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Análises de livros

ANÁLISES DE LIVROS

STEREOTAXIC ATLAS OF THE HUMAN BRAINSTEM AND CEREBELLAR NUCLEI: A VARIABILITY STUDY. F. AFSHAR, E. S. WATKINS & J. C. YAP. Um volume (38,5x31) encadernado, com 248 páginas e 68 figuras de cortes seriados acompanhados de desenhos esquemáticos. Raven Press Publishers, New York, 1978. Preço: US$ 188,50.

O grande desenvolvimento assinalado na última década no que tange aos estudos sobre a potencialidade excitadora e inibidora das estruturas do tronco cerebral e dos núcleos cerebelares obriga ao conhecimento dimensional e topográfico exato destas estruturas, com vistas às possibilidades do tratamento mediante intervenções cirúrgicas estereotáxicas dos quadros dolorosos de origem central e, possivelmente, das hipertonias e hipercinesias. Este é o alvo deste livro que, sob a forma de atlas, com pouco texto e muita ilustração, é um repositório de dados de suma importância para os neurocirurgiões, para os neurofisiologistas e neuronatomistas e, também, para os neurologistas que gostarem de reforçar seus conhecimentos visando ao diagnóstico topográfico das lesões do mesencéfalo e do rombencéfalo. A presença deste atlas constituirá, certamente, a pedra de toque dos serviços neurológicos onde seja julgada imprescindível a interrupção de circuitos neuronais mal-funcionantes para a supressão de dores ou de alguns tipos de movimentação anormal.

O atlas foi elaborado por uma equipe de pesquisadores ingleses que utilizaram 30 cérebros humanos para estudar, com radiografias contrastadas e mediante estereotaxia, os limites da variabilidade dimensional nos planos vertical e horizontal, assim como as projeções anatômicas de cada estrutura considerada, sendo todos os dados analisados mediante tratamento estatístico. A meticulosidade da metódica empregada para o posicionamento das estruturas nucleares, o cuidado na seleção das ilustrações constituidas por cortes seriados complementados por desenhos esclarecedores, a detalhada análise estatística comparativa proporcionando exatidão às medições e dimensões divulgadas tornam este atlas de extrema utilidade, garantindo-lhe o lugar de peça marcante para o desenvolvimento científico da terapêutica intervencionista e da neurocirurgia funcional. O conteúdo foi dividido em 5 partes: 1) Técnicas utilizadas e tratamento estatístico dos resultados; 2) Medições das estruturas do tronco cerebral (núcleos e tractos); 3) Atlas estereotáxico do tronco cerebral; 4) Medições dos núcleos cerebelares; 5) Atlas estereográfico dos núcleos cerebelares. Bem elaborado índice final facilita as consultas.

O. LANGE

ATLAS DE CRISIS EPILEPTICAS. L. OLLER-DAURELLA E OLLER FERRER-VIDAL. Um volume (35x25) encadernado com 317 páginas, 15 esquemas( 82 traçados eletrencefalográficos e 51 figuras em cores. Publicado por Ciba-Geigy Divisão Farmacêutica, Barcelona, 1977.

Este atlas foi muito bem recebido nos meios científicos internacionais, estando em cogitação uma segunda edição expressamente para atender aos reclamos provindos de todas as partes do mundo. O interesse se justifica pela metódica adotada pelos autores expondo de maneira clara e insofismável as características clínicas e eletrencefalográficas das multiformes crises epilépticas, com acenos à terapêutica mais conveniente para cada caso em particular. Baseados em farta documentação clínica e cinematográfica pessoal, alicerçada em modernos métodos audio-visuais registradores, os autores, seguindo rigidamente as determinações internacionais quanto à classificação das epilepsias, estudam sucessivamente:

1 - as crises parciais com sintomatologia elementar (motoras, sensoriais, vegetativas e mixtas), as crises parciais com sintomatologia complexa (transtornos da consciência, sintomatologia cognitiva, distúrbios afetivos, distúrbios psico-motores e psicosensoriais), as crises parciais secundariamente generalizadass 2 - as crises generalizadas (ausências típicas e atípicas, mioclonias localizadas e massiças, espasmos em crianças, crises clônicas, tônicas e clônico-tônicas, crises acinéticas); 3 - as crises-unilaterais. Além de todo este material amplamente ilustrado ainda são feitas menções, para finalizar o livro, a crises epilépticas que, por falta de suficiente documentação, permanecem rotuladas como crises epilépticas não classificadas.

Trata-se, assim, de livro didático de grande alcance prático, de consulta obrigatória nos serviços de Epilepsia e nos institutos de Eletrencefalografia. Para a análise dos tipos clínicos, além da anamnese e do exame neurológico, foram empregadas a observação direta das crises, o registro cinematográfico, o registro em video-tape superpondo imagens das manifestações clínicas ao respectivo traçado eletrencefalográfico, e a telemetria. Os registros eletrencefalográficos, obedecendo estritamente às normas aprovadas pela OMS, foram complementados, em alguns casos, com registros poligráficos (eletrocardiografia, registro dos movimentos respiratórios, eletromiografia, registro da movimentação ocular). Para a facilitação foram empregados a hiperpnéia, as estimulações luminosa e auditiva intermitentes, a privação do sono, eventuais aplicações de fatores circunstanciais desencadeantes e ativação farmacológica.

O. LANGE

ARCHITECTONICS OF THE CEREBRAL CORTEX. MARY A. B. BRAZIER & N. PETSCHE, editores. Um volume (16x24) com 486 páginas, 222 figuras e 8 tabelas. Raven Press, New York, 1978. Preço: US$ 45,00.

Este livro é o terceiro da série de monografias da International Brain Research Organization (IBRO) e contém os trabalhos apresentados em simpósio realizado em 1977, em Viena. O Instituto de Neurologia de Viena dedicou o simpósio à memória de Constantin von Economo, em comemoração ao primeiro século de seu nascimento. Erna Lesky expõe aspectos da profícua vida deste pesquisador nos campos da neuranatomia, neurofisiologia e neurologia clínica, enfatizando sua principal obra, "The Cytoarchitectonics of the Human Cerebral Cortex", publicada em 1925. A seguir são rememorados aspectos históricos das pesquisas sobre a citoarquitetura cortical, demonstrando o valor de descobertas básicas para o progresso da neuranatomia e da neurofisiologia.

Aspectos anatômicos do córtex cerebral são enfocados. As células de Meynert do córtex visual, as células de Betz com a particular disposição de seus dendritos e espinhos e a formação de feixes dendríticos são minuciosamente estudadas. A forma, orientação e disposição de neurônios, o desenvolvimento das sinapses e o arranjo angioarquitetônico são apontados como os responsáveis pela estratificação laminar do córtex cerebral. A relação entre as características citológicas e a fisiologia é apresentada com o estudo das células "em vibrissa" dos córtices visual e auditivo. Hipóteses sobre a importância funcional das células de Betz como iniciadoras de programas motores e sua atuação sobre células de várias camadas corticais que participam do ato motor, são aventadas.

Novos métodos e técnicas histológicos são propostos. A peroxidase de raiz forte é empregada como marcador celular retrógrado. Fleischhauer propõe o uso de cortes histológicos tangenciais ao neocórtex e ao córtex cerebelar, em contraposição aos clássicos cortes perpendiculares ao longo eixo dos giros ou às secções hemisféricas em plano frontal. A preparação baseada no acúmulo de lipofuscina em células corticais, que ocorre no decorrer da vida, de maneira diferente e característica de célula para célula, permite correlação com as preparações de Golgi, além de distinguir áreas filogeneticamente diferentes. O estudo topográfico da maturação enzimática cortical possibilita a construção de uma enzimoarquitetura que coincide com as áreas citoarquitetônicas.

Vários capítulos são dedicados à atividade elétrica do córtex relacionada com suas propriedades estruturais. A participação na eletrogênese do corpo celular, dendritos células gliais, colaterais de axônios e células de Meynert, é discutida, bem como a origem intracortical do ritmo a e suas bases neurofisiológicas. Aspectos específicos da atividade elétrica cerebral, como a vigília e o sono paradoxal, são estudados em áreas de projeção e de associação. Características morfológicas, fisiológicas e bioquímicas do cérebro nos vários estágios da ontogênese pós-natal são correlacionadas com achados eletrofisiológicos. O funcionamento de áreas corticais específicas é estudado. Existe separação, já em nível subcortical, de aferências da mesma modalidade sensorial a áreas corticais arquitetônica e funcionalmente diferentes. As medidas do fluxo sanguíneo cerebral em múltiplas regiões corticais evidenciam a correlação entre diversas atividades fisiológicas e respetcivas áreas cerebras. Os resultados surpreendentes obtidos em condições basais (vigília), com estimulações sensitivas e atividade motora (o "paradoxo sensitivo-motor"), apontam novos caminhos para a comprensão do funcionamento cerebral. Estudos preliminares de fluxo sanguíneo cerebral em doenças mentais corroboram essa assertiva.

Em coerente apresentação os capítulos finais do livro sugerem novas fontes de investigação e pontos de discussão. A concepção de que o cérebro funciona como um todo dinâmico, no qual a "especificidade" de determinadas áreas se mescla com a "difusividade" das funções cerebrais mais complexas, conduz à pesquisa mais detalhada das áreas de associação. O estudo eletrofisiológico dessas regiões, de seu desenvolvimento nas escalas onto e filogenética, do "overlap" cortical de projeções aferentes e dos níveis de integração corcital, é realizado.

LUCIA IRACEMA ZANOTT DE MENDONÇA

ATHEROSCLEROSIS REVIEW. RODOLFO PAOLETTI & ANTONIO M. GOTTO JR., editores. Um volume (16x24) encadernado, com 266 páginas, 118 figuras e 44 tabelas. Raven Press, New York, 1978. Preço US$ 30,00.

Este livro sintetiza conhecimentos básicos e novas aquisições sobre a doença aterosclerótica, destacando-se, pelo interesse prático, o capítulo referente ao tratamento e prevenção da aterosclerose. O interesse por este assunto é universal, particularmente nos países industrializados, onde os índices de morbilidade e mortalidade causados pelo processo aterosclerótico são os mais elevados. Os esforços visando à melhoria dos conhecimentos sobre a doença começaram a produzir seus frutos, pois, recentemente, foi assinalado um declínio na. incidência de morte por doença coronariana nos Estados Unidos, embora o mesmo não tenha ainda ocorrido nos países da Europa Ocidental.

O livro é iniciado por uma sintética introdução redigida por um dos editores e por Debakey salientando a atuação da Fundação Cardiológica Princesa Liliane, da Bélgica, para o progresso nos conhecimentos da doença aterosclerótica. A seguir, em 242 páginas e distribuídas em 15 capítulos, são revistos e discutidos diferentes aspectos da patologia, patogênese, histobioquímica, imunologia, epidemiologia e tratamento da aterosclerose. Na patologia devem ser destacados os estudos sobre a progressão e regressão da aterosclerose. Nos capítulos sobre etiopatogenia são apresentadas novas teorias da aterogênese, tais como a hipótese monoclonal e o papel das células endoteliais e das fibrocélulas musculares lisas da parede arterial na patogênese da doença aterosclerótica. Em relação à histobioquímica foram referidos importantes achados sobre a parede arterial, sendo discutidos tanto os aspectos exclusivamente estruturais, como os funcionais, com referência especial à permeabilidade, além do comportamento das lipoproteinas e sua contribuição à fisiopatologia da aterosclerose.

Como foi destacado no início desta análise, o capítulo sobre tratamento da doença aterosclerótica com drogas, é de grande interesse para clínicos e neurologistas. Neste capítulo são discutidos os agentes hipolipidêmicos, as drogas que dimiuem a aterogenicidade das lipoproteinas, as que modificam a interação de lipoproteinas com a parede arterial e as que atuam na agregação plaquetária. Os autores finalisam afirmando que novas implicações e alternativas terapêuticas são oferecidas pelos agentes que modificam a composição das lipoproteinas e a aterogenicidade, e por drogas que impeçam ou reduzam a deposição de lipoproteinas e lípides nas paredes arteriais. Estes novos agentes constituem poderosos meios atuais de controle do processo arteriosclerótico.

Em suma, trata-se de livro que mostra em profundidade os aspectos mais interessantes e atuais da doença aterosclerótica, e contém ensinamentos valiosos para patologistas, bioquímicos, cirurgiões vasculares, clínicos e neurologistas.

JOSÉ LAMARTINE DE ASSIS

HEMI-INATTENTION AND HEMISPHERE SPECIALIZATION. EDWIN A. WEINSTEIN & ROBERT P. FRIEDLAND, editores. Um volume (16x24) encadernado com 170 páginas, 31 figuras e 8 tabelas. Volume 18 da série Advances in Neurology. Raven Press, New York, 1978. Preço: US$ 15,00.

Este livro desenvolve tema não muito versado pelo neurologista prático pois ele se encontra situado mais para o lado psicológico do campo comum da Neuropsicologia. Alguns paciente com deficits sensitivos e/ou motores reagem de maneira muito particular à doença, não reconhecendo sua existência. Não se trata de problema neurótico ou ligado à decadência psíquica. O paciente é lúcido sob todos os aspectos e muitas vezes procura uma explicação de tipo fabulatório, dando-se a esta "explicação" o sentido de que ele não tem a intenção deliberada de enganar e acredita na realidade dos fatos que transmite. Um destes pacientes, por exemplo, com hemiplegia completa não apenas desconhecia a existência do déficit como procurava justificar este não reconhecimento alegando que os membros paréticos eram de outra pessoa e que tinham sido esquecidos no seu leito. Este distúrbio é designado por alguns autores como anosognosia, considerando-se como aspecto particular da hemisomatoagnosia. Neste livro é usada a expressão hemi-inatenção que é mais extensa pois diz respeito não apenas à agnosia do déficit motor ou sensorial como também às suas componentes psicológicas.

É bastante frequente a ocorrência de hemi-inatenção no que respeita a grandes falhas no campo visual, sendo o comportamento do paciente diferente daquele encontrado nos hemianóspsicos comuns. O paciente, que não reconhece a cegueira de um hemicampo visual, se comporta como se este déficit não existisse; como consequência apresenta também inatenção espacial da qual resultam problemas de localização e de orientação no espaço. Critchley refere o caso de um paciente que era chefe de orquestra e que não tomava conhecimento dos naipes situados na metade esquerda de seu campo visual. Estes problemas espaciais podem ser objeto de vários testes psiconeurológicos mas já podem ser suspeitados pelas informações do paciente e de seus familiares pois ele se perde frequentemente em ruas e bairros conhecidos e mesmo em sua própria casa. Algumas vezes a hemi-inatenção oferece aspectos pitorescos que podem levar à suposição de que estão ocorrendo manifestações de tipo demencial. Assim é que alguns pacientes, quando têm o prato de comida diante de si, só comem a parte que está no campo visual normal; todavia, como são capazes de raciocinar sobre a outra metade, resolvem o seu problema simplesmente rodando o prato para que a comida se situe no hemicampo normal. Outros fazem a barba apenas no lado normal, sem qualquer preocupação com a metade não reconhecida. Numerosos deles apresentam também apraxia construtiva e apraxia no ato de vestir-se.

Há aparente consenso entre os neurologistas no sentido de que este conjunto de manifestações ocorre como consequência de lesão no hemisfério direito, particularmente na região parietal. Entretanto numerosas publicações assinalam casos de hemi-inatenção do hemicorpo direito. A provável explicação para a impressão de que as lesões seriam altamente predominante no hemisfério direito deve ser encontrada no fato de que as lesões à esquerda são quase sempre acompanhadas de afasia que torna difícil a caracterização da hemi-inatenção. Algumas vezes a hemi-inatenção é transitória, ocorrendo nos primeiros dias da doença; outras vezes é duradoura e persistente. Em muitos casos encontra-se o fenômeno da extinção sensitiva na prova da estimulação simultânea; a extinção pode-se manifestar na estimulação visual, auditiva, gustativa, estereognóstica, grafestésica, vibratória. De todas a mais estudada é a visual, pois ela oferece maiores possibilidades de observação, tendo sido mesmo chamada a atenção para o desvio conjugado do olhar, com uma característica "magnética" para o lado do hemicampo normal, ou seja, para o lado da lesão cerebral.

Numerosos autores procuram uma explicação para a hemi-inatenção na competição perceptual; quando há estimulação simultânea simétrica, o estímulo forte no lado normal suprimiria o estímulo fraco no lado doente. Esta hipótese não deve ser interpretada de maneira simplista, imaginando-se que as lesões estariam restritas a áreas corticais. A experiência em animais mostra que lesões no tronco cerebral são capazes de provocar manifestações similares; já foram produzidos quadros semelhantes decorrentes de lesões subtalâmicas, bem como em estruturas mesencefálicas relacionadas com a visão. Assim é que foi demonstrada a possibilidade de lesões no colículo superior produzir uma hemi-inatenção visual contralateral. As experimentações de Sprague relativamente a este aspecto são muito elucidativas; ele mostrou que a seçcão do colículo superior contralateral ou da comissura intercolicular faz voltar a visão para o hemicampo comprometido. Isto seria devido à competição entre os colículos, admitindo-se que aquele que estava normal inhibia ação, do colículo lesado, cujo nível de atividade estava diminuído.

Este excelente livro aborda ainda numerosos outros aspectos do problema, como seja a hemi-inatenção nos pacientes comissurectomisados, os problemas de comportamento e a reabilitação. Outro aspecto muito interessante desta publicação é aquele relacionado com a semiologia, sendo apresentados em vários de seus capítulos, testes psiconeurológicos destinados ao exame dos pacientes.

ANTONIO B. LEFÈVRE

CONVULSIONES EN LA INFANCIA. N. FEGERMAN & C. S. MEDINA. Um volume com 387 páginas, 50 figuras, 24 quadros e 127 pranchas. Editorial Ergo, Buenos Aires, 1977.

Muito oportuna foi a idéia de reunir em um voume diversos capítulos que abrangem os principais aspectos da epilepsia em crianças. Esse assunto deve ser encarado de maneira particular, levando em conta as peculiaridades que vem sendo estudadas em diversos centros, havendo já considerável acúmulo de conhecimentos. Lembremos que a última revisão da epilepsia na infância - o clássica livro de Livingston - já está bastante superado pelas recentes aquisições, principalmente no que diz respeito à terapêutica.

Foram abordados aspectos epidemiológicos, etio e fisiopatológicos, bem como foi feita completa revisão das particularidades do EEG nas crianças. Apenas como uma curiosidade, que bem mostra a vivência dos autores, destacamos a referência para os artefatos desencadeados pela sucção da chupeta, que poderiam ser confundidos com espículas, conforme fica demonstrado nas figuras 20 e 21. Nos aspectos propedêuticos são destacados não apenas os dados clássicos, como também alguns elementos complementares mais modernos como a tomografia computorizada. Excelentes revisões dos aspectos próprios da epilepsia nas crianças, como sejam as síndromes de West e de Lennox-Gastaut, bem como as convulsões febris, são encontradas nos respectivos capítulos. As convulsões dos recém-nascidos são expostas por Lombroso e Alvarez, que participam como colaboradores convidados. São muito importantes as contribuições destes autores no que diz respeito à etiologia e ao valor prognóstico do EEG. No final do livro encontra-se uma importante contribuição que é atlas de EEG, no qual estão expostos, em 127 páginas, os principais achados eletrencefalográficos, acompanhados de um resumo do quadro clínico correspondente.

ANTONIO B. LEFÈVRE

AKTUELLE PROBLEME DER NEUROPSYCHIATRIE. M. GOTTSCHALDT, H. GRASS & M. BROCK, editores. Um volume (16,5x24) com 202 páginas, 74 figuras e 9 tabelas. Springer Verlag, Berlin-Heidelberg-New York, 1978. Preço: US$ 12,00.

Este livro, contendo trabalhos de natureza muito variada e sem conexões recíprocas, visa essencialmente a chamar a atenção dos estudiosos para o valor de recentes aquisições no domínio da patogenia, do diagnóstico e do tratamento de alguns processos neurológicos e psiquiátricos mais encontradiços na prática diária. O material foi distribuído em 4 capítulos: 1) Pressão intracraniana e edema cerebral; 2) Bases neurais das dores e possibilidades da terapêutica médico-cirúrgica; 3) Progressos na eletrencefalografia, na ecoencefalografia e na eletromiografia; 4) Aspectos psicológicos das doenças neuro-psiquiátricas. Não houve, portanto, preocupação dos editores quanto à sistematização e à uniformidade do material fornecido aos leitores. Houve, contudo, o propósito de fornecer o que há de mais atualizado nos assuntos versados, juntando tudo em opúsculo de pequeno porte e de fácil manejo no qual os itens mais importantes foram expostos com o mínimo de texto e com excelentes ilustrações, facilmente compreensivas e muito demonstrativas. Do primeiro capítulo constam 4 trabalhos: 1) Diagnóstico diferencial das hipertensões intracranianas (D. Stöwrand); 2) Mecânica e significação clínica dos aumentos de pressão intracraniana controlados continuamente e a longo prazo (M. Brock); 3) Diagnóstico diferencial e terapêutica do edema cerebral pós-traumático (W. Gobiet); 4) Edema cerebral e terapia intensiva (W. Pöll). No segundo capítulo foram incluidos 4 trabalhos versando sobre: 1) Bases neurais das dores (K. M. Gottsehaldt); 2) Tratamentos estereotáxicos (F. Mundiger); 3) Tratamento mediante cordotomias (R. Müke); 4) Tratamento mediante excitações elétricas periféricas e centrais (U. Thoden & J. U. Krainik). O terceiro capítulo é constitulido por uma miscelânea de 4 trabalhos versando sobre os artefatos no eletrencefalograma (H. Grass), sobre alterações do eletrencefalograma na velhice. (M. Gottsehaldt), sobre técnica e interpretação dos ecoencefalogramas (S. Kunze) e sobre detalhes práticos da eletromiografia e da eletroneurografia. O último capítulo é de interesse para os psiquiatras.

O. LANGE

THE PSYCHOTHERAPEUTIC PROCESS. J. C. BENOIT, J. GUILHOIT, A. G. MATHE, M-T. NOURISSIER-SOBESKY, Y. PELICIER & P. SIVADON, editores. Um volume com 380 páginas, 11 figuras e 7 tabelas. S. Karger, Basilea, Suiza, 1978.

Este volumen recoge las principales ponencias presentadas al Décimo Congreso Internacional de Psicoterapia, celebrado en Paris en Julio de 1976. Corresponde al volumen 29,números 1-4 de la revista "Psychotherapy and Psychosomatics", también publicada por Karger. Buena parte de Ias contribuciones que aparecen en este libro pueden considerar-se respuestas a las interrogantes planteadas en el Congreso de Psicoterapia de Oslo (1973) y resumidas bajo la fundamental pregunta de "Qué es psicoterapia?".

Desde luego, el título implica una definida concepción de la psicoterapia. Diversos autores aclaran qué ha de entender-se bajo el término el proceso aplicado al quehacer terapêutico. "Es el movimiento o los cambios engendrados en la personalidad del paciente (y del terapeuta) en un acto terapéutico", escribe Schneider. Con ello también se alude a una perspectiva dinámica y a un acontecer que puede limitarse en el tiempo. La psicoterapia, como proceso, es un cambio de estado curativo que acontece en el marco de una relación interpersonal. Como Magnussen señala sin embargo, no hay solamente uno, sino muchos procesos psicoterpéuticos cada cual exhibiendo peculiaridades características. Es posible seguir a Ellenberger en su division de los procesos terapéuticos en cuatro grupos: racionales, dinámicos, de entrenamiento (condicionamiento) y terapias colectivas. Pero estos grupos no agotan por cierto todas las posibilidades y habría que añadir numerosas formas mixtas y posturas eclécticas, las que a veces no hacen justicia a su calidad de tales.

En todo estudio sobre psicoterapia, la seleción de una muestra representativa de pacientes y terapeutas es el primer paso hacia la evaluación objetiva. De allí que la "adecuación" del paciente deba ser central. Shands presenta una posición orientadora al respecto en un estudio ilustrado con datos de muy diversas fuentes, los que en conjunto afianzan la noción de una "predisposición" a ser un buen sujeto (paciente) de psicoterapia. Las implicaciones de esto son obvias e importantes. Como proceso educativo, la psicoterapia requiere que el sujeto sea "educable". Como técnica del cambio psíquico, la psicoterapia opera sólo sobre sujetos receptivos. Wolpe resume su conocida postura acerca de la inhibición recíproca como análogo psicológico de procesos fisiológicos en un artículo que ilustra las dimensienas "humanas" de la terapia conductual.

Numerosos autores enfatizan la noción de técnica que preside la aplicación de diversas teorias de personalidad al terreno psicoterapéutico. Así, las relaciones entre proceso psicoanalítico y proceso psicoterapéutico son exploradas con notable acierto por más de una docena de colaboradores, la mayoría franceses. También el psicodrama, las terapias familiares, los problemas de la psicoterapia en adolescentes y parejas y el gran capítulo de las psicoterapias breves reciben apropriado tratamiento. Otros aspectos tratados se refieren a aspectos transculturales, a la influencia psicoterapéutica en el alcoholismo, a la psicoterapia de las psicosis y estados "borderline". Un artículo trata el importante problema de la expresión no-verbal en psicoterapia.

Se trata de un conjunto hetereogéneo de contribuciones, predominando las escritas en lengua francesa, que ilumina el concepto de proceso psicoterapéutico. Para el médico práctico este volumen puede servir como referencia acerca de tendencias actuales. Para el investigador es una fuente de sugerencias. Su lectura es recomendable.

FERNANDO LOLAS S. (Santiago de Chile)

PSICHOSOMATIC MEDICINE, ITS CLINICAL APPLICATIONS. ERIC D. WITTKOWER & HECTOR WARNER, editores. Um volume (17x24) encadernado. Harper & Row, New York-San Francisco-London, 1977.

Eric Wittkower, pioneiro e inovador incansável no campo da Medicina Psicológica, não se deixa vencer pela doença que há anos lhe trava as pernas mas não consegue abater-lhe o ânimo. Com invejável entusiasmo, incentiva as reuniões internacionais de Psicossomática às quais, com enormes sacrifícios procura comparecer; mantém correspondência com o mundo todo em busca de informações para suas pesquisas sobre Psiquiatria Transcultural e continua publicando estudos primorosos, pelo que têm de vigilante objetividade e de implacável análise crítica, dos grandes problemas da patologia humana, cujas origens obscuras desafiam as explicações unívocas e simplistas. Naqueles dois campos de conhecimento seu nome ficou permanentemente fixado, pelos conceitos profundos e de impecável embasamento científico. Na Psiquiatria Social, contribuiu para a sistematização da pesquisa, estabelecendo princípios e delimitando o alcance das investigações nas fronteiras rigorosas dos métodos adotados.

Neste livro, Wittkower publica uma coletânea de trabalhos assinados por professores de medicina de grandes universidades européias, asiáticas e americanas. Da análise da obra ressalta, como traço comum, a grande penetração das idéias veiculadas pela Medicina Psicossomática em áreas da prática médica, antes impermeáveis a tal tipo de preocupações. Além das inescapáveis síndromes digestivas, da asma e de certas dermatoses, os autores estudam os aspectos psicopatológicos e psicodinâmicos na hemodiálise, na patologia cirúrgica, na dor crônica, na dor intratável, nas doenças cardiovasculares, em doenças neurológicas degenerativas, numa demonstração do quanto valeu a luta pertinaz do mestre Wittkower, iniciada há mais de 25 anos, no sentido de impor ao médico a visão holística do ser humano. São 32 capítulos densos, atualizados, cuja leitura é recomendada ao psiquiatra, indispensável ao médico geral e obrigatória ao especialista.

CLOVIS MARTINS

PSYCHOTROPIC DRUGS. A GUIDE FOR THE PRACTITIONER. H. M. VAN PRAAG. Um volume (16x24) encadernado com 466 páginas. Royal Van Gorcum Ltd., Assen, Holanda, 1978. Preço: Dfl 80,00.

Van Praag é muito conhecido no meio psiquiátrico, pois tem o seu nome ligado, nestes últimos anos, a pesquisas clínicas com quase todos os psicofârmacos. As posições que ocupa ou ocupou em organizações internacionais (WHO, Collegium Internationale Neuropsychopharmacologicum, World Federation of Biological Psychiatry), codificadoras da pesquisa científica no campo da psicofarmacologia, fazem-no muito respeitado e ouvido pelos estudiosos da quimioterapia psiquiátrica.

Seu livro, como deveras o subtítulo indica, tem endereço certo mas, indo até além do que pretende, não alcança as intenções definidas no prefácio. O paradoxo é simples de entender e está entre as insuperáveis contradições em que se debate a medicina moderna: a superespecialização ao dado do esforço, sempre renovado, no sentido de dar primazia ao médico geral, instrumentando-o para um primeiro atendimento eficaz e seguro do doente que lhe vier ao serviço. Ora, uma das condições para a carreta aplicação da terapêutica, como assegura o próprio autor, e todos estamos de acordo com ele, é o estabelecimento de um diagnóstico correto. Mas, como exigir de um "general practitioner" diagnósticos psiquiátricos precisos?

Tomemos, por exemplo, o capítulo das depressões. Escolho-o porque a síndrome depressiva constitue um vasto campo de interesse, comum de toda a medicina, onde o médico geral, o internista, o cirurgião, mais até que o psiquiatra, têm oportunidade de conviver com quadros clínicos nos quais o elemento depressivo talvez seja o fundamental. Ao estudar as drogas antidepressivas, Van Praag as define como substâncias que, primariamente, melhoram o estado de ânimo mas que são eficazes apenas em certos tipos de depressão. Daí decorre o imperativo de um diagnóstico bem feito, como condição para o acerto do tratamento, raciocínio que o próprio autor desenvolve a fim de mostrar erros frequentes, mesmo de psiquiatras experimentados, responsáveis pelo fracasso terapêutico; como exigir, então, mais acertos nos que não são especialistas? Fica aí o impasse.

Na distribuição da matéria, o autor adota a classificação dos psicotrópicos proposta por Delay e Deniker em 1961, resistindo à tentação, a que sucumbiram outros de menor estatura científica, de propor uma própria. Por outro lado, dá prioridade aos problemas clínicos ao tratar da utilização prática dessas substâncias, conseguindo obter eficiente equilíbrio entre a informação teórico-doutrinária, sustentadora da orientação terapêutica, e as regras de conduta ditadas em cada caso clínico.

A obra é dividida em cinco partes. Significativamente dedicada ao estudo dos "Aspectos científicos da aplicação prática das drogas psicotrópicas", a primeira parte faz uma revisão completa e clara dos principais problemas da neuropsicofarmacologia clínica e experimental. A segunda parte - "Farmacoterapia das psicoses" - tomando como ponto de referência o fenômeno psicopatológico, estuda o grupo dos neurolépticos. A terceira parte, com o mesmo critério, trata da "Farmacoterapia das desordens da modulação do humor", destacando-se ali um excelente capítulo sobre o emprego do lítio. O primado clínico continua presente na quarta parte que, por ser destinada à "Farmacoterapia das alterações neuróticas e outras desordens da personalidade", agrupa fármacos de famílias heterogêneas: os ataráxicos, os psicodislépticos, os sedativos e hipnóticos, os antagonistas dos narcóticos; no capítulo, aqui incluido, da "Farmacoterapia dos distúrbios sexuais", são feitas referências, ainda que muito sucintas, a hormônios e afrodisíacos; a objetividade e precisão de Van Praag saem incólumes desta prova de fogo. A quinta parte poderia ser considerada um apêndice, pois trata de alguns aspectos especiais da farmacoterapia psiquiátrica. Chama-se mesmo "Tópicos especiais", cuida do uso dos psicotrópicos em psiquiatria da infância e no tratamento dos velhos, fornecendo, ao final, conselhos práticos nos casos de urgência psiquiátrica.

O livro é, pois, prático, simples, direto e por isso muito útil, não apenas para o médico geral, como quer o autor, mas principalmente para o especialista. Há pouco mais de dez anos, no auge da terceira revolução psiquiátrica, os livros de terapêutica tinham a duração das rosas de Malherbe, isto é, 'l'espace d'une matin"... Hoje, com a saturação do mercado farmacêutico no campo da psicofarmacologia, tornou-se possível uma reflexão mais fria e serena sobre a permanência de alguns de seus progressos, devidamente comprovados pela experiência universal acumulada. Com isto em conta, e pelo seu caráter de compêndio atualizado, o livro está destinado a prestar bons e continuados servços aos psiquiatras clínicos

CLOVIS MARTINS

ANTIEPILEPTIC DRUGS: QUANTITATIVE ANALYSIS AND INTERPRETATION. C. E. PIPPENGER, J. KIFFIN PENRY & HENN KUTT, editores. Um volume encadernado (16x24) com 367 páginas, 65 figuras e 29 tabelas. Raven Press, New York, 1978. Preço: US$ 36,00.

Durante os últimos 10 anos, com a introdução de técnicas laboratoriais que permitiram a dosagem sérica de anticonvulsivantes, estudos clínicos paralelos mostraram estreitas correlações entre a concentração das drogas e controle das crises, assim como seus efeitos tóxicos. Os resultados obtidos estimularam diversos centros laboratoriais a desenvolver técnicas novas para a dosagem de várias drogas anti-epilépticas.

A proliferação de pesquisas nesse sentido, particularmente em laboratórios sem experiência prévia em monitoração de drogas, resultou em grande confusão nos resultados, na metodologia analítica e, consequentemente, nas suas aplicações práticas. Segundo os editores, levantamento feito nos Estados Unidos da América do Norte em 1974 demonstrou que mais da metade dos laboratórios daquele país apresentaram resultados não confiáveis. Em decorrência desse fato, no simpósio sobre Segurança Quantitativa de Drogas Antiepilépticas realizado em 1976 em Missouri, muitos participantes manifestaram suas preocupações, daí resultando o presente volume.

Os danos que se transferem para o paciente quando o clínico se baseia em dados laboratoriais falsos são o objetivo do primeiro capítulo do livro, redigido por J. Kiffin Penry. Após esse capítulo introdutório, o livro consta de 4 partes: Técnicas analíticas (9 capítulos), Técnicas analíticas especiais (6 capítulos), Controle qualitativo das drogas antiepilépticas (3 capítulos) e Aplicações clínicas das concentrações das drogas antiepilépticas (9 capítulos). No final, o apêndice 1 versa sobre Propriedades fisioquímicas e farmacológicas das drogas antiepilépticas e o apêndice 2 sobre Metodologia e fontes.

As três primeiras partes interessam mais aos responsáveis pelos laboratórios que já estão desenvolvendo técnicas de monitoração de drogas e, especialmente, àqueles que pretendem instalar tais procedimentos. Técnicas espectrofotométricas, fluorométricas, cromatográficas e de imunoensaios são expostas de maneira detalhada, sendo destacado o fato de que nenhum desses métodos é capaz de determinar simultaneamente todas as drogas e seus metabolitos. Para os laboratoristas em geral é de suma importância a leitura da parte referente ao controle qualitativo das drogas antiepilépticas. No trabalho inicial referente ao tema (capítulo 17), redigido pelos editores e por David D. Daly, é destacada a importância do trabalho conjunto entre os labortórios, das consultas mútuas, de dúvidas a serem levantadas e discutidas no sentido de serem conseguidos resultados confiáveis que serão de muita valia para o controle dos pacientes epilépticos. No capítulo seguinte, também de leitura obrigatória para os especialistas em laboratório, são destacados os erros mais comuns cometidos na análise das drogas antiepilépticas.

A última parte do livro interessa aos clínicos e epileptologistas, pois trata das aplicações clínicas das concentrações séricas das drogas antiepilépticas. No capítulo 20 estão resumidos os princípios gerais da absorção, distribuição e metabolismo das drogas. No capítulo 21 são abordadas as bases farmacocinéticas para o uso dos níveis séricos dos anticomiciais na monitoração e na obtenção de níveis séricos terapêuticos. Nesse capítulo é chamada a atenção para o fato da resposta ao tratamento depender mais da concentração tissular que do plasma; no entanto o estudo dos níveis sanguíneos é considerado uma alternativa válida, no momento. Evidentemente o procedimento que envolve maior interesse para o clínico é a correlação do nível sérico de dterminada droga com o ritmo das crises, cuidadosamente registradas; essa correspondência pode ser determinada com apreciável exatidão para um indivíduo em particular, permitindo o resultado terapêutico ideal se forem necessários reajustes nas dosagens. Nos capítulos seguintes são estudados, do ponto de vista farmacológico e metabólico os principais antiepilépticos utilizados nos Estados Unidos da América do Norte: difenilidantoína, fenobarbital, primidona, etosuximide e carbamazepina. O capítulo 27 é destinado ao estudo dos casos que apresentam concentrações séricas inesperadas ou inabituais de drogas. No capítulo final são feitas considerações a propósito da farmacologia das drogas antiepilépticas nas crianças, de suma importância para os neuropediatras. É conhecida a enorme frequência com que se instala a epilepsia na infância; por outro lado, o sucesso terapêutico nessa faixa etária é de fundamental importância para o prognóstico a longo prazo. Há muitos anos os clínicos e pesquisadores reconhecem a existência de diferenças entre crianças e adultos na utilização de drogas antiepiléticas. Pesquisas séricas mostram que doses iguais em mg/kg de peso determinam níveis sanguíneos significativamente menores em crianças que em adultos, havendo uma progressão desses valores à medida que as idades variam de 1 a 16 anos, quando os valores se assemelham aos dos adultos. Isso decorre da rápida ultilização das drogas pelas crianças, o que implica na necessidade de doses maiores de manutenção nessa faixa etária para o controle das crises. É chamada a atenção para a interação de drogas, quando da utilização de vários antiepilépticos na criança, especialmente quando a primidona é administrada junto com o fenobarbital, permitindo que sejam alcançados níveis tóxicos de barbitúrico em virtude da metabolização da primidona. Segundo Pippenger, a monitorização das drogas se torna essencial na adolescência, quando os níveis séricos adotam gradativamente o padrão adulto e as doses, que antes eram terapêuticas, podem passar a tóxicas.

Finalmente cumpre ressaltar a importância dos apêndices. O apêndice 1 traz um resumo das propriedades fisioquímicas e farmacológicas dos principais antiepilépticos permitindo uma visão global de muita utilidade para o clínico. O apêndice 2 trata da metodologia e fontes dos materiais utilizados nas determinações, sendo de grande importância para os laboratoristas.

LUIS MARQUES-ASSIS

DRUG ADDICTION. WILLIAM R. MARTIN, editor. Dois volumes (17x25) encadernados com 748 e 501 páginas respectivamente, 39 ilustrações e 24 tabelas. Volume 45 da série Handbook of Experimental Pharmacology. Springer-Verlag, Berlin-Heidelberg-New York, 1977. Preço: US$ 153,00.

No primeiro parágrafo do prefácio, o organizador desta edição põe o dedo na ferida: "A farmacodependência está intimamente associada ao comportamento delinquente. Uma das grandes e nobres edificações da civilização consiste na perspectiva filosófica que vê o homem como ser suscetível de aperfeiçoar-se, sempre que sejam providas as circunstâncias e o ambiente apropriado à sua educação e desenvolvimento". E, mais adiante: ... O grau de plasticidade do homem às forças sociais não é conhecido, nem sabemos qual o ponto desejável de subordinação do comportamento individual a eles, para que este não quebre as ordenações sociais. Certa rebeldia é essencial à inovação e à criatividade e, de vez em quando, fica difícil dizer se um inovador ou criador está exteriorrizando um comportamento normal ou patológico". Com tais reflexões, William Martin justifica a orientação adotada para editar o livro, baseado na hipótese, perfilhada por outras áreas da psicopatologia no estudo das doenças mentais, de haver uma disfunção cerebral orgânica na etiologia da farmacodependência.

De fato, o grande obstáculo para a investigação objetiva da dependência farmacológica reside nos aspectos morais e também políticos que o fenômeno envolve. As manifestações psíquicas provocadas pela ingestão de certas substâncias, sempre despertaram no homem reações desencontradas, do medo místico ao regozijo hedonista. E a manipulação dos psicofármacos, como instrumento poderoso de controle social e econômico para atingir todos os fins imagináveis, vem acompanhando a humanidade ao longo de sua história. As "guerras do ópio" do passado remoto, o uso de drogas nas guerras de nossos dias são exemplos pouco dignificantes da utilização de entorpecentes segundo as conveniências do momento social e político. Tal maliciosa ambiguidade de atitude, flutuando da condenação radical até a exaltação mística dos estados de embriaguez psicodélica, determina o clima emocional imperante nas respectivas investigações farmacológicas e clínicas, do qual poucos escapam.

Mas, ao abrir o livro com o capítulo "Problemas de dependência de drogas", o propósito de manter a tônica no estudo do contingente biológico do problema é logo desrespeitado em favor de cogitações sócio-econômicas sobre o custo social do abuso de drogas nos EE. UU. da América do Norte. Os números, deveras aterradores, são manipulados de forma arbitrária e simplista, ao se misturarem causas e efeitos. Um exemplo: ao calcular um dos prejuízos provocados pelo problema à nação, o autor parte da diminuição da expectativa de vida do adicto à heroína, estimada em 50% e conclui haver, por isso, queda na renda do país, da ordem de 2/2,5 bilhões de dólares por ano, como se os índices de produção de uma superpotência da complexidade da nação norte-americana dependessem desse tipo de factor para serem incrementados ou diminuídos.

No entanto, quando se mantém nas fronteiras da farmacologia, a obra cresce e mostra seu valor. A secção sobre dependência à morfina que, aliás, ocupa um terço dos dois volumes, é excelente. O assunto é tratado com grande rigor técnico e as informações são mantidas nas cooordenadas restritas dos achados experimentais e objetivos. As outras secções, dedicadas ao estudo da adicção aos hipnóticos e ao álcool, às anfetaminas e psicotomiméticos e à maconha, ainda que menos valiosas acabam por reforçar, no trabalho, seu carater fundamental, o de revisão bibliográfica, o que o torna útil para consulta.

Não obstante a linha experimental adotada tenda a limitar as inserções, o critério na respectiva seleção, as desculpas aos autores de trabalhos recusados e mais as explicações pela omissão de certos temas, são vagas e pouco convincentes. Assim, o plano geral da edição permanece, ao exame, um tanto nebuloso: o volume II, por exemplo, do qual não há referência alguma no prefácio do I,, não tem introdução e abre diretamente com o estudo das anfetaminas, deixando-nos a impressão de um corte arbitrário feito pelo encadernador, com o único fim de transformar um tomo volumoso em dois mais finos. Mas, por sabê-la ramificação do ciclópico "Handbook of Experimental Pharmacology", pode-se presumir que outros tomos virão preencher as lacunas destes.

CLOVIS MARTINS

THE ENDORPHINS. E. COSTA & M. TRABUCCHI, editores. Um volume (16,5 x 24 cm), com 379 páginas, 108 figuras e 81 tabelas. Volume 18 de Advances in Biochemical Psychopharmacology. Raven Press, New York, 1978. Preço: US$ 36,50.

Este livro é o resultado de simpósio realizado em Brescia (Italia) em agosto de 1977, sobre as endorfinas, um dos grupos de substâncias que mais têm chamado a atenção dos pesquisadores interessados sobretudo em farmacologia, neurologia, psiquiatria e endocrinologla. Ele abrange 33 artigos na sua maioria apresentadas em parte em revistas especializadas. A sua publicação apresenta valor indiscutível por albergar novos e valiosos dados. Mesmo aquilo que já fora publicado, é apresentado sob novos prismas, talvez devido à troca de informações ocorrida durante o simpósio entre tantos pesquisadores de renome.

Dentre os artigos podem ser ressaltados alguns, tais como o de Hughes e Kosterlitz, no qual são analisados os processos intelectuais e laboratoriais que permitiram a descoberta de dois pentapeptídios de ação opiácea produzidos endogenamente, assim como o desvendamento de suas cadeias; relatam como os autores baseados em suas descobertas, partiram para a síntese de substâncias análogas quimicamente, porém funcionalmente semelhantes e mais estáveis que as originais. Baseados em seus experimentos, postulam duas ações fisiológicas básicas para as endorfinas: além do papel nociceptivo classicamente descrito, também teriam atividade inibidora sobre a motricidade, levando à catatonia quando da injeção intraventricular. Vários outros trabalhos lidam com as localizações tissulares das endorfinas, utilizando métodos de imuno-fluorescência e imuno-histoquímicos. Interessante notar que independente do método utilizado ou do tipo de endorfina estudada, os autores são unânimes em atribuir ao striatum, hipotálamo e amigdala, preponderância na concentração de tais substâncias.

Por sua vez, a pioneira Huda Akil descreve seus achados relacionados com a concentração de endorfinas no líquido cefalorraqueano de pacientes submetidos a implantes de eletrodos cerebrais com finalidade terapêutica, Acena com a possibilidade de tratamento de determinados sintomas de certas alterações mentais, tais como as alucinações dos esquizofrênicos, mediante antagonistas da morfina, baseada em trabalhos anteriores que sugerem estar aumentada a concentração de endorfinas no líquido cefalorraqueano de pacientes com tais afecções.

Apesar do tema único, as variações se sucedem: endorfinas e hormônios pituitários, possível ação na liberação de prolactina; endorfinas e neurotransmissores, possível papel como neurotransmissor de ação lenta e tônica na modulação de impulsos sinápticos: endorfinas e nocicepção, mecanismos inibitórios exercidos pelas endorfinas, além de uma tentativa de explicação para o mecanismo de ação da acupuntura. No entanto, o maior valor deste livro reside no fato de que poucos foram os autores que se furtaram a expressar sua opinião sobre a ainda desconhecida função deste grupo de substâncias e com isto nos acenam com possibilidades imensas de pesquisa e terapêutica.

M. SCHNAPP

TAURINE AND NEUROLOGICAL DISORDERS. ANDRÉ BARBEAU & RYAN J. HUXTABLE, editores. Um volume (16x24) encadernado, com 468 páginas, 169 figuras e 70 tabelas. Raven Press, New York, 1978. Preço: US$ 46,80.

A taurina é um dos principais constituintes do conjunto de aminoácidos livres no tecido nervoso dos mamíferos e, ao mesmo tempo, um dos menos conhecidos. Alguns dados clínicos e experimentais referentes à epilepsia e a algumas doenças heredodegenerativas do sistema nervoso mostram um possível envolvimento da taurina na etiopatogenia e fisiopatologia dessas doenças. Tal fato justificou o aparecimento de grande quantidade de trabalhos sobre o assunto. Alguns dos mais significativos foram reunidos neste livro.

A taurina existente no sistema nervoso é proveniente da circulação sistêmica já que o metabolismo desse aminoácido, tanto com relação à síntese como com relação à degradação, parece ser extra-cerebral. Apesar de não sofrer interferência por parte da barreira hemato-encefálica, sua concentração é mantida constante ao nível celular cerebral, embora o teor sérico seja bastante variável. Existe, portanto, um mecanismo de controle bastante eficiente, de caráter dinâmico e, possivelmente, em ambos os sentidos, por parte das células endoteliais.

À semelhança do que ocorre com o ácido gama-amino-butírico e com a glicina, foi atribuído à taurina um papel inibidor na transmissão do impulso nervoso em áreas determinadas, como córtex motor cerebral, cerebelo, hipocampo, hipotálamo, medula espinal e retina. No entanto, outros autores estabelecem para a taurina um efeito modulador de excitabilidade da membrana, já que este aminoácido não preenche os requisitos postulados para os neurotransmissores. Ao nível molecular a taurina parece aumentar o teor intracelular livre de íons cálcio, na presença de meio iônico favorável (concentrações baixas de potássio e altas de sódio), o que ocorre durante o processo de despolarização. Isso se faz por inibição da ligação de cálcio aos microssomas. Se tal modelo for correto, a ação depressora da taurina sobre o sistema nervoso deve estar condicionada ao aumento de íons cálcio livres no espaço intracelular. Isso parece ocorrer de fato, como demonstram estudos sobre bloqueio de condução nervosa em axônios gigantes de lula e sobre a diminuição de excitabilidade após instilação intracelular de cálcio em motoneurônios espinais de gato. O efeito final seria o aumento da permeabilidade da membrana celular para ions potássio diminuindo o potencial de membrana. O mecanismo de ação referido satisfaz diversos dados de observação clínica e experimental, sobretudo aqueles que demonstram a ação anticonvulsivante e depressora da atividade de célula nervosa. Por outro lado, as pesquisas sobre o mecanismo de ação da taurina na ataxia de Friedreich levaram ao estudo da influência deste aminoácido no sistema enzimático da piruvato-desidrogenase (PDH) e do seu inativador, o piridoxal-5-fosfato (PLP). Tais estudos demonstram que a taurina é um poderoso reativador do sistema PDH após a inibição pelo PLP.

Desse modo, conclui-se que, provavelmente, a taurina exerce seu papel em estados fisiológicos alterados, mas não em repouso. De fato, ela age apenas na fase de despolarização neuroral; do mesmo modo, reativa o sistema PDH quando da sua inibição pelo PLP, mas não tem efeito direto em condiçõe de função normal. Estas propriedades são mais compatíveis com uma função moduladora do que neurotransmissora no sistema nervoso. No entanto, não é possível excluir totalmente uma ação neurotransmissora, ainda que local, ao nível de células estreladas do cerebelo, ao nível da região hipotalâmica e na medula espinal. A hipotermia obtida após injeção intraventricular de taurina aponta mais diretamente para a teoria de neurotransmissão, direta ou através de sistemas serotoninérgicos. No mesmo sentido podem ser interpretadas as alterações de comportamento (em particular com relação à dor e ao aprendizado) bem como as que dizem respeito ao relaxamento muscular com correspondência eletrocorticográfica nas áreas motoras, após instilação local de taurina.

Na epilepsia, a ação de taurina parece ser mais do tipo modulador de atividade neuronal. Os estudos em epilepsia humana são poucos e inconclusivos, mas os modelos experimentais parecem sugerir que a taurina seria armazenada nas células gliais e poderia ser liberada por ocasião da excitação do neurônio epiléptico; ela teria ação inibidora direta sobre esse neurônio e uma ação indireta por diminuição da concentração cerebral de glutamato traduzindo uma ação estabilizadora sobre o sistema gabaminérgico.

Os estudos sobre o mecanismo de ação de taurina na patogênese da ataxia de Friedreich e, em menor grau, em outras doenças neurológicas hereditárias com atrofia cerebelar, coréia de Huntington e complexo Parkinson-demência, são grandes linhas de pesquisa ainda em início de desenvolvimento.

É uma revisão cuidadosa, na qual os dados são colocados corretamente e analisados segundo critérios bem definidos, respeitados na multiplicidade de trabalhos, na individualidade de linhas de pesquisa e na diversidade de objetivos de cada grupo de pesquisadores. Deve ser louvada a unidade do plano de construção do livro e, sobretudo, a constante preocupação com a realidade clínica, de tal modo que os capítulos sobre bioquímica e fisiologia puras sempre são colocados em função de hipóteses de trabalho diretamente relacionadas a fatos e observações clínicas.

L. R. MACHADO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Ago 2012
  • Data do Fascículo
    Mar 1979
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