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El niño neurótico. Bela Szekely

ANÁLISES DE LIVROS

El niño neurótico. Bela Szekely. 1 volume de 160 páginas. El Ateneo, Buenos Aires, 1943

As "Publicações Científicas Imago" iniciam com este livro, uma série dedicada à medicina, psicologia, educação e sociologia. Prometem publicar somente obras que se enquadrem dentro da ciência contemporânea, que considera o trabalho científico em função da sociedade, tratando o ser humano, não como um simples conjunto de órgãos, mas como um elemento vivo, com todas as manifestações, reações e perturbações de seu todo indivisível, psicosomático, agindo em seu meio. Destarte, qualquer investigação científica terá uma razão final: servir para a felicidade da humanidade. O trabalho científico torna-se, assim, o produto da colaboração entre os vários ramos da ciência. Destes, salienta-se em importância a educação, que é o meio de propagar as finalidades de uma determinada sociedade e cujo principal objeto, sabemos ser a infância. Não podia pois, ter sido melhor a escolha do presente livro, para bem demonstrar uma das mais belas produções da ciência contemporânea: o estudo da criança neurótica. A principal finalidade é expor uma doutrina geral das neuroses infantis, dando uma interpretação clara sobre o que devemos entender por neuroses, esclarecendo a psicogênese dos sintomas neuróticos e ocupando-se minuciosamente com a psicoterapia e reeducação, particularmente com o tratamento psicanalítico e a psicologia individual de Adler. Salienta a importância do tratamento das neuroses neste período recente da vida quando podemos surpreendê-las em "statu nascendi" e quando o tratamento ainda significa profilaxia. Para isto, solicita a colaboração estreita entre pais e mestres de uma parte e dos médicos de outra. O A. parte do princípio de que a criança neurótica é a que se desviou do caminho de integração social. Sincera e muito justamente aponta as dificuldades que os médicos têm de compreender tais assuntos, em virtude de sua formação francamente mecanicista, ainda em vigor em nossas Universidades, onde a enfermidade só é compreensível sob uma base somatógena. Na verdade, nelas não encontramos plano algum de estudos sobre psicologia médica, para não falarmos da necessidade de uma disciplina sobre psicoterapia. Estudando a criança do ponto de vista clínico, investigando o fundamento biológico e fisiológico da neurose e do ponto de vista psicológóico, coordena ainda este estudo com um terceiro fator, o fator social, que deve ser considerado no aparecimento da neurose. Das contradições e choques entre os dois fatores, o biológico - instintos - e o social, surgem as neuroses. Sobre a significação do ambiente no aparecimento das neuroses, a interpretação psicológica, segundo o A., é a seguinte: ou o ser humano pode perfeitamente tolerar o seu ambiente e adatar-se a êle, ou não. Si não pode, torna-se neurótico: ou se dirige contra si mesmo (sofrimentos subjetivos dos neuróticos) ou se dirige contra o ambiente a fim de anulá-lo (incapacidade objetiva de trabalho e agressão). Ambas formas significam tentativas falsas de solução para poder suportar a realidade. Tal interpretação aproxima-se muito da de Wickman. cuja obra não é citada no texto deste livro. (Wickman, E. K. - Children's Behavior and Teachers' Attitudes, The Commonwealth Fund, New York.). Este autor, procurando classificar os problemas de conduta das crianças, dividiu-os em dois grandes grupos: os que constituem uma reação pelo ataque e os que apresentam uma reação pela retirada às exigências requeridas pelo ambiente social. De um lado, essas crianças resistem e entram em conflito (irritabilidade, agressividade, delinqüência) e de outro, tornam-se passivas às hostilidades ambientes (apatia, medo, ansiedade). Muito justa e acertadamente o A. insiste em esclarecer a psicogênese das neuroses infantis, salientando ser ela conseqüente à ausência ou deficiência de colaboração social. Sendo a neurose dos adultos baseada sempre numa neurose infantil, a cura desta representa a melhor profilaxia da do adulto. Defende sua doutrina em face das diversas teorias atuais de Kretschmer, Yung, Adler, Freud, Pavlov e outros. Ao tratar das influências ambientais, o A. refere-se de maneira favorável à modificação do ambiente ao qual pertence a criança, conforme é de uso quase unânime nas clínicas de orientação infantil. Entretanto, não julgamos justa a sua crítica sobre "alguns círculos psicológicos americanos" que, na opinião do A., são contrários a esta concepção da influência do ambiente. Cita, como pertencentes a este grupo, Healy, que foi o iniciador das atuais Children Guidance Clinics, cuja obra mereceu um livro escrito por Anderson (Les Cliniques Psychologiques pour l'enfance aux États-Unis et L'Oeuvre du Dr. Healy - Delachaux e Niestlé, Paris). O A. considera-o contrário às influências ambientais somente porque Healy cita a pobreza como um dos fatores que menos influiram nos casos de delinquência infantil. Entretanto, na mesma página 129 do livro de Anderson, em que tal fato é exposto, encontra-se um resumo do estudo de Healy e Bronner, sobre as condições de vida das famílias de delinqüentes, onde somente 7,6% de 2.000 jovens delinquentes viviam em condições de família suficientemente favoráveis à educação de uma criança, e acrescentam: "Nous n'avons pas d'autres chiffres montrant une corrélation aussi étroite entre les conditions du milieu et le fait du délit". Lamentamos que o A. não se tenha dedicado a fazer uma adequada bibliografia em seu livro. Esta falha nos deixa em dúvida sobre quais os trabalhos a que se refere. No caso do Dr. Healy, podemos, entretanto, garantir a inexistência de trabalhos que defendam a referida tese. Cita também Burt, como adepto dessa teoria da ininfluência do ambiente. Se se trata do livro de Cyril Burt (The Young Delinquent, D. Appleton e Cia., New York, 1925), damos-lhe razão. O A. passa ainda em revista os diversos métodos psicoterápicos, pela sugestão e pela hipnose, que fazem desaparecer os sintomas sem a preocupação da etiología. Aceita tais métodos apenas quando utilisados com o fim de fortificar o Eu da criança, pelo desaparecimento dos sintomas, facilitando assim o ataque contra a neurose em si. Resume as experiências do método psicanalítico que vê, nas perturbações do desenvolvimento sexual da criança, a causa das neuroses. Não considera, porém, esta como a única causa, pois, como o próprio Freud admite, pode também haver uma lesão prematura do Eu. Isto, no dizer do A., equivale a uma aceitação ou confirmação da doutrina de Adler por Freud, pois, segundo a teoria adleriana. essa lesão prematura do Eu, representa um complexo de inferioridade. O A. não dá exclusividade à concepção freudiana ou à adleriana. Utilisa-se de ambos os métodos, o psicanalítico e piscolójgico-individual. Sustenta que todo fenômeno neurótico pode ser atribuido a uma lesão prematura do Eu. Essa lesão foi causada, ou diretamente por fatores sociais (a aplicação da psicoterapia de Adler é plenamente suficiente), ou por traumas prematuros de naturesa sexual ou agressiva. Para a compreensão desta espécie de lesão do Eu, a psicanálise nos oferece a melhor possibilidade. Após descrever ambas as teorias e técnicas, psicanalítica e adleriana, colocando-as freqüentemente em paralelo, criticando a superficialidade da doutrina de Adler que visa a finalidade das neuroses, enquanto a psicanálise encara a etiología, coloca-as nos seus verdadeiros lugares: a psicologia do indivíduo de Adler, representa um instrumento simples e útil, que podemos e devemos fazer uso para uma pequena psicoterapia (à maneira da pequena cirurgia) enquanto a psicanálise representa a psicoterapia profunda da alma humana. Os vários capítulos dedicados a exposição, análise, crítica e prática destes métodos psicoterápicos são sumamente instrutivos e úteis, expostos de maneira brilhante e com boa documentação. Dedica ainda um capítulo à organização das clínicas de conduta infantil, resumindo os métodos nelas aplicados e baseando-se em sua experiência na Clínica de Conduta Infantil e no Instituto Sigmund Freud de Buenos-Aires. Em apêndice, o A. descreve seu excelente teste do sentido da realidade, da sociabilidade e do sentido da vida infantil. É um livro recomendável aos médicos em geral, aos psiquiatras e higienistas mentais em particular, aos mestres e autoridades de ensino.

Joy Arruda

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Jun 1944
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