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O dilema das revistas científicas brasileiras na divulgação da produção científica nacional

EDITORIAL

O dilema das revistas científicas brasileiras na divulgação da produção científica nacional

Edna T. Kimura

Editora-chefe dos Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia (ABE&M), professora titular do Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo (ICB-USP), São Paulo, SP, Brasil

Correspondência Correspondência para: Edna T. Kimura Rua Botucatu, 572, cj. 83 04023-062 - São Paulo, SP, Brasil abem-editoria@endocrino.org.br

A visibilidade internacional da produção científica brasileira teve um grande impulso nos últimos anos. Dados do Ministério da Ciência e Tecnologia (www. mct. gov. br/index. php/content/view/5710. html) mostram que, em 2008, mais de 30 mil artigos científicos brasileiros foram publicados em revistas, indexados na base Web of Science® (Thomson Scientific), e esse número é mais do que o dobro daquele observado em 2004. Nesse aumento, devemos considerar a importante contribuição das revistas científicas brasileiras na divulgação da pesquisa científica realizada no Brasil. Particularmente nos últimos anos, um número considerável de revistas científicas brasileiras atingiu um patamar de qualidade e regularidade que propiciou a inclusão nos bancos de dados internacionais mais exigentes, como o PubMed/MedLine e o Web of Science®.

A revista ABE&M foi indexada no PubMed/MedLine em 2004 e no Web of Science a partir de 2007, expandindo o acesso de nossa revista para um público além do continente latino-americano (1,2). Aliado a esse fato, com a implementação da submissão on line, houve um aumento de cerca de 90% no número de submissões nos anos de 2008 e 2009, quando comparado a 2007. Paralelamente a esse avanço significativo de mais de 350 submissões anuais, os critérios para aceitação dos trabalhos precisaram ser reajustados. Dessa forma, se antes de 2008 o índice de rejeição de artigos não ultrapassava 35%, com o aumento dessa demanda subiu para 50%. Entendemos a expectativa dos autores, e a rejeição de um trabalho é sempre frustrante. Mas a exigência para o aceite tem crescido cada vez mais e com isso a tarefa de avaliação também tem se tornado mais árdua.

Enquanto alcançamos um crescente reconhecimento internacional de nossa revista, o cenário nacional direciona-se por caminho oposto. A produção científica do país é gerada em sua quase totalidade no âmbito dos Programas de Pós-graduação (PPG), subordinados à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão do Ministério da Educação. Um dos principais itens considerados na avaliação de um PPG em todas as áreas no nosso país é a produção intelectual dos orientadores e alunos. O Qualis foi criado pela Capes para "qualificar a revista científica onde o artigo foi publicado" e assim medir a produção científica dos programas dentro de cada uma das 46 áreas de avaliações da Capes. Por exemplo, na Área de Medicina I, que inclui aproximadamente 70 PPGs relacionados a Endocrinologia, Cardiologia, Nefrologia, Oncologia, Pneumologia, Gastroenterologia/Hepatologia, 40% do peso da avaliação geral recai sobre a produção intelectual e, neste item, 50% do conceito leva em consideração os artigos completos publicados em periódicos científicos com política editorial de revisão. A "medida" de valorização de cada uma dessas publicações é determinada pela estratificação Qualis-Periódico e o respectivo peso é atribuído a esse estrato. Dessa forma, a classificação Qualis influencia, de maneira importante, nas notas atribuídas aos PPGs no país (conceitos: 3 [mínimo] a 7 [máximo]) pelas avaliações trienais da Capes.

Para a avaliação dos PPGs no triênio 2007-2009, uma nova estratificação do Qualis-Periódico foi divulgada no primeiro semestre de 2009. A grande mudança na nova estratificação foi a eliminação do critério publicação nacional e internacional.

O Qualis-Periódico foi dividido em oito estratos: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C. Para os estratos superiores de A1-B2, o periódico deve ter fator de impacto JCR-ISI.

Na área de Medicina I (inclui Endocrinologia e outras acima citadas) e Medicina II (inclui Nutrição, Moléstias Infecciosas, Pediatria, Alergia e Imunologia, Patologia, Neurologia, Radiologia, Hematologia, Reumatologia), o valor do Fator de Impacto que classifica em cada um desses estratos de A1 a B2 assim como os critérios de inclusão nos estratos B3 a B5 estão apresentados na tabela 1. E, ainda, na avaliação da produção científica dos programas dessas áreas, são atribuídos pesos para cada publicação (Tabela 1).

A revista ABE&M, apesar de indexada no ISI-Web of Science, que gera o índice JCR (Journal Citation Reports®), mais conhecido como Fator de Impacto ISI (FI-ISI), ainda não tem um FI-ISI, pois o primeiro índice após a indexação só será divulgado em junho de 2010 (2). Dessa forma, para os critérios das áreas de Medicina I e Medicina II, o Arquivos está classificado no estrato Qualis B3 na avaliação para o triênio 2007-2009 dos PPGs dessas duas áreas. Para o próximo triênio de avaliação Capes, as revistas que receberão índice de impacto JCR neste corrente ano, incluindo os ABE&M, terão estrato Qualis B2 ou superior para as áreas da Medicina. Mas os estratos são variáveis para as diferentes áreas e os critérios mais restritivos são aplicados, por exemplo, nas áreas de Ciências Biológicas como mostramos na tabela 2.

Nesse contexto, o "novo Qualis", como tem sido chamado, tem motivado uma ampla discussão da comunidade científica de todas as áreas do conhecimento no país (3,4). A influência da mudança no Qualis quase ao final do triênio de avaliação para os Programas de Posgraduação no país, a valorização (ou desvalorização) da publicação científica nacional e o impacto da nova estratificação no futuro das revistas brasileiras são algumas das preocupações que levaram os editores científicos de revistas médicas brasileiras a elaborar o editorial conjunto que publicamos neste número dos ABE&M (5).

  • 1. Guimarães V. História da indexação dos ABE&M: razão, trabalho e emoção. Arq Bras Endocrinol Metab. 2004;48(2):217-9.
  • 2. Kimura ET. ABE&M e o fator de impacto. Arq Bras Endocrinol Metab. 2008;52(6):925-6.
  • 3. Rocha-e-Silva M. O Novo Qualis, que não tem nada a ver com a ciência do Brasil. Carta Aberta ao Presidente da Capes. Clinics. 2009;64(8):721-4.
  • 4. Bicas HEA. Sobre uma política equivocada. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(3):281-2.
  • 5. Editores científicos de revistas médicas brasileiras. Classificação dos periódicos no sistema Qualis da Capes - A mudança dos critérios é URGENTE! Arq Bras Endocrinol Metab. 2010;54(1):3-5.
  • Correspondência para:
    Edna T. Kimura
    Rua Botucatu, 572, cj. 83
    04023-062 - São Paulo, SP, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      09 Abr 2010
    • Data do Fascículo
      Fev 2010
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