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UMA TRAJETÓRIA ENTRE PALAVRAS: ENTREVISTA COM GRAÇA RIO-TORTO* * Graça Maria de Oliveira e Silva Rio-Torto (Coimbra, 1956) é Professora Catedrática jubilada de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde atuou como docente desde o ano de 1979. Graduou-se em Filologia Românica um ano antes, em 1978, e doutorou-se em 1993, tendo defendido a tese intitulada Formação de palavras em português: aspectos da construção de avaliativos. Obteve, em 2005, com aprovação por unanimidade, o seu título acadêmico de Agregação e, coroando a sua brilhante carreira, tornou-se Catedrática de Linguística da sua Alma Mater. Desempenhou inúmeros cargos e funções na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), entre os quais se destacam a coordenação científica do Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada — CELGA (1997-1999), a direção do Instituto de Língua e Literatura Portuguesas D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos (2000-2002), a fundação e a direção do Mestrado em Linguística e Ensino (2004-2006) e do Curso de Pós-Graduação Linguística e Ensino (2004-2005) — redenominados Curso de 2º Ciclo em Linguística (2004-2006) —, a direção dos Cursos de Português Língua Estrangeira da FLUC (2013-2016) e a direção do Curso de Doutoramento Linguística do Português (2018-2022). Com mais de meia centena de artigos e capítulos de livros publicados, figuram entre as suas principais obras o livro Morfologia derivacional: teoria e aplicação ao português (1998), a já clássica Gramática derivacional do português (1ª edição: 2013; 2ª edição: 2016) — por ela coordenada — e, mais recentes, os livros intitulados Prefixação na língua portuguesa contemporânea (2019) e Português brasileiro e português europeu: um diálogo de séculos (2022) — por ela coordenado —. Ademais, orientou várias dezenas de dissertações de mestrado e doutorado e supervisionou diversos estudos de pós-doutorado. Tem colaborado em investigações e atividades acadêmicas com universidades estrangeiras, nomeadamente do Brasil, da China, da Espanha, da França e de Moçambique. É membro de diversos grupos de pesquisa, em Portugal, em outros países europeus e no Brasil (USP, UFBA). Trata-se, em suma, de uma das mais respeitadas investigadoras de sua área de atuação no âmbito lusófono, sendo, indubitavelmente, o maior expoente nos estudos em morfologia lexical em terras portuguesas e uma das mais importantes nesse campo em todo o mundo ocidental.

Apresentação

Esta entrevista, concebida como um conciso diálogo, além de oferecer aos pesquisadores e interessados pela morfologia do português uma síntese do pensamento de uma das maiores morfólogas dessa língua a respeito de algumas questões de interesse à área, servirá, igualmente, como um devido tributo de reconhecimento à sua brilhante e inspiradora carreira de cinco décadas dedicadas à Linguística, nomeadamente à formação de palavras no vernáculo. Espera-se que as questões reproduzidas sejam proveitosas aos leitores deste registro, permitindo condensar o entendimento da Dra. Graça Rio-Torto sobre alguns aspectos importantes do domínio dos estudos linguísticos em geral e morfológicos em particular.

MAILSON LOPES: É consabido que há fenômenos que, embora não sejam raros nem pouco importantes no funcionamento da(s) língua(s), são relegados à margem na investigação linguística, nunca ou quase nunca figurando como objeto de estudo científico nas pesquisas propostas ou empreendidas na área (Joseph, 1997JOSEPH, B. D. On the linguistics of marginality: the centrality of the periphery. Chicago Linguistic Society, Chicago, n. 33, p. 197–213, 1997.; Dingemanse, 2017DINGEMANSE, M. On the margins of language: ideophones, interjections and dependencies in linguistic theory. In: ENFIELD, N (ed.). Dependencies in language. Berlin: Language Science Press, 2017. p. 195–203. Disponível em: https://pure.mpg.de/rest/items/item_2346185_10/component/file_2444986/content. Acesso em: 6 fev. 2023.
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). Seriam marginalia na ciência linguística. Em seu parecer, quais são os fenômenos ou temas em morfologia lexical do português que se enquadrariam nessa situação e que mereceriam, por conseguinte, uma maior atenção pelos estudiosos da área?

GRAÇA RIO-TORTO: Antes de começar, permita-me, estimado Mailson, que agradeça a sua imensa generosidade para comigo, a iniciativa desta entrevista, que muito me honra e que tenho o maior prazer em conceder, desde logo porque nos permite aproximar mais ainda, como pesquisadores e como amigos. Recordo com saudade o ano académico em que esteve a trabalhar arduamente na Universidade de Coimbra, elaborando a sua dissertação de doutorado, orientada pela Prof. Juliana Soledade (UFBA) e por mim, ano esse que nos possibilitou estreitar as nossas relações profissionais e pessoais.

Agora respondendo à sua pergunta: na vida, como na ciência, não aprecio nada constatar que há setores, fenómenos, ou factos relegados para a marginalia. Na acepção de Dingemanse (2017DINGEMANSE, M. On the margins of language: ideophones, interjections and dependencies in linguistic theory. In: ENFIELD, N (ed.). Dependencies in language. Berlin: Language Science Press, 2017. p. 195–203. Disponível em: https://pure.mpg.de/rest/items/item_2346185_10/component/file_2444986/content. Acesso em: 6 fev. 2023.
https://pure.mpg.de/rest/items/item_2346...
, p. 195, tradução nossa), baseado em Joseph (1997)JOSEPH, B. D. On the linguistics of marginality: the centrality of the periphery. Chicago Linguistic Society, Chicago, n. 33, p. 197–213, 1997., “Marginalia são fenômenos tipologicamente corriqueiros que muitos linguistas consideram que podem ser ignorados sem prejudicar a investigação linguística. Não são raros, mas a prática linguística os coloca à margem por consenso.”1 1 No original: “Marginalia are typologically unexceptional phenomena that many linguists think can be ignored without harm to linguistic inquiry. They are not rare, but linguistic practice assigns them to the margin by consensus” (Dingemanse, 2017, p. 195). . Ora, trata-se de factos/fenómenos que não são excepcionais, mas que, por razões não científicas, são consensualmente ignorados pela comunidade académica. Abomino o preconceito, e o linguístico também. Por isso até me recuso a mencionar factos ou fenómenos que, por uma representação ou crença certamente não científica, estejam a ser — e muito menos mereçam ser — menos considerados pela investigação. Sendo o funcionamento de uma língua assente numa rede de interconexões espaldada em sistematicidade, diversidade e holisticidade, tudo nela importa, pelo que não podemos descartar factos ou dados ou polarizar os mais e os menos relevantes. Uma coisa é a maior ou menor representatividade dos factos, outra considerar que o seu contributo se situa em patamares inferiores (ou superiores) de relevância para o jogo da linguagem e da interação. Por exemplo: a mesóclise de clíticos que se regista na fala culta do português europeu, no futuro e no condicional (dir-lhe-ei, dir-lhe-ia, dir-se-ia, caber-te-á, caber-te-ia, falar-nos-emos, falar-nos-íamos, ver-vos-íamos) caberia neste conjunto de marginalia, pelo facto de ser restrito a tais contextos? E todas as múltiplas implicações teóricas que espoleta e a especificidade que comporta para a variante europeia da Língua Portuguesa?

MAILSON LOPES: Com base em sua experiência de décadas voltadas ao estudo e pesquisa em morfologia, quais seriam, em sua opinião, os temas ou aspectos mais complexos e difíceis de investigar e explicar na teoria morfológica?

GRAÇA RIO-TORTO: Em vez de teoria morfológica, eu preferiria falar de teorias morfológicas, pois tantas são, e nem sempre compatíveis entre si. Em todo o caso, tenho para mim que as teorias ou os modelos de análise (Morfologia Distribucional, Morfologia Construcional, etc.) passam, e os dados permanecem. Mas não há ciência sem quadros teóricos de referência. As teorias morfológicas variam em função das teorias da linguagem e, para mim, não descarto a possibilidade de todas conterem aspectos ou perspectivas relevantes. Quem assistiu, como eu, ao confronto entre teorias sincronicistas e teorias historicistas, aos combates acesos entre estruturalistas e gerativistas ou entre funcionalistas e pragmaticistas, ao dealbar da Linguística Cognitiva, da Gramática das Construções, da Morfologia Construcional e, mais recentemente, da Morfologia Relacional, não pode deixar de se congratular pela diversidade teórica disponível, e pela inerente dificuldade de situar a teoria morfológica no seio de uma teoria da linguagem que faça jus ao lugar que a morfologia tem em muitas línguas e, ao mesmo tempo, não descure as demais componentes da gramática explícita e mental. O lugar da morfologia na arquitetura e no funcionamento das línguas, (n)a sua rede de correlações com a sintaxe, a semântica, a pragmática, continuam a ser aspetos de grande complexidade para qualquer teoria morfológica. Mais do que investigar morfologia, eu gosto de dizer que estudo os processos e os padrões de construção lexical. Um tal estudo envolve morfologia, semântica, sintaxe, pragmática, história da língua, num todo que denominei na tese de doutoramento (Rio-Torto, 1993) de polidimensional e interativo. Assim, em termos de teoria da linguagem, a arquitetura desta, o espaço e a interação entre fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, pragmática, o modo como essas interconexões se processam, hão de por certo congregar muita pesquisa por muitos anos. Num domínio mais micro, as categorias de fronteira, como preposições e prefixos, radicais eruditos, splinters e compostos, compostos e sintagmas, são zonas de grande efervescência empírica e teórica que continuarão a suscitar grande investimento por parte dos linguistas.

Mas há ainda dimensões de grande relevo e alcance que envolvem a morfologia, e que não posso deixar de mencionar. Há zonas essenciais de investigação linguística que requerem equipas multidisciplinares, os que dizem respeito ao modo como se processa a aquisição do léxico (mesmo que da língua materna), o processamento das unidades lexicais, a sua memorização, o acesso às mesmas, e que são áreas que certamente vão continuar a ser amplamente exploradas, beneficiando-se dos contributos do conhecimento em morfologia, ao mesmo tempo que o amplificam e densificam. A inteligência artificial aplicada às línguas naturais não prescinde dos dados e dos mecanismos com os quais operam a morfologia e a sintaxe das línguas. Sendo domínios de grande complexidade, até porque muito interdisciplinares, representam, conjuntamente com a Biologia da linguagem e a Neurolinguística, zonas de conhecimento da maior relevância para melhor conhecer o funcionamento do ser humano.

MAILSON LOPES: Em seu trânsito por diversas instituições e países estrangeiros, além de suas fortes ligações com o Brasil, Moçambique e China, chama a atenção o seu vigoroso diálogo com morfólogos da Espanha, o que ultimamente ficou demonstrado, por exemplo, por haver ministrado a conferência inaugural do XII Encuentro de Morfólogos de España (Santiago de Compostela, 2016) e por ter sido a senhora (juntamente com o Prof. Ramón Mariño Paz) a autora da seção In memoriam ao célebre Prof. Jesús Pena (1947-2021) — um dos maiores morfólogos espanhóis — no mais recente número da revista Verba (nº 49, 2022), que este dirigira. Poderia comentar mais pormenorizadamente as suas experiências acadêmico-intelectuais com morfólogos espanhóis? E que lhe parece a realização e desenvolvimento de pesquisas e estudos romanísticos no âmbito da morfologia lexical, nomeadamente os de natureza comparativa entre o português, o galego e o espanhol?

GRAÇA RIO-TORTO: A minha experiência acadêmico-intelectual com morfólogos espanhóis foi e continua sendo muito enriquecedora, tanto do ponto de vista académico, como pessoal.

Quando comecei a ensinar na Universidade de Coimbra, em 1979, fiquei encarregada de uma unidade curricular anual de 1º ciclo, Fonética e Morfologia do Português. Na minha formação académica de Filologia Românica, as matérias de morfologia, sintaxe, semântica e pragmática estavam ausentes. Coube-me, assim, inaugurar a concepção e programação de um módulo semestral de Morfologia. À época, poucos eram os estudos não historicistas disponíveis sobre morfologia do português hodierno, pelo que, além do livro seminal de M. Aronoff (1976)ARONOFF, M. Word formation in generative grammar. Cambridge: The MIT Press, 1976., me socorri dos ensinamentos de Mattoso Câmara Jr., e das publicações de Jesús Pena Usos anómalos de los sustantivos verbales en el español actual (1976) e La derivación en español: verbos derivados y sustantivos verbales (1980). Começou então um intenso diálogo de décadas com o estimado amigo Jesús Pena, ao qual se juntaram outros nomes grandes da morfologia espanhola, como Soledad Varela e seus discípulos, até aos numerosos e prolíficos estudiosos da morfologia congregados na Red Temática Española de Morfología (RETEM),2 2 Disponível em: http://hispanicasuam.es/RETEM/. Acesso em: 2 dez. 2023. da qual o grupo que coordeno da Universidade de Coimbra também faz parte. São da maior relevância os ensinamentos e a interação estabelecidos com colegas e estudantes das diversas universidades espanholas representadas nesta Red Temática. Além dos Encontros Anuais de Morfologia, dispomos de (e facultamos o) acesso a investigadores e a investigação de excelência na área específica, nela podemos participar, o que é uma mais-valia ímpar na nossa vida universitária e na nossa mundividência interpessoal. O intercâmbio de saberes tem sido constante, manifestando-se a vários níveis, e sempre foi bem acolhido pelo CELGA-ILTEC,3 3 Disponível em: http://celga-iltec.uc.pt. Acesso em: 2 dez. 2023. o centro de investigação a que pertenço desde sempre.

O contacto estreito com colegas universitários de vários países europeus tem sido igualmente intenso no âmbito da Red Temática Lengua y Ciencia,5 5 Disponível em: http://www.usp.br/gmhp. Acesso em: 2 dez. 2023. coordenada por Cecilio Garriga, da Universitat Autònoma de Barcelona. Esta Rede Temática europeia integra diversos grupos de pesquisa de várias universidades e, no que ao grupo português diz respeito, tem por objetivo estudar e dar a conhecer os léxicos da Ciência e da Técnica ao longo dos séculos, em diferentes universos culturais, suas conexões e suas interferências. Na sequência de um dos encontros regulares desta Rede Temática, e que foi organizado pelo grupo da Universidade de Coimbra, foi publicado o volume Léxico de la Ciencia: tradición y modernidad (Rio-Torto, 2012RIO-TORTO, G. (ed.). Léxico de la Ciencia. München: Lincom Europa, 2012. Disponível em: https://www.Lenguayciencia.net/publicaciones/l%C3%A9xico-de-la-ciencia-tradici%C3%B3n-y-modernidad/#gsc.tab=0. Acesso em: 5 fev. 2023.
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). Mais recentemente, saiu a lume em Barcelona, pela Tremédica, o volume El portugués de especialidad en las ciencias de la salud y de la vida (Rio-Torto; Rodrigues, 2020RIO-TORTO, G.; RODRIGUES, A. (ed.). El portugués de especialidad en las ciencias de la salud y de la vida. Panace@, Barcelona, v. 21, n. 52, p. 1–2, 2020.), que reúne contributos de colegas de Coimbra, do Brasil e de Évora para o conhecimento de alguns léxicos de especialidade das ciências da saúde e da vida.

Relativamente ao último aspecto que menciona, são de importância vital os estudos romanísticos de morfologia lexical consagrados à descrição de natureza comparativa entre o português, o galego e o espanhol. Como a sua dissertação de doutoramento bem evidencia, e deixe-me que a cite — Estudo histórico-comparativo da prefixação no galego-português e no castelhano arcaicos (séculos XIII-XVI): aspetos morfolexicais, semânticos e etimológicos (Lopes, 2018LOPES, M. Estudo histórico-comparativo da prefixação no galego-português e no castelhano arcaicos (séculos XIII a XVI): aspectos morfolexicais, semânticos e etimológicos. 2018. 5 v. 2430 f. Tese (Doutorado em Linguagem e Cultura; Doutoramento em Linguística do Português) — Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador; Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/29879. Acesso em: 6 fev. 2023.
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), doutoramento em regime de cotutela entre a Universidade Federal da Bahia (Doutorado em Língua e Cultura) e a Universidade de Coimbra (Doutoramento em Linguística do Português) —, na génese do castelhano, do galego e do português atuais estão o castelhano arcaico e o galego-português, pelo que as inflexões, os contactos e as interferências que de então para cá as línguas registaram são cruciais para a compreensão do atual funcionamento das mesmas. Os estudos romanísticos, que no século XX, deixaram de ter a preferência dos pesquisadores, estão aos poucos a retomar o lugar que merecem no espectro da investigação interlinguística.

MAILSON LOPES: Suas conexões com linguistas brasileiros são antigas e muito frutíferas, perdurando até hoje. Poderia nos oferecer um comentário sobre tais parcerias? E mais: de suas idas e vindas ao Brasil, bem como de sua atenta observação sobre a morfologia do português brasileiro, quais aspectos apontaria como mais salientes (quer por sua similitude, quer por sua dissimilitude) aquando de uma análise comparada entre, de um lado, os processos morfolexicais deste e, do outro, os mecanismos léxico-morfológicos do português europeu?

GRAÇA RIO-TORTO: Os meus contactos com a produção científica brasileira recuam à Licenciatura, pois nela aprendemos a conviver com nomes maiores da Filologia e da Linguística brasileiras, como Serafim da Silva Neto, Said Ali, Mattoso Câmara, Evanildo Bechara (com quem depois tive o privilégio de conviver, quando foi docente por uns anos na Universidade de Coimbra), para referir apenas alguns. Quando comecei a investigar em morfologia e formação de palavras, tive contacto com a produção de Antônio José Sandmann (Formação de palavras no português brasileiro contemporâneo, 1988) e com a de Margarida Basilio (1987)BASILIO, M. Teoria lexical. São Paulo: Ática, 1987., que no ano de 1987 me enviou, com uma dedicatória, o seu seminal Teoria Lexical. Não nos conhecíamos ainda ao vivo, mas já trocávamos correspondência, enviando eu os meus primeiros textos e solicitando a sua opinião, a Prof. Margarida remetendo os seus artigos que ia publicando. Nessa altura já eu estava a começar a ser orientada pela minha querida Profa. Danielle Corbin, da Universidade de Lille, que em 7 de janeiro de 1987 defendeu a sua tese de doutoramento, e a cujo grupo SILEX, que fundou e dirigiu com maestria, pertenci até a sua prematura morte. Orgulho-me muito de ter divulgado no Brasil o pensamento da minha grande mestra, então pioneiro para o mundo de língua portuguesa, tendo enviado a tese a colegas como Margarida Basilio, Maria Tereza Biderman, e a bibliotecas como a da USP e a da UNESP (Araraquara), onde lecionei em 1996. Com esta experiência letiva, no Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências e Letras — Campus de Araraquara da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, tive ensejo de privar mais de perto com três docentes maiores da Linguística Brasileira, a quem rendo aqui a minha homenagem: Maria Helena de Moura Neves, Maria Tereza Camargo Biderman e Ieda Maria Alves. De todas recebi amizade que permanece para a vida. Ao mesmo tempo, foi possível começar a aplicar a teoria de Danielle Corbin, que eu então seguia com algumas adaptações, ao português do Brasil, uma vez que esse semestre letivo está na génese de algumas dissertações de doutorado. Os contactos com o Brasil foram-se intensificando, quer com a USP, quer com a UFBA. Na sequência do seu pós-doutoramento, sob minha supervisão, na Universidade de Coimbra, o Prof. Mário Viaro, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa (NEHiLP), da Universidade de São Paulo (USP), dirigiu-me o convite para ser consultora científica do Grupo de Morfologia Histórica do Português.5 5 Disponível em: http://www.usp.br/gmhp. Acesso em: 2 dez. 2023. Da nossa interação, destaco os projetos de pesquisa em mente, a formação de pós-graduandos, a frutuosa experiência de orientação conjunta de teses de doutorado e a avaliação de outras em júris/bancas transatlânticas. A colaboração com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) teve início com o contacto da saudosa Profa. Rosa Virgínia Mattos e Silva para coorientar, na Universidade de Coimbra, a Profa. Juliana Soledade e a Profa. Antonia Vieira dos Santos, que trabalharam sobre padrões de formação lexical no português arcaico, com as respectivas teses Semântica morfolexical: contribuições para a descrição do paradigma sufixal do português arcaico (Soledade, 2004SOLEDADE, J. Semântica morfolexical: contribuições para a descrição do paradigma sufixal do português arcaico. 2004. Tese (Doutorado em Letras e Linguística) — Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2004. 2 v. Disponível em: https://www.prohpor.org/julianasoledade. Acesso em: 14 dez. 2023.
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) e Compostos sintagmáticos nominais VN, NN, NA, AN e NPrepN no português arcaico (sécs. XIII-XV) (Santos, 2009SANTOS, A.V. dos. Compostos sintagmáticos nominais VN, NN, NA, AN e NPrepN no português arcaico (sécs. XIII-XV). 2009. Tese (Doutorado em Letras) — Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2009. 2 v. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/11221. Acesso em: 5 fev. 2023.
https://repositorio.ufba.br/handle/ri/11...
). Mais recentemente ainda, tive ocasião de co-orientar, com a Profa. Juliana Soledade, este ilustre entrevistador, Mailson Lopes, cuja tese de doutorado, intitulada Estudo histórico-comparativo da prefixação no galego-português e no castelhano arcaicos (séculos XIII a XVI): aspetos morfolexicais, semânticos e etimológicos (Lopes, 2018LOPES, M. Estudo histórico-comparativo da prefixação no galego-português e no castelhano arcaicos (séculos XIII a XVI): aspectos morfolexicais, semânticos e etimológicos. 2018. 5 v. 2430 f. Tese (Doutorado em Linguagem e Cultura; Doutoramento em Linguística do Português) — Instituto de Letras, Universidade Federal da Bahia, Salvador; Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/29879. Acesso em: 6 fev. 2023.
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), foi selecionada pelo Programa de Pós-Graduação em Língua e Cultura (PPGLINC/UFBA) para concorrer ao Prêmio CAPES de Teses — Edição 2019. Um projeto em que participo com bastante interesse é o do Novo Dicionário de Nomes em Uso no Brasil6 6 Disponível em: https://dicionariodenomesdobrasil.com.br. Acesso em: 2 dez. 2023. , coordenado por Juliana Soledade.

No panorama da morfologia brasileira, outro nome destacado, e com quem tenho tido o privilégio de privar, é o do Prof. Carlos Alexandre Gonçalves, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), líder do Núcleo de Estudos Morfológicos do Português e grande impulsionador da Morfologia Construcional no Brasil. Com este prezado colega tive ocasião de coordenar um simpósio sobre estudos morfológicos, que deu origem ao dossiê de Língua (p. 147-568) do volume 23 da Revista Diadorim (Gonçalves; Rio-Torto; Tavares, 2021). Sendo neste momento dominante, no Brasil, a Gramática das Construções aplicada à morfologia, torna-se claro que os estudos que fazemos em parceria com os colegas brasileiros muito beneficiam deste influxo teórico. Não rejeito este modelo, até porque assisti a alguns dos primeiros debates teóricos entre D. Corbin e G. Booij sobre as emergentes conceções de Morfologia Construcional do eminente linguista holandês. Mas como sou intrinsecamente avessa a constrições teóricas, prefiro manter a minha autonomia conceptual que permite a incorporação do que, em cada constructo teórico, considero explicativamente relevante.

Relativamente ao último ponto que me coloca, sobre quais aspectos mais salientes entre os processos morfolexicais do PB e os do PE, começo por dizer que fazer generalizações sem uma base estatística sólida é sempre um processo delicado e arriscado. Não é possível comparar a mole de construções lexicais disponíveis no Brasil com as de Portugal, a menos que carreemos para o cômputo lusitano as unidades lexicais coligidas nos muitos séculos de história que Portugal tem. Em todo o caso, tratando-se da mesma língua, os processos genolexicais não hão de ser globalmente muito diferentes, sob pena de rutura. A língua portuguesa falada no Brasil é, como o castelhano nas Américas, ou o inglês nos EUA ou na Austrália, mais inovadora e tendencialmente menos complexificada que a variante-fonte que está na sua génese. Tal não significa que a morfologia lexical seja muito diversa, em termos de processos e de padrões construcionais, coexistindo em ambos os países derivação (por sufixação ou por prefixação), composição, cruzamento ou fusão lexical, truncamento, etc. Acontece por vezes que no PB a escolha afixal recaia sobre um sufixo (-dor ou -ção, em apoiador e internação, por exemplo), quando no PE a escolha recai sobre -nte e -mento (apoiante, internamento). De igual modo, banheiro no Brasil denota WC, algo que no PE denominamos de ‘casa/quarto de banho’. Em Portugal, banheiro denominava, até meados dos anos 60 do século XX, um homem que, nas praias, exercia uma atividade de vigilância e, além disso, dava banho às crianças (via mergulho), quando solicitado. Hoje há os nadadores-salvadores, mas não exercem a função da dar banho a crianças. Em Portugal, banheiro também já denotou o WC, onde se tomavam banhos (por vezes públicos), mas assim já não é. O Brasil usa neste par o valor locativo-instrumental de -eiro, enquanto Portugal opta pelo valor agentivo. O splintering tem mais expressão no Brasil que em Portugal, e avaliar pela sua enorme representatividade, até mesmo com recurso a bases onomásticas, como o atesta Gonçalves (2020)GONÇALVES, C. A. Uma análise construcional das (de)formações lexicais com os nomes do atual chefe do executivo. Gragoatá, Niterói, v. 25, n. 52, p. 648–687, mai./ago. 2020. Disponível em: https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/40810/26452. Acesso em: 6 fev. 2023.
https://periodicos.uff.br/gragoata/artic...
, a propósito das formações lexicais com segmentos do nome do ex-presidente Bolsonaro.

Já no que diz respeito à morfossintaxe do Português Vernacular do Brasil, esta configura-se em rota de assinalável divergência com o Português Europeu hodierno. O livro Português brasileiro e português europeu: um diálogo de séculos (Rio-Torto, 2022a),7 7 Disponível em: https://cpclp.mpu.edu.mo/dialogo-de-seculos. Acesso em: 2 dez. 2023. publicado recentemente em Macau, que organizamos num dos cursos de doutoramento em que lecionei, sintetiza alguns dos domínios da morfossintaxe em que PE e PB mais divergem, codificando as diferentes condições antropológicas, históricas e culturais dos dois universos em contacto, desde 1500. Tendo sido palco de tantas miscigenações e de tantos contactos interlinguísticos, natural era que o Brasil adotasse construções e estruturas mais despojadas da complexidade inerente a uma variante-fonte mais antiga e, em alguns aspetos, mais conservadora e mais complexa.

MAILSON LOPES: Desde a sua tese de doutoramento (1993), e com continuação nas demais publicações e preleções realizadas, a senhora vem sendo uma das vozes que mais constante e eloquentemente tem atuado na defesa da imprescindibilidade da consideração do componente histórico da língua para um entendimento e uma explicação mais atilados da formação de palavras no vernáculo. Poderia sintetizar aqui as suas considerações a respeito desse posicionamento epistemológico?

GRAÇA RIO-TORTO: Em tudo na vida, e a língua faz parte dela de modo bem visceral, não há presente e futuro sem passado. Desconsiderar a génese, o devir diacrónico, a variação e a mudança inerentes aos factos e processos linguísticos seria uma insensatez epistemológica. O fator histórico permeia os materiais linguísticos. Tal assunção não retira legitimidade a estudos dominantemente sincronicistas, seja de que época for ou, no limite, até mesmo a estudos assentes numa leitura a-histórica da língua e que dela abstrai a dimensão temporal. Mas o Mailson concederá que a consideração de aspectos pretéritos de um dado constructo ou processo linguístico não empobrece o seu entendimento. Muitas vezes faz luz sobre os mesmos, ajuda a explicar algumas das suas particularidades, podendo mesmo ser cruciais para explicar a sua configuração e/ou o seu funcionamento. Na reflexão sobre factos morfológicos e lexicais, o influxo da história faz-se sentir de forma especialmente premente, mas nem todos têm formação e/ou interesse em o explorar. Acresce que as hipóteses sobre os dados pretéritos nem sempre são fiáveis ou validáveis, mas tal também acontece com a preditibilidade que atribuímos a certos fenómenos. Enfim, tendo eu sido formada na Universidade de Coimbra, uma instituição fundada em 1290, com inegável renome na história da língua portuguesa e desde sempre com um papel fulcral na formação de intelectuais brasileiros, tendo eu convivido de perto com a Profa. Rosa Virgínia Mattos e Silva, e tendo eu cursado Filologia Românica, não seria natural que eu fosse uma acérrima defensora do sincronicismo que dominou as tendências de meados do século passado. Definitivamente, a percepção do fluxo histórico como uma variável de valor heurístico é para mim incontornável, e é-o tanto mais quanto observamos os seus frutos na análise intralinguística e interlinguística.

MAILSON LOPES: Embora o seu interesse tenha sido inicialmente voltado ao estudo da sufixação, em seu recente livro intitulado Prefixação na língua portuguesa contemporânea (Rio-Torto, 2019RIO-TORTO, G. Prefixação na língua portuguesa contemporânea. São Paulo: Cortez, 2019.), a senhora discorre, em mais de 200 páginas, sobre esse mecanismo de adjunção afixal à esquerda vocabular, que sempre foi menos estudado que a sufixação. Pois bem: o que a levou a debruçar-se recentemente sobre a prefixação e quais aspectos gostaria de salientar a respeito desse processo morfolexical em português?

GRAÇA RIO-TORTO: Quando iniciei a minha pesquisa sobre mecanismos avaliativos em português, que culminaram na minha tese de doutoramento, procurei estudar não apenas os processos e os padrões sufixais, mas também os prefixais, pois sempre tive presente que estes também atuam na avaliação, seja quantitativa, seja qualitativa. Tanto quanto os sufixos -inho, -aço ou -eco, os prefixos super-, supra-, infra-, semi- codificam avaliação de uma propriedade, entidade ou evento (semi-rígido, infra-humano, supra-ordenar, super-homem). O meu interesse pelos prefixos está, portanto, presente desde os primórdios da minha investigação. Esse interesse adensou-se à medida em que eu avancei para a identificação dos grandes padrões ou paradigmas semântico-derivacionais (a que na altura chamei Regras de Construção de palavras) que espaldam o funcionamento do léxico: os nomina agentis, os nomina actionis, os nomes essivos ou abstratos deadjetivais, os nomes instrumentais, os nomes locativos, os adjetivos relacionais, os verbos denominais e deadjetivais e suas subclasses, etc. Fiz então uma reflexão, que prosseguiu o seu curso, já depois de publicado o tal livro Prefixação na língua portuguesa contemporânea, e que será dada à estampa em breve, que se prende com as áreas temáticas que a prefixação recobre e que coincidem, ou não, com as que a sufixação codifica, em português. Devo dizer, de resto, que me fascina mais a semântica do que a morfologia em sentido estrito, pois são o semantismo e a sintaxe que, juntamente com as demais componentes da língua, fazem mover a intercomunicação. Tenho para mim, e cada vez mais convictamente, que os morfemas estão ao serviço de variáveis semânticas, e não o inverso. De resto, há afixos e até processos genolexicais que são transversais a vários domínios semânticos. Essa percepção, que os estudos cognitivistas têm procurado explorar, já existe em mim desde há muito, e de resto já se vislumbra nos neogramáticos, que têm das línguas românicas uma visão muito ampla e muito macro. Mas não gosto de me circunscrever a uma perspetiva exclusivamente semântico-cognitiva do léxico: há dimensões sociais, geolinguísticas, culturais, que são por demais importantes, e que infletem as gramáticas de uma mesma língua-fonte, como acontece com o Português do Brasil e com o Português Europeu usado no Brasil antes da independência deste. Alguns estudos que incidem sobre as continuidades e descontinuidades entre o Português do Brasil e o de Portugal, todos disponíveis on-line,8 8 Disponível em: https://orcid.org/0000-0002-1525-0737 e https://www.researchgate.net/profile/Graca-Rio-Torto. Acesso em: 2 dez. 2023. valorizam as dimensões culturais que travejam as variantes nacionais brasileira e lusitana, cujas identidades são indissociáveis das suas circunstâncias históricas e culturais, no sentido mais amplo destes adjetivos. Permita-me que mencione alguns estudos que se debruçam sobre a morfossintaxe do Português do Brasil e de Portugal, como Desafios do português ‘popular’ do Brasil no século XXI (Rio-Torto, 2021RIO-TORTO, G. Desafios do português ‘popular’ do Brasil no século XXI. Labor Histórico, Rio de Janeiro, v. 7, p. 254–281, 2021. Número especial — Revisitações à obra de Rosa Virgínia Mattos e Silva. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/lh/article/view/41277. Acesso em 6 fev. 2023.
https://revistas.ufrj.br/index.php/lh/ar...
) e Português brasileiro e português europeu: um diálogo de séculos (Rio-Torto, 2022a); sobre o léxico de ambas as variantes, brasileira e lusitana, menciono Caminhos de renovação lexical: fronteiras do possível (Rio-Torto, 2007RIO-TORTO, G. Caminhos de renovação lexical: fronteiras do possível. In: ISQUERDO, A. N.; ALVES, I. M. (org.). As ciências do léxico: Lexicologia, Lexicografia e Terminologia. Campo Grande: Editora da Universidade Federal de Mato Grosso; São Paulo: Humanitas, 2007. v. 3. p. 23-39. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/20620. Acesso em: 5 fev. 2023.
https://estudogeral.uc.pt/handle/10316/2...
), Léxico, renovação, representações no Brasil e em Portugal (Rio-Torto, 2015RIO-TORTO, G. Léxico, renovação, representações no Brasil e em Portugal. In: VALENTE, A. C. (ed.). Unidade e variação da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Parábola: 2015. p. 10–28.), Regência preposicional no Português do Brasil e de Portugal: um olhar não normativo (Rio-Torto, 2017RIO-TORTO, G. Regência preposicional no português do Brasil e de Portugal: um olhar não normativo. In: MOURA NEVES, M. H.; BARROS, D. L. P. de (org.). A gramática e seu interfaceamento com os campos de atuação na comunidade. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2017. p. 201–224.), Plasticidade textual/discursiva: mecanismos de reanálise (Rio-Torto, 2020a), Renovação do Léxico no Português brasileiro e europeu. Da neologia técnico-científica à neologia expressiva, humorística, lúdica (Rio-Torto, 2020b), Rumos de mudança na gramática e no léxico (Rio-Torto, 2022b), Valores e usos do diminutivo -inho no português europeu e no português do Brasil (Rio-Torto, 2022c). Peço desculpa pela listagem, que deixo, não por vaidade, mas por observar que muitos dos estudos que são elaborados em Portugal sobre a língua portuguesa, seja brasileira, seja europeia, são desconhecidos ou ignorados por muitos pesquisadores brasileiros, o que acho empobrecedor, sendo esta assunção válida multidirecionalmente. Não admito que alunos meus desconheçam o que se produz no Brasil sobre o aspecto da língua portuguesa que estão a analisar. O mesmo se aplica a outra língua ou variedade linguística. Mas é uma tendência que se faz sentir não apenas nas ciências sociais e humanas, talvez devido ao excesso de materiais com que hoje em dia somos confrontados. Mas entre os pólos opostos há um meio termo, que julgo ser de cultivar.

MAILSON LOPES: Nestes últimos cinco anos, a senhora também tem se dedicado à antroponímia lusitana, em comparação com a brasileira. Como vê o desenvolvimento dos estudos antroponímicos de um lado e doutro do Atlântico e até que ponto podem ser estruturados e levados a cabo em uma zona de intersecção com os estudos morfológicos?

GRAÇA RIO-TORTO: Os estudos sobre onomástica ganharam nas últimas décadas um foco renovado, e que muito me apraz. Por força dos estudos derivacionais, havia-me interessado sobre toponímia, mas nunca escrevi nada sobre a temática. Graças ao repto da Profa. Juliana Soledade, da UFBA/UnB, que em boa hora se lançou no projeto sobre nomes em uso no Brasil,9 9 Disponível em: https://dicionariodenomesdobrasil.com.br. Acesso em: 2 dez. 2023. foi possível constituir uma pequena equipa em Coimbra que se encontra a trabalhar sobre aspectos da recepção de nomes brasileiros em Portugal e da transferência de nomes portugueses para o Brasil. Comecei por analisar o Estatuto de <y> nos antropónimos brasileiros (Rio-Torto, 2022d), pois procurava saber se se tratava de um morfema, introduzido por influência externa, ou de uma variante gráfica, hipótese que se afigura mais conforme. Foi publicado em julho de 2023 um estudo sobre Renovação da antroponímia em Portugal. O que os dados dos séculos XX e XXI mostram (Rio-Torto, 2023)RIO-TORTO, G. Renovação da antroponímia em Portugal. O que os dados dos séculos XX E XXI mostram. Estudos da Língua(gem), [Vitória da Conquista], v. 21, n. 1, p. 62-82, 2023. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/estudosdalinguagem/article/view/10088. Acesso em: 9 nov. 2023.
https://periodicos2.uesb.br/index.php/es...
. Nele se atesta a enorme variação gráfica introduzida no onomástico português coevo, e a respetiva renovação antroponímica em curso, por força da recente vaga de imigração brasileira em território lusitano. Estão em curso estudos sobre os nomes de portugueses emigrados para o Brasil na primeira metade do século XX.

MAILSON LOPES: Há mais de 40 anos que a senhora tem se dedicado a estudar a morfologia lexical do português. Ao fazer mentalmente uma retrospectiva, quais diferenças observa entre os estudos que se faziam na década de 1980, nas seguintes e na década atual? Em outras palavras, nota-se uma evolução ou uma transformação no conjunto dos estudos, investigações e interesses nessa área durante as últimas quatro décadas?

GRAÇA RIO-TORTO: Nos anos 80, as preocupações teóricas situavam-se em algumas vertentes dominantes, ainda que não exclusivas: na senda de uma forte contracorrente face ao estruturalismo precedente, imperava um gerativismo bastante generalizado, atento aos processos e à sintaxe das línguas, com o qual ombreavam a sociolinguística, a antropolinguística, um funcionalismo renovado, a linguística de texto e de discurso, a pragmática; ao mesmo tempo germinavam tendências mentalistas e cognitivistas, que floresceram nas atuais gramáticas das construções e das relações. Com um aparato conceptual e formal parcialmente inovador, a Gramática das Construções e das Relações é herdeira do muito que se inovou nas últimas décadas. O aporte da informática no armazenamento e processamento de dados, da linguística de corpora, os valiosos contributos da psicolinguística e da neurolinguística permitem um conhecimento inter- e transdisciplinar que há quarenta anos eram impensáveis. Recordo que até ao início dos anos 1990 a comunicação fazia-se por carta, o acesso a textos — sobretudo os não comercializados — das bibliotecas era exclusivamente presencial, pelo que todas as deslocações que fiz na Europa, Brasil e Ásia foram de crucial importância para recolha de materiais bibliográficos. E agradeço profundamente a todos os colegas o envio de materiais, por correio, em xerocópia ou no original, que permitiram o contacto com as novidades que entre nós intercambiávamos, na medida das redes de relações que conseguíamos estabelecer. Com a evolução dos conhecimentos, alargaram-se naturalmente as perspectivas de enfoque, os objetivos e as preocupações. Mas muitas das questões essenciais sobre alguns factos linguísticos permanecem por esclarecer, e ainda bem que assim é, para que a curiosidade e a pesquisa prossigam.

MAILSON LOPES: Uma vez mais, os nossos sinceros agradecimentos pela sua disponibilidade em participar desta entrevista. Não querendo abusar de sua disponibilidade, mas contando com a sua manifesta generosidade, gostaríamos de lhe pedir que, neste último ponto, tecesse algumas considerações finais e, se possível, indicasse para os leitores deste texto, sugestões de rotas metodológicas, posturas epistemológicas e orientações práticas para melhor conhecer e melhor estudar e investigar o léxico e a morfologia da língua portuguesa.

GRAÇA RIO-TORTO: A primeira sugestão que deixo aos interessados mais jovens em investigar sobre léxico e morfologia da língua portuguesa é a de que leiam os materiais de referência mais próximos de nós no tempo, como os de Ataliba de Castilho, Maria Helena de Moura Neves, Rosa Virgínia Mattos e Silva, Margarida Basilio, Carlos Alexandre Gonçalves, Mark Aronoff, Geert Booij, Ray Jackendoff, Jenny Audring, Antonio Fábregas, Soledad Varela, para mencionar alguns dos mais renomados, mas também que recuem aos neogramáticos, como Diez ou Meyer-Lübke, ou aos gramáticos e filólogos mais tradicionais, como Said Ali, José Joaquim Nunes, Carolina Michaelis de Vasconcelos, para de todos beberem saberes de diferentes fases diacrônicas que, se bem interrelacionados, acabam por se complementar. Outra sugestão, esta de natureza empírico-metodológica, prende-se com o primado dos materiais, e não dos quadros teóricos. Temos de ter a humildade de deixar os dados falar por si mesmos, ainda que venham contradizer hipóteses que colocámos como mais plausíveis ou saberes dados por adquiridos. Nada é imutável, como de resto se constata quando encaramos a língua como um sistema herdado e em movimento.

Esta concepção entronca com uma outra, em que funcionamento sincrônico e fluxo histórico se permeiam e se intercondicionam. Muito se tem evoluído no conhecimento dos fundamentos biológicos da linguagem, mas muito há ainda por investigar em áreas de extrema importância como as da neurobiologia da linguagem, da cognição e linguagem, da aquisição das línguas, da evolução e mudança das línguas. Será do maior interesse que as descrições de cada língua estejam avançadas o mais possível para bem servir a biolinguística, a neurolinguística, a sociolinguística cognitiva, entre outras áreas de interesse vital para a comunicação em linguagem natural dos (e entre os) seres humanos. Por fim, e no que diz respeito à língua portuguesa, nas suas diversas modalidades nacionais transoceânicas, seria de grande utilidade avançar no conhecimento de todas as suas manifestações na África, na América e na Europa, descrever as convergências e divergências que as interligam, no respeito de todos os sectores da língua, sejam os léxicos de especialidade ou os dialectalismos menos representados, sejam os sociolectos mais e menos prestigiados, sejam as construções mais complexas ou as mais defectivas, sejam as mais ou as menos ortodoxas. Todas têm legitimidade linguística e todas têm a sua razão de ser, que cânone algum consegue contornar. Dar a conhecer para saber diferenciar e ser capaz de optar em consciência é um caminho. Para tal, torna-se necessário ter agentes educativos com boa formação técnico-profissional e, a montante, investigação de qualidade que alimente novas práticas e saberes. O conhecimento tem um valor ímpar, e não penso no económico. Saibamos nós cultivá-lo.

A concluir, permitam-me um agradecimento sentido a todos os alunos e colegas, de todas as latitudes, com que tenho tido o privilégio de conviver, pelos ensinamentos e incentivos que me proporcionaram. Ter (contado com) um capital humano de tanta qualidade é uma mais-valia ímpar, que guardo no meu coração. E à Universidade de Coimbra, pelo apoio constante a um tão longo percurso.

Agradecimentos

À Dra. Graça Rio-Torto — admirada linguista, sapiente mestra e caríssima amiga —, pela pronta disponibilidade e dilatada generosidade em conceder esta entrevista, por ocasião de sua aposentadoria como docente catedrática de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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    Disponível em: https://dicionariodenomesdobrasil.com.br. Acesso em: 2 dez. 2023.
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    Graça Maria de Oliveira e Silva Rio-Torto (Coimbra, 1956) é Professora Catedrática jubilada de Linguística da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde atuou como docente desde o ano de 1979. Graduou-se em Filologia Românica um ano antes, em 1978, e doutorou-se em 1993, tendo defendido a tese intitulada Formação de palavras em português: aspectos da construção de avaliativos. Obteve, em 2005, com aprovação por unanimidade, o seu título acadêmico de Agregação e, coroando a sua brilhante carreira, tornou-se Catedrática de Linguística da sua Alma Mater. Desempenhou inúmeros cargos e funções na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), entre os quais se destacam a coordenação científica do Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada — CELGA (1997-1999), a direção do Instituto de Língua e Literatura Portuguesas D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos (2000-2002), a fundação e a direção do Mestrado em Linguística e Ensino (2004-2006) e do Curso de Pós-Graduação Linguística e Ensino (2004-2005) — redenominados Curso de 2º Ciclo em Linguística (2004-2006) —, a direção dos Cursos de Português Língua Estrangeira da FLUC (2013-2016) e a direção do Curso de Doutoramento Linguística do Português (2018-2022). Com mais de meia centena de artigos e capítulos de livros publicados, figuram entre as suas principais obras o livro Morfologia derivacional: teoria e aplicação ao português (1998), a já clássica Gramática derivacional do português (1ª edição: 2013; 2ª edição: 2016) — por ela coordenada — e, mais recentes, os livros intitulados Prefixação na língua portuguesa contemporânea (2019) e Português brasileiro e português europeu: um diálogo de séculos (2022) — por ela coordenado —. Ademais, orientou várias dezenas de dissertações de mestrado e doutorado e supervisionou diversos estudos de pós-doutorado. Tem colaborado em investigações e atividades acadêmicas com universidades estrangeiras, nomeadamente do Brasil, da China, da Espanha, da França e de Moçambique. É membro de diversos grupos de pesquisa, em Portugal, em outros países europeus e no Brasil (USP, UFBA). Trata-se, em suma, de uma das mais respeitadas investigadoras de sua área de atuação no âmbito lusófono, sendo, indubitavelmente, o maior expoente nos estudos em morfologia lexical em terras portuguesas e uma das mais importantes nesse campo em todo o mundo ocidental.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Mar 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    28 Fev 2023
  • Aceito
    30 Set 2023
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