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L'Èpilepsie Chronique. P. Hartenberg. Masson & Cie., Édit., Paris, 1946

ANÁLISES DE LIVROS

L'Èpilepsie Chronique. P. Hartenberg. Masson & Cie., Édit., Paris, 1946

Hartenberg, um antigo estudioso da epilepsia, apresenta um livro substancioso do ponto de vista clínico-semiológico e interessante pelos seus conceitos originais, principalmente, sobre a patogenia desta moléstia. Considera a denominação "epilepsia idiopática" errônea, porque a convulsão é de origem secundária como nos demais tipos, diferindo destes, apenas, pelo fato dela se repetir por toda a vida do doente, trazendo a característica de cronicidade, donde sua idéia em propor o nome de "epilepsia crônica", em lugar de "idiopática" ou "essencial".

No primeiro capítulo do livro, trata da análise sintomatológica clínica da crise convulsiva, considerando detalhadamente todos os sintomas que a integram, concluindo que a caraterística da epilepsia não é a convulsão, mas a perda da consciência, isto é, a abolição das funções psíquicas superiores. Daí, considerar que a verdadeira perturbação fundamental da epilepsia consiste, não em uma excitação motora, mas em uma inibição cerebral. Esta é a concepção que o A. diz ter sustentado pela primeira vez, há 25 anos, e que tem sido aceita por grande número de AA.

No segundo capítulo, em longa e, por vezes, fastidiosa enumeração de trabalhos relativos ao exame dos doentes no intervalo das crises convulsivas, aconselha tudo o que se deve pesquisar no epiléptico. Revela-se possuidor de notável experiência pessoal e expõe sempre o seu parecer sincero, chegando a concluir pela nossa falta de elementos seguros para o diagnóstico, fora das crises de grande e pequeno mal. A encefalografia e a eletrencefalografia merecem do A. apenas uma dezena de linhas, não animadoras, e somente algumas citações dos trabalhos iniciais. Aliás, toda a vasta bibliografia utilizada no livro é antiga e não atualizada.

Dedica o terceiro capítulo ao estudo do mecanismo da crise convulsiva, considerando-a como um reflexo — o reflexo epiléptico — constituído por três tempos sucessivos: o da excitação inicial; o da inibição dos centros psíquicos superiores e dos centros do tono e do equilíbrio; o da descarga muscular. Discute as várias teorias explicativas, defendendo a sua tese da inibição.

Baseado em dados clínicos experimentais, em sua experiência pessoal e na dos diversos pesquisadores, discute brilhantemente, em um quarto capítulo, todas as causas que têm sido aventadas para a epilepsia, participando apenas da opinião de Marchand: "A síndrome epiléptica é uma síndrome anátomo-clínica sob a dependência de lesões encefálicas". Segundo sua concepção, a produção, os caracteres e a repetição das crises da epilepsia dependem de três ordens de fatores: as lesões cerebrais crônicas, sem as quais não há epilepsia; as condições predisponentes patológicas e mesmo fisiológicas; e o hábito epiléptico. Trata-se, assim, de um livro com concepções originais sobre a epilepsia, muito didático e baseadoem extensa bibliografia e experiência pessoal.

Joy Arruda

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Fev 2015
  • Data do Fascículo
    Mar 1948
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