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Carta do editor

CARTA DO EDITOR

A partir desse ano, os leitores do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas podem contar com novas formas de acesso online à revista. Além do próprio site (www.museu-goeldi.br/editora), todo o conteúdo está disponível no Directory of Open Access Journals (www.doaj.org) e, desde junho, começou a ser inserido na coleção especial da Scientific Electronic Library Online (www.scielo.br/bgoeldi). Para a equipe de profissionais que assumiu a reformulação editorial e gráfica da revista, essas notícias representam um marco no reconhecimento do trabalho realizado até o momento, devido à seriedade das instituições mantenedoras das respectivas bases, e também um desafio à manutenção da qualidade do periódico, que resta cumprir com o empenho e o compromisso que caracterizaram o trabalho até o momento. Com maior visibilidade no cenário editorial, esse Boletim continuará sendo um espaço privilegiado para a publicação de artigos nas áreas de antropologia, arqueologia, linguística indígena e disciplinas correlatas, não apenas por sua credibilidade e tradição, mas também por explorar as múltiplas conexões entre os vários ramos das ciências humanas.

Esse número temático demonstra com clareza o propósito da revista. Organizado por Marcos Chor Maio (COC/Fiocruz) e Silvia Figueirôa (Unicamp), aborda as relações entre história, ciência e natureza por meio de várias leituras desenvolvidas sobre obras científicas, trajetórias profissionais, pensamento social, expedições, instituições e novas disciplinas. Quatorze artigos, escritos por vinte autores, e um percurso que vai do século XVIII a meados do XX formam um considerável conjunto de ideias, abordagens e fontes, que atestam a vitalidade de um campo em expansão e em estreita conexão com a antropologia, a sociologia, a ciência política, a linguística e também com outras ciências, como a astronomia, as geociências, a biologia, a medicina e a saúde pública. Esse empreendimento resulta do esforço coletivo dos organizadores, da equipe editorial, dos autores e de dezenas de pareceristas, aos quais agradeço e reputo o mérito de construírem uma referência para estudos similares no Brasil.

Complementando os artigos, e mantendo o foco no tema do número especial, apresentamos um conjunto de fontes do século XVIII sobre a natureza e a sociedade amazônica. Trata-se de cinco documentos da lavra de Giovanni Angelo Brunelli (1722-1804), astrônomo bolonhês que participou da primeira Comissão Demarcadora de Limites entre as possessões de Portugal e Espanha na América do Sul, de 1753 a 1761, a serviço da Coroa lusitana: um ofício, um rascunho de diário de viagem e três trabalhos publicados entre 1767 e 1791 na revista do Instituto de Ciência de Bolonha, sobre a pororoca, a mandioca e o rio Amazonas. Graças ao espírito investigativo do scholar Nelson Papavero (USP) e de seus colaboradores, os textos puderam ser localizados e traduzidos pela primeira vez para o português, a partir do italiano e do latim, com um resultado primoroso no tratamento da língua. Eles enriquecem o limitado número de referências científicas do século XVIII disponíveis sobre a Amazônia, pois agora estão ao alcance de todos os pesquisadores brasileiros e portugueses. Também permitem diversos tipos de análises, desde as que buscam caracterizar a sociedade da época até as que procuram entender como (diferentes) europeus construíram (diferentes) visões da natureza e dos habitantes da Amazônia, passando, inclusive, pelas interessadas em estudar a região como campo para experimentos e experiências destinadas ao desenvolvimento da ciência. Os textos de Brunelli (e alguns artigos do presente número) mostram, sobretudo, como a ciência já era, no século XVIII, um empreendimento global, com múltiplas características de ordem pessoal, institucional e nacional.

O número finaliza com três resenhas que, de certo modo, se mantêm no escopo temático dessa edição: uma de autoria de José Augusto Drummond (UnB), sobre obra dedicada às expedições que singraram a Amazônia; outra de João Aires da Fonseca (MPEG/MCT), sobre uma coletânea de artigos que analisam a indústria lítica na pré-história brasileira; e, por fim, a de Waldir Mantovani (USP), sobre a reedição de um catálogo clássico das plantas oleaginosas amazônicas, originalmente publicado em 1941. Em todas as resenhas, história, ciência e natureza também se entrecruzam.

Agradeço aos organizadores do número temático, pela dedicação com que assumiram a tarefa; aos autores que aceitaram o convite para participar e se esforçaram no processo de avaliação e aperfeiçoamento dos textos; aos pareceristas, sem os quais o trabalho dos editores seria impossível; aos autores da memória sobre Brunelli, que trabalharam nesse projeto por mais de um ano e que aceitaram o convite para publicá-la nesse Boletim; aos resenhistas mencionados, pela colaboração generosa; e à equipe editorial – merecedora de muitos elogios e congratulações.

Boa leitura!

Nelson Sanjad

Editor Científico

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Set 2010
  • Data do Fascículo
    Ago 2010
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