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Paranóia. Afranio Peixoto

ANÁLISES DE LIVROS

Paranóia. Afranio Peixoto. 1 volume com 120 páginas. Cia. Ed. Nacional. S. Paulo, 1942

Em colaboração com Juliano Moreira, Afranio Peixoto escreveu duas memórias que se tornaram clássicas: "Paranóia e síndromes paranóides" (publicações do Brasil Médico, Rio de Janeiro, 1904) e "Paranóia: sua origem e natureza" (relatório ao XV Congresso Internacional de Medicina, Lisboa, 1906). No estudo das concepções etiopatogenéticas da paranóia, tomou vulto, colocando-se ao lado do conceito antropológico de Tanzi e Riva e da teoria psicogenética de Bleuler, a teoria da origem educacional de Juliano Moreira e Afranio Peixoto. A concepção desses autores, por sua originalidade, alcance filosófico e interesse prático, teve grande repercussão no começo deste século, embora, em nossos dias, já não satisfaça, principalmente no que respeita à paranóia genuína. Contudo, ainda é aceitável no que concerne ao delírio dos querelantes. Como todas as outras teorias, esta trouxe valioso contingente de conhecimento. Nenhum psiquiatra que se interesse pelo estudo da paranóia pode deixar de conhecê-la. Sua reedição tornava-se, assim, imperiosa. Afranio Peixoto não só as reproduziu como acrescentou outra memória, de valor tão alto quanto as anteriores.

As duas primeiras memórias defendem a tese de que a paranóia é originária, isto é, o indivíduo traz consigo os germens da autofilia egocêntrica e a educação defeituosa permite que eles cresçam livremente, favorece-os, amplia-os, de sorte que, assim preparados, os atritos inevitáveis com o meio social vão ser os motivos ocasionais do desequilíbrio definitivo desse, instavelmente equilibrado no meio, que é o paranóico. Há, pois, na paranóia, o terreno anômalo (a autofilia primária) e a persistência deste modo de ser por deficiência de educação e cultura. A autofilia é o fundamento da paranóia e é a inadatabilidade do meio ao seu Eu hipertrofiado, a causa dos primeiros conflitos e da marcha rápida para o completo desequilíbrio.

Na terceira parte do livro, o autor discorre sobre os rudimentos da paranóia. A vaidade, que se revela pelos artifícios da moda e pelos enfeites na mulher e principalmente no homem, nada mais é que uma compensação de um Eu deficitário ou de uma inferioridade. A presunção é uma ascenção, um grau acima da vaidade e significa a opinião vantajosa sobre si mesmo. Comenta o complexo de inferioridade, demonstrando que não há inferioridade sem compensação (vaidade, presunção, megalomania), fatos estes observados tanto individual como coletivamente. Historiando a evolução da paranóia, analisa os diversos conceitos étio-patogênicos surgidos. Estuda vários fatos históricos mundiais, acontecimentos nacionais, sentimentos como o patriotismo, o orgulho nacional, os mitos populares dentre eles o de "Dom Sebastião", o do "Bandeirante", etc., entrevendo em todos eles a existência de uma paranóia coletiva, cujo fundamento básico parte de um sentimento de inferioridade. Isto o leva a concluir que "a paranóia e suas sub-variedades - desde as formas moderadas da vaidade e da presunção até os delírios de grandeza e perseguição que podem levar à ruina e à morte - não são só individuais. Há também povos fátuos, jactanciosos, delirantes. Pelo mundo, abundam nações queixosas, com complexos de inferioridade, guerreando, delirando, porque pressupõem a grandeza e interpretam a perseguição. Não há hospícios para esses loucos, nem prisão para esses criminosos coletivos.

JOY ARRUDA

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Mar 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1944
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