadores foram reveladas, podendo contribuir para programas voltados à promoção da saúde.

Serviços Médicos de Emergência; Auxiliares de Emergência; Ambulâncias


The assistance provided by the Mobile Emergency Service (SAMU) may result in changes in the health of the workers. This is a cross-sectional epidemiological study which aimed to evaluate the sociodemographic, health and lifestyle characteristics and the working conditions among professionals of the SAMU in Campinas, SP, Brazil. A questionnaire was used to collect sociodemographic, lifestyle, health and work data. The sample consisted of 197 workers - nurses, physicians, nursing technicians, auxiliary nurses, drivers and administrative personnel. There was a prevalence of males (61.4%), mean age 39.1 years (SD=8.3); married (63.5%), with children (76.7%); of the category of drivers (30.5%), monitored by physicians (18.3%) and auxiliary nurses (16.8%); 42.1% had additional employment, 48% performed overtime and 25.3% worked more than 70 hours per week. The majority practiced physical (56.5%) and leisure (96.5%) activities. New facets of the life of these workers were revealed and may contribute to programs aimed at health promotion.

Emergency Medical Services; Emergency Medical Technicians; Ambulances


La asistencia prestada por el Servicio de Atención Móvil de Urgencia (SAMU) puede resultar en alteraciones en la salud de los trabajadores de ese servicio. Este estudio epidemiológico transversal tuvo como objetivo evaluar los aspectos sociodemográficos: salud, estilo de vida y condiciones de trabajo entre los profesionales del SAMU, en Campinas, SP, Brasil. Fue utilizado un cuestionario con datos: sociodemográficos, estilo de vida, salud y trabajo. La muestra fue compuesta por 197 trabajadores: enfermeros, médicos, técnicos y auxiliares de enfermería, choferes y personal administrativo. Hubo prevalencia del sexo masculino (61,4%), edad promedio de 39,1 años (DE=8,3); casados (63,5%), con hijos (76,7%); de la categoría de choferes (30,5%), seguido por los médicos (18,3%) y auxiliares de enfermería (16,8%); 42,1% tenían otro empleo, 48% realizaban horas extras y 25,3% trabajaban más de 70 horas semanales. La mayoría practicaba actividades físicas (56,5%) y de ocio (96,5%). Nuevas facetas de la vida de estos trabajadores fueron reveladas pudiendo contribuir con programas dirigidos a la promoción de la salud.

Servicios Médicos de Urgência; Auxiliares de Urgência; Ambulancias


ARTIGO ORIGINAL

Condições de vida e trabalho de profissionais de um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência1

Camila Fernanda Lourençon VegianI; Maria Inês MonteiroII

IEnfermeira, Hospital das Clínicas, Universidade Estadual de Campinas, SP, Brasil. Mestranda em Enfermagem, Universidade Estadual de Campinas, SP, Brasil. E-mail: vegian@fcm.unicamp.br

IIEnfermeira, Doutora em Enfermagem, Professor Associado, Departamento de Enfermagem, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, SP, Brasil. E-mail: inesmon@fcm.unicamp.br

Endereço para correspondência

RESUMO

A assistência prestada pelo serviço de atendimento móvel de urgência (Samu) pode resultar em alterações na saúde dos trabalhadores. Este é um estudo epidemiológico transversal e teve como objetivo avaliar os aspectos sociodemográficos, saúde, estilo de vida e condições de trabalho entre os profissionais do Samu, em Campinas, SP, Brasil. Foi utilizado questionário com dados sociodemográficos, estilo de vida, saúde e trabalho. A amostra foi composta por 197 trabalhadores – enfermeiros, médicos, técnicos e auxiliares de enfermagem, motoristas e pessoal administrativo. Houve prevalência do sexo masculino (61,4%), idade média de 39,1 anos (dp=8,3), casados (63,5%), com filhos (76,7%), da categoria de motoristas (30,5%), seguido pelos médicos (18,3%) e auxiliares de enfermagem (16,8%), 42,1% tinham outro emprego, 48% realizavam hora extra e 25,3% trabalhavam mais de 70 horas semanais. A maioria praticava atividade física (56,5%) e de lazer (96,5%). Novas facetas da vida desses trabalhadores foram reveladas, podendo contribuir para programas voltados à promoção da saúde.

Descritores: Serviços Médicos de Emergência; Auxiliares de Emergência; Ambulâncias.

Introdução

O atendimento pré-hospitalar - APH no Brasil é representado pelo serviço de atendimento móvel de urgência (Samu), com base na Portaria n°2048/GM, de 5 de novembro de 2002(1). Possui como objetivo principal ordenar a assistência enquanto forma de resposta rápida às demandas de urgência, seja no domicílio, no local de trabalho, em vias públicas, ou em outros locais nos quais o paciente vier a precisar(2).

Para os profissionais que trabalham em APH, a atuação face ao inesperado é rotineira, pois raramente os trabalhadores sabem o tipo de atendimento que irão prestar, ou as características do local e dos agentes que poderão interferir no atendimento prestado. Outros aspectos devem ser destacados, como a necessidade da tomada rápida de decisões, a exigência de condicionamento físico adequado, a exposição a condições estressantes e os níveis elevados de ansiedade, entre outros(3).

Além da capacitação em suporte básico de vida e suporte avançado de vida, os profissionais, de modo geral, devem ter disposição para atividade de trabalho, capacidade para trabalhar em equipe, iniciativa, pensamento ágil para tomar decisões rápidas, autocontrole e equilíbrio emocional(4).

Os sentimentos resultantes da atuação e formação de enfermeiros de APH, de Porto Alegre, RS, foram alvo de estudo qualitativo que revelou que os mesmos se sentiam seguros, motivados e preparados para atuar e experimentavam sentimentos como compaixão, angústia, raiva, pena, tristeza e ansiedade, e, ainda, consideravam motivador o reconhecimento e o fato de poder restaurar vidas(5).

Em um cenário em que escassos são os estudos direcionados aos trabalhadores atuantes em APH, e poucos são os anos de existência desse serviço, no país, este estudo teve como objetivos:

- caracterizar o perfil sociodemográfico dos trabalhadores

- investigar as condições de vida e trabalho dos profissionais.

Métodos

Trata-se de estudo epidemiológico transversal, descritivo, realizado no Samu da cidade de Campinas, SP, Brasil.

Participaram da pesquisa 197 trabalhadores das seguintes categorias profissionais: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, técnicos e auxiliares de enfermagem, motoristas das ambulâncias, telefonistas e operadores de rádio e aqueles envolvidos na administração e gerência do serviço.

Foi critério de inclusão os profissionais atuantes no período da coleta de dados, que ocorreu entre os meses de março e junho de 2009, e que, ao serem abordados pelas pesquisadoras, aceitaram participar da pesquisa. Foram excluídos do estudo os trabalhadores que estavam com algum tipo de afastamento ou licença, no período da coleta de dados.

O procedimento para a coleta de dados ocorreu por meio da utilização de questionário de dados sociodemográficos, estilo de vida e aspectos de saúde e trabalho (QSETS), elaborado por Monteiro, no ano 1996, e atualizado em 2009(6).

O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e aprovado. Para a participação na pesquisa, os trabalhadores preencheram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Estudos estatísticos foram desenvolvidos por meio do programa SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences). Para a análise entre as variáveis categóricas foi utilizado o teste qui-quadrado.

Resultados

Em relação aos dados sociodemográficos, esses são apresentados na Tabela 1. A idade variou entre 20 e 60 anos, sendo a média de 39,1 anos (dp±8,3) e a idade média dos filhos foi de 15,1 anos, sendo a idade mínima dois meses e máxima de 35 anos. O tempo médio utilizado com a educação dos filhos, diariamente, foi de 3,8 horas.

De 193 respondentes, 104 (53,9%) afirmaram ter concluído curso na área de atuação.

Quanto à locomoção para o trabalho, o meio de transporte mais utilizado foi o carro (62,1%), seguido pelo ônibus (18,5%), sendo que o tempo médio de deslocamento foi de 47,8 minutos (dp±38,2).

O tipo de moradia predominante foi a de alvenaria (91,8%). Em relação à religião, 79,3% relataram ter alguma crença, sendo a religião católica predominante (59,6%).

Os dados referentes ao trabalho estão apresentados na Tabela 2. No total, onze categorias profissionais foram abordadas. Havia onze funcionários em disfunção (5,8%), isto é, desempenhando outra função laboral devido a restrições médicas.

O contrato de trabalho predominante era o vínculo com a prefeitura, por meio de concurso público (59,4%), sob regime estatutário. Houve diferença estatística significativa entre as variáveis tipo de contrato e idade (p-valor<0,0001/teste qui-quadrado).

Em relação a ter outro emprego, 42,1% afirmaram possuir outro vínculo empregatício. A maioria desses, 38,3%, além de atuar no Samu, trabalhava em outro local, sendo que, em 80,5% dos casos, era outro serviço de saúde.

Metade dos trabalhadores (48%), aproximadamente, relatou fazer horas extras; e 50,3% dos profissionais relataram período de desemprego em alguma etapa de vida profissional. Em relação ao total de horas trabalhadas na semana, 40,5% trabalhavam até 36 horas, 18,4% entre 37 e 49 horas, 15,8% entre 50 e 69 horas e 25,3% mais que 70 horas semanais.

Verificou-se diferença estatística significativa entre as variáveis: realização de horas extras e sexo (p-valor 0,0083); total de horas trabalhadas na semana e sexo (p-valor 0,0260); horário de trabalho e idade (p-valor 0,0050) (teste qui-quadrado).

A faixa salarial predominante foi de até R$829,00 (32,6%) e o valor do salário mínimo, na época da coleta de dados, era de R$465,00.

Na Tabela 3, verificam-se os valores referentes ao tempo e trabalho.

Os acidentes de trabalho ocorreram em 10,7% da amostra e, em sua maioria, uma vez (66,7%). Dentre os tipos de ocorrências, predominou o acidente envolvendo os materiais perfurocortantes (28,6%), seguido por acidentes de trânsito com as ambulâncias, como, por exemplo, capotamento (23,8%).

O uso de equipamentos de proteção individual foi relatado por 78,1% dos trabalhadores. As luvas de procedimento foram as mais citadas (83,6%), seguidas por óculos de proteção (51,4%), máscara (43,6%), botas (40,7%), entre outros.

Ao serem questionados quanto a "o que é cansativo no trabalho", as quatro situações mais frequentes foram: o relacionamento interpessoal (27,7%), a população não saber fazer uso correto do serviço (16,4%), a elevada demanda de trabalho (11,8%) e as condições do tempo, como excesso de calor (10,8%).

Referente ao fato de gostar do trabalho, as respostas mais frequentes foram: poder exercer um tipo de atendimento específico do Samu (41,9%), isto é, sem rotinas, em esquema de plantão e atendimento a pacientes que, em sua maioria, foram surpreendidos por situações de ameaça à vida e que necessitam de atendimento no local em que se encontram e com rapidez; o fato de poder ajudar as pessoas com seu trabalho (41,9%) e o relacionamento com os colegas (31,8%).

Os resultados referentes à saúde dos trabalhadores são apresentados na Tabela 4.

O local do corpo apontado como o mais frequente de ocorrência de dor foi a coluna cervical: 65,7% nos últimos seis meses e 45,1% na última semana.

O uso de medicamentos foi referenciado por 30,6%, sendo os anti-hipertensivos os mais utilizados (37,5%).

Parte dos entrevistados (17,9%) relatou ter problemas com sono, sendo a causa principal relacionada ao horário de trabalho noturno (24,1%).

A maioria referiu ter planos para o futuro (94,4%). Quanto a realizar atividade de lazer, 96,5% responderam afirmativamente, e assistir televisão foi a mais frequente (82,7%).

Entre os sujeitos que participaram do estudo, 57,5% estavam satisfeitos com o trabalho e 59,4%, estavam satisfeitos com a vida.

Discussão

A análise dos dados evidenciou o predomínio do sexo masculino dentre os sujeitos estudados, fato que pode estar associado à categoria profissional mais frequente e que não possuía nenhum indivíduo do sexo feminino, os motoristas (30,5%).

Apesar da crescente participação feminina no mercado de trabalho, essa ainda é bem inferior à masculina(7). Na presente pesquisa, houve predomínio do sexo masculino, fato que pode ser justificado pela necessidade do trabalho no Samu demandar força e preparo físico(2).

O predomínio do ensino médio completo justifica-se pela somatória dos motoristas e da classe de enfermagem que, juntos, representaram quase 64% dos participantes. Para exercer a função de técnico de enfermagem, o ensino médio completo é exigido, já como pré-requisito para ser motorista a Portaria 814(8) exige ensino fundamental completo. Auxiliares de enfermagem também devem ter pelo menos o ensino fundamental completo, além do curso profissionalizante.

Evidenciou-se que a maioria dos profissionais possuía vínculo empregatício que se deu por meio de concurso público (59,4%), o que pode ter ocorrido uma seleção dos candidatos com melhor escolaridade e desempenho.

A idade média de 39,1 anos remonta ao perfil de sujeitos em idade produtiva e a maioria era casada e com filhos.

A associação entre idade e tipo de contrato revelou haver diferença entre as faixas etárias e o tipo de contrato. A percepção foi de que trabalhadores com maior idade possuíam vínculo com a prefeitura por meio de concurso público e os mais jovens eram contratados transitórios.

Quase metade dos trabalhadores (42,1%) possuía outro vínculo empregatício e, em sua maioria, era do sexo masculino (65,1%). Houve predomínio dos médicos quanto a ter mais de um emprego. Estudo realizado com médicos, em Salvador, apontou a sobrecarga de trabalho, principalmente nas atividades de plantão. Esse é fato preocupante ao considerar que a atividade médica é baseada na interação médico/paciente, estudo e atualização científico-tecnológica e que, de certa forma, pode ficar comprometida pela escassez de tempo(9). No caso dos motoristas, o fato de também trabalharem em esquema de plantão pode permitir o acúmulo de empregos.

Merece destaque o total de horas trabalhadas na semana, acima de 70, além de ter sido relatado jornada máxima de 132 horas semanais. Nessas situações, dentre todas as categorias profissionais foi identificado que os médicos trabalhavam mais horas na semana (44,7%).

O fato de quase a maioria dos indivíduos fazer horas extras pode estar associado a dois motivos: o Samu, devido à sua característica de prontidão, favorecer a probabilidade de extrapolar o horário de saída, isto é, no caso de atendimentos próximos ao horário de término da jornada de trabalho, pois adia o retorno do funcionário à base central, e, também, o trabalho em eventos (como, por exemplo, shows, corridas, entre outros), nos quais a presença do Samu é solicitada, o que permite que o funcionário realize hora extra no dia do seu descanso.

É importante ressaltar a diferença estatística significativa entre realização de horas extras e sexo, e o total de horas trabalhadas na semana e sexo. Ao refletir sobre o gênero e trabalho, a literatura indica que uma das diferenças mais acentuadas se refere à jornada de trabalho, isto é, a jornada semanal das mulheres é cerca de cinco vezes inferior à dos homens, não sendo possível concluir o motivo, talvez seja opcional ou impedimento imposto pelo mercado de trabalho ou, ainda, fatores além de seu controle, possivelmente as atividades relacionadas ao cuidado da família e do lar(7).

Em geral, observou-se no ambiente do Samu que pessoas mais velhas trabalhavam no período da noite. Coincidentemente, houve diferença estatisticamente significativa entre as variáveis horário de trabalho e idade.

Os acidentes de trânsito, envolvendo ambulâncias, merecem destaque devido à elevada porcentagem de ocorrência dentre os acidentes de trabalho (23,8%). Em estudo americano, realizado com 1.175 técnicos de emergência, constatou-se a prevalência de 8,6% de acidentes de trânsito envolvendo ambulâncias, com sugestão de que a idade e o sono estavam associados a essa ocorrência(10).

A prevalência de ser cansativo o constante relacionamento com as pessoas permite vários enfoques. Um deles é direcionado aos trabalhadores que tinham efetivo contato direto com a população usuária do serviço. Esses se relacionavam com muitas pessoas diferentes ao longo de um dia de trabalho e, o tempo todo direta e indiretamente, com duração do tempo da relação interpessoal flutuante. Além de, também, serem variáveis os interesses impostos nesses relacionamentos. No caso das pessoas que trabalhavam em ambiente fechado havia menor exposição. No entanto, para aqueles que se relacionavam de forma indireta, por meio do telefone, havia prejuízo da comunicação, o que pode acarretar situações de cansaço e esgotamento. Esse fato foi apontado em estudo sobre a situação do trabalho de telefonistas, em que a maneira de falar, o que dizer, o que não dizer e a forma como conduzir um dialogo criavam situação artificial que, certamente, teria efeitos sobre a vida psíquica dos sujeitos envolvidos(11).

As condições de trabalho e saúde das telefonistas do Samu podem ser influenciadas ao se considerar a situação de risco de morte do outro lado da linha, que pode ser amenizada se elas se sentirem participantes do processo de trabalho e úteis à sociedade.

Quanto ao estilo de vida, a principal causa de problemas com o sono foi associada ao horário de trabalho. O trabalho em turnos e noturno, a desorganização do ritmo circadiano do sono pode acarretar comprometimentos sérios do funcionamento cerebral(12).

A satisfação com a vida foi um pouco maior do que a satisfação com o trabalho. A satisfação no trabalho trata-se de fenômeno complexo, subjetivo, que varia dependendo da circunstância e do tempo, ao se considerar uma mesma pessoa(13).

Conclusão

A maioria dos participantes era do sexo masculino, com idade entre 30 e 39 anos, residente em Campinas, tinha filhos, com ensino médio completo. Predominou o uso do carro como meio de transporte para o trabalho, a moradia de alvenaria e a religião católica.

Participaram onze tipos de profissionais: auxiliares de enfermagem, técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, motoristas, técnicos em atendimento de regulação médica (telefonistas), operadores de rádio, chefia, funcionários da administração, porteiros e farmacêutico. A categoria com maior porcentagem de participação na pesquisa foi a dos motoristas, seguida pelos médicos e auxiliares de enfermagem.

A maioria possuía vinculo com a prefeitura por meio de concurso público, atuava no turno diurno e trabalhava até 36 horas semanais, sendo expressivo o número de profissionais que acumulava mais de 70 horas trabalhadas na semana (25,3%). Quase metade dos participantes possuía outro emprego e realizava horas extras. O tempo médio de atuação no Samu foi de 6,9 anos (dp±5,2).

A maioria não ingeria bebida alcoólica, não fumava, praticava atividades físicas e de lazer e tinha planos para o futuro.

Referente ao trabalho no Samu, faz-se importante conhecer as características dos profissionais atuantes em APH e suas condições de trabalho, para a elaboração de programas que visem a manutenção e promoção à saúde mental e física de seus trabalhadores. Acredita-se que essas são necessárias ao se considerar o trabalho em APH.

Outro aspecto a ser destacado é a longa jornada de trabalho dos médicos, que deveria ser mais bem avaliada e estudada pelos órgãos competentes.

Por ser um serviço recente no país, sugere-se que, para a estruturação do Samu, medidas voltadas a zelar pela saúde de seus profissionais sejam pensadas com a clareza de se considerar o futuro desse serviço, no que se refere à qualidade de atendimento prestado aos usuários, bem como a conservação e qualidade de vida e trabalho de seus profissionais.

Referências

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  • Corresponding Author:
    Maria Ines Monteiro
    Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas
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  • 1
    Paper extracted from Master's Dissertation "Capacidade para o trabalho e condições de vida e trabalho entre profissionais de um Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar Móvel de Urgência" presented to Departamento de Enfermagem, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, SP, Brazil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      20 Set 2011
    • Data do Fascículo
      Ago 2011

    Histórico

    • Recebido
      23 Ago 2010
    • Aceito
      17 Maio 2011
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